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4. DISCUSSÃO DA FALA DOS ENTREVISTADOS

4.4 Análise comparativa sob o ponto de vista sócio-educativo

De modo comparativo, as ações educativas e inclusivas que beneficiam os alunos com suspeitas de dislexia nas escolas pesquisadas não se diferenciam. Mesmo considerando a localização em setores diferenciados do Distrito Federal, Cruzeiro (A), Planaltina (B), Sobradinho (C) e Asa Norte (D), ficou evidente que o aspecto social, cultural e econômico dos alunos e comunidade, não altera o atendimento e acompanhamento destes alunos, por parte de cada escola. Ficou constatado que o fato de uma escola se localizar em área considerada nobre (Asa Norte) não favorece os procedimentos didáticos para alunos com dificuldade de aprendizagem. Ou seja, os problemas identificados são idênticos em todas as escolas, seja no Cruzeiro, Planaltina, Asa Norte ou Sobradinho.

É indispensável registrar que nas 4 escolas, o atendimento por parte do psicólogo é praticamente inexistente, com relação ao diagnóstico de dislexia, no entanto, é se suma importância a avaliação deste profissional que compõe o SEAA. A ausência do psicólogo é considerada uma falha, e pode interferir consideravelmente no acompanhamento das crianças que têm comportamento diferenciado, em razão da conduta do aluno com déficit de aprendizagem na leitura, escrita e soletração, que pode ser identificada como disléxica, de forma precipitada. Nessa linha de raciocínio, a presença efetiva de um psicólogo nestas escolas é crucial para avaliar adequadamente as crianças que apresentam ritmo de aprendizagem diferenciada, e nesse sentido, evitar algum tipo de observação ou diagnóstico errôneo.

De acordo com Lima (2002), atualmente observa-se a generalização do termo dislexia. Em sua opinião, qualquer distúrbio de linguagem apresentado pela criança, logo é classificado como dislexia, tanto pelos pais, como pela escola. Esse erro deve ser discutido com acuidade, pois em todo processo de aprendizagem podem ocorrer algumas situações indesejáveis e inesperadas, como a falta de atenção da criança. Por isso que os profissionais da educação devem estar conscientes de que o aprendizado tem relação direta com a história de cada indivíduo, tendo em vista que já foi constatado que o ser humano aprende mais facilmente, quando o novo (vivenciado na escola) pode ser relacionado com algum aspecto da sua experiência prévia (própria), cujas palavras e fatos estejam em sua memória.

Esses fatores refletem o quanto a presença de um psicólogo é essencial para avaliar e acompanhar crianças que apresentam algum tipo de desordem de aprendizagem, como também cognitiva, quando identificado pelo professor atento e comprometido com a alfabetização. Fernandez (2006) coloca que o diagnóstico ocorre através de uma avaliação, por parte de uma equipe multidisciplinar (fonoaudiólogo, psicólogo, neurologista, psicopedagogo). Porém, o início dessa avaliação é provocada pela suspeita do professor, que encaminha para a equipe multidisciplinar, e a partir daí, inicia-se o estudo do psicólogo, que entrevista os pais, e aplica um questionário junto ao professor. Depois, o psicólogo realiza uma bateria de testes com o aluno, para verificar e avaliar o nível de inteligência e a sua personalidade. As verificações do psicólogo são discutidas com os outros profissionais (pedagogos, professores e orientadores educacionais), que também realizam procedimentos. O diagnóstico final só acontece quando a equipe discute cuidadosamente, as reais necessidades e dificuldades da criança.

A pesquisa constatou, sob o ponto de vista comparativo, contradições nas falas dos professores (educadores) com os membros da equipe multidisciplinar, como por exemplo: quando os 36 professores foram indagados sobre os procedimentos para atendimento específico aos alunos com suspeitas de dislexia, os alfabetizadores responderam que através da Sala de Atendimento/Recursos são viabilizadas atividades específicas para esse grupo de crianças. Porém, os professores que trabalham no Serviço Especializado de Atendimento e Apoio (Sala de Atendimento/Recursos) afirmaram que orientam os professores/alfabetizadores a desenvolveram as atividades pedagógicas nas salas comuns, não apresentando qualquer tipo de procedimento específico e compatível com a desordem de aprendizagem apresentada pelas crianças com suspeitas de dislexia.

Nenhum dos profissionais entrevistados comentou sobre a importância do desenvolvimento de práticas educacionais inclusivas em sala de aula comum e/ou especial. É sabido que desde o ano de 2001 o Brasil aprovou a resolução nº 2 do Conselho Nacional de Educação, cujo objetivo é capacitar todos os profissionais da educação, no sentido de prepará-los para lidar com estudantes especiais ou não, considerando que a cada ano, a demanda de atendimento aos alunos que manifestam algum problema de aprendizagem tem aumentado consideravelmente.

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Conforme esta resolução (CNE), as diretrizes nacionais para a Educação Básica devem oferecer atendimento especial em todas as suas etapas e modalidades:

Art. 2º - Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educadores com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos.

Parágrafo único Os sistemas de ensino devem conhecer a demanda real de atendimento a alunos com necessidades educacionais especiais, mediante a criação de sistemas de informação e o estabelecimento de interface com os órgãos governamentais responsáveis pelo Censo Escolar e pelo Censo Demográfico, para atender a todas as variáveis implícitas à qualidade do processo formativo desses alunos (CNE, 2001).

No decorrer do texto, a resolução enfatiza que educandos com necessidades educacionais são aqueles que apresentam dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento, que de alguma maneira atrapalhem o acompanhamento das atividades curriculares, que compreendem dois grupos:

- aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específicas;

- aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitadores ou deficiências.

Nesse contexto, os alunos com suspeita e diagnóstico de dislexia são incluídos em todo tipo de ação pedagógica. No entanto, os professores pesquisados não pontuaram de forma coerente, esses pressupostos de acompanhamento, atenção e inclusão. Apenas demonstraram ter noção do (s) problema (s), sem, contudo, manifestar um efetivo empenho em corresponder às necessidades dos alunos que acompanham. Ficou evidente que os problemas enfrentados por cada escola, independente da sua localização, são idênticos, o que implica dizer que as diferenças sociais e econômicas não interferem diretamente na condução educativas dessas instituições públicas.

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