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Serra da Arrábida (Sesimbra)

Capítulo 7. Caso prático: A Captação do Olho de Mira (Maciço Calcário Estremenho)

7.4. Limnigrama do poço da captação do Olho de Mira

No ano hidrológico de 1991/1992 foram recolhidos dados em contínuo da variação do nível de água no poço da captação do Olho de Mira por José António Crispim para tratamento oportuno. Na altura foram registados dados em 24 folhas de limnígrafo de tambor, compreendidos entre os períodos de 31 de outubro de 1991 e 14 de novembro de 1992. Alguns problemas técnicos (encrave do tambor)

Metodologias utilizadas no estudo do escoamento em aquíferos cársicos e o caso prático da captação do Olho Mira (Maciço Calcário Estremenho)

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no registo das primeiras quatro folhas inviabilizaram a sua utilização, pelo que a primeira folha de registo interpretada é a n.ᵒ 5 a começar no dia 06 de dezembro de 1991, às 18h31 com o nível 29,01 m abaixo da referência. A última folha de registo interpretada corresponde à n.ᵒ 21 com dados a terminar no dia 04 de outubro de 1992, às 16h52 com o nível 84,90 m abaixo da referência.

De seguida é exposta a metodologia utilizada na extração dos valores numéricos a partir das curvas gravadas nas folhas do limnigrama e posterior conversão em valores discretos.

7.4.1. Aquisição e tratamento dos dados

Os dados foram registados em contínuo com o auxílio de um limnígrafo de flutuador e tambor. Este aparelho permite a medição dos níveis no poço com recurso a uma boia que permanece à superfície da água e que se encontra ligada por um cabo de invar a um sistema de registo em tambor. Na folha de registo é traçada a curva do limnigrama, linha composta pelos sucessivos valores dos níveis de água durante determinado intervalo de tempo. A título de exemplo, na Figura 7.11 apresenta-se uma das folhas de registo do poço da captação do Olho de Mira (Gráfico 8). De modo a facilitar a interpretação das linhas sobrepostas, optou-se por colori-las. No exemplo apresentado observa-se que o registo começa com a linha de cor verde, no lado esquerdo da folha, onde está registado o dia, hora e nível de água aquando o início do registo. Quando o tambor dá uma volta completa sobre o seu eixo, mudámos a cor da linha para laranja, e posteriormente para azul, onde termina, observando-se que naquele momento o nível estava a recuperar, voltando-se a registar o dia, hora e nível de água.

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A folha de registo, em papel milimétrico, de dimensão A3 foi digitalizada e o respetivo limnigrama

“picado” num software de desenho e tratadas as suas particularidades:

- A inversão das linhas pelo facto de a caneta de registo intersectar o topo ou base da folha;

- A sobreposição das linhas resultantes de um período de registo superior a 8 dias, uma vez que o tambor demora 189,6 horas a dar uma volta completa sobre o seu eixo.

Na Figura 7.12 observa-se o limnigrama resultante da folha de registo da Figura 7.11. No eixo horizontal, 1 mm corresponde a 0,5 hora e no eixo vertical corresponde a 1 cm. O mês de fevereiro de 1992 teve 29 dias e o horário foi atrasado em 60 minutos no dia 29 março de 1992.

Figura 7.12 - Limnigrama resultante da folha de registo da Figura 7.11.

Posteriormente o limnigrama foi transformado em valores discretos, com o tempo, em horas, no eixo das ordenadas e no eixo das abcissas o nível de água no poço em metros, com referência 0 na boca do poço. No total foram tratadas 17 folhas de registo, perfazendo 7269 horas (303 dias) com dados em contínuo. Apenas houve um hiato de 529 horas (22 dias) no registo entre o período 4874 e 5403 horas devido a problemas técnicos (entre os dias 26 de junho e 18 de julho de 1992).

A variação do nível de água no poço da captação do Olho de Mira ao longo de 303 dias de registo em contínuo é observável na Figura 7.13, onde está marcado a vermelho o hiato mencionado anteriormente.

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Figura 7.13 - Evolução do nível de água no poço da captação do Olho de Mira ao longo de 303 dias (6 dezembro de 1991 a 4 de outubro de 1992).

7.4.2. Influência da precipitação no nível de água do poço da captação Olho de Mira

Na plataforma online do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH –

www.snirh.pt) foram coletados os dados das precipitações diárias ocorridas nas estações udométricas de Crespos (16E/01UG), Minde (16E/03UG) e Serra de Santo António (16E/04U), por serem as mais próximas da bacia de alimentação da nascente do Olho de Mira delimitada em 7.3.1 (Figura 7.14).

Visualmente foi averiguada qual das estações udométricas representaria melhor a relação entre os eventos pluviosos e variação do nível no poço. O facto de a periodicidade dos dados ser diária revelou-se inadequada para tal análise. Optou-se então por fazer uma média dos valores diários medidos em cada uma das três estações udométricas e utilizá-los na análise da influência da precipitação na variação do nível de água. Os dados das precipitações diárias de cada estação e a sua média encontram-se no Anexo 4.

A comparação da variação do nível no poço da captação do Olho de Mira com a variação da média da precipitação nas três estações udométricas referidas pode ser avaliada na Figura 7.15. Os eventos de pluviosidade que ocorreram depois dos 150 dias de registo (meses estivais), parecem não ter expressão na variação do nível de água do poço, sendo apenas visíveis algumas perturbações na sua tendência de decrescimento ou mesmo recuperações na ordem dos 2 a 3 metros. As influências da precipitação são bastante mais notórias à esquerda do último pico de cheia registado, meses coincidentes com o período pluvioso (dezembro a abril). Optou-se assim por analisar os primeiros

22 Dias sem dados do nível de água

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100 dias do registo do hidrograma e as precipitações que deram origem ao pico de cheia de 5 de abril 1992.

Figura 7.14 - Localização das estações udométricas mais próximas da bacia de alimentação da nascente do Olho de Mira.

Figura 7.15 - Limnigrama do poço da captação do Olho de Mira e média das precipitações das estações udométricas de Crespos, Minde e Serra de Santo António, entre 06 dezembro de 1991 e 4 outubro de 1992.

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