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Grágico 2 Índices dos Indicadores Renda Bruta Familiar – E2

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

4.1.1 Aspectos Físicos e Demográficos do Território Pedra Branca

O perímetro de irrigação Pedra Branca está localizado no norte do estado da Bahia a 82 km da sede do município de Curaçá e a 42 km da sede de Abaré, na região semiárida do Submédio São Francisco- SMSF9 (figura 5).

O referido perímetro de irrigação, doravante considerado território de Pedra Branca está distante 170 km da cidade de Juazeiro-BA, com acesso pela rodovia BA-210 e a 650 km da Capital, Salvador – BA, pela rodovia BR 116.

Em termos específicos, o perímetro está geograficamente situado entre os paralelos Sul 08°38’57” e 08°43’27”; os meridianos Oeste 39°22’53” e 39°28’42” (figura 6), numa área total de 9.633 hectares da qual uma parcela de 2.371 ha é destinada às explorações agrícolas irrigadas de 710 famílias. O saldo restante daquela área é utilizado coletivamente pelos usuários para atividades extrativistas e pecuárias, além de servirem como reservas ambientais e suporte às infraestruturas de moradia e equipamentos comunitários.

Nesses termos, considera-se que o perímetro de irrigação Pedra Branca é um agroecossistema composto de 710 unidades de produção agrícola de base familiar (conjunto de agroecossistemas familiares), onde ocorre uma complexa dinâmica sócio-produtiva cuja característica principal a capacidade de adaptação dos atores sociais às constantes mudanças de contexto, inclusive institucional, permitindo historicamente sua reprodução.

Na referida área agrícola encontra-se implantado um sistema de irrigação composto de subsistemas de adução, recalque, reservação, pressurização e distribuição de água às unidades

9 A Bacia do rio São Francisco é dividida em 4 grandes regiões: Alto; Médio; Submédio e Baixo, em função de

distintas características, entre as quais a topográfica. A região Submédia abrange áreas dos estados da Bahia e Pernambuco, estendendo-se de Remanso-BA até Paulo Afonso-BA, e incluindo as sub-bacias dos rios Pajeú, Tourão e Vargem, além da sub-bacia do rio Moxotó, último afluente da margem esquerda (BRASIL, 2006).

de produção individuais (agroecossistemas), cujos equipamentos e componentes funcionam até 18 horas/dia, de forma a atender integralmente a demanda dos agricultores familiares como uma infraestrutura única ─ uso comum ─, a exceção dos equipamentos individuais existentes em cada unidade de produção agrícola ou lote irrigado.

Figura 5. Divisões do Vale do Rio São Francisco

Fonte: BRASIL (2006)

Em termos de serviços para a população, cita-se a existência de 11 escolas de ensino fundamental e duas de ensino médio; três postos de saúde; serviços de transporte coletivo (alguns ônibus); um posto policial e serviço de telefonia (28 postos telefônicos) e sinal regular para telefonia celular. Além disso, na área central do Projeto, existe um núcleo de serviços dotado de escritórios destinados à administração do perímetro irrigado10.

São usuárias desse conjunto de infraestruturas e serviços, as famílias de agricultores oriundas de zonas rurais dos municípios baianos de Rodelas-BA e de Chorrochó-BA, como também de alguns municípios pernambucanos ribeirinhos, os quais tiveram áreas rurais

10 No Núcleo Principal de serviços, estão funcionando o escritório da empresa de assistência técnica – ATER; o

escritório empresa de operação e manutenção do sistema de irrigação (O&M) e estão previstas para ser construídas algumas infraestruturas para abrigar sedes de cooperativas e estabelecimentos comerciais.

inundadas por ocasião do enchimento do lago da hidrelétrica de Itaparica, no final da década dos anos 80 do século passado.

Figura 6. Localização do perímetro de irrigação Pedra Branca em relação à região do Submédio São Francisco

Fonte: Adaptado de Brasil (2004)

Essas famílias de agricultores, portanto, passaram por um processo de reassentamento compulsório, saindo de seus antigos locais de moradia e trabalho ─ em que, por várias gerações reproduziam um modo de vida típico das populações ribeirinhas ─, para assumir um conjunto de novos processos sociais de trabalho, distintos das antigas práticas agrícolas, tendo que incorporar outras formas de produção agrícola, agora em conformidade com as novas tecnologias e com as exigências do mercado, a despeito de todo um conjunto de consequências gerado pela ruptura dos laços socioculturais que mantinham em seus locais de origem.

Não obstante maiores considerações sobre esse processo de transferência e adaptação dos agricultores familiares ao novo contexto cabe, porém, ressaltar que tais questões já foram abundantemente relatadas em diversos estudos realizados acerca dos impactos socioculturais e ambientais negativos causados pelo reassentamento populacional de Itaparica, não sendo esses aspectos aqui enfocados com detalhes para não incorrer no distanciamento dos propósitos desta tese.

No entanto, cabe destacar que o Projeto Pedra Branca integra um conjunto de nove perímetros de irrigação localizados no Submédio São Francisco (figura 7), construídos pelo Governo Federal através da Companhia Hidrelétrica do São Francisco – CHESF (empresa do Sistema Eletrobrás), especificamente para reassentar uma população da ordem de 5.900 famílias de áreas urbanas e rurais que foram inundadas para construção daquela referida hidrelétrica.

Figura 7. Representação esquemática da localização dos perímetros de irrigação do reassentamento de Itaparica no Submédio São Francisco

Fonte: Relatórios da empresa de ATER (2012)

Desse contingente populacional, a quase totalidade era ligada à agricultura em cujos vínculos predominavam, em até 80% dos casos, famílias destituídas da posse da terra e de outros bens de produção, mantendo distintas formas de parcerias, arrendamento ou ainda assalariamento, mas, também proprietários de terras e de bens de capital (PANDOLFI, 1986).

Todas as famílias que foram reassentadas no Projeto Pedra Branca como nos outros oito perímetros de Itaparica11 exploram atualmente unidades de produção agrícolas (agroecossistemas) mediante irrigação por aspersão convencional e microaspersão12, cujas dimensões variam entre três a seis hectares, conforme a força de trabalho (mão de obra familiar) calculada na época que antecedeu o reassentamento.

11 Denominação utilizada pelos órgãos estatais: Companhia Hidrelétrica do São Francisco - CHESF (responsável

pelo reassentamento) e pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – CODEVASF (responsável pela operacionalização dos sistemas de irrigação dos perímetros).

12 O método de irrigação por aspersão convencional caracteriza-se possibilitar, através de pressão, o

fracionamento e distribuição uniforme da água sobre toda a área de cultivo agrícola. Por sua vez, a microaspersão irriga apenas as áreas efetivamente cultivadas, dispondo às plantas quantidades necessárias ao seu metabolismo, sendo por isso mais eficiente que o anterior.

Tal procedimento de cálculo ficou estabelecido em um acordo negociado entre a entidade representativa dos agricultores: Pólo Sindical dos Trabalhadores Rurais do Submédio São Francisco; a Companhia Hidrelétrica do São Francisco - CHESF e a ELETROBRAS, acordo esse que compõe o alicerce de todo conjunto de relações organizacionais e institucionais desde o ano de 1986 até os dias atuais, dentro de um processo de territorialização, conforme será descrito a seguir.

4.2. HISTÓRICO DO CONTEXTO TERRITORIAL