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4.Casuística e Métodos

GPX1 5’ CATCAGGAGAACGCCAAGAAC 3’ 3’GCATGAAGTTGGGCTCGAA 5’

5.7 Análise da Expressão gênicas das Selenoproteínas

Na Tabela 9 e Figura 10 são apresentados os resultados da expressão gênica das selenoproteínas estudadas. Após os 4 meses de tratamento com a rosuvastatina, os pacientes apresentaram um aumento significativo na expressão gênica da selenoproteína GPx1 (t27 = -

0,24; p = 0,023) e SelN1 (t27 = -0,35; p = 0,002) (Figuras 9 e 10). A expressão gênica da

SelP1 foi similar entre os tempos de tratamento (Z = 1,12; p = 0,259).

TABELA 9 – Variação da expressão de mRNA dos genes GPX1, SEPN1 e SEPP1 dos pacientes com aterosclerose tratados com rosuvastatina, atendidos no Natal Hospital Center.

Valores expressos como média ± DP.

Teste estatístico: Teste t de Student pareado. a Teste estatístico: Wilcoxon T0 – Pré-tratamento. T1 – Pós-tratamento.

Ct: CT indivíduo – média Ct grupoT0). GPX1-gene da Glutationa Peroxidase 1. SEPN1 – gene da

selenoproteína N 1. SEPP1 – gene da selenoproteína P 1.

Não foram observadas correlações significativas entre a expressão gênica das selenoproteínas e a atividade enzimática da GPx, o selênio da dieta e as concentrações de selênio no plasma e nos eritrócitos (r ≤ 0,342; p ≥ 0,094) (ANEXO D).

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NOTA: T0 – Pré-tratamento. T1 – Pós-tratamento. Teste estatístico: a Teste t de Student pareado; b Teste Wilcoxon. Controle endógeno: gliceraldeído- 3-fosfato desidrogenase (GAPDH)

FIGURA 10 - Valores médios e intervalos de confiança (95%) das expressões relativas de mRNA do GPX1(A), SEPN1 (B) e SEPP1 (C) de pacientes com aterosclerose tratados com rosuvastatina, atendidos no Natal Hospital Center.

a

b

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6. Discussão

A maioria dos indivíduos apresentou alguns hábitos de vida que representavam fatores de risco para o desenvolvimento da aterosclerose, como histórico de tabagismo e de consumir bebidas alcoólicas (ARMAGANIJAN; BATLOUNI, 2000). No estudo de Alves et al. (2009), com pacientes com doença aterosclerótica não coronariana, foi encontrada uma prevalência de 57,3% de ex-fumantes e de 15,6% de ex-etilistas, inferiores aos encontrados no presente estudo.

É importante ressaltar que a maioria dos pacientes avaliados apresentavam sobrepeso e obesidade, nos dois momentos de avaliação, além do elevado risco de complicações metabólicas relacionados a obesidade, com base na circunferência abdominal. A alta prevalência de sobrepeso e obesidade em indivíduos adultos e idosos vem sendo reportada em diversos estudos como importantes fatores de risco para de desenvolvimento de doenças cardiovasculares (SANTOS; SICHIERI, 2005; SARNO; MONTEIRO, 2007; SHISHEHBOR et al., 2008).

A circunferência abdominal possui vantagem em relação às outras medidas antropométricas pelo fato de não ser influenciada pela estatura. Essa medida expressa a obesidade abdominal do paciente que é fortemente associada à resistência insulínica e à síndrome metabólica (HOLANDA et al., 2006). No estudo IRAS, observou-se que o aumento do perímetro abdominal foi a variável com maior poder de prever o desenvolvimento futuro da síndrome metabólica (CIORLIA; GODOY, 2006).

Esses fatores de risco continuam preocupantes no Brasil. Um estudo recente foi realizado com mais de 48 mil famílias, cujo principal objetivo era estudar a renda familiar, o consumo de gêneros alimentícios e a composição corporal da população. Conforme este último parâmetro avaliado, foram apresentadas as taxas de prevalência de obesidade do Brasil e das capitais. Foi observada em Natal uma prevalência de 10,32% de indivíduos obesos, não foi relatada a proporção de indivíduos com sobrepeso (LOBATO; COSTA; SICHIERI, 2009).

Com relação a avaliação do consumo alimentar foi observado que 80,0% dos pacientes apresentaram consumo energético abaixo do recomendado. Na literatura são descritos casos de sub-relato quando se trata de avaliação do consumo alimentar, tanto na quantidade de porções quanto dos alimentos em geral (BRIEFEL et al., 1997). A dieta exerce papel fundamental no tratamento de doenças cardiovasculares (HANKEY; LESLIE, 2001), a terapia nutricional é reconhecida pela American Heart Association (AHA) e o National Cholesterol Education Program (NCEP) como método de prevenção e tratamento da doença

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cardiovascular (AHA, 1993; KRIS-ETHERTON, 2001; EXECUTIVE SUMARY OF..., 2001).

Sobre a contribuição dos macronutrientes no valor energético total (VET) da dieta, foi observado que os pacientes apresentaram distribuição média de ingestão adequadas, quanto aos carboidratos, apesar de alguns pacientes referirem o consumo de alimentos integrais (principalmente a aveia em flocos), a maioria deles ingeriu grandes quantidades de alimentos refinados (pães e biscoitos), o que contribuiu para a baixa ingestão de fibras. Sabe-se que as principais fontes de selênio são também fontes de proteínas. Apesar do consumo médio desse macronutriente ter sido maior que a recomendação, ainda não foi o suficiente para adequar a ingestão de selênio, o que pode ser atribuído a não inclusão das fontes de selênio de maior biodisponibilidade.

O desequilíbrio entre os tipos de gordura dietética pode levar a eventos cardiovasculares, principalmente no que diz respeito ao elevado consumo de gordura saturada e baixo consumo de gordura monoinsaturada (CLARKE et al., 2009). No nosso estudo os pacientes apresentaram valores médios de ingestão de gordura mono, poli e saturada adequados de acordo com a recomendação, porém esses resultados podem ser explicados por mudanças recentes no hábito alimentar, devido a descoberta da doença e sua relação com os lipídeos da dieta.

A prevalência de inadequação da ingestão de selênio foi semelhante ao encontrado no estudo de Alissa et al. (2006), realizado com pacientes com doenças cardiovasculares.

Existem muitas dificuldades para avaliação do consumo alimentar de selênio, pois existem variações das concentrações desse mineral nos solos de diferentes regiões do Brasil e limitações de informações nutricionais em tabelas de composição de alimentos brasileiros. Muitos dos valores de selênio empregados na avaliação do consumo alimentar são referentes a alimentos oriundos de países com concentrações altas do mineral no solo ou com políticas de fortificação de alimentos (COZZOLINO, 2007; COMBS, 2001; GONZÁLEZ et al., 2006). A concentração de selênio em alguns gêneros alimentares consumidos pela população brasileira já é conhecida, sendo considerados com maior teor do mineral as carnes (aves, peixes e carne vermelha) e os feijões. Inclusive os feijões se destacaram como fontes predominantes na população estudada (FERREIRA et al., 2002).

Estudos nacionais identificaram variações no consumo de selênio, o maior consumo ocorreu em crianças da cidade de Macapá (AP) (107μg de Se/dia), seguido de adultos de Manaus (AM) (98μg de Se/dia) devido ao consumo de castanha do Brasil. Crianças residentes em São Paulo (SP) apresentaram concentrações médias diárias mais baixas (26,3μg de Se/dia)

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(MAIHARA et al., 2004). Outro estudo que utilizou a castanha-do-brasil como suplementação de selênio, apontou que o consumo do mineral pelos participantes antes da intervenção era de 94,4 (±23,1)μg/dia (STRUNZ et al., 2008).

Nesse estudo, como esperado, o tratamento com a rosuvastatina (10mg/dia) durante quatro meses resultou em redução do colesterol total, LDL e Triacilgliceróis, não modificando o HDL, resultados estes semelhantes aos descritos em estudos anteriores (MOREIRA et al., 2006; GÓMEZ-GARCÍA et al., 2007; TAKAYAMA et al., 2009). No estudo ASTEROID (NISSEN et al., 2006), a redução de 53,2% nos valores de LDL foi semelhante aos nosso resultados. Em estudos clínicos comparativos, a rosuvastatina, administrada em doses de 5 a 10 mg/dia, reduziu as taxas sangüíneas de LDL em níveis significativamente superiores aos alcançados com estatinas convencionais, como atorvastatina (10 mg/dia), pravastatina (20 mg/dia) e sinvastatina (20 mg/dia). Ao lado dessa maior eficácia em relação à fração mais aterogênica do colesterol, a rosuvastatina também apresentou efeitos benéficos sobre outros parâmetros lipídicos, como diminuição dos triacilgliceróis e aumento de HDL (CHENG-LAI, 2003).

Houve uma redução significativa da glicemia que estava elevada tanto em T0 quanto em T1, comportamento positivo, pois tem sido relatada relação entre a utilização da rosuvastatina e elevação na glicemia, até mesmo com o desenvolvimento da resistência insulínica (KOSTAPANOS et al., 2009). A hiperglicemia pode representar um fator de risco importante para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares atribuído ao excesso de glicose gerando um efeito tóxico no endotélio vascular mediado pelo estresse oxidativo (SIES; STAHL; SEVANIAN, 2005).

De acordo com Shchukin et al. (2008), o tratamento com rosuvastatina, em doses moderadas (10mg/dia), diminui significantemente o estresse oxidativo e a atividade inflamatória endógena, pela ativação do sistema antioxidante plasmático, o que pode explicar o aumento da atividade enzimática da GPx durante o presente estudo. A GPx1 é considerada uma das selenoproteínas mais sensíveis a variações nas concentrações de selênio plasmáticas e eritrocitárias (SUNDE et al., 2008).

Nesse estudo, para determinar o estado nutricional relativo ao selênio, além da ingestão do mineral foram analisadas as concentrações no plasma e eritrócitos dos pacientes. Existem diversos fatores que influenciam as concentrações séricas de selênio, como a idade, gênero, presença de tabagismo e etilismo, além da dieta, considerada o fator mais influente (VIEGASRESPO et al., 2000; GALAN et al., 2005; STRANGES et al., 2010).

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Os pacientes apresentaram concentrações de selênio no plasma e nos eritrócitos dentro dos pontos de corte estabelecidos, sem alterações após o tratamento com a rosuvastatina, o que corrobora com outros estudos (GHAYOUR-MOBARHAN et al., 2005; LEONHARDT et al., 1997). No entanto, esses autores investigaram outras estatinas (sinvastatina, atorvastatina e fluvastatina). Resultados sobre o efeito da rosuvastatina nas concentrações de selênio no plasma e eritrócitos em estudos semelhantes ao nosso ainda não são conhecidos. A concentração de selênio no plasma é um marcador da exposição atual, enquanto a dos eritrócitos reflete o estado nutricional a longo prazo, devido a sua incorporação na síntese dos eritrócitos, que tem uma meia-vida de 120 dias (NAVARRO-ALARCON; CABRERA- VIQUE, 2008). A inadequação na ingestão de selênio na dieta não refletiu sobre os parâmetros sanguíneos desse mineral.

Na meta-análise publicada por Flores-Mateo et al. (2006), a variação de selênio no plasma foi na faixa de 52,5 e 106,8 μg L. Em outro estudo com população dinamarquesa as concentrações foram bem homogêneas, entre 94,4 e 98,7 μg L (RASMUSSEN et al., 2009). No estudo de Strunz et al. (2008) foi observado uma concentração de 56 (±9) μg L. Como se observa, os valores encontrados para a maioria dos estudos são consistentes com estado nutricional adequado do mineral.

Segundo Arnaud et al. (2009), existe a hipótese de que a reposta do selênio plasmático no tratamento com estatinas pode atingir um platô e então ser regulado pelas alterações nas concentrações de LDL. A elevação desse mineral no plasma está associado a redução nas partículas de LDL, lipoproteína mais susceptível a oxidação. Essa relação pode reforçar o papel antioxidante desse mineral a importância do selênio no sistema antioxidante.

A biossíntese do colesterol é uma das funções da via do mevalonato. Essa via é também essencial para a síntese das diversas isoprenóides como isopentenil pirofosfato (IPP) (GRUNLER; ERICSSON; DALLNER, 1994), que é um substrato para formação das selenoproteínas (MOOSMANN; BEHL, 2004a), uma vez bloqueada esta via a partir da atuação das estatinas consequentemente espera-se uma redução na síntese do IPP.

Dessa forma, poderia se esperar que os pacientes tratados com a rosuvastatina apresentassem uma redução da expressão gênica dessas selenoproteínas, porém foi observado um aumento na expressão dos genes das selenoproteínas GPx1 e SelN, o que não corroborou com os achados de Kromer e Moosmann (2009), que observaram uma redução na expressão gênica da GPx1 após tratamento com diferentes estatinas (atorvastatina, cerivastatina e lovastatina), no entanto, com doses e tempo de tratamento diferentes deste estudo. Evidências sugerem que ocorre uma redução na síntese das selenoproteínas em situações de estresse

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oxidativo, como um meio de preservar os recursos celulares (HOLCIK; SONENBERG, 2005), porém a GPx1 é a selenoproteína que se recupera mais rapidamente (PAPP et al., 2007).

A solubilidade das estatinas tem sido estudada como um fator importante no desenvolvimento dos efeitos colaterais no tecido muscular. Estudos in vivo (NAKAHARA et al., 1998; REIJNEVELD et al., 1996) e in vitro (MASTERS et al., 1995; GADBUT; CARUSO; GALPER, 1995) demonstraram que as estatinas hidrofílicas, como a rosuvastatina e pravastatina possuem menores efeitos no tecido muscular quando comparadas a estatinas lipofílicas, como a lovastatina e sinvastatina. Todavia, não se pode inferir a relação entre o tratamento com a rosuvastatina e as miopatias, já que não houve relato de efeitos colaterais em nosso estudo.

O aumento da expressão do gene da selenoproteína N pode estar relacionado ao fato desta ser, preferencialmente, expressa na proliferação de células e durante formação de tecidos (PETIT et al., 2003), porém não há relatos dessa expressão aumentada em pacientes com aterosclerose. Também não foram relatados efeitos musculares em decorrência do tratamento, o que está associado a dose de administração do medicamento e ao tempo de tratamento, que pode variar de uma semana a quatro meses após o início do tratamento com estatinas (PASTERNAK et al., 2002).

Em nosso estudo o tratamento com a rosuvastatina não alterou a expressão do SEPP1. A expressão gênica observada está condizente com as concentrações de selênio plasmático e eritrocitário, encontradas no estudo, uma vez que uma das funções da SelP1 é o armazenamento e transporte de selênio (BURK; HILL, 2009). Alguns estudos sugerem que a expressão do mRNA da selenoproteína P se encontra aumentada em doenças inflamatórias (MOSTERT et al., 2001). A ausência de alteração da expressão dessa selenoproteína em nosso estudo pode estar relacionada ao efeito anti-inflamatório atribuído a rosuvastatina (KINLAY, 2005).

A via de bissíntese do colesterol, bloqueada pelas estatinas, parece não ser a única via que interfere na síntese das selenoproteínas, pois mesmo com o tratamento com a rosuvastatina não foi observada redução da expressão gênica das selenoproteínas GPx1, SelN1 e SelP1. Dessa forma, se fazem necessários mais estudos que elucidem esses mecanismos de síntese das selenoproteínas frente ao tratamento com a rosuvastatina.

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7. Conclusões

1. Os pacientes apresentaram uma melhora do estado nutricional avaliado pela antropometria, principalmente com relação a circunferência abdominal;

2. O consumo de energia foi abaixo das necessidades, embora com distribuição percentual adequada dos macronutrientes. Com relação ao aspecto qualitativo das gorduras, observou-se um perfil satisfatório quanto aos ácidos graxos poliinsaturados e monoinsaturados; e do contrário, proporções críticos de elevado consumo de ácido graxos saturados e colesterol. A fibra foi o nutriente com total inadequação. O consumo de selênio apresentou alta prevalência de inadequação;

3. Após tratamento com rosuvastatina foi observado que:

3.1. O colesterol total, LDL e glicemia diminuíram significativamente;

3.2. As concentrações de selênio no plasma e nos eritrócitos não apresentaram alterações, mantendo-se na faixa de valores considerados normais;

3.3. A atividade enzimática da GPx aumentou significativamente;

3.4. Houve aumento da expressão do mRNA do GPX1 e do SEPN1, enquanto que a expressão gênica do SEPP1 não sofreu alteração;

4. Diante dessas constatações, especula-se que via de biossíntese do colesterol, bloqueada pelas estatinas, parece não ser a única via que interfere na síntese das selenoproteínas, pois mesmo com o tratamento com a rosuvastatina não foi observada redução da expressão gênica das selenoproteínas GPx1, SelN1 e SelP1. Dessa forma, se fazem necessários mais estudos que elucidem esses mecanismos de síntese das selenoproteínas frente ao tratamento com a rosuvastatina.

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