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13.1 · Alguns conceitos de análise de conteúdo e campos de apli- cação

Segundo Ghiglione e Matalon (1993, pp. 198-199) “- A prática da análise de conteúdo, considerada tão somente como um método, é, antes de mais, uma prática social. Ela encontrará as suas justificações numa predictibilidade empírica relativamente a um ob- jectivo e procurará validações extrínsecas à sua própria prática”.

A fim de responder a uma procura social de natureza po- lítica, económica e terapêutica, a análise de conteúdo desenvolveu um método o mais fiável possível, a fim de se poder relacionar com a objectividade, a sistematização e a generalização.

Os campos de aplicação da análise de conteúdo partem, na opinião dos Autores (1993, pp. 203-204) “(...) do esquema interrogativo clássico – “quem diz, o quê, a quem, como, porquê?”, ao mesmo tempo que permitem, individualmente definir vários objectivos, entre eles: - “Analisar as características do texto enquanto tal (“plano horizontal”). - Analisar as causas e antecedentes da mensagem (“plano vertical”).

- Analisar os efeitos da comunicação”.

Uma primeira abordagem permite-nos comparar documentos de uma mesma fonte, documentos de fontes diferentes e documentos e categorias externas.

Uma segunda abordagem permite sustentar que “Se procu- ram as leis das relações entre os acontecimentos referenciados nas mensagens e os processos sociais mediatizados pelo indivíduo que as produz”, tal como referem os Autores (ibidem, ibidem) ao citarem Osgood (1959).

Dois processos de comparação parecem evidentes:

“- Directo - os dados são extraídos da análise de conteúdo e comparados com índices comportamentais captados noutros domínios que não o linguístico”.

“- Indirecto - os dados são igualmente comparados com índices comportamentais captados noutros domínios, mas por inter- médio de um raciocínio silogístico (...)”.

O importante é estar consciente de saber “(...) o quê? (...)”, pois ele evidencia a forma de responder a todas as questões, pois “Sabemos “quem” falou e “a quem”. O “como” e “para que fim” (...) acabam por ser relativamente claros: o sujeito fala porque nós lho pe- dimos e a resposta “como?” encontra-se no seu próprio discurso”.

O entrevistado pode falar de um dos seus papéis, à medi- da que vai construindo a sua representação através de um processo interactivo, em que os seus objectivos podem ser tão diversificados que extrapolem a mera entrevista, mas a mensagem escrita ou falada está presente.

Para Ghiglione e Matalon (ibidem, pp. 205-206) a entrevista leva a que o investigador se confronte “(...) com um corpus constituído pelo discurso de um certo número de pessoas, todas interrogadas se- gundo a mesma técnica”, ou seja “(...) esperamos colocar cada discurso sob uma forma que o torne mais “inteligível” (...). Queremos obter um resumo para, sob uma forma mais cómoda, poder comparar, por exemplo, várias entrevistas”. Isto implica um conjunto de juízos per- tinentes, em que o analista se deve apoiar no quadro conceptual sobre o qual trabalha e sobre o que ele pretende, pois a análise de conteúdo

não fará sentido se não for orientada para determinados objectivos. Contudo, a maior ou menor importância manifestada relativamente a certas questıes é inerente a cada analista, que se deve orientar por critérios de “(...) pertinência, havendo evidentemente vantagem em explicitá-los.” Isolar em cada discurso o que interessa impõe que se utilize uma codificação, dado o facto nos colocar perante problemas de identificação.

13.2 · Metodologia da análise de conteúdo

Para Ghiglione e Matalon (1993, p. 207) “A metodologia geral da análise de conteúdo responde essencialmente a dois tipos de questões: como codificar? como assegurar a fiabilidade do pro- cedimento?”.

Mas a codificação é central por razões que os Autores (ibi-

dem, pp. 207-208) consideram:

- “(...) por razões teóricas (...)”, pois os problemas da atribuição do sentido estão sempre subjacentes aos problemas da codificação. Codificar as palavras através da frequência com que aparecem no texto poderá parecer uma operação neutra, mas que encerra um certo número de hipóteses implícitas ou explícitas sobre o significado a atribuir à frequência das palavras. Codificar pressupõe uma operação sobre o sentido do codificador que privilegia o que para ele é importante. “(...) É aqui que está o problema, não existe teoria do sentido que possa dar conta do conjunto sem‚ntico-situacional”.

- “(...) por motivos técnicos, a codificação deve responder (...) aos critérios de objectividade, sistematicidade e generalidade.

Objectividade, entendida no sentido de ausência de liberdade do codificador, ou ainda, de não-ambiguidade do código retido. Siste- maticidade e generalidade, na medida em que o código definido para analisar uma sub-população de entrevistas deve poder ser aplicado ao conjunto dessa população de uma maneira idêntica”.

Quando não existe fundamentação teórica, o acima descrito, não pode ser observado e então surge um certo abuso no tratamento dos resultados, quando se diz que o que se encontra parece querer significar o que nós por bem entendemos.

Se todo o objectivo da investigação é segundo os Autores (ibidem, pp. 209-214) “(...) transformável em categorias de análise” é preciso dar um sentido preciso a cada uma dessas categorias.

Após a definição de categorias deve analisar-se a entrevista e ter-se em conta

- “a unidade do registo; - a unidade de contexto; - a unidade de numeração”.

“A unidade de registo pode ser proveniente de vários cam- pos”, que se classifica arbitrariamente “(...) em semânticas, linguísticas e psicológicas”.

“A unidade de contexto é (...) o mais estreito segmento de conteúdo necessário para compreender a unidade de registo”. A sua escolha enferma no sentido de poder modificar os resultados da análise.

“A unidade de numeração pode ser de dois tipos: aritmética ou geométrica”. Será usada a unidade de numeração de tipo aritmética que permitirá verificar a frequeência com que aparece cada conteúdo. Contudo, nem sempre o que aparece com frequência do discurso do emissor é mais importante para esse emissor, pois dever-se-ão intro- duzir outros indicadores, como por exemplo a intensidade.

O problema da numeração surge como um obstáculo de dupla face, obstáculo de natureza teórica e de natureza metodológi- ca. Quando tratado de forma inadequada, as conclusões poderão ser obtidas, em cada um dos casos, de forma não fundamentada ou então os instrumentos a utilizar serão desajustados. Ghiglione e Matalon (1993, p. 216) referem que a credibi- lidade do instrumento tem a ver com a fidelidade e a validade. A fidelidade do instrumento depende do processo de codifi- cação e do codificador. “A fidelidade de codificador deve ser procurada nos planos inter-codificador e intra-codificador”. Trabalhando sobre o mesmo texto um grupo de codificado- res deverá alcançar os mesmos resultados, ou o mesmo codificador analisando em momentos distintos o mesmo texto deverá atingir os mesmos objectivos. Mas a fidelidade depende também “(...) das categorias de análise utilizadas pelo codificador”. Se a categoria utilizada não é ambígua pode classificar-se sem problemas a unidade de registo e então existe fidelidade, mas se a categoria e a unidade de registo estiverem em desacordo falha a fidelidade. Os meios para reduzir estes riscos são limitados e a sua garantia é de natureza metodológica. Os Autores (ibidem, p. 218) referem que “A validade pode- ria ser definida como a adequação entre os objectivos e os fins sem distorção dos factos”. Embora se fale em vários tipos de validade “(...) validade do conteúdo, validade preditiva, validade comparativa e validade interpretativa”, em que cada uma tem a ver com pesquisas com objectivos diferentes, “(...) a validade não é mais do que uma noção metodológica, um conceito derivado dos objectivos de cada investigação”.

13.3 · Alguns métodos de análise de conteúdo Entre os vários métodos utilizados na análise de conteúdo destacam-se os utilizados em procedimentos fechados e em procedi- mentos abertos, ou seja, para os que fazem intervir categorias definidas previamente à análise e os que não as fazem intervir, tendo assim um carácter exploratório. Neste estudo utilizar-se-ão os procedimentos abertos, o que significa segundo Ghiglione e Matalon (1993, pp. 232-233) “(...) que nenhum quadro categorial teórico ou empírico serve de suporte à aná- lise. Os resultados são devidos unicamente à metodologia de análise, estando esta isenta de qualquer referência a um quadro pré-estabelecido (...) a metodologia é auto-geradora do sentido do resultado”. Será usada uma contagem frequencial definida como “(...) o estabelecimento de “uma espécie de inventário das diversas opiniões, ou dos argumentos utilizados”, mas também palavras (...)”. A análise temática “A sua prática consiste em isolar os te- mas presentes num texto com o objectivo de, por um lado, o reduzir a proporções utilizáveis e, por outro lado, permitir a sua comparação com outros textos tratados da mesma maneira”

Os Autores (ibidem, p. 234) definem as concomitâncias temáticas como “(...) método, de cariz estruturalista, consiste em detectar, numa entrevista ou conjunto de entrevistas, os temas que aparecem associados, ou que, pelo contrário, nunca aparecem asso- ciados (...)”. Permite-nos suplementos de informação, na medida em que comparamos as frequências teóricas esperadas no corpus com as frequências reais. Este tipo de análise “(...) situa-se no cruzamento dos dois métodos (...): a análise temática e a contagem frequencial”. 13.4 · A agregação das análises de conteúdo

Quando analisamos um conjunto de entrevistas não existe seguramente um corpus homogéneo e não nos podemos dar por sa- tisfeitos apenas com a justaposição dos vários discursos, mas teremos que fazer uma síntese com um discurso único.

Ghiglione e Matalon (1993, pp. 245-246) dizem que o problema das análises de conteúdo podem ser ultrapassados “(...) distinguindo-se as análises “verticais” e “horizontais”.

Na análise vertical há um olhar, em separado, sobre cada sujeito, em que se faz uma síntese individual. Na análise horizontal há um olhar sobre cada um dos temas de forma a evidenciar as diferentes formas em que eles aparecem nas pessoas entrevistadas.

Conseguir a intercessão dos dois tipos de análise seria o ideal, pois conseguir-se-iam encontrar “(...) os traços comuns (...) como as suas diferenças (...)”.

A inferência de categorias obedeceu a critérios de coerência, homogeneidade e presidirão à elaboração de uma grelha de análise que expressará o conteúdo implícito dos entrevistados.

Na análise de conteúdo das entrevistas deste estudo será feita uma análise:

- Horizontal, pois serão tratados cada um dos temas, salien- tando as diferentes formas sob as quais eles aparecem nos dizeres dos entrevistados e;

- Vertical, porque cada sujeito, ou grupo, será observado isoladamente, o que permitirá uma síntese individual ou grupal.

Proceder-se-á à intersecção dos dois tipos de análise, pois tentar-se-ão encontrar traços comuns a todos os entrevistados, focando também as relações entre eles.

Capítulo III