• Nenhum resultado encontrado

Grágico 2 Índices dos Indicadores Renda Bruta Familiar – E2

4.3 ANÁLISE DA ATUAÇÃO DAS ENTIDADES PARCEIRAS

As questões que dizem respeito à perspectiva do desenvolvimento do território Pedra Branca, atualmente, estão sendo tratadas em nível estratégico através da parceria entre: CHESF, CODEVASF e Pólo Sindical, conforme exposto acima, a qual trata do território de Itaparica como um todo (conjunto de perímetros de irrigação), porém, considerando estrategicamente, as especificidades de cada um dos territórios integrantes, entre eles o Pedra Branca.

Os aspectos mais gerais integram uma pauta de discussões acerca da futura “emancipação” dos perímetros irrigados, a qual diz respeito a um conjunto de questões, desde a conclusão de obras restantes; estudos e diagnósticos; melhoramentos dos sistemas de irrigação; problemas ambientais; capacitação dos agricultores; gestão coletiva dos bens comuns; integração com outras com Políticas Públicas em nível governamental, etc.

A “emancipação dos perímetros de irrigação de Itaparica”, nessa tese, é entendida como a essência estratégica do processo de desenvolvimento sustentável do território Pedra Branca, a qual vem sendo discutida tendo como Marco Legal a Política Nacional de Irrigação (Lei Federal 6.662/79 regulamentada pelo Decreto 89.496/84) a qual estabelece que:

Proceder-se-á à emancipação quando constatados o término das obras da infraestrutura indispensável, o assentamento de, pelo menos, 2/3 (dois terços) dos irrigantes e a comunidade esteja social e economicamente apta a se desenvolver, dispondo de uma organização interna que lhe assegure vida administrativa própria e atividades comerciais autônomas (BRASIL,1984).

A CODEVASF, órgão ligado ao Ministério da Integração Nacional, com base nisso, desenvolve há décadas em outros perímetros de irrigação fora de Itaparica, um Programa de Transferência de Gestão em que a “emancipação” é necessária para:

[...] atingir a autogestão administrativa e econômica dos perímetros públicos de irrigação [...] de modo a permitir que os produtores, por meio de suas organizações, obtenham as condições mínimas para assumir os encargos financeiros decorrentes. Durante um período, os agricultores são conscientizados do seu papel de empresários rurais, são capacitados em agricultura irrigada e para as tarefas de operação e manutenção dos sistemas. A transferência da gestão de perímetros públicos de irrigação no Brasil é proposta como uma medida eficaz para aumentar a produtividade das áreas beneficiadas, bem como para garantir a economia de água e manutenção apropriada da infraestrutura, verificando-se uma significativa redução dos custos operacionais. Outro fator relevante é a desoneração do Estado da responsabilidade direta pela operação e manutenção dos perímetros, ficando o mesmo responsável apenas pela regulação e fiscalização dessas atividades” (CODEVASF, 2007. p 73).

Por outro lado, em nível de Ministério da Integração Nacional (ao qual a CODEVASF é vinculada), tem sido considerada a necessidade de realizar mudanças e adequações dos rumos das ações desenvolvidas na política de irrigação, as quais tem contemplado uma compreensão mais ampla acerca do processo de “emancipação” dos perímetros irrigados, bem

como de ajustes no direcionamento das ações das respectivas entidades ligadas ao Ministério, considerando que:

[...], se a Lei de Irrigação, de 1979, e sua regulamentação, por Decreto de 1984, expressaram uma visão válida à época sobre o papel da irrigação, a adoção de uma nova opção deve, igualmente, refletir-se numa nova lei. Essa afirmativa não implica na impossibilidade de se redirecionar o programa de implantação de sistemas públicos de irrigação vinculando-o à exigência de promulgação de uma nova lei sobre o setor (BRASIL, 2008, p.83).

[...] é importante levar em consideração que são poucos os projetos públicos que atingiram a maturidade, especialmente em termos de desenvolvimento agrícola, autossuficiência financeira e capacidade gerencial. Mais importante do que a própria transferência da gestão é se ter à disposição a capacidade e os mecanismos para aferição dos resultados. Assim, além de criar as condições que a favoreçam, deve se, então, estruturar e implantar um programa capaz de monitorar e avaliar constantemente os efeitos da transferência, mas apenas não em termos de sistemas ou hectares transferidos [...] (BRASIL, 2008, p.107).

A forma de agir do MI tem mudado de forma ostensiva na presente administração. As ações das entidades vinculadas são acompanhadas com maior assiduidade, ficando evidente a vontade de colaborar e não, simplesmente, de fiscalizar. Mas, [...], adote-se ou não a nova visão, é preciso e urgente introduzir mudanças na forma em que se planejam e executam as ações do setor público federal (BRASIL, 2008, p.109).

Considerando que a CHESF seja uma empresa de geração de energia e não tenha experiência histórica com a agricultura irrigada; que o Pólo Sindical seja uma entidade representativa de agricultores e que a CODEVASF, com base no exposto acima, passa por uma reorientação de rumo das suas ações, a “emancipação” dos perímetros irrigados de Itaparica evidenciou, na época da pesquisa, uma conotação de processualidade, distinta daquela que vinha sendo realizada pela empresa, há décadas na região do Submédio São Francisco.

Muito embora não se tenha denotado clarividência suficiente em termos de resultados de nenhuma ação nesse período, cabe ressaltar que o referido arranjo institucional estratégico (CHESF, CODEVASF e Pólo Sindical) não ocorreu ao acaso, tendo sido resultante de ações político-institucionais articuladas pelo Pólo Sindical.

Considerando o término do Convênio atual entre CHESF e CODEVASF e a falta de informações sobre o futuro do reassentamento de Itaparica, o Pólo Sindical empenhou-se em realizar ações, entre as quais se destacam as que ocorreram entre março e abril de 2012, sendo sequencialmente:

a) Ocupação da Superintendência regional da CODEVASF em Petrolina-PE;

b) Acordo resultante da ação anterior entre Pólo Sindical, Superintendências Regionais da CODEVASF e Direção da CHESF, assinado em Recife-PE;

c) Acordo, em Brasília, resultado da ação anterior, com Presidência da CODEVASF e Secretário de Irrigação do Ministério da Integração Nacional e Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA para realização de ações conjuntas;

d) Audiência Pública na Assembleia Legislativa de Pernambuco para sensibilização da classe política da região.

Dessas ações resultou na formalização de um compromisso para criação do “Comitê de Acompanhamento do Programa de Transferência de Gestão” integrado pela CHESF, Pólo Sindical e CODEVASF, de forma a fazer com que o processo de Transferência de Gestão venha a ser considerada como um caminho a ser trilhado, rumo ao desenvolvimento sustentável dos perímetros de Itaparica (territórios), caminho esse aberto a novos entrantes que possam vir a ser necessários para tornar mais factíveis os resultados das ações.

Ressalta-se que para a formulação do novo Programa de Transferência de Gestão, foram negociadas como premissas básicas: a consideração pelas especificidades de cada um dos perímetros de irrigação de Itaparica (territórios), por conseguinte do território Pedra Branca e a criação de um “novo modelo de ATER” (assistência técnica e extensão rural), esse último considerado como ferramenta básica para o incremento dos níveis de capital social em cada território específico.

Ficou definido que os aportes de recursos financeiros para dar conta do referido Programa de Transferência de Gestão serão viabilizados pela CHESF, a qual ainda exercerá o papel de entidade governamental responsável pelo reassentamento de Itaparica e detentora de orçamento próprio para tal finalidade.

Esses recursos deverão continuar a ser transferido para a CODEVASF, através de um novo “Termo de Cooperação” (Convênio) quando do término do Convênio em voga (iniciado em de 2007 e prorrogado até 2013), cabendo ressaltar que parcelas restantes do convênio em vigor ainda estão sendo empregadas nos serviços de operação e manutenção dos sistemas de irrigação – O&M, assim como para assistência técnica – ATER na atualidade.

O atual período vem sendo denominado pelas entidades estratégicas de: “Fase de Transição”, no qual os parceiros buscam estabelecer consensos acerca do formato do próximo instrumento institucional ─ novo Convênio para o Programa de Transferência de Gestão de Itaparica ─ o qual garantirá continuidade das ações, após 2013.

A CODEVASF, como contrapartida, disponibiliza seus recursos humanos e tecnológicos para operacionalizar as ações, mediante contratação e fiscalização de empresas privadas, conforme um cronograma de execução o qual deverá ser acompanhado pelo

“Comitê de Acompanhamento do Programa de Transferência de Gestão”, tendo participação também de outras entidades, a depender da especificidade do tema a ser tratado, conforme deliberação das entidades estratégicas.

O Pólo Sindical nessa perspectiva terá atribuições de representação política dos agricultores, atuando na mobilização e articulação da sua base para mediar as negociações junto às organizações de agricultores de cada território específico, em torno dos aspectos estratégicos, lançando mão do seu principal recurso: político-institucional.

Afora as referidas entidades estratégicas, evidenciou-se em campo, que estão atuando em nível local do território Pedra Branca, quatro organizações de agricultores: HORTPEIXE; FLORIMEL; COAJ e COOPEBRAN.

Porém, todas de forma insipiente enquanto ao estabelecimento de parcerias institucionais, tendo elas participado, no último ano, de alguns eventos deliberados no nível estratégico, visando levantar de contribuições para formulação do “novo modelo de ATER”. Tais eventos, no entanto, ocorreram sem que contribuições ou compromissos pudessem ser vislumbrados.

Em que pese que esse cenário insipiente em termos de parcerias organizacionais possa ser consequência da história das relações sociais anteriormente descritas, o contexto analisado evidenciou, por outro lado, um estado latente e potencialmente favorável ao exercício de mobilizações dos atores coletivos ─, dada a inegável existência de capital social ─, o que permite reconhecer a existência de um estado de latência no qual estão imersas essas referidas organizações de agricultores.

A leitura desse cenário por parte dos atores sociais, no entanto, não é favorecida atualmente, dada a falta de envolvimento de outros agentes territoriais locais que poderiam impulsionar as comunidades ao acesso de conhecimentos imprescindíveis à viabilização da governança do território.

Foi percebido que, em função dos limites impostos ao Pólo Sindical em termos de recursos humanos, financeiros e materiais, sua ação em nível local não expressou continuidade para o referido intento de reforçar o capital social, para além do âmbito político- reivindicativo. Os Sindicatos de Trabalhadores Rurais de Curaçá-BA e Abaré-BA, da mesma forma, atua dentro das suas limitações em termos de recursos.

No entanto, é justamente no que tange à participação das entidades prestadoras dos serviços de assistência técnica - ATER e operação e manutenção - O&M que as limitações para formação e/ou reforço do capital social para a perspectiva do desenvolvimento territorial

se expressaram e, isso ocorre em função da própria condição de contratadas ou prepostas da CODEVASF.

Essa condição tem imposto a essas empresas a uma espécie de “obediência cega” em função da burocracia existente (própria da cultura organizacional da CODEVASF) para gestão dos contratos, os quais ocorrem sempre com duração definida e sem que os agricultores usuários possam deliberar, seja em nível de planejamento e controle, seja na avaliação, visando indicar mudanças de rumo no andamento das respectivas intervenções das empresas.

Ressalta-se neste ínterim que em novembro de 2011 findou o contrato de ATER com uma determinada empresa (iniciado em agosto de 2008) e cujos serviços somente foram retomados (por outra empresa) em julho de 2012, deixando evidente a ocorrência de “vácuos” que têm impedido a processualidade das ações.

Pode-se afirmar com isso que, historicamente outros sucessivos períodos de interrupção ocorreram nessas ações de ATER as quais deveriam ser eminentemente continuada e sob uma mesma coordenação.

O papel institucional que poderia estar melhor desempenhado pela ATER ─ na perspectiva de contribuir para o fortalecimento do capital social ─, foi restringido, não tendo sido percebida, na pesquisa de campo, nenhuma informação de que perspectivas de construção conjunta de conhecimentos tenham ocorrido, para além do técnico-produtivo, com vista a apoiar uma estratégia planejada de desenvolvimento territorial, conforme as premissas do futuro “Programa de Transferência de Gestão”.

Afora as empresas de ATER, as empresas de operação e manutenção dos sistemas de irrigação – O&M também poderiam atuar como parceiras nessa mesma perspectiva desvelando conhecimentos imperiosos à futura gestão da água de irrigação, porém, elas desenvolvem suas atividades na forma de tarefas cotidianas caracteristicamente mecânicas, sem que objetivos mais amplos tenham sido postos em seus respectivos contratos com a CODEVASF.

Outras entidades (não prepostas da CODEVASF) realizaram algumas ações pontuais em parceria com as organizações de agricultores, a exemplo das prefeituras municipais de Curaçá-BA e de Abaré-BA as quais se envolveram apenas em aquisições de produtos para merenda escolar entre 2010 e 2012 (através do PAA/CONAB), também sem nenhuma perspectiva de longo prazo ou vinculada aos acordos estratégicos para desenvolvimento territorial.

Outros organismos como SEBRAE/ SENAI participaram também, nos últimos dois anos, em algumas atividades pontuais de capacitação de agricultores sobre processamento de produtos agrícolas, atividades essas, da mesma forma, desvinculadas de planejamento estratégico para o território ou de compartilhamento de recursos visando objetivos mais amplos.

Se em nível local esse quadro institucional evidenciou fragilidade das parcerias em nível territorial, em nível estratégico outras entidades passaram a contribuir em atividades voltadas à formulação do “novo modelo de ATER”─ uma das premissas do Programa de Transferência de Gestão de Itaparica ─, ampliando a quantidade de organizações governamentais e não governamentais com vista a encaminhar as deliberações dos parceiros territoriais estratégicos, a exemplo da Secretaria da Agricultura Familiar do MDA, para compartilhar conhecimentos acerca do Programa Nacional de ATER – PNATER, bem como a entrada do Centro Dom Helder Câmara, ONG que participou dessas discussões, trazendo sua experiência de gestão de ATER, as quais tiveram base no PNATER20.