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5.2 Determinantes da resiliência em sistemas socioecológicos

5.2.2 Diversidade produtiva e pluriatividade

5.2.2.2 Análise da pluriatividade e da diversidade produtiva nas comunidades

Os dados referentes a essa secção foram obtidos do questionário de pesquisa socioeconômica com análise a priori já realizada nos capítulos anteriormente. Procura-se, agora, abordar através do referencial sobre a importância da pluriatividade e da diversidade produtiva, elementos que contribuam no sentido de elucidar a relação entre resiliência e estas variáveis. Entretanto, é importante mencionar que as populações estudadas, sejam elas pescadores, agricultores ou moradores da ilha adotam para sua sobrevivência e reprodução social características dinâmicas com relação a múltipla diversidade de geração de renda e de produção. Para elucidar essa afirmação pode-se mencionar por exemplo, a plantação em muitas residências de espécies comuns do dia-a-dia da população estudada, como: a mandioca, o açaí, frutas e hortaliças diversas, muitas dessas para o sustento da família. Com relação as múltiplas atividades, verificou-se que em algumas entrevistas, a geração de renda do salário vindo de atividades localizadas e desempenhadas por um integrante da casa que trabalham no município de Santana (em frente a ilha), as funções mais comuns desempenhadas, foram: Empregada doméstica, caseiros (Essa atividade também vista na própria ilha), comércio, feiras, supermercados, entre outras).

5.2.2.2.1 Pluriatividade

A pluriatividade será medida analisando as características da renda total gerada pelos entrevistados. Neste ponto, o estudo de Ramos et al., (2015) dará estrutura metodológica para a elaboração das diferentes formas da renda gerada pelos integrantes da comunidade estudada. Segundo os autores, a análise da determinação da renda foi feita dividindo a mesma em suas grandes ramificações: a população estudada, mais precisamente, a renda gerada foi dividida em: a) Renda

advinda do salário, b) renda das transferências governamentais, c) renda do artesanato, d) renda do comércio e, e) renda da produção. Nota-se, claramente, que somente pela divisão tão ampla da renda total gerada, que a conceituação de pluriatividade como fundamento chave da explicação da reprodução social e da resiliência desses atores é evidente (Figura 11).

Figura 11 – Tipos possíveis de renda geradas

Fonte: Ramos et al. (2015).

Seguindo o raciocínio, os resultados demonstram que a renda proveniente da produção e das transferências governamentais apresentam maior relevância dentro dos grupos estudados, 53% e 23%, respectivamente (Gráfico 11). Vale lembrar, que a ilha é a principal produtora de polpa de fruta do estado do Amapá e que a produção de hortaliças, mandioca e frutas diversas são comercializados, principalmente na feira de Santana.

A renda proveniente da produção apesar de importante para o complemento dos rendimentos se depara com uma série de problemas enfrentados pelos agricultores entrevistados, como o furto das propriedades e da produção, falta de água para irrigação, falta de crédito para a expansão da produção e, também, com o problema da falta de utilização da fábrica de polpa de frutas da ilha que impulsionaria a produção de polpa ainda mais.

O fato em destaque neste ponto, diz respeito a renda salário com pouca participação dentro das rendas geradas. As transferências mais importantes na participação múltipla da renda dos entrevistados são em ordem de significância: o

bolsa família e o seguro defeso. A participação da renda artesanato apareceu como a menor de todas, existindo pouquíssimos casos de geração de uma contribuição significativa de renda somente em festas e festividades dentro da ilha. Segundo Kageyama (2001), a pluriatividade e as fontes múltiplas de renda constituem-se como mecanismos de sobrevivência indispensáveis das famílias rurais ou que dependem da agricultura para subsistência:

Gráfico 11 – Distribuição da renda total na população estudada

Fonte: Elaboração própria. Dados da pesquisa (2017). 5.2.2.2.2 Diversidade produtiva

A diversidade produtiva deve ser entendida como a variabilidade de cultura perenes e não perenes adotadas e cultivadas dentro mesmo sistema de produção. Essa diversificação dos sistemas produtivos apresenta-se como importante estratégia de para contornar riscos de perdas de produção, além de diminuir a vulnerabilidade do grupo frente a mudanças ambientais ou mesmo para responder a futuras necessidades sociais e econômicas que venham a ser apresentadas a comunidade (ALTIERI; NICHOLS, 2012).

Segundo Altieri (2004), existem diferentes opções para a obtenção de processos diversificados que variam de acordo com as características de cada sistema existente, baseando-se em culturas anuais ou perenes (Figura 12). Ainda seguindo as argumentações do autor, nos agrossistemas tradicionais, os sistemas de cultivo complexos e diversificados são importantes para o produtor, pois a partir das interações existentes entre as inúmeras plantas, frutas, animais e árvores resultam

15%

26%

53%

4% 2%

em um sinergismo benéfico que permitiria ao sistema promover sozinho seu próprio controle de pestes, produtividade e fertilização do solo:

Figura 12 – Estratégias de diversificação de sistemas

Fonte: Altieri (2004).

Tendo em consideração o exposto, a caracterização do processo e diversificação do processo produtivo é visível dentro dos agricultores analisados. As culturas apresentadas pelos agricultores foram basicamente divididas em culturas perenes e culturas temporárias. As culturas do tipo perenes ou permanentes são aquelas que permanecem vinculadas ao solo e podem propiciar mais de uma colheita ou produção, já as culturas temporárias são aquelas sujeitas diretamente ao replantio após a colheita, ou seja, devem ser plantadas todos os anos.

Neste sentido, as culturas do tipo perenes são a de maior colheita e expressão para os agricultores da ilha, com destaque para o cultivo da acerola, maracujá, caju, coco, mamão e limão. Apesar disso, outras culturas como o extrativismo do açaí e a produção de mandioca e da batata doce. Um ponto importante de destaque é que verificar que inconscientemente ou por conhecimento adquirido, os agricultores sabem que a diversificação do seu processo produtivo trará não somente benefícios econômicos, como também, benefícios generalizados para o próprio sistema produtivo como um todo.

No estudo de Cinner, Fuentes e Randriamahazo (2009) a resiliência é medida tendo como base quatro variáveis básicas: flexibilidade, capacidade de organização, capacidade de aprendizado e bens. A primeira variável estudada guarda características e respostas ao que está sendo analisado neste tópico. Ela mede o poder de diversificação produtiva para a subsistência, a pluriatividade e as diversas fontes de renda externa da produção e o acesso ao crédito. Segue, então, em direção ao raciocínio aqui proposto, de que a flexibilidade advinda da diversificação de produção e de renda torna a comunidade e o grupo estuda mais ou mesmo resiliente a fatores ou distúrbio cotidianos, como: clima, crise econômicas, dentre outros.

Apesar das comunidades um alto grau de diversificação e de diversidade de renda e de produção, alguns obstáculos podem diminuir profundamente a capacidade de resiliência das famílias. Segundo Sambuichi et al. (2014, p.3) os principais obstáculos a diversificação produtiva são: 1) Falta de conhecimento das técnicas e da tecnologia para implantar e gerenciar sistemas diversificados; 2) A baixa disponibilidade mão-de-obra; 3) Dificuldade de comercialização e de infraestrutura de beneficiamento, armazenagem e transporte e 4) Falta de capital para a comprar de equipamentos que banquem as mudanças de inovação no processo produtivo. Desses, os três últimos problemas são encontrados e citados pelos entrevistados como obstáculos para a diversificação da produção.