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4 METODOLOGIA

4.1 Tipo de pesquisa

O estudo assume a abordagem qualitativa descritiva que, ancorada no proposto por Bogdan e Biklen (1994), atende a cinco pressupostos: a pesquisa qualitativa tem o contexto como fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento; os dados coletados são predominantemente descritivos; a preocupação com o processo é muito maior do que com os resultados; a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo; o significado que as pessoas apresentam das situações é vital nesta abordagem.

Denzin e Lincoln definem a pesquisa qualitativa como

[...] uma atividade situada que posiciona o observador no mundo. Ela consiste em um conjunto de práticas interpretativas e materiais que tornam o mundo visível. Essas práticas transformam o mundo, fazendo dele uma série de representações, incluindo notas de campo, entrevistas, conversas, fotografias, gravações e anotações pessoais. Nesse nível, a pesquisa qualitativa envolve uma postura interpretativa e naturalística diante do mundo. Isso significa que os pesquisadores desse campo estudam as coisas em seus contextos naturais, tentando entender ou interpretar os fenômenos em termos dos sentidos que as pessoas lhes atribuem (DENZIN; LINCOLN, 2006, p. 16).

Alinhada à perspectiva e abordagem referidas, e considerando as especificidades do objeto, contexto e sujeitos envolvidos, a pesquisa-ação apresenta-se como opção metodológica deste estudo. A escolha se justifica ainda por razões epistemológicas, políticas e éticas – esta última entendida como exercício, experiência e postura assumidas no estudo (JESUS; VIEIRA; EFFGEN, 2014).

No campo educacional a pesquisa-ação apresenta-se como caminho metodológico para o enfrentamento de problemas cotidianos, de articulação da produção de conhecimento científico situado e do desenvolvimento profissional docente, sendo desenvolvido, preferencialmente, de forma colaborativa. Apresenta, em educação, variedades distintas, constituindo, assim, o que Tripp (2005) denomina “uma família de atividades”, “uma situação multi-paradigmática entre os que fazem pesquisa-ação (HEIKKINEN; HAKKORI; HUTTUNEN apud TRIPP, 2005, p. 445).

Pesquisadores que utilizam a pesquisa-ação como metodologia em suas investigações (JESUS; VIEIRA; EFFGEN, 2014) referem três perspectivas desse tipo de estudo: a técnica, a prática e a emancipatória, originando práticas distintas de pesquisa. Sem fazer oposição às contribuições das vertentes técnica e prática, a perspectiva emancipatória é escolhida em razão de sua dimensão política relativa ao desenvolvimento profissional dos docentes colaboradores do estudo – professores de AEE e do ensino regular. As dimensões política e emancipatória da pesquisa-ação figuram, então, como elementos de empoderamento dos docentes (empowerment) para as transformações da sala de aula e da escola.

Nesta investigação, a pesquisa-ação conforma-se para melhorar as práticas avaliativas desenvolvidas no AEE. Assim, é realizada levando-se em consideração movimentos em espiral de planejamento-ação-reflexão-ação, sendo desenvolvida de forma colaborativa (IBIAPINA, 2008). É, ainda, ferramenta de enfrentamento das tensões do contexto investigado, possibilitando “[...] não aceitá-lo como imutável e incapaz de sofrer ressignificação” (JESUS; VIEIRA; EFFGEN, 2014, p. 775), mas, ao contrário, assegurando um terreno propício à abertura de rotas e caminhos alternativos. É o que os pesquisadores denominam, referenciando Freire (1996), de “inéditos-viáveis”. Perscrutam-se, neste estudo, os inéditos-viáveis das práticas avaliativas dos alunos, com deficiência intelectual desenvolvidas no AEE, através dos caminhos viabilizados pela pesquisa-ação.

Esta metodologia caracteriza-se ainda por: a) buscar a compreensão crítica da realidade social; b) assumir que esta realidade pode ser compreendida e alterada por meio de rupturas e novas práticas; c) adotar o trabalho colaborativo; d) assumir a prática de reflexão sobre as situações vividas.

A identificação do problema de investigação na pesquisa-ação adquire particularidades. O campo de pesquisa foi visitado com um tema inicial – práticas avaliativas desenvolvidas no AEE e as articulações possíveis com o ensino regular – e durante o desenvolvimento da pesquisa foi desenhado e materializado o objeto de estudo, a partir do emerso nesse lócus. Esta construção deu-se de forma colaborativa, logo após ser estabelecido o grupo de participantes da investigação na escola onde se desenvolveu o estudo. As relações entre pesquisador e colaboradores conformaram-se de forma horizontal, potencializando, assim, os saberes e fazeres partilhados, proporcionando um processo de implicação qualificado dos sujeitos implicados na investigação.

A pesquisa-ação reconhece a potência da ação grupal como uma possibilidade de reinvenções de ações, pensamentos e de saberes-fazeres, além de superação de situações que parecem intransponíveis. Leva o pesquisador a reconhecer a importância de se implicar com o campo investigado, criar laços de confiabilidade e se dispor a pensar com os participantes envolvidos, uma vez que, com a pesquisa- ação se trabalha com os outros, e não sobre os outros (JESUS; VIEIRA; EFFGEN, 2014, p. 780).

Jesus, Vieira e Effgen (2014) preocupados com os resultados produzidos por meio da pesquisa-ação consideram que as mudanças no contexto quase nunca ocorrem de forma imediata, mas, ao contrário, são processuais e emergem por meio do que Barbier (2004) denomina flashs de mudanças, estes entendidos como “[...] as possibilidades, os movimentos, as ações instituintes, muitas vezes inviabilizadas e desacreditadas pela dura realidade social vivida” (JESUS; VIEIRA; EFFGEM, 2014, p. 782). A área da avaliação educacional tem certa dificuldade de se ocupar da aprendizagem dos que estão fora da curva normal de desempenho/rendimento escolar, porém, urge analisarmos as práticas avaliativas desenvolvidas com os alunos com DI. É preciso gerar, através do conhecimento científico oriundo da pesquisa-ação, os tais flashs de mudança identificados por Barbier, novos possíveis entendidos como processo, e não como resultados estáticos e estanques.

Característica definidora da pesquisa-ação é seu desenvolvimento em espiral, através de ciclos sucessivos, que exigem ação e reflexão. O desenho deste estudo pode ser assim representado:

Figura 2 - Desenho da pesquisa