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3 MÉTODOS

3.4 Análise dos dados

O estudo da organização temporal foi realizado por inspeção visual e marcação manual no sinal de fala e no espectrograma. As análises foram realizadas com base em Duez (2007b) e Reis et al. (2007), seguindo os critérios tradicionais de segmentação.

Para a análise acústica dos enunciados e a observação dos parâmetros temporais da fala, utilizou-se o programa Praat® (Boersma et Weenik, 2009). A primeira etapa de análise constou da identificação e marcação manual das pausas (ausência de sinal no espectrograma), associando-se a análise auditiva e acústica, independente de sua duração mínima (de acordo com o que foi discutido no capítulo 2.5). Cada gravação foi segmentada em pausas e sequências articuladas, conforme critério de Duez (2005 e 2007b). Quando o segmento após a pausa era uma oclusiva, havia duas possibilidades: se esta fosse vozeada, a sequência sonora começava na barra vozeada ou com uma explosão visível; se fosse desvozeada, não era possível

separar a oclusão da pausa precedente ou esta começava com a explosão visível, se houvesse. Cada pausa foi medida em segundos e identificada de acordo com as fronteiras sintáticas (conforme PERINI, 1996, 2006 e Reis et al., 2007). Também, foi identificado o número de pausas por tipo de fronteira:

[P0] fronteira que separa constituintes sintagmáticos de um sintagma maior [P1] fronteira entre dois sintagmas

[P2] fronteira de oração subordinada ou coordenada [P3] fronteira de oração independente

[P4] fronteira de parágrafo [P5] dentro de um sintagma [P6] disfluência

As pausas do tipo 6 englobam as disfluências descritas no item 2.5, ou seja, pausas plenas, hesitações, bloqueios e repetições.

Para a contagem de cada tipo de pausa e a soma de suas durações, procedeu-se da seguinte maneira: selecionou-se o arquivo de som, com seu respectivo text grid; extrair; e extrair intervalos que possuam determinado rótulo (P1, por exemplo). Com a seleção de todas as pausas de um mesmo tipo, formou-se um único arquivo de som, perfazendo assim, a duração total de cada tipo (combinar sons/ concatená-los). Dessa forma, o tempo total de pausa (TTP) = PO + P1 + P2 + P3 +P4 + P5.

Por meio de transcrição ortográfica, os enunciados foram comparados ao texto proposto, para análise das disfluências, repetições, omissões e contagem do número de sílabas fonéticas produzidas. As sílabas fonológicas do texto foram identificadas e quantificadas (conforme ANEXO H). Considerando-se a produção de possíveis sândis (24) neste texto, o número mínimo de sílabas que poderiam ser produzidas era de 338. De outro lado, na ausência da produção de qualquer sândi, o número máximo de sílabas produzidas seria 362. Como nos casos estudados a ocorrência de disfluência é frequente, também foram contabilizadas as sílabas adicionadas, repetidas ou omitidas.

Após a marcação das pausas, da transcrição ortográfica e da contagem das sílabas, computaram-se as variáveis temporais, conforme descrito a seguir:

- Tempo total de fala (TTF) - divide-se em tempo total de articulação (TTA) (sequências sonoras produzidas) e tempo total de pausa (TTP: duração da soma de todas as pausas silenciosas). Ou seja, TTF = TTP + TTA. Como o TTF era obtido com a duração total do arquivo de som, após a identificação e a soma de todas as pausas, o TTA era obtido pela subtração de: TTF – TTP = TTA.

- Número de pausas e duração média das pausas.

- Velocidade de fala (VF) - calculada pela divisão do número de sílabas pela duração total da fala.

- Velocidade de articulação (VA) - avaliada pela divisão do número de sílabas pelo tempo total de articulação.

- Tempo total de fluência - soma do tempo de produção sem disfluência (hesitação, bloqueio ou repetição).

- Tempo total de disfluência - soma da duração de cada disfluência ocorrida.

Também foram identificadas e assinaladas como disfluências as hesitações, as repetições e os bloqueios típicos da disfluência de fala (e não de leitura). Optou-se por não selecionar os prolongamentos de segmentos, devido à dificuldade em limitar o final do prolongamento e o início do segmento considerado fala fluente. O tempo das disfluências não foi considerado no tempo de articulação, já que estas produções não fazem parte do texto original. Dessa forma, evitou-se produzir um falso valor de articulação.

Como o objetivo do trabalho relacionava-se apenas à realização de análise acústica da prosódia, a análise perceptual ou subjetiva dos demais aspectos da disartria não foi realizada.

Para as análises estatísticas, além dos dados descritivos, foram obtidos dados inferenciais. Para tanto, foram utilizados a análise de variância (ANOVA), o método de comparações múltiplas por Bonferroni, o coeficiente de correlação de Pearson, o método Bootstrap e o teste t de student.

Foram consideradas variáveis dependentes todas aquelas relacionadas à organização temporal da fala. Já as variáveis independentes foram: doença, escolaridade, idade, comprometimento motor global e influência da medicação (estado ON e OFF).

No caso da ANOVA, trata-se de uma análise de variância paramétrica. Foi realizada para testar a ocorrência de diferenças significativas entre as médias dos grupos e se os fatores exerciam influência em alguma variável dependente. Já que foram encontradas diferenças significativas nesta análise, o método de comparações múltiplas por Bonferroni foi utilizado, para localizar entre quais grupos existiam as diferenças.

O coeficiente de correlação de Pearson foi utilizado para avaliar a significância das correlações entre variáveis. Como a amostragem para cada grupo não é suficientemente grande, o método Bootstrap possibilita obter um intervalo de 95% de confiança para o parâmetro avaliado em cada teste e permite estimar parâmetros que compõem uma amostra comum originada da junção das amostras individuais de cada população. A partir dessa amostra, obtêm-se por reamostragem, réplicas dos dados com os quais se pode avaliar a variabilidade de quantidades de interesse. Neste caso, foi adotado um processo de reamostragem de mil amostras.

O teste t de student é um teste paramétrico e foi usado para testar diferenças significativas entre as médias de dois grupos apenas.

Para os testes estatísticos aplicados, não foi considerada a suposição de normalidade. Ou seja, estes foram da forma paramétrica, tendo em vista a possibilidade de aplicação da metodologia Bootstrap.

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