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5 Análise dos dados

5.2 Análise dos dados coletados

5.2.1 Análise da pauta acentual de supostos proparoxítonos

Em relação às palavras possivelmente proparoxítonas, podemos notar que o número de dados encontrados é muito reduzido, comparativamente às outras pautas acentuais, conforme pudemos ver na tabela 5.2, acima. De um total de trinta e oito mil e dezoito palavras, foram encontradas apenas cento e treze palavras possivelmente proparoxítonas, um percentual de 0,29% em relação ao total.

123 O quadro 5.1, a seguir, mostra todas as palavras possivelmente proparoxítonas que apareceram no corpus analisado. Para melhor compreendê-lo, devemos ressaltar que mantivemos aqui o esquema de cores explicitado na subseção 4.3, indicando as sílabas que se localizam junto a uma proeminência musical; além disso, colocamos na frente da palavra, entre parênteses, o número de vezes em que ela apareceu no corpus com aquela mesma configuração de cores relativa à coincidência de suas sílabas com proeminências musicais.

Africa angeo (3) angeo (6) angeos angeos (5) angeos (6) Apostoligo Apostolos (4) balssamo Basilio boveda camara clerigo clerigo (2) crerigo (11) crerigo (2) crerigo (6) crerigos crerigos (2) Domini Dominum dovida engẽos Esperito Espirito espirito estoria filosofo fisica fisica foramos fossemos hostia Jeronimo lilios Locifer oissedes omagẽes omagẽes (2) omẽes omees omees (2) omees (2) Omẽes (2) omẽes (4) ostias ostias ouveramos ouvessemos paravoa paravoas poboo poboo (2) poboo (2) poboos Siagrio Spirit tavoa Theophilo Theophilo (2) vesperas vesperas (2) viramos Virgẽes Ydolos

Quadro 5.1 Palavras possivelmente proparoxítonas

Algumas dúvidas podem ser geradas a partir da análise dessas palavras. A primeira delas diz respeito à questão da silabação dos encontros vocálicos em palavras como angeo (e sua forma de plural angeos), Basilio, engẽos, estoria, hostia, lilios, omagẽes, omẽes (e a variante omees), ostias, paravoa (e sua forma de plural paravoas), poboo, Siagrio, tavoa e virgẽes.

O problema reside no fato de que, se esses encontros vocálicos constituíssem ditongos, não teríamos palavras proparoxítonas, mas palavras paroxítonas nesses casos. No entanto, a análise da estrutura do poema e da distribuição das sílabas na pauta musical indica que todos os encontros vocálicos dessas palavras constituem hiatos, aparecendo, inclusive, em posição de rima poética em versos que certamente são graves, além de a contagem das sílabas poéticas

124 desses versos e a equivalência métrica entre as estrofes das cantigas em que aparecem indicarem a separação desses encontros, conforme podemos observar por meio do exemplo abaixo.

(5.1)

En casa do ric' estava un crerigo d' avangeo que ao capelan disse: “Vedes de que me reçeo: se aquesta vella morre, segund' eu entend' e creo, será vos de Jesu-Cristo a sa alma demandada.”

(14ª estrofe da CSM 75, edição de Mettmann, 1986, p. 246)

Observando essa estrofe mostrada no exemplo acima e comparando-a com as outras estrofes da mesma cantiga, podemos perceber que todas as estrofes desta cantiga são compostas de versos graves com quinze sílabas poéticas cada, o que nos faz concluir, portanto, que o encontro vocálico “eo”, nas palavras avangeo, reçeo e creo, constitui obrigatoriamente um hiato.

O mesmo acontece em relação aos encontros vocálicos “ẽe”, “oo”, “ia” e “io”, conforme podemos observar por meio dos exemplos 5.2, 5.3, 5.4 e 5.5, a seguir, observando o seu aparecimento em posição de rima poética.

(5.2)

Daquesta maneira duas noites fez;

mais aa terceira

a Sennor de prez,

a mui verdadeira

e Virgen enteira,

come lumẽeyra

sse lle fez veer,

e deu-lle carreira

per que na fogueira

d' inferno que cheira

non podess' arder.

(7ª estrofe da CSM 192, edição de Mettmann, 1988, p. 221)

Nesta estrofe da CSM 192, mostrada no exemplo 5.2, apesar de haver a alternância entre versos graves e versos agudos, podemos perceber que ela foi composta em versos de cinco sílabas poéticas, e que o verso em que aparece a palavra lumẽeyra é um verso grave, fazendo com que o encontro vocálico “ẽe” se realize separadamente.

125 (5.3)

E depenou seus cabelos e fez por ele gran doo dizendo: “Ai eu, meu fillo, como fico de ti soo; quisera eu que tu visses min com' eu vi teu avoo, meu padre, que me fazia muitas mercees grãadas.”

(4ª estrofe da CSM 323, edição de Mettmann, 1989, p. 148)

No exemplo acima, analisando a estrutura composicional (contagem das sílabas poéticas, mais o tipo de verso e o esquema de rimas) da cantiga em que essa estrofe aparece, podemos perceber que todas as demais estrofes da cantiga em questão são compostas de versos graves, o que nos permite afirmar que as palavras doo, soo e avoo são palavras paroxítonas, e que o encontro vocálico “oo” realiza-se como hiato nessas palavras.

(5.4)

Demais fez-lles gejũar tres dias e levar gran marteir' e afan,

andando per muitas romarias,

bevend' agua, comendo mal pan;

de noite lles fez tẽer vigias na eigreja da do bon talan, Santa Maria, que désse vias per que saissen daquel pavor.

(9ª estrofe da CSM 15, edição de Mettmann, 1986, p. 95)

Se considerássemos que o encontro vocálico “ia” constitui um ditongo, poderíamos afirmar que a estrofe acima é constituída apenas de versos agudos, terminados por palavras oxítonas ou monossílabos tônicos. No entanto, observando as demais estrofes da cantiga em que essa estrofe está presente, notamos que a estrutura composicional do poema indica que cada estrofe começa com um verso grave e, em seguida, aparece um verso agudo, assim alternando até o final da estrofe. Esta constatação nos mostra que os versos na posição em que aparece o verso que traz o encontro vocálico “ia” são graves e, portanto, estas vogais são pronunciadas como um hiato.

Nessa estrofe da CSM 264, apresentada no exemplo 5.5, temos, também, apenas versos graves, uma vez que todo o restante da cantiga em questão é composto por estrofes constituídas de versos graves, apontando, então, para a realização de um hiato no encontro vocálico “io”.

126 (5.5)

Ca os mouros vẽeron cerca-la con gran brio per mar con sas galeas e con mui gran navio; e assi os cuitaron que per força do ryo lles tolleron a agua, ond' a gente bevia.

(3ª estrofe da CSM 264, edição de Mettmann, 1989, p. 16)

Vejamos, agora, por meio dos exemplos que serão apresentados a seguir, trechos das cantigas em que podemos ver a distribuição das sílabas dessas palavras possivelmente proparoxítonas (angeo, omagẽes, omees, poboo, ostias, etc.) nas respectivas pautas musicais da melodia com a qual devem ser cantadas.

(5.6) CMS 1 (5.7) CSM 38

an- ge- o, que lle fa- que nas o- ma- gẽ- es

vi- ron an- ge- os an-

(5.8) CSM 38 (5.9) CSM 27

o- me- es on- po-bo- o dos

(5.10) CSM 15 (5.11) CSM 4

San Ba- si- li- o lo- os- ti- as de

Podemos perceber, por meio da observação dos exemplos de 5.6 a 5.11, que essas palavras se apresentaram, nas análises feitas, com a antepenúltima sílaba aparecendo em uma posição de proeminência musical (em alguns casos, até com notas musicais prolongadas no início do compasso, que é um dos fatores para a determinação de uma acentuação nessa posição, de acordo com FERREIRA, 1986, p. 39) e que a distribuição das suas demais sílabas na pauta musical reitera a constituição de hiato no encontro vocálico existente na fronteira da penúltima sílaba com a última. Portanto, podemos afirmar que a nossa análise nos fornece

127 indícios para acreditar que as palavras citadas e analisadas nesta subseção podem ser proparoxítonas do PA.

Olhando por outro ângulo a presença de proparoxítonas no corpus analisado, podemos dizer que apareceu apenas uma palavra proparoxítona que não tivesse nenhuma de suas sílabas marcadas por uma proeminência musical; além disso, podemos perceber que as coincidências de proeminências musicais com as sílabas tônicas dessas palavras apresentam praticamente o mesmo percentual de ocorrências que o percentual geral desse tipo de coincidência no corpus todo, conforme podemos observar na tabela 5.3, a seguir.

Tabela 5.3 Proparoxítonas com e sem

proeminência musical na tônica

No total, sem descontar as repetições, apareceram cento e treze palavras proparoxítonas no corpus, sendo que, dessas cento e treze, sessenta e sete palavras apareceram com a sílaba tônica marcada por uma proeminência no nível musical, o que representa um percentual de 59,29%, muito próximo ao percentual total do corpus, relativo às coincidências entre proeminência musical e sílaba tônica de uma maneira geral, que é de 63,32%. Isso quer dizer que as chances de essas sílabas consideradas tônicas, nessas proparoxítonas, serem realmente tônicas são praticamente as mesmas em relação às demais palavras do corpus, isto é, em torno de sessenta por cento.

Outro fato que pudemos notar na análise das proparoxítonas encontradas é que uma mesma palavra pode ter mais de uma sílaba marcada por proeminências musicais, principalmente em palavras mais longas, que é o caso das proparoxítonas. Essas palavras tendem a ocupar mais de um compasso, tendo, assim, mais de uma sílaba marcada com proeminência musical. Na tabela 5.4, abaixo, mostramos a relação das palavras proparoxítonas de acordo com a quantidade de proeminências musicais que coincidiram com suas sílabas.

30

PM = proeminência musical.

Proparoxítonas com PM30 na tônica 67 59,29%

Proparoxítonas sem PM na tônica 46 40,7%

128

Tabela 5.4 Proparoxítonas de acordo com a quantidade

proeminências musicais em suas sílabas

Proparoxítonas sobre as quais não recai nenhuma PM 1 0,88%

Proparoxítonas sobre as quais recai apenas uma PM 54 47,78%

Proparoxítonas sobre as quais recaem duas PM 57 50,44%

Proparoxítonas sobre as quais recaem três PM 1 0,88%

Total de proparoxítonas 113 100%

Faremos, agora, algumas observações a respeito do comportamento das proparoxítonas no corpus. Os contextos de coincidências entre as proeminências musicais e as sílabas das proparoxítonas são os seguintes: encontramos proparoxítonas com apenas a sílaba tônica marcada por proeminência musical; também encontramos proparoxítonas com apenas a primeira pretônica marcada por proeminência musical; proparoxítonas com apenas a postônica pré-final marcada; com a tônica e a postônica final marcadas por proeminência musical; com a tônica e a postônica pré-final marcadas; com a tônica, a primeira pretônica, e a postônica final marcadas por proeminência musical; com a tônica e a postônica pré-final; e, enfim, com a primeira pretônica e a postônica pré-final marcadas com proeminência musical.

Já vimos anteriormente, na análise da tabela 5.3, que, das cento e treze palavras proparoxítonas que apareceram no corpus, sessenta e sete delas aparecem com a sílaba tônica marcada com proeminência musical, o que representa 59,29% do total.

Pudemos observar, também, que cinquenta e duas dessas palavras proparoxítonas aparecem com a sílaba postônica final marcada com uma proeminência musical, um percentual de 46,01% em relação ao total de proparoxítonas. No entanto, vale observar que, em todas essas palavras, a sílaba tônica também apareceu marcada com uma proeminência musical. Em outras palavras, não foi encontrada nenhuma palavra proparoxítona com a sílaba postônica final marcada com proeminência musical sem que a sílaba tônica também estivesse marcada no nível musical. É como se essas palavras seguissem um padrão de alternância binária conduzido pela música.

Ainda tratando das proparoxítonas que receberam proeminências musicais em outras sílabas além da tônica, podemos notar que quarenta e quatro palavras apareceram com a sílaba postônica pré-final marcada com proeminência musical, o que representa 38,93% em relação ao total de proparoxítonas. Porém, é importante ressaltar que, dessas quarenta e quatro palavras, apenas seis não apresentaram a sua repetição em um contexto em que a sílaba tônica estivesse marcada pela proeminência musical, ou seja, trinta e oito dessas palavras aparecem repetidas em outros contextos com a tônica marcada com proeminência musical.

129 Podemos juntar a esse grupo de seis palavras mais duas palavras que apareceram com apenas a primeira pretônica marcada com proeminência musical e não se repetiram em outros contextos. Temos, então, das cento e treze palavras proparoxítonas encontradas, apenas oito (7,07% em relação ao total de proparoxítonas) em que não se tem nenhum indício da localização da sua sílaba tônica através da observação da música. Nesses casos, o critério que adotamos para a consideração dessas palavras como proparoxítonas foi a observação da sua etimologia, principalmente no que diz respeito à sua acentuação. São elas as palavras balssamo, filosofo, fossemos, ouvessemos, tavoa, Virgẽes, Jeronimo e Apostoligo.

Em relação às formas verbais supracitadas, fossemos e ouvessemos, Massini-Cagliari (1995, p. 234 e 1999, p. 143) afirma que se trata de palavras paroxítonas. No entanto, depois de ter analisado corpora diferentes em relação ao PA, a autora revê a sua posição em relação a essas palavras, afirmando que são proparoxítonas (MASSINI-CAGLIARI, 2005, p. 193- 195).

Do restante das palavras, cinco palavras aparecem com a pretônica e a postônica pré- final marcadas com proeminência musical; uma palavra aparece com a pretônica, a tônica e a postônica final marcadas com proeminência musical; uma palavra aparece com a tônica e a postônica pré-final marcada com proeminência musical; e, por fim, uma palavra aparece sem nenhuma proeminência musical.

Apesar de haver uma preferência de que a acentuação nos níveis musical e linguístico coincidam, conforme pudemos observar por meio dos dados apresentados até agora, a cadência melódica e a distribuição das notas nos compassos pode alterar a acentuação das palavras, ou seja, a música pode interferir na pronúncia das palavras, principalmente em relação à sua prosódia.

É o que acontece com esse conjunto de oito palavras proparoxítonas, mostrado anteriormente, das quais não pudemos encontrar nenhum registro de sua ocorrência em um contexto melódico em que a tônica estivesse na posição mais proeminente do compasso. Pelo contrário, os contextos melódicos em que essas palavras aparecem interferem na acentuação de suas sílabas. O tipo de interferência mais comum ocorre quando se tem apenas uma sílaba atribuída a uma nota prolongada ou a mais de uma nota, seja em sílabas de palavras anteriores à palavra que está sendo analisada ou em sílabas da própria palavra analisada. Mostraremos, a seguir, caso a caso, como os contextos melódicos atuam sobre a acentuação das sílabas dessas palavras proparoxítonas que ficaram, de certa forma, isoladas no corpus, pois não tiveram sua sílaba tônica confirmada através do registro musical.

130 No caso da palavra balssamo, que aparece na CSM 34, observando o contexto melódico em que aparece, notamos que ela está distribuída em dois compassos diferentes e cada uma de suas sílabas está anexada, respectivamente, a um grupo de três notas, a duas notas ligadas e a uma nota prolongada. Além disso, podemos notar que a sílaba que precede essa palavra é a sílaba “mar” da palavra Ultramar, que é a sílaba tônica dessa palavra e que também perdura por duas notas ligadas, conforme podemos verificar no exemplo 5.12, abaixo.

(5.12) CSM 34

mar, bal- ssa- mo

Por outro lado, se considerarmos o que nos diz Ferreira (1986) a respeito dos fatores que levam à atribuição de acento às notas musicais, podemos notar que há um “empate acentual” entre as duas primeiras sílabas da palavra balssamo. Os fatores para a atribuição de acento às notas musicais e também às sílabas na música são três: altitude (altura melódica), longitude (duração) e crassitude (intensidade). No caso dessa palavra, as notas da sílaba “bal” são apenas mais agudas que as da sílaba “ssa”, por outro lado esta tem maior duração que “bal”. Numa somatória dos fatores, elas estariam empatadas.

A palavra filosofo apareceu na CSM 15. No caso dessa palavra, o que ocorre é que a nota que encabeça o compasso é prolongada fazendo com que a sílaba “fi” seja mais acentuada e perdure por dois tempos. Na sequência, a sílaba “lo” ocupa a última nota do mesmo compasso da sílaba “fi”, o que faz com que a sílaba “so” fique no primeiro tempo do compasso seguinte. Também há um prolongamento na sílaba “so”, por meio de ligadura,31 nas notas correspondentes a ela. Vejamos, no exemplo 5.13, como isso ocorre.

(5.13) CSM 15

fi- lo- so- fo

Em um contexto melódico muito semelhante ao apresentado no exemplo acima, encontramos a palavra tavoa. A única diferença é que a nota que encabeça o segundo

31 Ligadura: “Uma linha curva que se estende sobre um determinado número de notas para indicar sua

conexão.” (Dicionário Grove de música: edição concisa. Editado por Stanley Sadie; editora-assistente, Alison Lathan; tradução, Eduardo Francisco Alves. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994, p. 537)

131 compasso não está ligada, isto é, dura apenas um tempo e a ligadura ocorre nas notas finais do compasso em questão, como podemos observar no exemplo 5.14, abaixo.

(5.14) CSM 34

en ta- vo- a

No caso da palavra fossemos, na cantiga em que aparece (CSM 30), a primeira nota do compasso, que é uma nota prolongada, é ocupada por um monossílabo tônico e a sílaba “fo” abrange duas notas ligadas, fazendo com que a sílaba “sse” caia na primeira nota do compasso seguinte, que também é uma nota prolongada e, portanto, mais acentuada. Vejamos o contexto em que isso se dá, por meio do exemplo 5.15.

(5.15) CSM 30

non fo- sse-mos

Observando a palavra ouvessemos, pudemos notar que Essa palavra ocupa, na CSM 47, dois compassos inteiros, sendo que cada uma de suas sílabas está anexada a duas notas ligadas, isto é, cada sílaba ocupa dois tempos em compassos quaternários. Vejamos o seu contexto melódico no exemplo 5.16 a seguir.

(5.16) CSM 47

ou- ve- sse- mos

Em relação à palavra Virgẽes, verifica-se que o contexto melódico em que essa palavra aparece, na CSM 62, também abrange dois compassos, sendo que a primeira nota do primeiro compasso, que é prolongada em dois tempos, acompanha um monossílabo átono, e a segunda nota, de um tempo apenas, acompanha a sílaba “Vir”. Já a sílaba “gẽ” é cantada em um grupo de quatro notas ligadas dentro de um tempo apenas. Vejamos o exemplo 5.17.

132 (5.17) CSM 62

das Vir- gẽ- es

A palavra Jeronimo aparece, na CSM 87, em um contexto melódico em que a sílaba “Je”, que está em uma posição de proeminência musical, é cantada em um tempo apenas do compasso. No entanto, anteriormente a essa sílaba aparecem dois monossílabos que estão anexados, respectivamente, a duas notas ligadas e a uma nota prolongada, preenchendo todo o compasso, conforme podemos observar no exemplo 5.18 a seguir.

(5.18) CSM 87

un que Je- ro- nim' á

Por fim, resta-nos analisar a palavra Apostoligo, que aparece CSM 5 em um contexto melódico em que a sílaba “pos” aparece encabeçando o compasso e, no compasso precedente, observa-se dois prolongamentos de notas: na primeira nota, que acompanha a sílaba “an” da palavra ante, e na terceira que acompanha a sílaba “A” da palavra apostoligo, conforme o que podemos ver no exemplo 5.19.

(5.19) CSM 5

an-t'o A- pos- to- li- g'e

Vimos, nesta subseção, que foram encontrados cento e treze casos de palavras proparoxítonas, sem descontar as repetições, na análise das cem primeiras CSM e que, em aproximadamente sessenta por cento desses casos, pudemos verificar ou confirmar a localização da sílaba tônica dessas palavras, por meio da observação das proeminências musicais em relação às suas sílabas.

Vimos também que, se descontarmos os casos de palavras proparoxítonas que não tiveram a sua sílaba tônica marcada por proeminência musical em um determinado contexto melódico, mas que se repetem em outro contexto melódico com a tônica marcada por proeminência musical, sobram apenas oito palavras, o que representa pouco mais de sete por cento em relação ao total de proparoxítonas.

133 Por fim, notamos que, nessas oito palavras “isoladas” no corpus, o arranjo das sílabas e, consequentemente, a sua acentuação sofrem interferência da música por meio de prolongamentos de notas musicais ou casos de sílaba ligada a mais de uma nota.

5.2.2 Análise das coincidências entre proeminências musicais e sílabas