• Nenhum resultado encontrado

O atual debate sobre os conceitos de resiliência proporciona uma grande variedade de definições, mas que todas essas noções derivam sua essência. A palavra surgiu das ciências exatas e atualmente vem sendo aplicada nas várias áreas de conhecimento, da ecologia à física, entretanto, tem sido amplamente divulgada no conceito que tange os SES’s que são fortemente influenciadas pelas atividades humanas que possuem grande dependência dos sistemas sociais em relação aos recursos e serviços oriundos dos ecossistemas (BERKES; COLDING; FOLK, 2003). Carmello (2008) salientou que a origem da palavra resiliência vem do latim resiliens, que significa “saltar para trás”, ou voltar ao seu estado normal. O termo possui uma gama de significados nas variadas áreas do conhecimento, como na engenharia, na psicologia, na ecologia e entre outras, cada um com sua importância e singularidade a que se interessa.

De acordo com a história sobre a origem do conceito, a resiliência ganhou vida na física, pelo cientista inglês Thomas Young, em 1907, que observou o processo de tensão e compressão de barras de ferro, introduzindo pela primeira vez a noção do módulo de elasticidade, buscou nesta observação analisar a força exercida ao corpo e a deformação que essa força causava (TIMOSHEIBO, 1983).

O conceito saiu da Física e ultrapassou as fronteiras de outras ciências. Segundo Moita Neto (2006), resiliência é caracterizada quando determinados materiais conseguem absorver energia quando são submetidos à determinada deformação fora de sua forma natural. Para ele, o conceito fechado sobre resiliência é definido como a capacidade de um material absorver energia quando aplicada a determinada força, e logo depois desprezá-la quando desnecessária, é fato que os materiais, quando submetidos a determinadas situações de estresses, sofrem variadas deformidades.

Como já exposto, o conceito de resiliência é aberto nas diversas áreas do conhecimento, mas está sendo mais amplamente divulgado nos domínios SES’s, dado que nestes existe a presença da atividade humana com uma forte conexão dos sistemas sociais em semelhança aos serviços atendidos pelos ecossistemas.

A noção de resiliência ambiental foi conceituada pela primeira vez pelo ecologista canadense Holling (1973), caracterizando o termo resiliência como aptidão de um sistema a retornar ao seu equilíbrio depois de ter suportado uma perturbação, ou ainda como a capacidade de reestruturação de um sistema.

A teoria sistêmica da resiliência de Holling (1973), tende a caracterizar os processos através do qual os sistemas de mudanças e tipo de alterações podem alterar radicalmente sistemas adaptativos (WALKER; HOLLING, 2003). O autor defende a ideia de que a teoria sistêmica da resiliência postula que não há geralmente nenhum equilíbrio para sistemas sociais complexos, mas sim múltiplos estados potencialmente estáveis. Esta perspectiva deixa claro que nem as mudanças, nem estabilidade em sistemas sociais são uma regra. Os sistemas são observados deslocando através de várias fases de ciclos adaptativos, o que implica essencialmente em mudanças e estabilidade em diferentes escalas no tempo e no espaço.

Walker e Holling (2003) conseguiu demonstrar a essência de diversos domínios, assim como estabilidade, nos sistemas naturais e como esses domínios se incluem nos processos ecológicos, eventos casuais como, por exemplo, queimadas, tempestades, sobre uma vasta heterogeneidade de escalas temporais e espaciais.

Alguns autores defendem o termo resiliência atribuindo duas características diferentes da estabilidade de um sistema: a primeira característica versa sobre a estabilidade do sistema na vizinhança do ponto de equilíbrio; neste contexto, a resiliência é definida como o tempo imprescindível para um sistema retornar à estado de equilíbrio após uma perturbação (ANGELIS, 1980; PIMM, 1984; TILMAN, DOWNING, 1994; LUGO et al., 2002). A segunda característica trata das condições ao longe de qualquer ponto de equilíbrio, onde a instabilidade pode desarticular o sistema para outra região controlada por um conjunto distinto de variáveis e caracterizada por uma arquitetura sistémica diferente (HOLLING, 2001; GUNDERSON, 2000; HOLLING, LUGO et al., 2002; WALKER,MEYERS, 2004).

Resiliência, então, é compreendido nas ciências sociais como a competência de superar fatores de riscos e ampliar procedimentos adaptativos e adequá-los, pode- se transformar em uma palavra de múltiplas interpretações (GALIETA, 2004). De acordo com Nelson et al. (2007) a resiliência está necessariamente ligada à adaptação e a capacidade adaptativa.

Sobre adaptação, destaca Farral (2012) que sempre estará ligada às abordagens sobre resiliência. O que muito contribui para esse entendimento seriam dois fatores: um ligado a interdisciplinaridade, pois o conceito resiliência é bem caracterizado nas diversas áreas do conhecimento, e um segundo fator trata que esta abordagem se encontra subentendida, e coloca uma correlação entre a adaptabilidade e transformabilidade. Citando que muitos autores se utilizam destes conceitos, mas que na realidade possuem a mesma abordagem.

Para a resiliência ecológica existem dois conceitos sobre resiliência, a primeira no entendimento de Pimm (1984), aborda a relação da taxa de retorno para o equilíbrio original, após evento ocorrido; a segunda é defendida por Holling (1973) como uma propriedade em desenvolvimento dos sistemas a constantes eventos, e que podem reter mudanças fundamentais nos aspectos funcionais.

Todavia, é importante compreender que a resiliência não deve ser associada apenas ao caráter individual, mas sim, formalizá-las nas instituições e organizações que facilitem sociedades resilientes. Tornar sociedades resilientes abre espaço para que as pessoas se tornem mais competentes e solicitas (TAVARES, 2001). A resiliência não é um processo que protege ou extingue os riscos dos eventos, mas serve de motivação para os indivíduos conseguirem superá-los (RUTTER, 1987). De acordo com Freire (2009), existem dois conceitos que definem a resiliência para a ecologia uma desenvolvida por Holling (1973), sendo o conceito pioneiro, qualificado como o momento de desenvolvimento dos sistemas, e traz consigo a intensidade e frequência dos eventuais momentos de estresses ocorridos nos SES’s, mas que não incidam mudanças nas propriedades essenciais dos sistemas. A outra definição é no entendimento de Pimm (1984) que é caracterizada como a taxa de equilíbrio após as agitações ocorridas em seu meio.

Este conceito se sobressai em diversas áreas do conhecimento e das ciências, em cada área com sua importância e relevância. Na ecologia, o valor do termo resiliência ganha mais destaque e significado, pois nada mais atual do que os

assuntos recorrentes as mudanças do clima no planeta e suas consequências para a vida da população.

Norris et al. (2008) em um de seus trabalhos revisou e listou vinte e uma formas de interpretar a resiliência, desde à nível de pessoas na comunidade, até ao nível dos sistemas físicos, ecológicos e sociais. Entre suas definições destacam-se, à capacidade em que os sistemas possuem de se adaptar com maestria de momentos atípicos, de estresses ou de infortúnio. Para o autor no que diz respeito ao conceito da definição de resiliência, aparenta existir um consenso entre especialistas sobre dois aspectos importantes: a resiliência é mais uma "capacidade" ou um "procedimento" do que um "resultado"; e a resiliência está mais associada à adaptação do que à estabilidade.

Para Gunderson (2000), a diferença entre a resiliência na engenharia e resiliência ecológica é que a primeira permite a um sistema, depois de um estado de deformação, retroceder ao seu estado natural; já a visão ecológica assume a possível coexistência de múltiplos estados de equilíbrio num mesmo sistema, considerando que a velocidade de retorno deste estado inicial de equilíbrio é apenas uma das formas de avaliar um sistema em termos de sua resiliência.

Autores mais recentes abordam a resiliência como um paradigma central da ecologia de ecossistemas. A noção do conceito ultrapassa agora novas fronteiras da ecologia, passando para a antropologia, geografia humana, ciências políticas, entre outras áreas do conhecimento. Para as ciências sociais traz o conceito explicativo de dinâmicas humanas, segundo Adger (2000), que descreveu as habilidades de grupos e comunidades em trabalhar com distúrbios externos e estresses resultantes de mudanças ambientais, sociais e políticas. Já na ciência política, a resiliência encontrou harmonia com a literatura de gestão de recursos de uso comum (DIETZ; OSTROM; STERN, 2003).

Farral (2012) analisando o conceito de resiliência, e toda teoria a ele atribuído, tentou buscar estratégias e soluções para as grandes dificuldades em que a sociedade vivencia. Apresentou a metateoria da Panarquia de Holling (1973), mostrando dois dos conceitos associados à abordagem, um referente a transformabilidade e outro a adaptabilidade dos sistemas complexos adaptativos. Abordou ainda, o conceito de resiliência de um sistema na sua multiplicidade de aspectos, e seu ajuste frente a teoria de sistemas e da teoria da complexidade.

Preocupou-se em descrever e analisar as especificidades do aproveitamento da teoria da resiliência aos sistemas humanos, e em que grau uma sociedade em crise (sociedade em risco), pode sustentar a sua identificação no decorrer de um processo evolutivo.

A resiliência é um assunto de extrema importância no debate sobre a vulnerabilidade, porque auxilia a enxergar ameaças e conflitos nos sistemas homem e ambiente de uma maneira vasta, evidenciando a destreza com que os sistemas conseguem se sobressair frente aos contratempos, isso devido ao poder de assimilação ou da adaptação. Portanto, contribui na procura de alternativas para as inseguranças e mudanças futuras (BERKES; ROSS, 2012).

2.4 Vulnerabilidade, Capacidade Adaptativa e Resiliência em Sistemas