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Mapa 3 Estados que dinamizam a teoria no Brasil

3.1 Conectando sentidos via fio condutor um: TALP

Dos nove licenciandos que responderam a esse instrumento de pesquisa, cinco foram do sexo feminino e quatro do sexo masculino, com faixa etária entre 21 a 40 anos. Desse grupo de sujeitos, um deles estava matriculado no curso de Educação Física; cinco, no de Matemática; um, no de Pedagogia; um, no de Ciências Biológicas; e mais um, no curso de Física, ou seja, não conseguimos alcançar todos os cursos pretendidos. Seis residiam em Currais Novos e os outros, nos municípios de Tangará, Parelhas e Caicó. Na época da coleta de dados, quatro licenciandos estavam cursando o quinto período; três, o segundo período; e, outros dois, o oitavo e décimo períodos. Esses dados apresentam o perfil dos licenciandos em relação a esta estratégia. De modo geral, revelam a predominância de aprendentes adultos em EaD e que moravam próximos ao Polo de Apoio Presencial de Currais Novos. Ademais, confirmaram experiência de aprendizagem na EaD.

Após a breve exposição do perfil dos licenciandos, teceremos suas evocações e frequências elucidadas referente ao termo indutor “Educação a Distância é...”, sob a égide de Bardin (2011), cujas etapas são a categorização, descrição e interpretação dos dados auferidos.

Tabela 1 - Evocações dos sujeitos a partir da técnica de associação livre de palavras com a expressão estímulo “Educação a Distância é...”

Licenciandos

Número total de sujeitos 9

Número total de evocações 27

Número de palavras diferentes evocadas 16

Número de palavras consideradas 27

Fonte: Pesquisa de campo, 2014.

Deste modo, de acordo com a tabela 1, pudemos perceber o número de 27 evocações que se resumem em 17 palavras diferentes. Destacamos que todas as palavras foram respeitadas no processo de análise, devido ao universo amostral ser limitado em nível numérico.

A seguir, na tabela 2, apresentamos quais as palavras evocadas pelos sujeitos da pesquisa e sua ordem de frequência (f), depois de ter sido feito a subtração de palavras “[...] idênticas, sinônimas ou próximas em nível semântico” (BARDIN, 2011, p. 58).

Tabela 2 - Organização do campo semântico da técnica de associação livre de palavras com a expressão estímulo “Educação a Distância é...”

Palavra Frequência 1. Facilitador f(3) 2. Educar f(3) 3. Dedicação f(2) 4. Amor f(2) 5. Esforço f(2) 6. Orientação f(2) 7. Conhecimento f(2) 8. Função f(2) 9. Respeito f(1) 10. Compromisso f(1) 11. Interação f(1) 12. Ensino f(1) 13. Aprendizagem f(1) 14. Solidão f(1) 15. Complicado f(1) 16. Necessário f(1) 17. Competência f(1)

Fonte: Participantes da pesquisa, 2014.

Após trazermos a frequência em que cada palavra aparece, passamos para o estabelecimento de categorias, usando a técnica de categorização que “[...] consiste em classificar os diferentes elementos nas diversas gavetas segundo critérios suscetíveis de fazer surgir um sentido capaz de introduzir alguma ordem na confusão inicial” (BARDIN, 2011, p.

43), e constituem o campo semântico49 das representações sociais sobre a EaD, conforme pode ser visto no quadro 4.

Quadro 4 - Agrupamento das palavras por campo semântico Campo 1 Trajetória formativa difícil Campo 2 Formação profissional Campo 3 Escolha Campo 4 Flexibilidade nos estudos

Esforço Educar Amor Facilitador

Dedicação Orientação Interação

Compromisso Conhecimento Complicado Aprendizagem Solidão Necessário Competência Ensino Respeito Função

Fonte: Participantes da pesquisa, 2014.

Dentro do Campo Semântico 1, encontramos pistas de uma trajetória formativa difícil que exige disciplina e, em alguns casos, podem ocasionar a evasão de alunos, além da falta de tempo para estudar e o acúmulo de atividades, conforme informações do Censo EaD (2013). As palavras evocadas pelos licenciandos: “esforço”, “dedicação”, “compromisso”, “complicado”, “solidão”, “competência” indicam, dentre outros aspectos, que, para participar dos cursos a distância, o aluno deve apresentar adaptação à metodologia empregada, bem como menor resistência diante das novas tecnologias. Vejamos algumas falas:

na reta final vejo-me isolada, sozinha nos trabalhos e disciplinas (DC 1) 50; o alcance dos objetivos só depende de nós (DC 1);

aprender sozinho nem sempre é tarefa fácil (DC 1);

complicado porque necessitamos de disciplina para cursar (DC 2).

para se ter um bom desempenho no ensino à distância é fundamental muita dedicação, embasado com grande competência (DC 5).

Nesses discursos, observamos também que a EaD exige do aluno uma nova rotina, que seja aberto a novas possibilidades, flexível e autônomo, que saiba administrar sua própria formação. De outra maneira, revelam a forma como os alunos se sentem e quais as suas

49 Conforme Andrade, Carvalho e Roazzi (2002), o levantamento do campo semântico é uma estratégia metodológica preliminar, através da qual buscamos compreender como os sujeitos classificam e categorizam o que é apreendido da realidade.

dificuldades com relação ao ensino exercido que, conforme Preti (1998), instrumentaliza, mas o resto é por conta do aluno, de seu esforço, interesse e capacidade.

O segundo campo nos remete aos aspectos da formação profissional. No tocante à formação dos educadores, entende-se esta como uma prática necessária para a qualidade da educação, em especial nos dias atuais, quando se requer um profissional de múltiplas aprendizagens. Concernente a isto, a EaD proporciona conhecimentos pedagógicos que contribuem para a prática docente, ou seja, revela um ensino de qualidade, que aprimora a metodologia em sala de aula, promove novas situações de ensino e garante o desenvolvimento de potencialidades, através dos recursos tecnológicos disponíveis. As palavras “educar”, “orientação”, “conhecimento” “aprendizagem”, “necessário”, “ensino”, “respeito” e “função”, quando evocadas, demarcaram isto, algo que também pode ser observado nas seguintes falas:

acredito que aprendemos mais por buscarmos esse conhecimento (DC 1). necessário, pois é essa alternativa para o indivíduo buscar uma graduação (DC 2).

a educação à distância tem como função ensinar os seus alunos para que atinjam seus objetivos (DC 6).

[...] estamos sempre em busca de conhecimento (DC 7).

Nessas circunstâncias, a EaD é um espaço que promove a aprendizagem dos sujeitos envolvidos, ou seja, é uma importante ferramenta que contribui para a formação de professores. Enfim, propicia aos envolvidos situações de aperfeiçoamento profissional, tão necessárias no espaço-tempo-atual.

No terceiro campo, trazemos a palavra “amor”51, indicando que a EaD é parte de um processo de escolha motivada e/ou despertada, principalmente, pelo desejo de ser professor(a), conforme fala:

escolhi primeiramente amor, porque amo a matemática e a profissão que escolhi (DC 7).

Em Sartre (1984, p. 18), vemos que a escolha não é gratuita, “[...] a escolha é sempre uma escolha numa situação determinada”. É bem verdade que “uns dizem-se vocacionados,

51 Na pesquisa realizada por Dantas (2011), com os licenciandos do Curso de Pedagogia da UFRN, a faceta

afetiva também aparece. Afirmam que o amor é inerente ao ser professor, em detrimento dos aspectos técnicos, enaltecem os componentes afetivos por ser parte da dimensão humana, que permitem aos licenciandos, dentre outras coisas, superar as dificuldades e ser elemento motivador para seguir na profissão. Nestas condições e no que tange o pensamento de Freire (2001, p. 29), “não há educação sem amor”.

pelo que enveredarão pela carreira docente por gosto e para satisfação do seu ego, enquanto outros, face ao mercado de trabalho, se veem compelidos a aceitar a oportunidade que se lhes depara” (GONÇALVES, 2000, p. 162, grifo do autor). Assim, mediante políticas educacionais estratégicas, dentre elas a valorização do profissional docente, a profissionalização do magistério e a formação continuada, alguns são levados a considerar como realidade a sua inserção no contexto educacional enquanto profissional docente.

De todo modo, o homem, enquanto ser social, se insere num grupo para se autoconstruir numa relação dinâmica, porém marcada por fragilidades. Mesmo que se torne despercebido, “somos seres inacabados” (FREIRE, 2006), “não nascemos prontos” – “gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não pronta, e vai se fazendo” (CORTELLA, 2013, p. 14). Nunca estamos satisfeitos, mas sempre necessitando de algo que nos faça sentir parte de um tempo ou lugar, mesmo que momentaneamente.

O campo 4 diz respeito à flexibilidade nos estudos, com ênfase na realidade dos licenciandos. A palavra “facilitador”, evocada em três momentos, sugere que a EaD possui características específicas que facilitam o estudo daqueles que exercem outra atividade, conforme pode ser comprovado na fala de DC 2, a seguir:

facilitador, pois ajuda principalmente a quem já trabalha montar seu horário de estudo (DC 2).

Um dos elementos que possibilitam ou expressam essa peculiaridade é a garantia de ensino e de aprendizagem a partir das novas tecnologias educacionais, sendo que, com elas, os licenciandos podem desenvolver suas atividades em casa por meio de um computador ligado à internet, garantindo-lhes, assim, também, maior comodidade e “interação”. Pelo exposto, “[...] a EaD torna mais maleáveis as exigências de horários impostas pelos cursos tradicionais e possibilita que aqueles que têm de trabalhar enquanto cumprem seus estudos organizem-se de modo a cumprir suas atividades estudantis quando lhes for mais adequado” (BARROS, 2014, p. 31).

Com relação ao ínfimo total de participantes na TALP, vemos que isto pode ser resultado da Cibercultura52. Antigamente, era mais comum o contato face a face pela

52

Sobre o termo Cibercultura, compreendemos que ele é, atualmente, bastante discutido em âmbito educativo por apontar o novo universo cultural e relações sociais que se fazem presentes com o uso das telecomunicações. Segundo o mesmo autor, “[...] ‘cibercultura’, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço” (LÉVY, 2010, p. 17). Assim sendo, o uso de novos instrumentos para as atividades do homem no seu cotidiano possibilitou uma nova cultura. Esta última permeada de modismos, muitas vezes desnecessários para o convívio humano e desenvolvimento educativo.

incorporação de ideais culturais, todavia, com a Cibercultura surge a implantação de novas práticas, bem como aparecem outras características para o espaço e tempo vividos. Nesse sentido, o aluno de EaD, mais do que qualquer outro, é induzido a usufruir desse contexto, logo, se torna refém de um mundo midiatizado, de um paradigma de produção em que qualquer renúncia representa sua desistência de participação de um grupo, antes de mais nada seleto e que cresce a cada dia, capaz de provocar incertezas, tais como a que se pretende discutir neste tópico.

A forma de representar o mundo passa agora, também, pela mediação das tecnologias. Com base nisso, enfatizamos a presença de rumores em rede. Para Clémence, Green e Courvoiser (2011, p. 184), “o rumor parece oferecer um modelo adequado para capturar o momento em que as representações sociais são criadas”. Segundo os mesmos autores, as informações são disseminadas rapidamente e entram no cotidiano das pessoas, o que pode ser um problema em se tratando da pouca credibilidade da fonte.

A necessidade de pertença a um grupo e a possibilidade de popularidade desenvolve no indivíduo, além de outros fatores, como o modismo, a inserção no Ciberespaço, pois é lá que estão se formando novos grupos, novas formas de organização social e que, de certa maneira, torna-se difícil de escapar, de fazer-se apartado desse mundo, que converge para uma nova cultura, a Cibercultura (LÉVY, 2010), ainda mais influente e condicionante de novos comportamentos.

De acordo com o mesmo autor e obra supracitada:

o Ciberespaço (que chamarei de ‘rede’) é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo (LÉVY, 2010, p. 17).

Estamos (des)construindo nossas relações em âmbito territorial, o que revela uma nova forma, até então ainda confusa e permeada de imprevisibilidade de se relacionar, através do uso de novas tecnologias. É assim que observamos as pessoas na atualidade, seja nos pontos de ônibus, nas ruas, praças, shopping centers e demais locais públicos e privados em que circulam um grande número de indivíduos. As relações transferidas para o mundo virtual demarcam um novo território de encontros e desencontros.

O Outro, nas redes sociais, é uma constância, sempre há pessoas com quem se conectar, mesmo que seus hábitos sejam divergentes. Jovchelovitch (1994, p. 70) destaca que “[...] não há possibilidade de um desenvolvimento do Eu sem a internalização de Outros”, de

fato, “o outro é indispensável à minha existência tanto quanto, aliás, ao conhecimento que tenho de mim mesmo” (SARTRE, 1984, p. 16). Nesse sentido, o envolvimento com os Outros e com o mundo é parte imprescindível para a existência e a construção de um sujeito social, deve-se levar em conta também que “[...] são as mediações sociais, em suas variadas formas, que geram as representações sociais. [...]. Elas não teriam qualquer utilidade em um mundo de indivíduos isolados, ou melhor, elas não existiriam” (JOVCHELOVITCH, 1994, p. 81).

São muitas as questões a serem tratadas sob o âmbito virtual. Destarte, precisamos estar conscientes do atual momento em relação a suas interferências na Teoria das Representações Sociais.