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4 METODOLOGIA

4.5 Análise dos dados

Como procedimento de tratamento dos dados foi utilizada a análise de conteúdo preceituada por Bardin (1977) e Franco (2005). Esta técnica considera que as mais variadas mensagens expressam necessariamente um sentido, ensejando uma compreensão dinâmica e crítica da linguagem concebida como produção cultural que expressa a existência humana.

A análise de conteúdo é utilizada como procedimento para analisar a mensagem, seja ela verbal (oral ou escrita), gestual, silenciosa, documental etc., mas que expresse significado e sentido (FRANCO, 2005). Dentre os propósitos diversos do procedimento são apontados por Martins (2008) e Gil (2009) a identificação do foco de atenção e a expressão de atitudes, interesses, crenças e valores de pessoas ou grupos, coadunando-se, pois, com os atributos da pesquisa-ação assumidos neste estudo. Há compatibilidade entre a análise de conteúdo e a pesquisa-ação, uma vez que este procedimento de tratamento de dados auxilia o pesquisador no processo de descrição e compreensão do material escrito coletado, pesquisa documental, bem como das falas dos sujeitos colaboradores do estudo.

São identificadas críticas – por vezes contundentes – à utilização da análise de conteúdo nas pesquisas de abordagem qualitativa. O procedimento de análise é assumido nessa investigação como técnica, tendo-se realizado ajustes e adequações necessárias à sua utilização.

Para Bardin, pesquisadora largamente identificada pelo uso e defesa deste procedimento, a análise de conteúdo pode ser definida como

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (BARDIN, 1977, p. 44).

A conceituação acima evidencia dois aspectos que merecem destaque. O primeiro diz respeito à inferência37, compreendida como a intenção e o propósito maior da análise de conteúdo, como a etapa intermediária que visa a permitir a passagem da descrição à interpretação38; o segundo se refere à preocupação com os contextos em que são

37 Inferir: “deduzir por meio de raciocínio; concluir” (Dicionário da Língua Portuguesa, 2009). Bardin (1977, p. 41, nota n. 7) aduz o significado de “inferência” do Petit Robert, Dictionnaire de la langue Française,(S.N.L., 1972), como: “operação lógica pela qual se admite uma proposição em virtude da sua ligação com outras proposições já aceites como verdadeiras”.

desenvolvidas as mensagens que se quer analisar. Diferentemente dos que afirmam que a preocupação dos analistas que usam o procedimento em questão é tão somente a busca pela significação das mensagens, Franco (2005) revela indispensável considerar a relação entre as mensagens e os contextos em que são produzidas.

Martins (2008, p. 35-36) corrobora esse entendimento na medida em que acentua:

A análise de conteúdo busca a essência da substância de um contexto nos detalhes dos dados e informações disponíveis. Não trabalha somente com o texto per se, mas também com os detalhes do contexto. O interesse não se restringe à descrição dos conteúdos. Deseja-se inferir sobre o todo da comunicação [...]. Buscam-se entendimentos sobre as causas e antecedentes da mensagem, bem como seus efeitos e consequências.

Bardin (1977) refere os debates travados com início na década de 1950 entre as abordagens quantitativas e qualitativas, e situa a análise de conteúdo como procedimento viável às pesquisas de cunho qualitativo. Alerta, para tanto, para a noção de que se considere o contexto, inclusive exterior, das mensagens: “[...] quais serão as condições de produção, ou seja, quem é que fala a quem e em que circunstâncias? Qual será o montante e o lugar da comunicação? Quais os acontecimentos anteriores ou paralelos?” (BARDIN, 1977, p. 140).

As etapas do processo da análise de conteúdo referidas por Bardin (1977, p. 121) são detalhadas adiante, com assento nas opções que se revelaram adequadas a este estudo. São elas: “a pré-análise (1), a exploração do material (2) e, por fim, o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação (3)”.

A pré-análise (1) é a fase de organização dos dados e sistematização das ideias iniciais provenientes dos documentos analisados, das entrevistas e das sessões reflexivas e de trabalho. É considerada por Bardin (1977) “um período de intuições39” em que os dados tomam a conformação de um corpus40, com a seleção orientada por critérios41 estabelecidos pelo pesquisador. Esta fase se inicia com a “leitura flutuante”42 que, paulatinamente, é substituída por uma leitura mais rigorosa e formal, desde as influências do quadro teórico sobre os dados e do surgimento das primeiras hipóteses.

No decurso da “exploração do material” (2) dá-se a análise propriamente dita, considerando-se as decisões tomadas durante a fase anterior. Foram, assim, realizadas

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Cf. Bardin (1977, p. 121). 40 Cf. Bardin (1977, p. 122).

41 Estes devem atentar para as regras de exaustividade, representatividade, homogeneidade e pertinência (BARDIN, 1977, p. 122-124).

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“[...] consiste em estabelecer contacto com os documentos a analisar e em conhecer o texto deixando-se invadir por impressões e orientações” (BARDIN, 1977, p. 122).

operações de codificação e decomposição. A codificação corresponde à transformação dos dados brutos dos textos, mediante operações de recorte, enumeração (quando necessário) e classificação, que permitem ao analista conhecer as características do conteúdo da mensagem analisada.

Os “recortes” dos textos analisados possibilitam a eleição do tema como unidade de registro43, compreendendo-a como elemento de significação, “núcleo de sentido” (BARDIN, 1977, p. 131), que assume determinada importância para o objetivo analítico pretendido.

O tema é geralmente utilizado como unidade de registro para estudar motivação de opiniões, de atitudes, de valores, de crenças, de tendências, etc. As respostas a questões abertas, as entrevistas (não directivas ou mais estruturadas) individuais ou de grupo, (...) podem ser, e são frequentemente, analisadas tendo o tema por base (BARDIN, 1977, p. 131).

As unidades de registro (temas) foram consideradas desde suas unidades de contexto – dimensões do texto mais amplas, que servem para situar a significação das unidades de registro. O processo de categorização entendido como a constituição de classes, que reúnem elementos (temas) com características comuns, foi do tipo semântico e resultante de classificação analógica e progressiva dos elementos. Portanto, não existiram categorias fornecidas a priori. Seu estabelecimento buscou obedecer às indicações de Bardin (1977) do que seriam “boas” categorias. Isto é, neste estudo, as categorias foram constituídas de tal maneira que: um elemento não apresente dois ou mais aspectos passíveis de alocação em outra categoria (exclusão mútua); busque apresentar pertinência com o material de análise escolhido (pertinência); pretenda a identificação clara das variáveis e índices, que determinam a entrada de um elemento numa determinada categoria (objetividade e fidelidade); e, por fim, apresente-se férteis em inferência (produtividade).

Foram identificadas, assim, as seguintes categorias de análise: 1. Avaliação do aluno com deficiência intelectual (DI) no AEE; 2. Concepções sobre deficiência e aprendizagem do aluno com DI; 3. Relações entre o AEE e o ensino regular.

Identificadas as categorias, deu-se a última fase desse processo, ou seja, a proposição de inferências e interpretações consonantes com os objetivos do estudo, viabilizando a própria razão de ser da análise de conteúdo na pesquisa qualitativa. Ratificando

43 Unidade de registro “é a unidade de significação a codificar e corresponde ao segmento de conteúdo a considerar como unidade de base, visando a categorização (...)” (BARDIN, 1977, p. 130). Além do tema, são mais frequentemente apontados como unidades de registro a palavra, o objeto ou referente, o personagem, o acontecimento ou o documento.

a pertinência e adequação do procedimento neste estudo, ressalta-se a importância da inferência – alicerçada na presença do tema – em detrimento do levantamento de sua frequência de aparição no material analisado.

Explicitados os caminhos metodológicos são apresentados e discutidos os resultados da investigação acerca da avaliação de alunos com deficiência intelectual no contexto do atendimento educacional especializado, considerando-se as fases de desenvolvimento da pesquisa.

5 AVALIAÇÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL NO