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Análise comparativa do exercício epilinguístico com a significação das noções

Com o intuito de levar os alunos a refletir mais profundamente a significação das palavras e também de criar um momento em que pudéssemos avaliá-los mais diretamente com relação aos aspectos qualitativos já mencionados, propomos, às turmas (A) e (B), um trabalho com diferentes significações de algumas noções. Essas aulas foram realizadas no início do ano de 2012, isso quer dizer que os alunos das sexta-séries com as quais iniciamos nosso trabalho, encontram-se, agora, na sétima-série.

No caso da turma (B) trabalhamos primeiro oralmente e em seguida por escrito. Solicitamos que os alunos identificassem os diferentes sentidos atribuídos aos termos nos diferentes contextos em que se apresentavam e, a partir daí, observassem as características que eram transmitidas de um contexto para outro, ou seja, os aspectos invariantes dos significados.

A turma com a qual trabalhávamos no período vespertino (turma (B)) não existia mais, a escola mesclou as turmas de sétima séries desse turno, assim trabalhamos com um pequeno grupo de alunos retirados de suas classes, somando dez estudantes com os quais havíamos trabalhado no ano anterior. Já a turma (A) permanecia inalterada, consistindo-se dos mesmos alunos.

Os alunos da turma (B), como de costume, participaram ativamente das discussões e não tiveram dificuldades em preencher os exercícios impressos. Apesar de na escrita apresentarem dificuldades ortográficas e de organização das ideias, na oralidade isso não ocorreu. Alguns alunos apresentam uma produção escrita pobre, de modo que, por mais que tenham capacidade de refletir os fenômenos da língua, muitas vezes a pouca intimidade com a modalidade escrita tira-lhes a oportunidade de expressar suas ideias nessa modalidade, o que não ocorre quando se trabalha oralmente. Isso, porém, não descarta a importância do trabalho sistemático para o aprendizado da língua escrita, pelo contrário explicita a sua urgência e necessidade.

Trabalhamos com os termos sucesso, folgado, aliviado, apertado e satisfeito em dois, ou mais, contextos distintos, solicitando que os alunos levantassem o sentido delas em cada

contexto e em seguida identificassem as características comuns entre o significado de um e de outro.

A discussão sobre o termo “sucesso” deixou clara a relação que os alunos veem entre sucesso e dinheiro, pois observaram que a fama traz muito dinheiro. A realização de algo almejado também foi levantada pelos alunos, pois tanto fama quanto sucesso, por exemplo, em vendas são alcançados com vistas a realizar algo.

O termo folgado evidenciou a questão espacial. Alguns alunos chegaram a essa conclusão sem muito esforço, outros, porém, tiveram dificuldades em identificar o espaço no

contexto que mencionava “um vestido folgado”. Na oração que trazia a ideia de uma “pessoa folgada” rapidamente surgiu a explicação de que seria uma pessoa espaçosa. A relação entre a

sobra de espaço do vestido e da pessoa foi percebida quando pedimos para imaginarem a pessoa usando um vestido largo e segurando suas pontas, assim puderam perceber que se tratava de algo que ocupava mais espaço do que deveria.

O terceiro vocábulo trabalhado foi aliviado, esse trazia os sentidos de alívio físico e psicológico. Os estudantes apontaram facilmente o alívio do peso físico e também do psicológico, porém para esse último tiveram dificuldades em expressar o conceito. Chegaram a mencionar que se tratava de um peso na consciência, intervimos alertando que peso na consciência implica ter cometido algo de errado, fato que não aparecia no contexto dado. Assim surgiram outras explicações como angustia, preocupação e até mesmo um peso no

coração.

Na sequência apresentamos três diferentes situações do uso da palavra apertado. O primeiro referia-se a um cômodo apertado, o segundo à força empregada no aperto de um parafuso e o terceiro a uma vitória apertada. Novamente a questão do espaço surgiu sem maiores esforços, principalmente no primeiro caso. No segundo, questionamos qual é a intenção de se empregar força no aperto de um parafuso, por aí levantaram que a intenção é que se reduza o espaço entre o parafuso e a porca. Para uma vitória apertada os alunos comentaram que se trata de algo que quase não aconteceu, pois praticamente não houve sobra de espaço. A partir desse comentário, questionamos os alunos se nos três contextos tínhamos a sobra do espaço ou a falta dele. Após alguns segundos de silêncio concluíram que a falta de espaço era a característica comum entre os três exemplos.

Por último, discutimos o termo satisfeito com o sentido de feliz e saciado. No primeiro caso, não houve demora na troca de satisfeito por feliz. O mesmo não ocorreu com o segundo caso, nesse os alunos também insistiram que se tratava de felicidade, porque haviam comido bastante e o que queriam. Tentamos fazê-los perceber que nos dois casos, a felicidade ou a

satisfação era uma consequência de algo que fazia bem aos sujeitos das orações. Assim, observaram que satisfação implica na realização de algo que nos agrada.

Na turma (A) observamos que alguns alunos seguiram o texto dos exemplos dados nas aulas anteriores, não percebendo que se tratava de diferentes contextos. A grande maioria não conseguiu apontar o que havia de comum entre os termos do exercício, apenas deram os diferentes significados, deixando o exercício incompleto, apesar de toda nossa atenção e orientação.

Isso aconteceu porque utilizamos o material impresso, portanto, pronto. Esse comportamento é induzido nesse método, pois como os alunos trabalham sozinhos e dispõem de um modelo para resolução dos exercícios, a maneira mais simples de resolvê-los é aplicando e copiando o exemplo dado. A existência de um modelo implica a repetição do raciocínio. O diálogo entre alunos e professor não foi suficiente para dar autonomia aos discentes, uma vez que toda orientação oral foi posta de lado, no momento em que foi apresentado um modelo por escrito. Também não foi discutido sobre quais seriam os possíveis traços comuns dos vocábulos nos diferentes contextos apresentados, já que pretendíamos verificar até que ponto os alunos sozinhos conseguiram compreender a atividade.

Para os alunos dessa turma (turma (A)) o trabalho apresentado não passou de um exercício rápido de atribuição de significado, de modo que não houve atividade metalinguística, muito menos epilinguística. Conforme disserta Rezende (2000) a metodologia tradicional estuda o léxico no texto, mas deixa de lado que a sintaxe e outros léxicos ajudam no trabalho interpretativo, com essa visão limitada não se faz trabalho epilinguístico.

As discussões na turma (B) mostraram-se mais proveitosas, pois, como pudemos apresentar acima, os alunos se conscientizaram, ou melhor, desfizeram-se da ilusão de que as palavras comportam um sentido, ou que podem ser etiquetadas sobre uma única forma, conforme explica Culioli, (1990). Claro que isso ocorreu de modo bastante simplista, de acordo com a capacidade intelectual dos alunos.