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5.2 Determinantes da resiliência em sistemas socioecológicos

5.2.1.1 Procedimento de mensuração do capital social

5.2.1.1.2 Confiança e solidariedade

Segundo (Grootaert, et al. 2003), esta dimensão é a medida de capital social cognitivo. Para os autores, a confiança é um conceito abstrato e difícil de ser medido e deve ser observada no contexto de transações específicas, tais como emprestar e

tomar emprestado algum objetivo ou recurso financeiro. Esta dimensão deve ser vista como um indicador de entrada ou de produção de capital social, ou mesmo deve ser entendida como uma medida direta de capital social.

Neste sentido, a primeira pergunta referente a questões centrais do tema é: “Você diria que se pode confiar na maioria das pessoas, ou que nunca é demais ter cuidado ao lidar com as pessoas?”. Como resultados, 37% responderam que confiariam na maioria das pessoas e claro, 53% não confiam. Um caso a se perceber, diz respeito ao fator proximidade da casa do entrevistado, houve diversas indagações dos moradores sobre se as pessoas que estão sendo referidas na pergunta é um vizinho ou alguém próximo a sua casa, caso fosse alguém mais próximo com certeza a confiança seria maior.

Ainda se tratando da confiança nos membros da comunidade foi perguntado se o morador concorda ou discorda das seguintes afirmações:

a) Pode-se confiar na maioria das pessoas que moram na comunidade?

b) Nesta comunidade, é preciso ficar atento para alguém que possa tirar vantagem de você?

c) A maioria das pessoas estão dispostas a ajudar caso precise?

d) As pessoas geralmente não confiam umas nas outras quanto a emprestar ou tomar dinheiro emprestado?

Com relação confiabilidade, assim como mencionado por Putnam (2006), o capital social refere-se a aspectos da organização social como redes, normas e laços de confiança que facilitam a coordenação e a cooperação para o benefício mútuo. Sendo assim, de acordo com os resultados obtidos os moradores não confiam nas pessoas da comunidade, o maior exemplo da baixa confiança está no percentual de pessoas que informaram que é preciso ficar atento senão alguém pode tirar vantagem sua, 80% responderam que concordavam totalmente ou em parte. Entretanto, como já analisado, a proximidade da casa do entrevistado tem relação direta com a maior confiança no próximo (Gráfico 6):

Gráfico 6 – Perguntas sobre confiança e solidariedade dentro da comunidade

Fonte: Elaboração própria. Dados da pesquisa (2017).

Sobre a confiança nos governos locais e federais, 85% confessaram que confiam muito pouco nessas instituições (Tabela 3). Nesta parte, foi detalhado ao entrevistado algumas instituições para que ele responda sobre o grau de confiança em cada uma. Neste aspecto, os destaques ficaram para a alta confiança na polícia, na igreja, na escola e em relativo no poder judiciário. Como era de se prever e pela atual crise política e econômica que passa o pais, os entrevistados foram veemente em mostrar sua total desconfiança na classe política em geral (Governo Federal e Municipal). Essas instituições políticas são consideradas ineficientes e sujeitas à corrupção, o que gera a desconfiança dos moradores.

Pode-se concluir que, a confiança nos serviços públicos cresce a partir do bom desempenho institucional das organizações com as quais os moradores estabelecem laços sociais e de proximidade:

Tabela 3 – Nível de Confiança dos moradores nas instituições

Fonte: Elaboração própria. Dados da pesquisa (2017).

Vale destacar que a confiança e a solidariedade implicam uma vontade de assumir riscos em um contexto social com base em um senso de confiança que os outros pertencentes da comunidade responderão como esperado e agirão de forma solidária, ou pelo menos que outros não pretendem prejudicar (ONYX; BULLEN, 2000). Como importante variável de determinação do capital social, este componente de medição do capital social na ilha de Santana encontra-se totalmente enfraquecido: Seguindo Putnam (2006), o capital social assume quatro características principais que não estão presentes nas características estudadas até agora:

a) O número e a densidade das redes e organizações comunitárias; b) O nível de envolvimento dos residentes em atividades comunitárias;

c) Sentimento de pertencimento e de igualdade com outros membros da comunidade; d) Confiança na comunidade e um sentimento de obrigação de ajudar os outros com

a confiança de que o apoio será devolvido ou repassado.

Ratificando o que foi observado, foi perguntado se nos últimos cinco anos, o grau de confiança na comunidade melhorou, piorou ou permaneceu mais ou menos o mesmo?. Dos entrevistados, 91% responderam que ou piorou (67%) ou permaneceu o mesmo (24%), este resultado demonstra o problema em um dos componentes de mensuração do capital social e que, por conseguinte, irá diminuir a capacidade de resiliência da comunidade frente a diversos fatores externos (Gráfico 7). Como discutido em Walker e Meyers (2004) e Carpenter et al. (2001), as características que

Instituição

Confia totalmente Confia nem pouco, nem muito

Não confia

Sem resposta

Governo municipal

5%

6%

79%

10%

Câmara dos vereadores

2%

5%

88%

5%

Governo Estadual

10%

15%

63%

12%

Poder Judiciáio

38%

35%

15%

12%

Polícia

56%

26%

12%

8%

Igreja

65%

25%

7%

3%

contribuem para que um sistema ganhe altos níveis de adaptabilidade e de resiliência são: a) Sistemas com maior diversidade e redundância possuem maior resiliência que sistemas que maximizam a finalização de apenas um produto; b) Reserva de recursos e estocagem de capital (financeiro, humano, social, etc), permitem que o sistema se adapte e recupere depois de algum choque; c) Capital social, liderança e confiança contribuem para o aumento da resiliência na comunidade; d) Sistemas com estrutura/redes descentralizadas possuem maior resiliência do que sistemas centralizados.

Apesar de tantos indicadores negativos com referência a falta de confiança e solidariedade na comunidade, uma das perguntas pode ter mostrado que a comunidade pode, se incentivada, melhorar muito na dimensão estudada. Sobre isso, foi perguntado se o morador contribuiria com tempo ou dinheiro para um projeto da comunidade que não lhe beneficiou diretamente, mas que trouxe benefício para muitas outras pessoas? Como resultado, 75% informaram que contribuiriam somente com tempo, mesmo porque a contribuição com dinheiro não seria viável, haja vista, que a população estudada é pobre e carente dos mais básicos recursos:

Gráfico 7 – Grau de confiança nos últimos cinco anos na comunidade