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Mapa 3 Estados que dinamizam a teoria no Brasil

2.2 Situando o universo da pesquisa: entre tramas e fios da pesquisa

2.2.3 Entrevista semiestruturada

Como parte da segunda estratégia, foi pensada a realização de entrevistas semiestruturadas com os licenciandos, como forma de auxiliar na investigação. Segundo enfoque de Triviños (1987, p. 146), a entrevista semiestruturada é

[...] aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar da elaboração do conteúdo da pesquisa.

Esta, por sua vez, a ser realizada a distância pelo smartphone, com a ajuda de um aplicativo gratuito disponível na Play Store, o Automatic Call Recorder (aplicativo android para gravar as chamadas), em virtude das dificuldades já elencadas e por saber que “na atualidade, a entrevista assume uma grande variedade de formas (cara a cara, pelo telefone ou

e.mail etc.)” (AMADO, 2009, p. 181) e que “já são outras as formas de perceber o mundo, de

compreendê-lo e de enunciá-lo, que são elaboradas e difundidas nos meios de comunicação” (BELLONI; LAPA, 2012, p. 181).

Sabendo que existem distintos modos de falar em diferentes contextos, que nossos dados são respostas de uma situação particular e de que as respostas dependem da situação (WAGNER; HAYES; PALACIOS, 2011) é que procuramos seguir algumas orientações práticas e criar, no momento da entrevista, um ambiente de confiança (AMADO, 2009), tendo em vista que “[...] las condiciones de una entrevista ejercen una influencia en la forma en que las personas hablan de un asunto” (WAGNER, HAYES; PALACIOS, 2011, p. 177).

Sabíamos que as respostas obtidas em certas circunstâncias poderiam:

(1) tentar ‘agradar’ o/a pesquisador/a com a resposta ‘certa’; (2) ser evasivas para evitar certos assuntos, seja por temor quanto ao destino que terão as informações, seja por se tratar de tópicos demasiado problemáticos ou íntimos; (3) conformar-se com os valores do grupo, ao discurso ‘politicamente correto’ ou ao discurso circulante, divulgado pela mídia, e não à prática concreta (ARRUDA, 2014, p. 242).

Para Minayo (2009, p. 64), “entrevista é acima de tudo uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores, realizada por iniciativa do entrevistador”. Em relação a Manzini (1991, p. 150), a entrevista é algo além de uma simples técnica, segundo ele, “[...] entrevistar significa envolver-se em processo de interação, significa interagir [...]”. Isto pressupôs, enquanto pesquisadora, o conhecimento prévio sobre o assunto, como forma de entender aquilo que o entrevistado articula, além de uma postura de acolhimento e de ouvinte, de saber o momento certo de intervir e não interromper o entrevistado no momento de sua fala.

De início surgiram muitas dúvidas e angústias: o que perguntar? Como perguntar? Para quem perguntar? No entanto, sabíamos da necessidade de planejamento, destarte,

partimos da criação do roteiro para a entrevista à luz de leituras distintas: Manzini (1991; 2003), Goldenberg (2004), Bauer e Gaskell (2002) e Triviños (1987). Além disso, buscamos ver os instrumentos adequados para registro das falas dos nove interlocutores (MINAYO, 2009). Dessa forma, delineamos a utilização do smartphone, juntamente com o aplicativo gravador de chamadas (automatic call recorder), além do uso de um segundo gravador de voz portátil. Para a transcrição dos áudios, pensamos no uso de outro programa, o Express Scribe

Transcription.

Sabendo que o roteiro teria “[...] como função principal auxiliar o pesquisador a conduzir a entrevista para o objetivo pretendido” (MANZINI, 2003, p. 13), a ordem das perguntas foi pensada de forma que o entrevistado pudesse se sentir à vontade para responder. Assim, conforme sugestão de Manzini (2003, p. 18), as perguntas foram sequenciadas “[...] das mais fáceis para as mais difíceis de serem respondidas”, para não ser prejudicada a elaboração mental. Soma-se a isto o cuidado com a linguagem utilizada, para que a pergunta pudesse ser compreendida pelo público-alvo. Foram criados, além disso, blocos/temas46, também agrupados por ordem de dificuldade (de nível cognitivo e emocional).

A escolha ou seleção dos licenciados se deu por meio do questionário respondido. Para tanto, dos 42 licenciandos que participaram do questionário, foram selecionados 9 licenciandos para a entrevista (tomamos por base este total o número de cursos de licenciatura presentes no Polo Presencial, ou seja, um licenciando por curso). De qualquer forma, priorizamos a presença de participantes que formassem um grupo heterogêneo, dessa forma, procuramos diversificar as idades, o sexo, o tempo de vivência na EaD, o lugar em que reside, o estado civil, dentre outras características.

O contato inicial foi por smartphone, conforme a disponibilidade do entrevistado. Neste momento, procuramos informar sobre o motivo da realização da entrevista, da escolha do entrevistado, da necessidade de gravação da conversa, mas que a identidade do informante seria resguardada. Julgamos que, diante de tais informações, os licenciandos demonstraram motivação em poder participar da entrevista e, assim, contribuir para expandirmos o conhecimento sobre o tema, inclusive, alguns evidenciaram, nas falas, o interesse em ler o trabalho e os seus resultados.

Na situação de interação empírica, de acordo com Minayo (2009), procuramos levar em conta algumas práticas ou sugestões como forma de garantir um clima agradável no desenrolar da entrevista: apresentação; menção do interesse da pesquisa; apresentação de

credencial institucional; explicação dos motivos da pesquisa; justificativa da escolha do entrevistado; garantia de anonimato e de sigilo; conversa inicial. Foi considerado ainda como imprescindível, segundo Manzini (1991), explicitar que a entrevista não se tratava de interrogatório, mas um momento de diálogo.

A entrevista aqui escolhida visou adquirir dados primários (subjetivos), pois “constituem uma representação da realidade: ideias, crenças, maneira de pensar; opiniões, sentimentos, maneiras de sentir; maneiras de atuar; condutas; projeções para o futuro; razões conscientes ou inconscientes de determinadas atitudes e comportamentos” (MINAYO, 2009, p. 65). Assim, os dados encontrados, resultantes de um processo de escuta, nos permitiram descobrir elementos do cotidiano dos informantes, suas ações e percepções, os sentidos que dão às coisas a partir das relações sociais que se estabelecem e das implicações sociotemporais que ocorrem.