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– Análise da tradução de The First Reader

Neste capítulo proceder-se-á uma análise da tradução de The First Reader com o objetivo de demonstrar o processo de tradução adotado e de o fundamentar. Como já foi referido anteriormente no capítulo II, esta obra de Gertrude Stein dispõe de aspetos que a tornam um texto privilegiado pelo seu dinamismo. Uma vez que este texto tem um objetivo educativo, as estratégias usadas pela autora têm o propósito de familiarizar as crianças com a palavra tanto escrita como falada, alertando-as através do uso de rimas, das aliterações e de jogos de palavras para as facetas homógrafas e homófonas das palavras. É aliando o lúdico ao didático que Stein consegue conceder um tom divertido e captar a atenção do seu público-alvo, as crianças. Não obstante, estas estratégias que tornam o texto tão interessante do ponto de vista do leitor são, simultaneamente, um dos problemas mais difíceis para um/a tradutor/a. Num texto cujo objetivo principal é a familiarização do público com as diferentes facetas que a palavra escrita pode ter, as maiores dificuldades que foram encontradas e que irei analisar foram as ligadas à tradução de jogos de palavras e à tradução de rimas. Este tipo de dificuldades convida a uma análise, pois, apesar de existirem rimas soltas que facilmente podiam ser traduzidas de uma forma literal e, mais tarde, compensadas caso a tradução não conseguisse ser feita naquele momento do texto, outras rimas do original tinham de ser repensadas tendo em conta a língua de chegada e realizadas naquele segmento de texto.

Assim, ao longo deste capítulo vou exemplificar e esclarecer as escolhas de tradução feitas, assim como apresentar problemas de tradução ligados ao aspeto rimático do texto que foram surgindo e as respetivas estratégias utilizadas para os solucionar. A análise da tradução irá ser feita por alíneas, que corresponderão a subcapítulos:

começando o primeiro subcapítulo pela discussão sobre a tradução do título da obra; o segundo subcapítulo focar-se-á nas soluções adotadas para traduzir segmentos rimáticos do texto e jogos de palavras, fornecendo exemplos destas situações para uma melhor compreensão; e, por último, o terceiro subcapítulo virá explicar e evidenciar o uso da transcriação como estratégia de tradução. Porém, uma vez que The First Reader é um texto que se encontra repartido por “lições”, irei utilizar esse mesmo formato para conceder uma ordem à apresentação dos problemas de tradução que aparecerão nos subcapítulos indicados.

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3.1 – O título e as lições

A tradução de The First Reader começa com a dúvida sobre como traduzir o título.

Na língua portuguesa é comum encontrarem-se títulos no domínio da literatura infantojuvenil que comecem com a expressão “O Primeiro Livro de…”. Exemplos disto são facilmente encontrados com uma simples pesquisa na internet, nomeadamente, no site da livraria online Wook, onde, através da pesquisa utilizando as palavras “o primeiro livro” se encontram livros com títulos como: Primeiro Livro da Hora de Dormir; 123 Contar – O primeiro livro do bebé ou ainda, Primeiro Livro dos Animais da Quinta.

Tendo em conta que também o original de Gertrude Stein foi escrito para um público infantil, que, como já foi referido no capítulo II, compreende as idades entre os 6 e os 11 anos, pareceu-me uma boa opção que o título da tradução fosse “O Primeiro Livro” e não “O Primeiro Livro de Leitura”, pois o título tornar-se-ia demasiado extenso se equacionarmos a hipótese de que o título na sua totalidade é, em inglês, The First Reader & Three Plays. No entanto, após o envio da tradução ao Dr. Vladimiro Nunes, editor e supervisor do estágio no local, foi discutida a hipótese de o título passar a ser “O Livro de Leitura”, uma opção que agradou tanto a mim como ao Dr. Vladimiro Nunes.

Esta hipótese de tradução acaba por conseguir elucidar o leitor sobre o conteúdo da obra de Gertrude Stein que é, deveras, uma obra dedicada à leitura e à sua aprendizagem, ao mesmo tempo que apela às crianças que já sabem ler e para quem, certamente, este não será decerto o seu “primeiro” livro.

Outro desafio que se apresentou logo no início da tradução foi a escolha de tradução para a expressão Lesson One. Refira-se que é através desta expressão que a autora divide o texto, tornando a obra numa sebenta. Com efeito, cada “Lição” tem um objetivo de aprendizagem, por exemplo: a primeira lição, que é a mais comprida do livro, apresenta claramente a linha de raciocínio e o objetivo que a obra vai incorporar, sendo que, ao longo deste capítulo, Stein recorre a jogos de palavras para frisar a necessidade de se saber ler para se poder compreender por que razão duas palavras que se pronunciam da mesma maneira têm significados tão diferentes como é o caso da dupla not/knot com a qual a autora brinca. Com efeito, a escolha de tradução para a expressão teve em conta o método que ainda é usado nas escolas básicas de 1º ciclo hoje em dia, em Portugal.

Assim, a opção que acabou por se revelar a mais correta foi a de traduzir acrescentando

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a abreviatura da palavra “número” e colocando a classificação da lição em numeral:

“Lição nº 1”, “Lição nº 2”, e assim sucessivamente.

3.2 – Polissemia e rima

Este subcapítulo irá abordar exemplos de problemas de tradução decorrentes do uso da rima ao longo do texto e incide sobre casos em que a solução adotada recorre à polissemia.

Uma das primeiras dificuldades de tradução com a qual me deparei foi na “Lesson One” com a expressão daily bird. Esta expressão provou ser difícil de traduzir por ter uma grande variedade de equivalentes na língua de chegada, o português. Por não haver nenhuma referência no texto que ajudasse a explicitar o significado de daily no contexto em que está inserido as escolhas de tradução variaram entre “diurno”, “quotidiano” e

“diário”, tendo a escolha final sido “pássaro diário”, que também consegue uma aliteração do som “á”:

Texto de partida Texto de chegada

Next to this was a hare and next to the hare was a bird a daily bird. A daily bird is just a third of an ordinary bird

A seguir a isto havia uma lebre e a seguir à lebre havia um pássaro um pássaro diário. Um pássaro diário é apenas um pedaço de um pássaro comum

Para além da tradução da expressão daily bird houve ainda a necessidade de ponderar a tradução de third of an ordinary bird, devido ao facto de third rimar com bird e ser repetido ao longo deste capítulo. Assim, em vez de utilizar a tradução mais direta,

“um terço de um pássaro comum”, recorri ao uso da polissemia de third e a tradução ficou

“um pedaço de um pássaro comum”. Esta escolha permitiu que fosse estabelecida uma aliteração da letra “p” e do som de “ç” e “s”, conseguindo, ainda, preservar o ritmo ao

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mantermos o mesmo número de sílabas entre “pássaro” e “pedaço”, algo que se verifica no original e concede dinâmica ao texto apesar de não se realizar nenhuma rima.

Ainda em “Lesson One”, deparei-me com mais uma questão rimática quando Stein escolheu utilizar os sinónimos fat e stout para descrever as crianças, fazendo-os rimar com palavras como that, out e shout ao longo de todo esse capítulo do texto:

Texto de partida Texto de chegada

Ten dogs like that and ten children like that, and the dogs and the children played tit for tat but there was no learning to read in that, not even if they each one of them was fat, fat just like that.

Dez cães assim e dez crianças assim, e os cães e as crianças brincavam da mesma maneira mas assim não se aprende a ler, nem mesmo se eles cada um deles fosse roliço, roliço é mesmo isso.

Who cares which way down is spelt but it is spelt the same whether it is in the bed or out, remember all the little ten children were stout, but even so they did go in and out.

O que interessa a maneira como se escreve pena mas é escrita da mesma maneira seja dentro ou fora da cama, lembrem-se de que todas as dez crianças eram encorpadas, mas ainda assim elas entravam e saíam.

Now the ten children who were stout were beginning to move about, and one said and another said and another said and another said and another said and another and another said and another said and another and another and they all ten said

Agora as dez crianças encorpadas começavam a estar agitadas e uma disse e outra disse e outra disse e outra disse e outra e outra e outra e outra e outra e todas as dez disseram

all the ten little children who were fat, they were just that, and being fat, they were afraid

todas as dez crianças que eram roliças, eram só isso, e sendo roliças, estavam assustadas

all the ten little children quite stout could mount on a chair, perhaps the chair might break and feel like an earthquake because

todas as dez crianças bastante encorpadas podiam subir a uma cadeira, talvez a cadeira partisse e parecesse que era um

71 the ten little children were stout and if they were stout and the chair fell about

terramoto porque as dez crianças eram encorpadas e se a cadeira caísse

the chair fell about then of course the stout ten little children would shout, and if and if not then what,

se a cadeira caísse as dez crianças encorpadas gritariam, e se e se não então o quê

Através da tabela é possível comparar as rimas usadas no original com a sua tradução e perceber que, na maioria das vezes, não foi conseguida uma rima entre as palavras a negrito. Ainda assim, procurei usar palavras com as quais conseguisse reproduzir a musicalidade do original. Foi com esse propósito que escolhi usar o adjetivo

“roliço” para traduzir fat em vez de uma opção como “gordo” por me dar a possibilidade de rimar com o pronome demonstrativo “isso”, uma vez que a autora rima fat com that, e se tivesse escolhido o adjetivo “gordo” não teria conseguido uma rima em português. No entanto, apesar de esta rima em específico se repetir mais uma vez no texto, foi-me impossível voltar a recriar a rima, pois o referente do adjetivo “roliço” não é o mesmo.

Enquanto no primeiro exemplo da tabela “roliço” se refere à expressão “cada um deles”, no quarto exemplo da tabela o adjetivo refere-se à expressão “dez crianças” e, portanto, tem de ser flexionado no feminino e no plural, impossibilitando a rima, isto porque na língua inglesa fat enquanto adjetivo não tem género nem número, rimando de igual forma à frase anterior. Foi também por conseguir executar uma rima na tradução que escolhi traduzir o adjetivo stout por “encorpadas” dando-me a hipótese de o fazer rimar com o adjetivo “agitadas”, uma vez que ambas as palavras têm o mesmo número de sílabas e a mesma entoação nas suas duas últimas, o que é importante para o ritmo.

Em “Lesson Two”, numa tentativa de reproduzir a musicalidade do original na tradução acabei por traduzir o advérbio yesterday por “passado”, em vez da sua tradução mais literal “ontem”; aproveitando a sua qualidade temporal, tomei esta decisão por me permitir criar uma rima com o verbo “adivinhado”, como é exemplificado na tabela:

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Texto de partida Texto de chegada

Fortunately, fortunately is a long word, they would never have guessed

fortunately, fortunately they were already to go and so it was yesterday.

Felizmente, felizmente é uma palavra comprida, eles nunca teriam adivinhado felizmente, felizmente eles já estavam para ir e então foi no passado.

O facto de ter escolhido “passado” para a tradução de yesterday não só permitiu a criação de uma rima, mas também me permitiu manter a lógica do original e a coerência na tradução, uma vez que a palavra yesterday é descrita logo a seguir como uma palavra comprida “Yesterday was a long word they would never have guessed yesterday (…)”.

Assim, se a minha escolha de tradução tivesse sido o advérbio “ontem” eu não poderia ter traduzido a frase anterior sem a alterar, pois poderia correr o risco de prejudicar a leitura, uma vez que “ontem” não é uma palavra comprida, mas “passado” já o é.

Em “Lesson Three”, em conjunto com “Lesson Five” e “Lesson Nine”, temos um caso de polissemia ligado à palavra inglesa wild. Na “Lição nº 5” a palavra enquadra-se na expressão Wild flowers, que foi traduzida por “flores silvestres” por ser o termo que mais se adequava ao contexto. Uma vez que em “Lesson Nine” a palavra wild se refere a turkeys, “Turkeys are wild”, a escolha de tradução foi “selvagens” por ser mais acertada para designar um ser vivo, evitando assim a repetição da mesma palavra em contextos diferentes. Na “Lição nº 3” wild foi traduzido por “bravio” por se referir a Willie, uma personagem. Esta lição em específico será analisada no subcapítulo 3.3, uma vez que a terminação desta palavra é essencial para manter o jogo de palavras que se desenvolve em torno da aliteração da letra “i” na tradução. Os exemplos destas traduções serão apresentados na seguinte tabela:

Texto de partida Texto de chegada Wild flowers. Flores silvestres.

73 Is Ivy on a tower a wild flower.

If white violets come out before blue If they do.

Then it is true.

Será a Hera numa torre uma flor silvestre.

Se as violetas brancas nascem primeiro que as azuis.

Se assim é.

Então é verdade.

The sun is very full of sunshine which is very pleasant just at nine, when the wash is hanging out on the line. Turkeys are wild and turkeys are tame which is a shame.

O sol está cheio de brilho o que é bastante agradável logo às nove, quando a roupa está pendurada na corda. Os perus são selvagens e os perus são mansos o que é uma pena.

Willie Caesar was a wild boy. Whether he went or whether he would not go he always saw a w. Counting ws was a way for Willie Caesar to pass a whole day.

O Willie Caesar era um rapaz bravio. Se ele ia ou se ele não ia ele via sempre um i.

Contar is era uma maneira de o Willie Caesar passar todo o dia.

Em “Lesson Four”, através da rima de that com hat, a autora estabelece, uma vez mais, uma dinâmica musical. Tal como aconteceu em “Lesson Two”, analisada anteriormente, optei por não seguir a opção de tradução mais literal e direta no que concerne à palavra hat, que seria, em português, “chapéu”. Então, para tentar manter a rima na tradução, optei por traduzir hat por “boné” conseguindo assim conferir a mesma dinâmica musical no português:

Texto de partida Texto de chegada

It does sometimes happen like that and when it does happen like that then Baby Benjamin has to wear a hat.

Às vezes assim é e quando assim é então o Bebé Benjamin tem de usar um boné.

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De maneira a facilitar a rima entre o verbo “é” e o nome “boné” escolhi mudar a ordem da frase, que, de uma forma mais natural, seria escrita com o verbo “é” antes do advérbio “assim”, “Às vezes é assim”. Se escolhesse traduzir desta forma, perder-se-ia a rima entre estas duas palavras e também com a palavra “Bebé”; porém, outra opção rimática surgia, uma vez que, com esta ordem, a entoação final ia recair sobre o advérbio

“assim”, que, por sua vez, iria rimar com “Benjamin”. No entanto, decidi usar a frase exemplificada na tabela por se assemelhar mais ao original, estando a entoação final da rima na última palavra da frase.

Um pouco mais à frente, em “Lesson Eight”, mais uma vez surge uma rima no original que não é passível de ser traduzida para português, designadamente na frase:

“[…] the round of the moon was just turning about and he began to shout.”. No entanto, ao procurar formas de traduzir esta frase, escolhi traduzir da seguinte forma: “[…] a lua redonda rodava no céu e ele começou a gritar.”. Apesar de nesta tradução não estar presente uma rima, está presente uma aliteração com a letra “r”, recurso estilístico que Gertrude Stein também utiliza ao longo do texto original e que, segundo Cunha & Cintra (2015: 782), contribui para a musicalidade e para o ritmo.

Quando chegamos a “Lesson Ten” deparamo-nos, mais uma vez, com a presença de aliteração das letras “b” e “m” presentes nas palavras better e more. Encontramos também a repetição da expressão each one e da palavra which. Neste capítulo, a autora cria um género de trava-línguas através da repetição exaustiva das expressões mencionadas acima, criando ainda um trocadilho fonético ao combinar, na mesma frase, as palavras each e which que possuem um som semelhante. Assim, neste capítulo a resolução das questões acima mencionadas foi a seguinte:

Texto de partida Texto de chegada

And when they think again, well now it is extraordinary, but when they think again which is extraordinary then better and better and more and more they know which one said which first.

E quando pensam outra vez, bom agora é extraordinário, mas quando eles pensam outra vez qual é extraordinário então cada vez sabem mais e melhor qual disse qual primeiro.

75 Who said which first. If he said which first, which which did he say first. He scratched his head and he said, for me just for me I like which first.

Quem disse qual primeiro. Se ele disse qual primeiro, qual o qual que ele disse primeiro. Coçou a cabeça e disse, para mim e só para mim gosto do qual primeiro.

Almost at once each one said which first.

Almost at once. And then it was very kind, it was very kind of each one very kind of each one to think that they said which first.

Quase ao mesmo tempo cada qual disse qual primeiro. Quase ao mesmo tempo. E depois foi muito simpático, foi muito simpático de cada qual muito simpático de cada qual pensar que disseram qual primeiro.

Conforme exemplificado na tabela, é possível verificar no primeiro exemplo que na tradução foi omitida a repetição das palavras better e more e também foi invertida a estrutura frásica, passando a parte relativa a they know (sabem) para o meio da frase antes de better e know (mais e melhor). Nos dois exemplos seguintes está demonstrada a maneira como a escolha de tradução da expressão each one pela expressão “cada qual”

em vez de uma opção como “cada um”, conseguiu refletir a intenção e a dinâmica do original ao interagir com a tradução da palavra which (qual), recriando desta forma a repetição e o ritmo do texto de Stein.

Em “Lesson Twelve”, é apresentada uma prosa poética que tem como figura de estilo predominante, mais uma vez, a aliteração, nomeadamente a aliteração da letra “b”, no original:

Texto de partida Texto de chegada

To be better and better.

Better than butter

Ser melhores e melhores.

Melhores que manteiga

76 Butter what

Butter cups […]

Butterflies butter cups Butter butter nuts Butter Butter […]

But not better than butter.

Oh butter oh butter,

Manteiga o quê Ranúnculos-mata-boi […]

Borboletas ranúnculos-mata-boi Manteiga manteiga nozes Manteiga Manteiga […]

Mas não melhor que manteiga.

Oh manteiga oh manteiga,

Nesta lição foi possível reproduzir a repetição da palavra butter (“manteiga”) como componente na formação de outras palavras como se vê em butterflies, butter cups e butter nuts. Contudo, foi conseguida a aliteração na tradução, não através da letra “b”, mas sim da letra “m”, como indica o negrito nos exemplos da tabela acima. Foi também um feliz acaso que na língua de chegada, o português, a tradução literal para as palavras alvo da aliteração, no original, permitisse também recriar esta figura de estilo. É também de notar a escolha de tradução de buttercups por “ranúnculos-mata-boi” e não por

“botões-de-ouro”, uma outra hipótese equacionada, que permitiria recriar o efeito de aliteração na frase “Butterflies butter cups”. Esta escolha de tradução foi motivada pela necessidade de me aproximar da tradução de Luísa Costa Gomes em O Mundo é Redondo.

De facto, nesta obra figura a palavra, buttercups, no original, e a tradutora escolhe traduzi-la por “ranúnculos-mata-boi”, determinando assim a minha decisão de tradução.

“Lesson Fifteen” é um dos exemplos onde o jogo de palavras não foi conseguido na tradução, pois foi-me impossível recriá-lo sem mudar a mensagem do texto original.

Assim, pareceu-me a escolha mais acertada traduzi-lo literalmente, perdendo o jogo de palavras entre twice e mice, mas mantendo a intenção da autora:

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Texto de partida Texto de chegada

Now going away once is not often but going away twice just going away twice makes them not like mice

Agora ir embora uma vez não é frequente mas ir embora a dobrar ir embora a dobrar não os torna ratos.

If you do it in private you will do it in public, but it works the other way so they say, if you do it in public you will do it in private so you have to be awfully careful just most awfully careful about that word twice.

Se o fizerem em privado fá-lo-ão em público, mas dizem que funciona ao contrário, se o fizerem em público fá-lo-ão em privado portanto têm de ser extremamente cuidadosos extremamente cuidadosos com a expressão a dobrar.

Apesar de, nesta lição, a escolha ter sido traduzir literalmente acabei por recorrer à adaptação ao mudar a tradução de word (palavra) para “expressão”, uma vez que para traduzir twice usei “a dobrar”; esta pequena alteração vai impedir que o texto pareça confuso da perspetiva do leitor português.

Na lição nº 16, “Lesson Sixteen”, a autora apresenta uma peça de teatro com atos.

Assim sendo, o leitor depara-se com um longo diálogo entre três personagens onde existe a repetição sucessiva da palavra said. Quanto a isto, foi-me recordado pela professora orientadora que a língua inglesa pode usar repetitivamente esta forma tanto em frases afirmativas como interrogativas, em circunstâncias em que uma opção de tradução para português poderia ser “perguntar”. No entanto, este texto de Gertrude Stein tem como uma das suas características principais o facto de não ter pontuação para lá das vírgulas e pontos finais, sendo estes últimos também escassos. Atendendo a que Stein nunca usa ask, o verbo de elocução, pareceu-me que utilizar “disse” seria a opção mais correta para esta tradução em concreto, como se pode verificar na seguinte tabela:

Texto de partida Texto de chegada

A little boy was standing in front of a house and opposite him was a blackberry

Um menino pequenino estava em frente a uma casa e de frente para ele estava uma

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