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Os dados foram analisados a partir das leituras sucessivas dos materiais coletados: diário de campo da observação participante, entrevistas transcritas na íntegra e relatos de parto.

A análise iniciou-se pela codificação, que consistiu na separação e sintetização dos dados. Foi feita uma marcação de trechos da entrevista ou do relato, de modo a formar “segmentos de dados”. Essa marcação possibilita o refinamento e a classificação dos dados, favorecendo as comparações entre os diversos segmentos. Um exemplo dessa etapa da análise é apresentada no Quadro 3.

Quadro 3: Exemplo de marcação da entrevista em segmentos de dados e codificação

Trecho da entrevista Códigos

Minha primeira gravidez foi em 2009, engravidei em agosto de 2009, foi uma gravidez planejada tínhamos dois anos de casados e aí planejamos engravidar. Sou enfermeira de formação, desde quando estudei a saúde da mulher, sempre quis o parto normal, quando estudei achei mais importante ainda e aí quando me vi grávida. Iniciei o pré-natal com a médica que eu fazia os controles anuais, ela era muito boazinha, cheguei a perguntar pra ela nas primeiras consultas sobre o parto, ela falou que fazia parto normal mais tinha que definir no final da gestação. Eu sabia que poucas das mulheres que conversava no consultório, poucas ou nenhuma havia tido parto normal, a grande maioria ou quase todas havia tido cesárea e era uma coisa que me incomodava um pouco a questão de que ela fazia muitas cesárias. Em um Congresso de Enfermagem que teve encontrei uma professora, que me falou de uma ONG do movimento pelo parto humanizado, de novas experiências e eu resolvi participar da ONG com cinco meses de gestação. Fui ao primeiro encontro, na primeira roda de encontro de gestantes e aí percebi já no primeiro encontro que se eu continuasse com a ginecologista que eu estava fatalmente eu cairia em uma cesárea desnecessária. Então, a primeira conduta que tive foi mudar de obstetra.(RG1)

•Tendo uma gravidez planejada; •Querendo ter parto normal;

•Achando mais importante ainda ter parto normal quando estudou enfermagem (saúde da mulher);

•Iniciando o pré-natal com a médica que sempre fez os controles anuais;

•Achando a médica muito boazinha; •Perguntando para a médica sobre o parto; •Escutando da médica que ela fazia parto normal, mas que tinha que definir no final da gestação;

•Sabendo que poucas ou nenhuma das mulheres que conversava no consultório tinha tido parto normal, a grande maioria ou quase todas havia tido cesárea;

•Ficando incomodada devido a médica fazer muitas cesáreas;

•Encontrando uma professora que falou de uma ONG do movimento pelo parto humanizado;

•Resolvendo participar da ONG com 05 meses de gestação;

•Indo na primeira roda de encontro com gestantes;

•Percebendo já no primeiro encontro, que se continuasse com a ginecologista que estava, fatalmente, cairia em uma cesárea desnecessária;

Na codificação, os dados das entrevistas e dos relatos de parto foram “quebrados”, examinados e analisados palavra por palavra, linha por linha, incidente por incidente. Os códigos foram nomeados por verbos no gerúndio, para transmitir a sensação de ação e sequência, e termos empregados pelas participantes da pesquisa.

A codificação possibilitou detectar e desenvolver as subcategorias e seus componentes, que são os códigos mais frequentes ou que mais se destacaram. Além disso, os códigos foram utilizados para analisar minuciosamente novos dados, indicando quais temas deveriam ser investigados na coleta subsequente. O Quadro 4 apresenta um exemplo dessa codificação.

Quadro 4: Exemplo de codificação

Códigos Código frequente

•Querendo ter parto normal – RGP1

•Não conseguindo imaginar trazer o filho ao mundo de outra maneira, que não for do jeito que estudou e que viu que é melhor – VC

•Sentindo que agora é sua vez, ela é a gestante que está buscando o parto normal e natural – VC

•Não querendo ter a mesma experiência da mãe, que teve cesárea eletiva, antes do tempo, do irmão que estava sentado e teve um monte de problema – MT

•Querendo mudar o que não foi bom na história dela – nasceu de cesariana - e ter a chance de fazer melhor – FCP1 e FCP2 •Querendo parto normal, mas não sabendo nada – FC P1

•Sabendo que queria ter o parto normal, mas não sabia nem o porquê – FC P1

•Pensando que estava tendo uma nova oportunidade, dessa vez ia conseguir um parto para se renovar, para curar todas as suas cicatrizes, dessa vez ia fazer tudo direitinho – FCP2

•Falando que queria acabar de ter o neném e cuidar dele normal, cuidar da 1ª filha e pegar ele – o segundo – no colo – FCP2

Charmaz (2009) e Kimura, Tsunechiro e Angelo. (2003) recomendam que o pesquisador selecione e decida quais códigos permitem uma melhor compreensão analítica do fenômeno. Ressaltam, também, que a codificação auxilia o pesquisador a abster-se de imputar seus motivos, medos e questões pessoais não resolvidas aos sujeitos e aos dados coletados. Ainda nesta etapa da análise, foram redigidos memorandos, que são anotações analíticas preliminares sobre os códigos e as comparações.

Nos memorandos, o pesquisador registra de modo informal seus pensamentos, comparações, conexões, questões e possíveis direções, refletindo sobre os dados. Charmaz (2009) considera essa etapa crucial, pois incentiva o pesquisador a analisar os dados e códigos desde o início da pesquisa.

A comparação dos dados e a redação dos memorandos possibilitaram a categorização analítica. Para tanto, as subcategorias e seus componentes foram agrupados por similaridades ou diferenças. Nesse processo, as categorias analíticas, que inicialmente são provisórias e experimentais, foram nomeadas e renomeadas. Para preencher as lacunas identificadas, buscaram-se novos dados nas entrevistas e nos relatos de parto.

O Quadro 5 e a Figura 1 apresentam exemplos dessa etapa da análise de dados.

Quadro 5: Exemplo de categorização Códigos frequentes Componentes da

subcategoria Subcategoria

•Evitando a gravidez •Decidindo engravidar •Constatando exame positivo

•Percebendo sinais e sintomas de gravidez

•Levando um tempo para revelar gravidez

•Não tendo coragem de tirar o filho •Decidindo ter o filho

•Percebendo a gravidez atropelar projetos pessoais

•Revelando a gravidez

Descobrindo a gravidez e querendo ter o filho

Engravidando e querendo ter parto

normal •Procurando um médico para o pré-

natal

•Querendo ter parto normal

•Percebendo a preferência do médico pela cesariana

•Percebendo que o médico queria decidir por ela

•Mudando de médico •Fazendo pré-natal pelo SUS

•Gostando da nova equipe de pré-natal

Mudando o rumo do pré-natal em

busca do parto normal

•Tendo uma gravidez tranquila •Sentindo gratidão por ter uma gravidez sem intercorrências

•Curtindo a gravidez

•Tendo uma gravidez tumultuada •Tendo intercorrências na gravidez •Sentindo-se deprimida na gravidez

Vivendo a experiência da

Figura 1: Exemplo de relação entre códigos, componentes da subcategoria, subcategoria e categoria

Mediante análises sucessivas, foram desenvolvidas relações entre as subcategorias e categorias, que geraram um modelo teórico ou categoria central da experiência de gestação e parto das participantes da pesquisa.

O modelo teórico foi representado graficamente, pois segundo Charmaz (2009), a representação gráfica das categorias e suas relações auxilia o processo de análise, situando os conceitos e orientado o movimento que existe entre eles.

Ao final do estudo, a categoria central foi validada por três participantes, mediante reunião com a pesquisadora, com apresentação e discussão da representação gráfica do modelo teórico.

É importante ainda destacar um pressuposto básico da TFD, descrito por Glaser e Strauss e denominado saturação de categorias. Segundo Kimura, Tsunechiro e Angelo (2003, p.41):

O pesquisador predetermina o primeiro grupo amostral: à medida que hipóteses provisórias são elaboradas e as categorias identificadas, são levantados novos dados em amostras

diferentes para testar estas hipóteses e expandir as categorias existentes. A amostragem se completa quando não se obtêm mais dados diferentes ou novos, ou seja, quando ocorre a saturação das categorias.