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2. DELINEANDO O PERCURSO DA PESQUISA

2.6 Análise de conteúdo temática

De posse do material audiogravado durante a facilitação das oficinas e das entrevistas, deu-se início o processo de transcrição das falas para a efetivação de sua análise. Tanto o material construído a partir dos registros nos diários de campo durante as observações participantes assim como essas transcrições, foram sistematizados a partir da fundamentação teórica metodológica da análise de conteúdo do tipo temática proposta por Bardin (2011).

Bardin (2011, p. 44) define análise de conteúdo como “um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”. Dentre os procedimentos sistemáticos, destacam-se três fases para análise do tema: a pré-análise que prefigura uma leitura flutuante, a constituição do corpo e ordenamento do material, formulação de hipóteses, e objetivos; a exploração do material que se refere às tarefas de codificação, envolvendo a escolha das unidades, escolha das regras de contagem e escolha de categoria; tratamento de dados, inferência e interpretação que possibilitam estabelecer quadros, diagramas, e figuras que sintetizam e põem em relevo as informações obtidas para ligá-las ao escopo teórico. Através dessas fases foram encontradas unidades temáticas essenciais diante dos objetivos definidos nesta pesquisa.

Essa forma de abordagem do conteúdo investigado se utiliza de técnicas para extrair os sentidos através de unidades elementares, como “palavras-chave; léxicos; termos específicos; categorias e temas” (CIDADE, 2012, p. 41) com o intuito de identificar a frequência ou constância dessas unidades nos textos realizando inferências e extraindo os significados. Góis (2008, p.161) complementa que a Análise de Conteúdo do tipo Temática, tem como objetivo “descobrir os núcleos de sentido que compõe uma comunicação ou tema, cuja presença e frequência significam algo para o objetivo da análise”. Caracteriza-se, portanto, como uma importante técnica na extração dos sentidos do discurso, o que se aproxima do objetivo proposto neste estudo de investigar os sentidos da afetividade das famílias em condição de pobreza.

Para facilitar o processo de análise dos dados, lançou-se mão de um recurso tecnológico por meio do Atlas/ti em sua versão 5.2. Este recurso consiste em um software que é utilizado como ferramenta tecnológica para análise qualitativa (BAUER; GASKELL, 2008). Optou-se por recorrer a este programa, por facilitar e potencializar a análise dos dados, além de observarmos similaridades entre o modo de armazenamento e organização de dados no Atlas/ti 5.2, e o processo de desenvolvimento da proposta de Análise de Conteúdo Temática (2011).

Entretanto, esse programa não é capaz de desenvolver uma análise qualitativa por si só, posto que, é um software que mecaniza a organização e arquivamento de textos, não se configurando como um instrumento de análise de dados. O seu papel é de codificar e reapresentar por meio da anexação de códigos, ou seja, de palavras-índice “a segmentos de texto, e a reapresentação de todos os segmentos de um conjunto definido de documentos, para o qual o mesmo código foi atribuído” (KELLE, 2008, p. 398).

Os códigos ou Codes consistem nas categorias que foram definidas manualmente a partir da interpretação da pesquisadora. Aos códigos foram associadas as Quotations/Quotes (segmentos) que são “pequenos trechos ou frases do arquivo original que faz sentido extrair para a análise” (GILZ, 2007, p. 4109). Desse modo, as Quotations consistem nas unidades de sentido extraídas a partir das citações das falas dos sujeitos da pesquisa ou de excertos dos diários de campo. Nesse aspecto, vale ressaltar que para a investigação dos sentidos oriundos dos discursos dos sujeitos, buscou-se amparar nas orientações metodológicas de Vygotsky, tal como apresentadas no tópico 2.1 deste capítulo, tendo em vista que a dinâmica afetiva é histórica e dialética e que os sentidos se originam na relação entre singular e coletivo, sendo reconhecidos como unidade de análise da psicologia histórico-cultural.

No decorrer da análise foram surgindo novas categorias adicionadas aos Codes, a saber: acomodação, amizade, apoio social, falta de apoio, concepção de pobreza, autopercepção da pobreza, experiência de privação, formas de enfrentamento, concepção de família, cotidiano da família, experiência de abandono, morte na família, juventude interrompida, transmissão geracional, relacionamento familiar conflituoso, relacionamento familiar harmonioso, papel da avó na família, doença, relacionamento com vizinhos, fragilidades da comunidade, potencialidades da comunidade, vítima de violência urbana, vida na comunidade, concepção de afeto, flutuação de ânimo, indignação, humilhação, vergonha, mágoa, alegria, amor, compaixão, gratidão, medo, raiva, tristeza, solidão, referência a Deus, visão de futuro, sonhos, avaliação das oficinas. Identificou-se, portanto, o total de quarenta e uma categorias.

As categorias foram agrupadas em grandes categorias e conforme o direcionamento dos objetivos específicos, sendo que algumas das categorias se repetem em meio ao alcance dos objetivos. Com o intuito de facilitar a compreensão da organização da pesquisa em seus objetivos específicos, categorias de análise e instrumentos a serem utilizados, elaborou-se um quadro que descreve o caminho metodológico seguido:

Tabela 6 – Relação entre os objetivos específicos, suas grandes categorias, categorias e instrumentos.

Objetivos específicos Grandes categorias Categorias Instrumentos 1. Descrever a situação

de pobreza vivenciada pelas famílias.

Vida da família em

situação de pobreza Concepção de pobreza; Autopercepção da pobreza; Experiência de privação; Formas de enfrentamento;Experiência de abandono; Morte na Família; Juventude interrompida; Cotidiano da família; Transmissão geracional; Papel da avó; Potencialidades da

comunidade; Fragilidades da comunidade; Vítima de violência urbana; Apoio Social; Doença; Vida na comunidade Questionário Socioeconômico; Oficinas; Entrevistas semi- estruturadas. 2. Compreender os afetos dos sujeitos pobres a partir das suas relações

interpessoais, familiares, comunitárias e com o CRAS.

Rede de afetos Concepção de família; Concepção de afeto; Relacionamento familiar harmonioso;

Relacionamento familiar conflituoso; Relacionamento com vizinhos; Amizade; Indignação; Medo; Alegria; Tristeza; Compaixão; Gratidão; Raiva; Solidão; Avaliação das oficinas.

Oficinas; Diário de Campo; Entrevistas semi-estruturadas.

3. Relacionar os sentidos dos afetos à vivência de pobreza

Vida da família em situação de pobreza; Rede de afetos

Acomodação; Vergonha; Humilhação; Formas de enfrentamento; Apoio social; Tristeza; Referência a Deus; Visão de futuro; Alegria.

Oficinas; Diário de Campo; Entrevistas semi-estruturadas.

Fonte: elaborada pela autora.