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3.3.1 Análise do discurso (AD)

Para a análise dos dados, recorreu-se à técnica da análise do discurso. Segundo Godoi (2006), a utilização da técnica tem sido cada vez mais ampla dentro dos estudos que enfocam “[...] os processos sociais como processos de produção de signo” (GODOI, 2006, p. 375).

Conforme a autora, “[...] embora tenha sido originariamente vinculada à filosofia da linguagem, a análise do discurso constitui hoje um complexo metodológico fragmentado em diversas escolas e tendências epistemológicas diversas” (GODOI, 2006, p. 375). Essa complexidade, em parte, se explica pelo caráter multidisciplinar da técnica, que tem raízes em disciplinas distintas da área das ciências sociais e humanas, tais como a semiótica, a linguística, a antropologia, a sociologia, a psicologia social e cognitiva e outras (GODOI, 2006).

Apesar das diversas possibilidades de percursos metodológicos, vislumbra-se como grande contribuição da técnica o fato de que permite pluralizar a compreensão do objeto de estudo mediante a inclusão de aspectos sociocognitivos, nem sempre explícitos e de fácil percepção. O foco é, pois, a desconstrução do literal e do imediato em busca de compreensões menos óbvias e mais profundas (CABRAL, 1999).

Godoi (2006) salienta que a utilização da técnica permite incorporar à análise os aspectos cognitivos, culturais e sociais da linguagem. O foco principal não é apenas propor uma análise interna dos textos, “[...] e sim uma reconstrução dos sentidos dos discursos e dos interesses dos sujeitos na organização” (GODOI, 2006, p. 378).

Carrieri e Sarsur (2004) corroboram tal visão e afirmam que a análise do discurso pode ser vista como uma importante ferramenta de investigação do contexto organizacional. De acordo com os autores “[...] os discursos desempenham papel ativo na passagem do subjetivo (significações dadas pelos atores organizacionais aos processos e práticas

gerenciais e à identidade da organização) para o objetivo (linguagem escrita e falada)” (CARRIERI; SARSUR, 2004, p,135).

Para Orlandi (2006), na análise do discurso, a ênfase recai sobre a interação dos indivíduos com um contexto histórico e cultural específico, que revela a forma como os indivíduos compreendem o mundo e nele atuam. Segundo a autora “[...] a análise do discurso não trabalha com sentidos ou sujeitos idealizados, mas materialmente constituídos por suas relações com a sociedade e a história” (ORLANDI, 2006, p.28). Charaudeau (1996) recorre a aspectos da linguística, da sociologia, da linguagem e da psicologia para propor o que chama de nova análise do discurso. Com tal abordagem, o autor aponta que o significado do discurso será resultado de dois componentes: o linguístico (relativo à língua propriamente dita) e o situacional (relacionado ao sujeito como ator social). O discurso, portanto, não existe de maneira isolada e, sim, dentro de um contexto social em qual de fato se efetiva.

Ainda, conforme Charaudeau (1996), a questão da significação discursiva se respalda em três diferentes oposições: proposicional versus relacional; explícito versus implícito e interno x externo. Na primeira oposição, o autor traz à tona a importância de considerar os diversos atores envolvidos no discurso, o caráter interacional do discurso. Quem fala, fala a alguém. Os sentidos, portanto, se constroem por meio de uma relação triangular, que interliga o mundo (proposicional) à intersubjetividade dos interlocutores (relacional): o ser falante e o outro. Essa oposição “[...] consiste em significar a relação que se estabelece entre os parceiros do ato da linguagem” (CHARAUDEAU, 1996, p.7).

Na segunda oposição, Charaudeau (1996) transcende a análise para além do que está dito (explícito). O autor salienta que a compreensão plena do sentido irá demandar também o envolvimento dos elementos implícitos da linguagem. “A observação do intercâmbio linguageiro nos mostra claramente que os jogos de comunicação se realizam nessa inter-relação” [entre o explícito e o implícito] (CHARAUDEAU, 1996). A terceira oposição considera que existe uma integração entre a linguagem e o que está

fora da linguagem (realidade extralinguística) que se combina de modo pertinente (mesmo se não sabemos bem como) com o local da manifestação discursiva (CHARAUDEAU, 1996, p. 8).

Por meio da análise das manifestações discursivas dos consultores entrevistados busca- se uma compreensão mais profunda acerca da dinâmica do trabalho da consultoria e das relações que se estabelecem entre consultores e clientes, considerando-se os ditos, os não-ditos e os interditos dos discursos apresentados. Conforme Oliveira et al. (2012, p.28).

[...] o discurso não é apenas uma forma de comunicação, mas o espaço onde as relações sociais e interpessoais se fazem, por meio da sua dimensão pragmática, do locutor e do alocutário. É nele e por ele que os indivíduos constroem a própria identidade, ao mesmo tempo em que constroem a identidade dos outros, por meio de um jogo especular.

3.3.2 Categorias e subcategorias de análise

No intuito de alcançar os objetivos propostos, foram estabelecidas três categorias para a análise dos discursos, contemplando as perspectivas de interação consultor-cliente propostas por Nikolova e Devinney (2012): perspectiva do especialista (expert), perspectiva da aprendizagem social e perspectiva da abordagem crítica. Cada uma delas foi dividida em subcategorias, abarcando os principais elementos que caracterizam cada modelo e também suas limitações (quadro 5).

QUADRO 5

Categorias e subcategorias de análise

CATEGORIAS DE ANÁLISE SUBCATEGORIAS DE ANÁLISE

1.1 - O consultor como conselheiro organizacional e o foco em sua expertise gerencial

1.2 - Consultoria, gurus e o desenvolvimento da gestão organizacional

1.3 - Limitações do Modelo

2.1 - O consultor como apoiador de seus clientes; 2.2 - O envolvimento do cliente ao longo do processo de consultoria e os ritos de passagem;

2.3 - A responsabilidade do cliente e os resultados compartilhados;

2.4 - A transmissão do conhecimento e o foco na capacitação dos clientes;

2.5 - O cliente da consultoria na perspectiva dos entrevistados;

2.6 - Conflitos na relação consultor-cliente e limitações do Modelo

3.1 - Não basta ser bom; é preciso parecer bom!

3.2 - As estratégias de gerenciamento de impressão 3.3 - A consultoria e o poder da alta administração organizacional

3.4 - Disfunções da consultoria na perspectiva dos entrevistados 3.5 - Limitações do Modelo 1- Manifestações discursivas do modelo especialista 2- Manifestações discursivas do modelo da aprendizagem social 3- Manifestações discursivas do modelo crítico

4. OS MODELOS DE RELACIONAMENTO ENTRE CONSULTORES E