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Mapa 3 Estados que dinamizam a teoria no Brasil

2.2 Situando o universo da pesquisa: entre tramas e fios da pesquisa

2.2.4 Análise de Conteúdo

À luz de Bardin (2011, p. 48),aanálise de conteúdo pode ser definida como:

um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens.

Acrescentando, concordamos com o pensamento de Amado (2000), quando nos alerta que a análise de conteúdo

[...] é um processo empírico utilizado no dia a dia por qualquer pessoa, enquanto leitura e interpretação; mas, para se tornar numa metodologia de investigação científica, tem de seguir um conjunto de passos que lhe dão o rigor e a validade necessária; por outro lado, trata-se de uma técnica muito dependente do treino, persistência e experiência do investigador (AMADO, 2000, p. 61).

Conforme o autor supracitado, para evitarmos equívocos e atendermos aos objetivos da investigação, foram pensados alguns processos que julgamos necessários para a validade e fidedignidade dos dados, quais sejam, o equilíbrio entre a vertente tecnológica, quantitativa e a qualitativa e fenomenológica; atenção para as condições de produção; colaboração de juízes externos; revisões constantes do corpo documental; rigor e objetividade.

Nesse sentido, compreendemos a análise de conteúdo como método de investigação capaz de, diante do emprego da objetividade e da aceitação da subjetividade, possibilitar a interpretação de discursos, falas, gestos e figuras, as quais, dentre outras mensagens47, conteúdos e expressões, estão carregadas das representações sociais construídas na prática social, na dialética das relações sociais, em relação às situações diárias de conflito, diálogo e de consenso que se estabelecem pelo uso da linguagem e da comunicação.

Antes dela já existiam outras formas de interpretação de textos, por exemplo, como a hermenêutica, a arte de interpretar textos sagrados (BARDIN, 2011). Para além desta maneira de abordar os textos, surgiu com o francês Bourbon e seu trabalho, no século XIX, a sistematização da análise de conteúdo (FRANCO, 2005). No entanto, foi nos Estados Unidos que ela se desenvolveu, primeiramente, a partir das análises de imprensa e propaganda feitas por H. Lasswell em meados de 1915. Durante essa época, havia uma forte influência do

behaviorismo. Com efeito, diante desse domínio, predominava a preocupação pela

objetividade, o uso de estudos quantitativos e análises estatísticas, cujos resultados eram meramente descritivos “[...] sem que os fundamentais recursos analíticos e interpretativos fossem incorporados” (FRANCO, 2005, p. 9). Posteriormente, os trabalhos de natureza fenomenológica, etnográfica e dialética trouxeram consigo a possibilidade de pesquisas numa perspectiva quantitativa e qualitativa, menos descritivas e mais analíticas.

Dentre os estudos e pesquisas que abordam tais aspectos, essenciais em pesquisa social, trazemos a obra de Bardin, “Análise de Conteúdo”, publicada em 1977, mas já revista e atualizada, pois apresenta excelente material didático que serve de orientação para diversos especialistas, como sociólogos, psicólogos, historiadores, jornalistas, dentre outros, que desejem realizar estudos sobre as comunicações, assim como análises e interpretações de mensagens trazidas pelos indivíduos durante diálogos, convívio, conversação ou transmissão de conhecimentos (experiencial ou científico). Acrescentamos a esta, as contribuições de Franco (2005), ao considerar a análise de conteúdo como procedimento de pesquisa.

Assim, sua escolha como meio de interpretação dos dados se deu pelo fato de apresentar um conjunto de técnicas de análise das comunicações, as quais garantem ao investigador a “desocultação” do escondido ou latente e aparente, sem deixar de lado o rigor científico (BARDIN, 2011); por permitir uma investigação quantiqualitativa48; pela sua

47 Necessariamente, carregadas de sentido e “[...] vinculadas às condições contextuais de seus produtores

(FRANCO, 2005, p. 13).

48

Para Minayo e Sanches (1993), “[...] a relação entre quantitativo e qualitativo [...] não pode ser pensada como oposição contraditória. Pelo contrário, é de se desejar que as relações sociais possam ser analisadas em seus aspectos mais ‘ecológicos’ e ‘concretos’ e aprofundadas em seus significados mais essenciais. Assim, o estudo

função heurística e pela vertente semântica e interpretativa ser indispensável em estudos de representações sociais; além de “[...] considerar que a relação que vincula a emissão das mensagens (que podem ser uma palavra, um texto, um enunciado ou até mesmo um discurso) estão, necessariamente, vinculadas às condições contextuais de seus produtores” (FRANCO, 2005, p. 13).

Segundo Bardin (2011), existem diferentes fases cronológicas da análise de conteúdo e que procuramos seguir criteriosamente, para não ocasionar eventuais dúvidas dos resultados encontrados, que seriam: a) pré-análise – consiste na etapa de operacionalização e sistematização das ideias. Para tanto, são parte do procedimento: a leitura flutuante; a escolha dos documentos; a formulação das hipóteses e dos objetivos; a referenciação dos índices; a elaboração de indicadores e a preparação do material; b) exploração do material – convêm aqui, manualmente ou com o auxílio do computador, a realização da codificação e categorização dos dados coletados; c) o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação – é o momento, conforme também prescreve Franco (2005), da sensibilidade, da intencionalidade e da competência teórica do pesquisador. Destarte,

este trabalho não se reduz apenas a recortar e agrupar falas, a encontrar nucleações comuns. O que acontece é que, ladeando a primazia da voz do pesquisado, está tanto a cautela, o respeito do pesquisador para lidar com ela, quanto a necessidade de familiaridade teórica e prática para refletir sobre ela. [...]. A mudança do lugar e do peso do pesquisador/a não significa demissão do seu papel, nem a entronização do discurso pesquisado. O dado bruto demanda tratamento delicado, o que não se confunde com uma seleção de falas que pode refletir apenas as preferências do/a pesquisador/a (ARRUDA, 2002, p. 18).

A partir destes apontamentos e levando em consideração nossa pesquisa, procuramos nos familiarizar com o leque de modelos e instrumentos disponíveis para que, em meio ao material coletado, pudéssemos realizar uma leitura válida, criteriosa e contextualizada, conforme prescreve Bardin (2011), sabendo que “tudo o que é dito ou escrito é suscetível de ser submetido a uma análise de conteúdo” (MOSCOVICI; HENRY, 1968, tradução nossa).

Logo, para o tratamento das questões abertas, priorizamos, do conjunto das técnicas de análise de conteúdo, a temático-categorial, por ser a mais utilizada e manifestar a mensagem explicita e/ou latente do conteúdo. A análise temática, “[...] consiste em descobrir os ‘núcleos de sentido’ que compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência de aparição, podem quantitativo pode gerar questões para serem aprofundadas qualitativamente, e vice-versa” (p. 247), ou seja, ambas as abordagens apesar da natureza diferenciada se complementam, no sentido de “[...] dar uma contribuição efetiva para o conhecimento da realidade [...]” (p. 239).

significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido” (BARDIN, 2011, p. 135). Para Franco (2005, p. 39), “o Tema é considerado como a mais útil unidade de registro em análise de conteúdo. Indispensável em estudos sobre propaganda, representações sociais, opiniões, expectativas, valores, conceitos, atitudes e crenças”.

Portanto, com o conjunto de temas (unidades de registro) encontrados é que buscamos garantir o processo da categorização. De acordo com Bardin (2011, p. 201), essa técnica “funciona por operações de desmembramento do texto em unidades, em categorias segundo reagrupamentos analógicos”. Nesse sentido, durante o processo de categorização e codificação dos dados, para a constituição do corpus documental, provocado e não natural (AMADO, 2000), pois resultante da TALP, do questionário semiaberto e da transcrição de entrevistas, levamos em consideração alguns princípios à luz de Bardin (2011): a exclusão mútua, para que não houvesse ambiguidades e que cada elemento não se fizesse presente em duas ou mais categorias; a homogeneidade: para tal fim, foi fundamental um único princípio de classificação e organização; a pertinência: considerou-se, para a formulação de categorias, a adequação ao material e quadro teórico escolhidos; a objetividade e a fidedignidade: durante escolha e definição de categorias evitou-se a ocorrência de subjetividade e de juízos que pudessem provocar distorções e variações; e a produtividade: para o fornecimento de resultados férteis.

Conforme define Franco (2005, p. 57), a construção das categorias “é uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação seguida de reagrupamento baseado em analogias, a partir de critérios definidos”. De tal forma, e ainda com base no pensamento da autora, a definição de categorias exige do pesquisador conhecimentos, competência, sensibilidade e intuição, por ser um processo longo, difícil e desafiante.

Nosso objetivo foi que os temas e as categorias surgissem a partir do corpo documental – a posteriori. Nesse sentido, sabendo da existência de programas de computador que auxiliam nesta tarefa, o trabalho foi feito pelo Atlas.ti, Microsoft Word e Microsoft Excel, com a ordenação dos parágrafos, construção de quadros e tabelas, uma vez que, de acordo com Bardin (2011), torna a prática de análise mais rápida, favorece o armazenamento, a reprodução e a troca de documentos, possibilita a manipulação de dados complexos e estimula a criatividade do analista.

3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA: tecendo resultados e reflexões

“Trata-se, com certeza, de uma compreensão alcançada por indivíduos que pensam. Mas, não sozinho”. (SÁ, 1999, p. 27)

Neste último capítulo, adentramos no universo representacional dos licenciandos, criado a partir de uma trança de saberes, ritmado pelas experiências vividas, convívio, conversação e o cotidiano no espaço-tempo-atual. O público, portanto, oferece, por meio de suas falas, elementos que asseguram uma conexão, por sua vez, fundada pelas condições sociais e dimensões espaciais existentes, quando do processo de formação docente na EaD.