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Em consonância com a perspectiva qualitativa desta pesquisa, recorremos à análise de conteúdo temática para tratamento dos dados obtidos no trabalho de campo, haja vista que, de acordo com Minayo (1998), essa abordagem permite a ultrapassagem do nível espontâneo das mensagens, proporcionando uma interpretação mais profunda do material. Com esta finalidade, ocorre a articulação do texto descrito e analisado com o contexto e o processo de produção da mensagem, além do contexto cultural e psicossocial, com base no pressuposto que tais aspectos determinam suas características. Dentre as várias possibilidades de se proceder à análise de conteúdo, conforme essa referida autora nos aponta, a análise temática se mostra adequada ao nosso objeto de estudo. Nesta modalidade, a atenção se volta para os temas ou as unidades de significação que se fazem presentes no texto analisado. Em nosso material, encontramos quatro grandes unidades: família, medida, família-medida e experiência de rua. Todavia, mantivemos o foco nas três primeiras apenas, dada a maior pertinência em relação ao objetivo analítico visado. Cada uma dessas unidades comporta, por sua vez, uma série de categorias temáticas. Assim, em Família, temos, então:

9 Grupo doméstico: quem são as pessoas com quem o adolescente atualmente

parentesco em relação ao adolescente e quais são as condições socioeconômicas do grupo

9 Composição familiar: quem são as pessoas consideradas, pelo adolescente,

como membros de sua família e quais são os critérios dessa escolha.

9 Papéis familiares: diz respeito tanto à percepção do adolescente em relação

ao desempenho passado quanto às expectativas atuais expressas relativos aos papéis sociais exercidos pelos membros familiares ou com as pessoas com as quais ele coabita.

9 Avaliação de sua família: refere-se à percepção atual do adolescente em

relação à sua família.

9 Perspectivas futuras: relacionadas à constituição de uma nova família ou à

família de origem.

Na unidade Medida, as subcategorias que a ela se referem são as seguintes:

Motivo de ingresso: o que desencadeou a sua inserção no programa da

Pastoral.

Expectativas iniciais: como concebia a LA no início do seu cumprimento.

Esferas de atuação da medida: engloba dados sobre a situação do

adolescente quanto à escola, ao trabalho e ao uso de drogas nos últimos seis meses de LA.

Participação em outros programas: corresponde às medidas às quais o

adolescente também já foi submetido, sejam elas protetivas ou sócio- educativas.

Percepções gerais: diz respeito à sua leitura atual acerca do ato infracional

praticado, de sua condição na medida e do programa LA.

Perspectiva de futuro: refere-se às projeções gerais que faz de sua vida.

Por último, a unidade temática denominada Família e Medida foi analisada segundo a categoria Participação da família na medida, que por sua vez, compreende a:

o Reação da família frente ao ato/medida: que diz respeito ao modo como a

família respondeu inicialmente ao envolvimento do adolescente com a prática infracional e sua conseqüente submissão à medida.

o Família e as demandas da justiça: se e como a família compareceu às

demandas da justiça inerentes ao processo sócio-educativo do adolescente. o Família e demandas do programa sócio-educativo: que se refere à maneira

como a família tem participado do processo de inserção e promoção do adolescente nos contextos escolar e de trabalho, considerando ainda sua postura frente ao possível envolvimento do adolescente com drogas.

Toda essa classificação em categorias temáticas foi construída, no caso, a partir do conteúdo verbal expresso pelos adolescentes, nossos principais sujeitos, em suas entrevistas individuais. Para tanto, inicialmente, procedemos a uma leitura superficial das entrevistas transcritas, visando obter uma apreensão geral do discurso de cada adolescente, enquanto no segundo momento, ou seja, na leitura seguinte, já procuramos assinalar, previamente, nos textos, toda e qualquer referência existente às unidades Família e Medida, considerando o próprio tema de nossa pesquisa. Nesse percurso,

todavia, destas unidades de significação definidas previamente emergiram as duas outras categorias temáticas.

Ao final dessa fase, o corpo de cada entrevista assumiu uma nova configuração mediante os primeiros recortes com base nas grandes unidades, cujo conteúdo foi analisado e agrupado, por conseguinte, em categorias que guardam relações singulares com o eixo ao qual fazem referência, como podemos ver acima. Nesse processo, contamos também com a participação das duas alunas do curso de psicologia, que havíamos mencionado anteriormente neste texto. Antes de prosseguirmos nessas diferentes fases de construção das categorias, havia, no caso, sempre o confronto em grupo das observações e atividades realizadas individualmente, enriquecendo, assim, o trabalho com diferentes possibilidades de leitura do material.

Quanto ao outro corpus de comunicação, constituído pelos relatos dos familiares obtidos também em entrevistas, as leituras e os conseqüentes recortes temáticos foram feitos logo em seqüência e em correspondência às classificações a que chegamos na análise inicial dos discursos dos adolescentes, especialmente aquelas referentes à unidade Família e Medida, possibilitando-nos, além da complementação de dados, apreendermos contradições, divergências e convergências nos discursos. De modo semelhante, procedemos com os registros de diário de campo e das pastas-arquivo que também nesta pesquisa assumiram a versão de fontes complementares de dados.

Por último, como poderemos atestar no capítulo a seguir, propusemo-nos à discussão dos dados, produzindo um novo texto, dentre tantos outros possíveis, numa relação constante com o quadro teórico que temos. No entanto, sem a participação das alunas, dadas as exigências de tempo que essa atividade requer.

Capítulo IV

Análise e Discussão dos Dados

Neste capítulo, procederemos ao estudo dos discursos dos sujeitos entrevistados em torno das três unidades de significação que se mostraram mais pertinentes ao objeto de nossa pesquisa, após a submissão de todo o material ao procedimento de análise de conteúdo temática, como mencionamos anteriormente. As unidades sobre as quais vamos discorrer em relação com os nossos apontamentos teóricos a respeito, descritos nos dois primeiros capítulos, são as seguintes: família, medida sócio-educativa, família e medida. Na tentativa de melhor apreender a complexidade da realidade estudada, resolvemos analisar e, assim, apresentar, em um primeiro momento, os dados de cada adolescente em conexão com seus respectivos familiares, para tecer, em seguida, uma discussão geral mediante a confluência dos dados entre os quatros adolescentes, nossos principais sujeitos, procurando atentar para as diferenças e semelhanças existentes. Ainda assim, queremos registrar a dificuldade que tivemos de selecionar dos discursos os segmentos a serem aqui expostos frente à teia de conexões que os amarram entre si, embora saibamos que a nossa leitura da realidade é sempre parcial, no sentido de que não conseguimos abarcá-la em seu todo, sendo necessário fazer recortes a todo tempo na tentativa de nos aproximarmos da mesma (Minayo, 1998).

Como pontuamos antes, os nomes usados para nos referirmos aos adolescentes neste texto são fictícios para que seja assegurado o sigilo das identidades. Nesse sentido, tivemos o cuidado de averiguar também os nomes de todos os adolescentes que já fizeram ou ainda fazem parte do programa até o final da fase empírica da pesquisa a fim de que não fosse adotado nome semelhante. Quando necessário, representaremos cada

adolescente pela abreviatura Adolescente - A, seguida de número ordinal específico. Nesse caso, teremos Mateus – A1; Pedro – A2; Joaquim – A3; e Luciano – A4. Quanto aos familiares que participaram, sempre que se fizer preciso, vamos identificá-lo pelo grau de parentesco que têm com o adolescente acompanhado ou não da abreviatura pela qual este é representado, como, por exemplo, irmão de A4, que é equivalente a IºA4. Assim, teremos: irmão de A4 – IºA4; Tia de A4 – TA4; avó e tia de A3 – AA3 e TA3; irmã de A2 – IA2; e avó e irmã de A1 – AA1 e IA1. Como forma ainda de preservar a identidade dos nossos principais sujeitos, também alteramos os nomes dos seus familiares e, inclusive, dos educadores da Pastoral.

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