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Rodrigo 4 Não Sim Sim Sim Com a mãe Livros de história e revistinhas Isadora 4 Sim Sim Sim Sim Sozinha Livros de história

5 Escrita dos sons dos instrumentos e da história narrada

4.6 Análise de dados

Na análise das informações empíricas levantadas, as sessões de atividades semiestruturadas foram observadas, revistas e transcritas as conversações dos participantes. A análise foi realizada nas seguintes etapas:

1) A revisão dos vídeos de cada uma das sessões levou à sua descrição detalhada e à sumarização das sessões (Barbato, Mieto & Rosa, no prelo);

2) Em seguida, diálogos e conversações foram submetidos à análise da conversação aplicada à Psicologia (Pontecorvo, Ajello & Zucchermaglio, 2005), por meio da qual pudemos analisar as trocas discursivas e o uso de estratégias e ferramentas mediadoras nos diversos tipos de possibilidades de processos interativos nas conversações das crianças que poderiam estar levando à construção de conhecimentos no contexto situado. Essa análise levou em conta:

- Pedidos de esclarecimentos ou pedidos de informações das crianças e da pesquisadora;

- Réplicas elaboradas de concordância ou discordância: quando a informação introduzida por um falante foi continuada com acréscimo de informações ou negada ou recusada com justificações;

- Réplicas mínimas de concordância ou discordância: quando a informação introduzida por um falante foi continuada sem elaborações ou justificações;

- Espelhamentos: relativos a contribuições anteriores dos discursos das crianças ou à repetição, reformulação ou continuação de uma informação introduzida anteriormente pelos participantes.

3) Análise perceptivo-auditiva por meio da qual as manifestações musicais das crianças foram elencadas. Primeiro foram listadas as manifestações musicais explícitas, dada a facilidade de sua identificação e, em seguida, as manifestações musicais implícitas nas falas social e egocêntrica das crianças. Essa segunda etapa de análise deu-se à medida em que os vídeos foram assistidos pormenorizadamente, de forma concomitante com a análise microgenética, pois foi por meio das múltiplas vezes que as filmagens foram sendo assistidas que os elementos implícitos da musicalidade comunicativa foram ficando cada vez mais evidentes.

4) A análise microgenética possibilitou analisar múltiplas vezes os vídeos das gravações, buscando deixar emergir dos dados empíricos aqueles processos de mudança que nos interessavam. Esse processo permitiu a elaboração e reelaboração das análises de forma dinâmica, a fim de compreender como os fenômenos que nos interessavam e estavam ocorrendo e, então, foi possível fazer os recortes de episódios e trechos de episódios que foram descritos e analisados em profundidade. Esse procedimento tem como objetivo se fazer uma microanálise dos processos de desenvolvimento a partir de situações (semi)estruturadas a que possibilitaram a observação da ocorrência do fenômeno de interesse, que foi então minuciosamente analisado (Branco & da Rocha, 1998).

5) Análise dos episódios: inicialmente foi realizada uma análise dos episódios interativos em sua dimensão horizontal (Barbato, Mieto & Rosa, no prelo), seguindo a ordem cronológica de sua realização. Em seguida, foi realizada uma análise vertical, a fim de buscar a compreensão de quais os processos de mediação pela musicalidade comunicativa estavam ocorrendo, quais desses processos levavam a construções de conhecimento, que tipos de conhecimento

estavam sendo construídos e por meio de quais funções. Finalmente, agrupamos os resultados em duas supra-categorias, que emergiram da sequência completa das análises.

No processo de análise das informações empíricas, categorizamos as manifestações musicais em manifestações musicais implícitas (MMIs) e explícitas (MME), mencionadas anteriormente da seguinte maneira:

- Manifestações musicais implícitas: relativas ao conteúdo musical das interações verbais caracterizadas por variações e modificações nos aspectos de altura (pitch), intensidade, tempo e qualidade. As manifestações musicais implícitas, tais como estão sendo descritas no presente estudo estão relacionadas tanto à fala social como à fala egocêntrica.

- Manifestações musicais explícitas: relativas às produções musicais estritas das crianças, como cantar uma canção conhecida, inventar uma música espontaneamente e vocalizar musicalmente. As manifestações musicais explícitas podem ou não vir acompanhadas de ações musicais, ou seja, envolver ou não gestos e movimentos associados.

- Ações musicais: movimentos corporais e gestos ritmados com ou sem acompanhamento de produção vocal (canto ou vocalização). São exemplos de ações musicais o bater na mesa com as mãos ritmicamente, com ou sem acompanhamento de produções vocais, fazer gestos ritmados com as mãos acompanhados de onomatopeias, fazer movimentos corporais e/ou manuais que estejam relacionados a uma canção.

Consideramos tanto as condutas verbais como as condutas não-verbais simultaneamente nas interações entre os participantes. Entre as condutas não-verbais analisamos as ações musicais e os gestos das crianças, quando esses estavam acompanhados de condutas verbais de fala ou canto.

enunciados foram considerados egocêntricos quando: a) não tinham nenhum marcador de intenção social como, por exemplo, contato de olhos com outros participantes ou com a pesquisadora; b) não apresentavam direcionamento aos demais participantes com, por exemplo, contato físico; c) não apresentavam marcadores explícitos de intenção social, que indicassem, por exemplo, continuação da conversação, o nome do colega, fossem perguntas feitas para a pesquisadora ou para os outros participantes, ou complementações da fala dos outro. A análise da fala egocêntrica desencadeadas pelos participantes quando estavam engajados nas atividades desenvolvidas nas sessões, foram consideradas as seguintes categorias (Montero, de Dios & Huertas, 2001 baseados em Berk, 1986):

- Fala egocêntrica externalizada e relevante: quando a criança organiza e planeja a própria atividade por meio de enunciados relevantes para a realização da tarefa como comentários sobre aquilo que vai escrever ou desenhar;

- Manifestações Externalizadas de Fala Interna: quando a criança utiliza subvocalizações e movimentos de lábios relacionados com o objeto da atividade;

- Fala Egocêntrica Geradora de Fala Comunicativa (Cavaton, 2010): quando a fala egocêntrica de uma criança gera comentários, solicitações, perguntas, etc. que desencadeiam interações continuadas por qualquer um dos interlocutores.

5. Resultados

Considerando o objetivo geral do presente estudo de investigar quais são as manifestações da musicalidade comunicativa, seus usos e funções nas interações das crianças de seis anos em contextos semiestruturados mediados pela música, observamos que a musicalidade comunicativa manifestou-se implicitamente nos enunciados das crianças (MMIs) e explicitamente por meio de canções conhecidas e canções inventadas (MMEs) nas interações e nos processos comunicativos de crianças com duas funções principais e complementares: 1) Mediação para construção de conhecimentos e 2) Mediação para a manutenção da interação. Em relação à sua primeira função, observamos a mediação da musicalidade comunicativa na construção de conhecimentos semânticos-lexicais; conhecimentos sobre as relações oralidade-escrita, conhecimentos pragmáticos e morfossintáticos. Em relação à sua segunda função, a musicalidade comunicativa mediou interações de diálogo, de conflito e interações lúdicas. Lembramos que, como essas funções são complementares, os quadros buscam sintetizar relações de mediação que são dinâmicas e podem haver elementos de uma função atuando em mais de uma categoria.

No quadro abaixo (Quadro 6), apresentamos as funções da musicalidade comunicativa observadas.