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Como já foi referido, os valores utilizados para interpretar os ensaios de bombeamento localizam-se na curva de esgotamento do hidrograma (durante o mês de agosto). O tempo de duração do bombeamento está dependente das necessidades hídricas da Câmara Municipal de Porto de Mós, entidade que explora a captação. O ensaio de bombagem mais longo individualizado tem 17 horas (1031 min) de duração. Os restantes sete ensaios de bombeamento têm, aproximadamente, entre 5 e 7,5 horas (295 minutos e 442 minutos) de duração. Considerou-se que todos os ensaios foram realizados com um caudal de 130 m3/h. Os valores de rebaixamento escolhidos estão livres da influência da precipitação.

Metodologias utilizadas no estudo do escoamento em aquíferos cársicos e o caso prático da captação do Olho Mira (Maciço Calcário Estremenho)

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Na Tabela 7.1 observa-se os valores de transmissividade obtidos utilizando as equações de Theis (1935), Cooper & Jacob (1946) e Papadopulos & Cooper (1967) para os sete ensaios de bombeamento de menor duração. A curva e/ou reta teórica foi sempre ajustada ao último conjunto de dados, na tentativa de obter o valor de transmissividade que representasse todo o sistema e que estivesse livre, dento do possível, do efeito de armazenamento do poço, como se pode observar nos gráficos da Figura 7.19.

Tabela 7.1 – Valores de transmissividade obtidos para os bombeamentos de menor duração, utilizando diferentes equações. Data do ensaio de bombeamento Duração do bombeamento (min) Transmissividade (m2/dia) Papadopulos & Copper

(1967)

Copper & Jacob (1946) Theis (1935) 11Ago1992 442 702 761 897 14Ago1992 336 785 624 921 16Ago1992 301 772 636 781 19Ago1992 388 745 759 806 20Ago1992 412 891 665 796 22Ago1992 295 745 768 972 24Ago1992 385 669 577 659 Min. 295 669 577 659 Máx. 442 891 768 972 Média 366 758 684 833

Na Tabela 7.2 observa-se os valores de transmissividade obtidos utilizando as equações de Theis (1935), Cooper & Jacob (1946) e Papadopulos & Cooper (1967) no ensaio de bombeamento de maior duração. Na Figura 7.20 encontram-se as curvas teóricas para as equações de Papadopulos & Cooper (1967) e Theis (1935). Por sua vez, na Figura 7.21 onde está a equação de Cooper & Jacob (1946) é possível individualizar dois conjuntos de dados e por consequência traçar duas retas teóricas. No Anexo 5 são apresentados os dados utilizados para interpretação dos ensaios de bombeamentos, apresentados nas Tabela 7.1 e Tabela 7.2.

Capítulo 7 – Caso prático: A Captação do Olho de Mira (Maciço Calcário Estremenho)

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Figura 7.19 - Interpretação do ensaio de 10Ago1992, onde T é a transmissividade em m2/min: A – Aplicação da equação de Papadopulos & Cooper (1967); B - Aplicação da equação de Theis (1935); C – Aplicação da equação de Cooper & Jacob

(1946).

Tabela 7.2 - Valores de transmissividade obtidos para os bombeamentos de maior duração, utilizando diferentes equações.

Duração do bombeamento (min)

Transmissividade (m2/dia) Papadopulos & Copper

(1967)

Copper & Jacob (1946) Theis (1935) 06Ago2015 1031 827 964 ou 500 815 B A C

Metodologias utilizadas no estudo do escoamento em aquíferos cársicos e o caso prático da captação do Olho Mira (Maciço Calcário Estremenho)

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Figura 7.20 - Interpretação do ensaio de 05Ago1992, onde T é a transmissividade em m2/min: A – Aplicação da equação de Papadopulos & Cooper (1967); B - Aplicação da equação de Theis (1935).

Figura 7.21 - Interpretação do ensaio de 05Ago1992, onde T é a transmissividade em m2/min, aplicando a Equação de Cooper & Jacob (1946): A – ajuste da reta ao conjunto de dados mais iniciais; B – ajuste da reta teórica ao conjunto de

dados mais tardios.

Discussão dos resultados

Dos oito ensaios de bombeamento analisados, apenas um é claramente mais longo com 1031 minutos de bombeamento e os restantes sete foram considerados ensaios de curta duração, com tempos de bombeamento compreendidos entre 295 e 442 minutos, sendo 366 minutos a sua média de duração. Todos os dados foram analisados utilizando as equações de Theis (1935), Cooper & Jacob (1946) e Papadopulos & Cooper (1967), encontrando-se na Tabela 7.1 os valores de transmissividade para os sete ensaios de curta duração e na Tabela 7.2 os valores de transmissividade resultantes da interpretação dos dados do bombeamento de duração mais longa.

B A

Capítulo 7 – Caso prático: A Captação do Olho de Mira (Maciço Calcário Estremenho)

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No conjunto de ensaios de menor duração não é visível uma correlação entre o tempo de bombeamento e os valores de transmissividade obtida para cada equação. A interpretação dos dados com a equação Papadopulos & Cooper (1967) fornece valores de transmissividade compreendidos entre os 669-891 m2/dia, com uma média de 758 m2/dia. Os dados interpretados com o auxílio da equação de Theis (1935) apresenta um mínimo e máximo de 659 m2/dia e 972 m2/dia, respetivamente, e uma média de 833 m2/dia. Por sua vez, com o ajuste da reta teórica de

Cooper & Jacob (1946) obtiveram-se valores um pouco mais baixos para o mesmo parâmetro, comparativamente com as equações anteriores, nomeadamente um mínimo de 577 m2/dia, um máximo de 768 m2/dia e a média de 684 m2/dia.

A interpretação do ensaio de bombeamento mais longo com as equações de Papadopulos & Cooper (1967) e de Theis (1935) forneceu transmissividade bastante próximas, respetivamente 827 m2/dia e 815 m2/dia. Interpretando os mesmos dados de bombeamento com a equação de Cooper & Jacob (1946) é possível ajustar uma reta a dois conjuntos de dados diferentes, como se pode observar na Figura 7.21. O ajuste da reta de Cooper & Jacob (1946) ao primeiro conjunto de dados indica uma transmissividade de 964 m2/dia, e no segundo conjunto de dados a transmissividade é bastante mais baixa, na ordem dos 500 m2/dia.

Tal como foi observado no Capítulo 6, os ensaios de bombeamento realizados em aquíferos cársicos devem ser o mais longos possível de modo a poder-se observar os vários tipos de porosidade do sistema. O ensaio mais longo que se conseguiu individualizar na curva de esgotamento do Olho de Mira tem uma duração de bombeamento de aproximadamente 17 horas (1031 min). Parece ser possível individualizar duas retas na interpretação dos dados de bombeamento utilizando a equação de Copper & Jacob (1946), fornecendo um valor de transmissividade de 964 m2/dia ao conjunto de dados que representem o armazenamento das fraturas e galerias (troço 1 da Figura 6.9) e uma transmissividade de 500 m2/dia à zona de transição dos blocos (troço 3 da Figura 6.9).

Independentemente dos ensaios de curta ou longa duração, os valores de transmissividade são da mesma ordem de grandeza. A partir da interpretação dos dados efetuada, admite-se que a transmissividade da porção do aquífero afetada pela bombagem seja da ordem dos 760 m2/dia. Este valor de transmissividade é um pouco baixo para o que se espera de sistemas aquíferos cársicos embora aquele possa ser extremamente variável. Almeida et al., (2000) referem 4800 m2/dia o valor máximo de transmissividade no Maciço Calcário Estremenho. Relembra-se que na experiência de traçagem de Lopes et al., (2007), o valor da velocidade máxima atingida entre os sumidouros da depressão do Mindinho e a nascente do Olho de Mira foi mais baixa (55 a 70 m/h) que o obtido noutros sectores no Polje de Minde: 220 a 310 m/h no trajeto Minde – Nascente de Vila Moreira ou 280 a 460 m/h no trajeto Minde – Olhos de Água do Alviela (Crispim, 1995).

Metodologias utilizadas no estudo do escoamento em aquíferos cársicos e o caso prático da captação do Olho Mira (Maciço Calcário Estremenho)

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7.4.4. Interpretação da curva de recessão do poço da captação do Olho de Mira, ano

hidrológico 1991/1992

Na Figura 7.13 foi apresentado o hidrograma da nascente do Olho de Mira durante um período de 303 dias (6 dezembro de 1991 a 4 de outubro de 1992). A curva de recessão mais longa do período analisado tem uma duração de, pelo menos, 177 dias, com início no dia 05 de Abril de 1992, depois de fortes eventos pluviosos com duração de 4 dias (ver 7.4.2). A curva de recessão no poço foi acompanhada durante esse período, com a exceção de 22 dias devido a problema técnicos, tal como já foi referido.

Figura 7.22 - Exemplo da correção do nível de água com os sucessivos bombeamentos (linha a azul) e nível de água corrigido (linha a vermelho).

O poço do Olho de Mira era, e continua na atualidade, a ser explorado pelos serviços municipalizados de Porto de Mós. De modo a anular as sucessivas interferências do nível resultantes das extrações das bombas aí instaladas (linha a azul da Figura 7.22), optou-se por suprimir, manualmente, todos os pontos referentes ao bombeamento e respetiva recuperação do nível de água, deixando apenas os pontos que se consideram não estarem perturbados (linha a vermelho da Figura 7.22).