• Nenhum resultado encontrado

Análise da percepção dos usuários sobre o layout da festa em

No documento ProductCity: the city as a product (páginas 144-148)

Ao todo, 768 pessoas responderam ao questionário (dentre elas, 30 são comerciantes entrevistados em campo). A maioria (58,5%) tem entre 18 e 29 anos e 58% se identificam do sexo feminino.

No que diz respeito à questão da mobilidade, grande parte do público não opta por ir ao evento de transporte motorizado particular. A pouca oferta de estacionamentos em vias públicas e os altos preços dos espaços privados de estacionamento são alguns dos motivos para que a escolha por serviços como táxis ou Uber (e afins) sejam priorizados, tanto no translado de ida quanto no de volta. Entretanto, os que decidem pelo transporte particular preferem pagar por vagas privadas. É substancial perceber que, apesar da pequena porcentagem de pessoas que elegem ir andando até o local, ela ainda supera a população que escolhe o transporte motorizado público.

Gráfico 1 Mobilidade. Acervo LabRua, 2018.

Quanto à mobilidade e relação de uso, em torno de 48% vão a festa de Táxi/Uber enquanto cerca de 31% preferem ir com carros particulares. Observa-se que existe uma parcela de uso dos transportes públicos e/ou alugados como ônibus, vans e moto-táxis. A quantidade de pessoas que utilizam táxi/Uber aumenta durante a volta, enquanto que o uso do carro particular diminui, o que pode ser explicado pela quantidade considerável de pessoas que vão de carona (9%). A diminuição da frota de ônibus e a insegurança urbana são argumentos para que a volta por meio transporte público coletivo seja mais desconsiderada.

Outro ponto determinante para a escolha do meio de transporte é o local pelo qual a pessoa reside ou está hospedada na cidade. A maioria dos que vão à festa mora ou está hospedada na zona Sul, na zona Oeste ou no Centro da cidade. Essas regiões têm, em comum, o fato de serem áreas predominantemente de classe média e alta. Dado que o Parque do Povo situa-se no Centro, todas estas zonas são relativamente próximas e, consequentemente, mais acessíveis.

Gráfico 2 Frequência x Faixa Etária. Acervo LabRua, 2018.

Apesar da festa durar 30 dias, a grande porcentagem dos entrevistados vão à festa em uma frequência de 1 a 5 dias e há pouca variação de acordo com a idade (Gráfico 2). As grandes atrações do palco principal acontecem nos finais de semana, estes sendo os dias mais lotados. As palhoças de forró, restaurantes e cidade cenográfica têm funcionamento mais prolongado, iniciando suas atividades mais cedo, tendo seu público alvo as crianças e os usuários mais velhos.

Em relação aos setores que os usuários costumam permanecer durante a festa, é perceptível que o setor C (Pirâmide) é o de menor permanência, mesmo sendo o segundo acesso mais utilizado para entrada. A área da pirâmide é também local de permanência de pessoas com menor renda. Os setores de maior permanência são A e B, episódio explicado pela preferência do público pelas atrações musicais que estão concentradas nessa área. O setor F também é bastante visitado por se tratar da área de restaurantes, levando-se em consideração que a gastronomia foi a segunda opção mais apontada pelos usuários em relação à atividade mais costumeiramente realizada. Revela-se também que as pessoas que mais utilizam a área dos restaurantes (F) têm maior renda, em resposta aos altos preços praticados pelos estabelecimentos. A relação entre os setores e a renda familiar está demonstrada no Gráfico 3, nele é demonstrada a segregação socioespacial que se encontra no Parque do Povo durante a festa de São João.

Gráfico 3 Setores x Renda Familiar. Acervo LabRua, 2018.

Com relação à opinião sobre o cercamento do Parque do Povo, é perceptível a rejeição de quase metade dos usuários, enquanto 27% tem uma opinião favorável a essa intervenção (Gráfico 4). Nos últimos anos a vedação do Parque do Povo vem sendo intensificada, gerando a sensação de superlotação da festa, fortalecendo a ideia de que o espaço não comporta mais a festa e que, consequentemente, seria necessária sua relocação.

Gráfico 4 Opinião sobre Cercamento. Acervo LabRua, 2018.

A mudança de local da festa surgiu como especulação no período em que o questionário foi aplicado, posteriormente, no mês de setembro de 2017, foi divulgado o projeto para retirar a festa. No entanto, ele não foi executado para o ano vigente. Todavia, os dados refletem a grande rejeição dos usuários diante da ideia de mover a festa de lugar (Gráfico 5). Essa divergência entre a opinião da população e as intenções do poder público, intensifica a pauta da falta de participação popular nas tomadas de decisões no que se refere ao direito à cidade e à identidade da população com o evento.

Gráfico 5 Opinião sobre Mudança de local.Acervo LabRua, 2018.

Considerações finais

No contexto das dinâmicas contemporâneas de globalização, os movimentos culturais locais urbanos, de uma forma generalizada, vêm sofrendo alguns processos de modificação, como a inserção de imagens identitárias locais em um enquadramento de mediatização e mercadorização, assim como a tendência da transferência de iniciativas públicas para as privadas. Pessoas com poder econômico e político têm uma grande oportunidade de moldar a cultura e os espaços públicos, e isso acarreta no grande risco de controle ao acesso e ao uso desses espaços. Neste artigo percebe-se que “O Maior São João do Mundo” está inserido nessa realidade de transitoriedade, pelo qual o seu espaço está sendo moldado à medida que os interesses estão sendo direcionados de forma unilateral.

Este artigo analisou a distribuição da festa do São João no Parque do Povo entre os anos 1997 e 2017, e a percepção dos usuários sobre a última disposição da festa, através dos layouts publicados pelo poder público e de questionário respondido por mais de 700 usuários do Parque do Povo, respectivamente. No processo de compreensão das modificações do espaço físico no decorrer dos anos, a partir das análises dos layouts, percebe-se que a festa vem se tornando cada vez mais elitista, com o aumento do número de camarotes privados. Também pode-se perceber a diminuição no número de barracas, assim como o aumento de seu tamanho, levando a um maior custo de aluguel. A partir da percepção dos usuários através dos questionários, vê-se que a festa vem possuindo um caráter cada vez mais excludente à medida que os cercamentos são implantados em seu entorno.

Conforme observado nas opiniões obtidas no questionário, é importante destacar que, dentro deste cenário de transição pelo qual o evento vem sendo submetido, não existe uma gestão compartilhada que considere a participação popular local no acompanhamento das modificações no funcionamento e na estrutura da festa. Isto implica que não existe a valorização de práticas de planejamento, programação, gestão e avaliação que incluam a participação do usuário, do trabalhador e do gestor.

O impacto que a festa gera na cidade e na população que nela reside é, primordialmente, afetivo. Antes de atingir os âmbitos econômicos, políticos e de paisagem, o evento, enquanto patrimônio imaterial, carrega uma bagagem

histórica que envolve uma memória intrínseca nas músicas, danças, comidas, cheiros e toda a rotina que compreende o evento junino. A simbologia de todos esses elementos são validados pela própria população e, consequentemente, está presente em todas as esferas da sociedade. É importante, portanto, frisar que toda e qualquer intervenção referente ao objeto patrimonial, deve ser feita de forma transparente e com a ajuda não só de profissionais de diversas áreas do conhecimento, como de todo cidadão comum interessado.

No documento ProductCity: the city as a product (páginas 144-148)

Documentos relacionados