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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 Linguagem e pensamento na visão de Piaget

Pesquisadores como Martins (2010), entendem que a dislexia deve ser compreendida pelos profissionais da educação, na perspectiva do discernimento pedagógico. Em outras palavras, esse conceito combate os rótulos da educação

terapêutica e da saúde mental, e defende a caracterização da dislexia, como uma dificuldade específica no aprendizado da leitura, ao longo do período escolar:

Os disléxicos podem aprender. Aliás, todas as crianças especiais são aprendentes em potencial. Se fracassam no período escolar, não fracassam sozinhas: a escola, do gestor ao professor, também fracassam (MARTINS, 2010).

O especialista Martins (2010) acrescenta que a dislexia, enquanto dificuldade (e não como patologia) precisa das explicações teóricas das ciências da saúde ou da linguagem clínica, em especial, da neurologia e psicologia clínica, posto que o mesmo reconhece a colaboração desta área de conhecimento (saúde) na discussão e compreensão do processamento da linguagem (oral e escrita), como por exemplo, conhecer o cérebro dos disléxicos, aspecto que a psicologia cognitiva em muito tem colaborado quando o método escolar de ensino de leitura falha, ou psicopedagógica, quando a criança apresenta, por exemplo, um déficit de memória, ou falta de motivação para a leitura.

A dislexia passou a ter uma explicação mais plausível, com a vinculação da linguagem à cognição, no chamado cognitivismo. Nesse sentido, conforme Farrel (2008), para se entender a dislexia, será preciso saber sobre linguagem oral, escrita, o processamento da informação, e concorrentemente, a criança e os estágios do desenvolvimento cognitivo, à luz das teorias piagetianas.

Para o professor Martins (2010), além de compreender (e enfrentar) a dislexia enquanto dificuldade (e não uma patologia) é importante que os professores troquem idéias e experiências com profissionais da área da neurologia e da psicologia clínica, posto que esses setores ajudam a compreender a aquisição, o desenvolvimento e o processamento da linguagem escrita dos disléxicos.

A psicologia cognitiva pode e deve ser uma grande aliada dos profissionais da educação, que atuam na intervenção pedagógica (quando o método escolar de ensino de leitura falha) ou psicopedagógica (quando a criança apresenta, por exemplo, um déficit de memória) interferindo positivamente na falta de motivação da criança, com relação à leitura (CAPOVILLA & CAPOVILLA, 2000).

Esses elementos psíquicos não implicam que a dislexia seja um transtorno. Ela se insere entre uma gama de dificuldades que os estudantes apresentam na

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perspectiva da linguagem/escrita. Nesse sentido, Piaget se interessava pela relação linguagem/pensamento, ou ainda, epistemologia da linguagem, que se refere à capacidade de construir estruturas de conhecimento, com base na experiência com o mundo físico, ao interagir e reagir, cognitivamente, no momento da interação:

Graças às teorias Piagetianas ou construtivistas, não consideramos o disléxico como um doente, mas como alguém saudável que apresenta dificuldade na aprendizagem da linguagem escrita, no momento de interação com o sistema de escrita, e com os falantes de sua língua materna (marcada pela diversidade regional, por exemplo) (MARTINS, 2010).

A dificuldade da criança em relação à fala acaba desencadeando uma preocupação, que não pode ser exagerada, a ponto de se precipitar na definição de um problema de aprendizagem. Por esta razão, a dislexia acaba sendo investigada através de estágios, sob o ponto de vista do construtivismo Piagetiano (CAPOVILLA & CAPOVILLA, 2000).

- Estágio Sensório-Motor nesse período não se pode apontar com segurança, se uma criança sofre ou não de dislexia, em que pese o atraso na (da) fala ter um caráter preditivo no que se refere à dificuldade em leitura. Esse estágio vai do nascimento aos dois anos de idade, e é possível desconfiar das dificuldades no reconhecimento (imediato), por parte da criança, das palavras conhecidas.

- Estágio Pré-Operacional nesse estágio é possível levantar a suspeita de dislexia no caso de insensibilização (incompreensão) do educando às rimas. Esse período vai dos dois aos sete anos. Esta ausência de sensibilidade à rima pode ser explicada pelo déficit fonológico dos disléxicos, que diante de textos em versos, deixam de perceber a reiteração de sons (vocais, consonantais ou combinados) iguais ou similares, em uma ou mais sílabas, geralmente acentuadas, que ocorrem em intervalos determinados e reconhecíveis.

- Estágio Operatório-Concreto vai de sete a doze anos de idade. É nesse período que ocorre a construção da lógica. Crianças que têm dificuldade de fazer a correspondência entre letras e fonemas, ou seja, de perceber o princípio alfabético do sistema de escrita da sua língua materna, são aspirantes à dislexia.

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Para os pesquisadores Capovilla & Capovilla (2000), é neste período que uma criança em não tendo assegurado no seu aprendizado, o princípio alfabético, pode apresentar dificuldade em ler um texto, seja em prosa ou em verso. É também nesta fase que os disléxicos cometem erros visuais, em geral, negam-se a responder questões de compreensão literal do texto lido.

- Estágio Operatório-Formal essa fase vai de onze anos em diante, período em que a criança raciocina, e quando se espera que (a criança) já tenha a capacidade de processar a leitura de texto com fluência. Para a maioria dos estudiosos é nesse momento que a criança (em sendo disléxica) demonstra os primeiros indícios de suas dificuldades leitoras, escritoras e ortográficas, destacando-se, a dificuldade de ler em voz alta ou de soletrar algumas palavras não familiares.

Para Martins (2010), esse estágio provoca um impacto enorme nos pais e educadores, pois o estudante (aparentemente) faz leituras com fluência, e de repente, comete um defeito inesperado (no processo de leitura oral) suscitando conclusões precipitadas, ou melhor, rótulos que inferiorizam a inteligência do aluno, independente do estudante apresentar inteligência acima da média. Nessa linha de raciocínio, os disléxicos requerem uma intervenção pedagógica sensível, capacitada e encorajadora, voltada para o ensinamento das crianças, dos jovens e adultos, que mesmo apresentando uma necessidade especial (tendo em vista a dificuldade que apresenta), têm o direito e condições cognitivas de aprender e evoluir didaticamente (ELLIS, 1995).

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