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2. DELINEANDO O PERCURSO DA PESQUISA

2.5 Recursos metodológicos para construção de dados

2.5.1 Observação participante

A proposta metodológica de observação participante insere-se no contexto do método facilitar-pesquisando defendida por Góis (2008), que por sua vez, denota envolver a pesquisa e suas estratégias em um espaço social e institucional de facilitação, possibilitando potencializar o conhecimento, o agir, e seus resultados. Este método tem como ponto de partida a realidade local, “constituindo-se como método participativo, dialógico, problematizador, reflexivo, vivencial e grupal” (GÓIS, 2008, p.145).

A observação participante consiste na participação do conhecimento na vida da comunidade, do grupo ou até de uma situação determinada exigindo a presença ativa do pesquisador, sendo ele alguém que também possa fazer parte do cotidiano do lugar, indo morar no local, trabalhar ali ou se fazendo periodicamente presente. Isto significa dizer que os processos subjetivos do observador passam a estarem envolvidos a partir da implicação de suas experiências, pensamentos, sentimentos e ações que também se constituem como importante fonte de dados (DALLOS, 2010). Tal pressuposto fomenta o distanciamento de uma postura que leva em consideração a objetividade e a neutralidade científica, sendo o pesquisador avistado enquanto sujeito em seu processo de aprendizagem e transformação cuja compreensão dos fenômenos a serem investigados partem de uma influência histórico-cultural do qual se situa e da maneira que consegue estabelecer uma relação com os indivíduos pesquisados.

Este recurso metodológico favorece a descoberta de sentidos, perspectivas, valores, e normas sob o qual os atores sociais se alicerçam e constroem a sua realidade em certas circunstâncias de vida, além de proporcionar uma visão mais completa e detalhada de como vivem e fornece sentido as pessoas implicadas com determinadas circunstâncias ou fenômeno (MONTERO, 2006). Desse modo, a aproximação com o mundo dos sujeitos da pesquisa que vivem em condição de pobreza, permitiu observar as relações que estabelecem com os elementos materiais, histórico-sociais e simbólico que compõem seus cotidianos e afetam as suas subjetividades, que por sua vez, fomentam um modo de sentir, pensar e agir.

A justificativa para o emprego deste método fundamenta-se na necessidade de aproximação com a realidade das famílias, observando os sentidos dos afetos e os aspectos psicossociais emergentes durante o contato com os participantes. Desse modo, a observação

participante é considerada uma importante estratégia para “obter os elementos necessários para compreender suas intenções ou sentimentos” (DALLOS, 2010, p. 153) por se preocupar com os processos subjetivos – interesses e afetos – que se desenrolam no cotidiano dos indivíduos e grupos.

Com isso, neste estudo, a observação participante consistiu em visitas esporádicas ao CRAS Conjunto Esperança, desde a primeira visita para explicar os objetivos da pesquisa aos profissionais do CRAS que serviu também para atualizar a pesquisadora quanto aos horários e datas das oficinas e número de famílias que estavam participando das oficinas até os momentos de planejamento, preparação e facilitação das oficinas. Nesse sentido, foi realizado o total de onze visitas, todas pelo período da manhã, sendo que três ocorreram no mês de setembro, três em outubro, três em novembro e duas em dezembro de 2015.

O longo período de espaço de tempo entre as visitas explica-se pelo fato de que as observações aconteceram nos dias das oficinas que ocorriam apenas duas vezes ao mês, assim como também nas reuniões de planejamento das oficinas que acontecia uma vez ao mês. Afinal, a rotina de visitas criada de acordo com o funcionamento das oficinas parecia delimitar melhor o que competia à pesquisadora, além de dar a certeza de que era nesses momentos que poderia interagir com as famílias.

A cada visita a pesquisadora procurava conversar informalmente com os profissionais com o cuidado de não atrapalhar as suas atividades, assim como também com os as famílias nos momentos que antecediam as oficinas ou ao término delas. Deste modo, conversou-se sobre o cotidiano, a vivência nas comunidades, assuntos dos telejornais que englobavam a violência nos bairros de Fortaleza ou ainda sobre histórias de superação. Foram momentos que proporcionaram a efetivação do vínculo da pesquisadora com os sujeitos da pesquisa e com os profissionais da instituição de modo que com o passar do tempo não houve estranhamento a ponto de gerar incômodo nessas pessoas. Pelo contrário, o que houve foi uma boa receptividade e acolhimento da pesquisadora por parte desses sujeitos.

Além de permitir a aproximação com os sujeitos, a observação participante consistiu em um importante método de delineamento do objeto de estudo contribuindo para a construção de propostas metodológicas para a pesquisa-intervenção que se adequaram à realidade dos participantes haja vista que a escolha das técnicas foi facilitada a partir do contato com as famílias e com a realidade institucional. Igualmente, esse recurso metodológico também contribuiu sobremaneira para a elaboração do roteiro de entrevista e para a escolha das famílias que participaram dela.

Entretanto, ressaltamos que os acontecimentos durante a observação participante foram registrados em diários de campo, o que permitiu trazer à memória todos os detalhes da experiência no campo, se constituindo como importante instrumento de construção de dados que contribuiu sobremaneira para a análise dos resultados.

2.5.1.1 Diário de campo

De acordo com Montero (2006), nas pesquisas em situações grupais pelas quais se está simultaneamente dialogando e estimulando as discussões, a técnica de registro mais útil a ser aplicada em tais circunstâncias é um diário de campo. No diário de campo, o pesquisador descreve os “fatos e situações observadas, conversas com os moradores, nomes e papéis de pessoas da comunidade, reflexões, impressões e vivências do pesquisador/facilitador” (GÓIS, 2008, p. 154-155).

Montero (2006) considera as seguintes características do diário de campo: 1) a sua extensão, apresentando extensas e detalhadas descrições; 2) a ordem cronológica não é obrigatória, podendo ser organizado tanto por temas, como por problemas de investigação, como por categorias teóricas e metodológicas; 3) pode ser um instrumento a ser publicado; 4) alia as categorias teóricas e metodológicas com as observações rigorosas de campo ao passo que dá margem para a análise e as interpretações dos fatos observados; 5) se aproxima de uma autobiografia intelectual pelo fato de apresentar como o escritor organiza suas ideias e desenvolve suas análises, bem como possibilita a apreensão dos seus erros e o que aprendeu com eles e da mesma forma quanto ao que acontece com os acertos; 6) se costuma escrever apenas no final da investigação quando se pode fazer com cautela e de forma minuciosa a narração daquilo que foi observado partilhando de suas impressões e descrevendo as técnicas empregadas para obtenção de dados.

Sendo assim, a razão de ser desse instrumento é a de registrar as observações e vivências que impressionam os investigadores de acordo com seus interesses nos fenômenos psicossociais que suscitam no decorrer do trabalho de investigação. Neste estudo, os diários de campo foram escritos de maneira livre ao final de cada encontro investigativo, o que resultou o total de onze diários de campo, equivalentes ao número de visitas à instituição. Neles foram registradas as impressões da pesquisadora no contato com as pessoas, bem como alguns apontamentos sobre o que despertava a atenção, reflexões, algumas falas e descrições de detalhes das situações.