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Os dados dessa pesquisa foram coletados por meio de observação participante, entrevistas intensivas e análise textual de relatos de parto. Segundo Charmaz (2009), alguns aspectos devem ser constantemente observados pelo pesquisador durante a coleta dos dados:

• Observar cuidadosamente as ações e palavras.

• Concentrar-se em ações, palavras e expressões às quais os participantes parecem atribuir um significado especial.

• Delinear com cautela o contexto, as cenas e as circunstâncias da ação.

• Registrar quem fez o que, quando, porque e como ocorreu.

• Identificar as condições nas quais determinadas ações, intenções e processos emergem ou são abrandados.

• Descobrir suposições tidas como óbvias e ocultas e identificar como são reveladas.

As atividades presenciais promovidas pela ONG Bem Nascer e grupo Ishtar-BH, o Facebook e as listas de discussão on-line foram utilizados para convidar as mulheres para participarem da pesquisa. Nas atividades presenciais, foi feito um convite pessoal e nas atividades virtuais, o convite foi feito por e-mail ou inbox do Facebook.

É importante reiterar que a pesquisadora participa das atividades do movimento pela humanização do parto em Belo Horizonte, desde 2007, sendo referência, juntamente com outros profissionais, para questões referentes ao parto domiciliar, pois integra uma equipe que presta esse tipo de assistência na cidade, desde 2002.

3.5.1 Observação participante

Na TFD, o fenômeno, e não o ambiente assume o foco principal da observação participante. Por meio dessa técnica de coleta de dados, o pesquisador se aproxima dos sujeitos da pesquisa, busca dados relevantes,

descreve eventos observados, resolve questões e desenvolve categorias teóricas para compreender os dados.

Os encontros presenciais promovidos pelo Ishtar-BH foram objeto de observação deste estudo. Observaram-se de modo sistematizado os diálogos, depoimentos, gestos e as interações das participantes durante os encontros. As observações, registradas no diário de campo, foram feitas nos encontros de julho e novembro de 2012 e dezembro de 2013. Em setembro de 2013, foi também realizada observação de um encontro do Ishtar-BH, denominado “Reparto: acolhendo a dor do nascimento real”. Esse encontro existe com a finalidade específica de apoiar mulheres que se sentiram insatisfeitas com suas experiências de parto.

A observação nesses encontros teve como foco, além de contatar mulheres para participarem do estudo por meio da entrevista e do relato de parto, obter dados por meio da observação da interação no grupo e da troca de experiências. No “Reparto”, em especial, o foco foi contribuir para o desenvolvimento de uma das categorias teóricas.

O Facebook e a lista de discussão on-line PartoAtivo-BH também foram objeto de observação participante durante todo o período de coleta de dados, com acesso semanal. O foco dessa observação também foi contatar mulheres para participarem do estudo e conhecer a interação das participantes do movimento por meio virtual.

Uma mulher (PA, analista de sistemas e doula, com uma gestação a termo e uma pré-termo, duas cesarianas, pelo setor suplementar), contribuiu individualmente na observação participante, cedendo um texto de sua autoria, com reflexões sobre o impacto da cesariana na sua experiência de vida, enviado pelo Facebook.

3.5.2 Entrevista

As entrevistas foram realizadas com mulheres que frequentam os encontros presenciais da ONG Bem Nascer ou Ishtar-BH, ou participam das listas de discussão on-line e Facebook. Para Charmaz (2009), a natureza detalhada de uma entrevista intensiva promove o esclarecimento da

interpretação do sujeito sobre sua experiência. O pesquisador escuta, ouve com sensibilidade e estimula o sujeito a descrever e refletir sobre sua experiência.

Ao elaborar questões abertas, não valorativas, o pesquisador estimula o entrevistado a contar sua história. Na medida em que o pesquisador manifesta o interesse e a vontade de saber mais, por meio de expressões como “Isso é interessante, fale mais sobre isso”, temas que seriam evitados em conversas usuais tornam-se a essência a ser explorada. O entrevistado é estimulado a articular as suas próprias intenções e significados. À medida que a entrevista prossegue, o pesquisador pode ainda solicitar detalhes esclarecedores, a fim de obter informações precisas e conhecer as experiências e as reflexões do entrevistado (Charmaz, 2009).

O pesquisador deve prestar atenção em como o entrevistado o percebe e no processo de interação entre ele e o entrevistado. À medida que se torna mais sensível às preocupações e vulnerabilidades dos entrevistados, aprende até quando deve se aprofundar e explorar mais, assim como quando deve recuar. Ao longo da entrevista, são realizadas questões específicas para o entrevistado, a fim de ir além das narrativas, porém o entrevistador deve se manter ativo e alerta para não forçar dados e não impor conceitos preconcebidos (Charmaz, 2009).

No período de agosto de 2012 a outubro de 2013, foram realizadas seis entrevistas, com cinco mulheres, identificadas por RG, VC, MT, FC e RC, sendo uma no período de gestação (outubro de 2012) e cinco, no período pós-parto (agosto de 2012; fevereiro, abril, maio e outubro de 2013). Todas as entrevistas foram gravadas, sendo cinco realizadas de modo face-a-face e uma via Skype. A duração média de cada entrevista foi de uma hora.

Por escolha das participantes, as entrevistas foram realizadas no domicílio, exceto a entrevista com a gestante, que ocorreu na residência da pesquisadora e a entrevista por Skype. Em todas as situações, o ambiente foi adequado para que as participantes se sentissem à vontade para se expressar, com privacidade.

A entrevista com a gestante teve a seguinte questão aberta: Conte- me sobre sua experiência da gestação, desde o momento em que se descobriu grávida até hoje. A entrevista com mulheres no pós-parto teve a seguinte questão aberta: Conte-me sobre sua experiência da gestação e parto, desde o momento em que se descobriu grávida até hoje.

Como a análise dos dados na TFD é realizada simultaneamente à coleta, na medida em que esses foram sendo analisados, foi necessário incluir questões analíticas na entrevista, contribuindo para validação das categorias de análise.

As perguntas incluídas nas entrevistas foram: Você considera que a mulher que participa do movimento e teve uma experiência negativa de parto tem espaço para continuar no movimento e contribuir? e O que motiva a mulher a continuar no movimento após o parto?

3.5.3 Relato de parto

Compreende os textos existentes cuja elaboração não conta com a participação do pesquisador. Esses textos devem ser situados dentro dos seus contextos e devem ser analisados de forma minuciosa e não apenas com o objetivo de confirmar indícios. Eles podem oferecer insights dentro das perspectivas, práticas e eventos (Charmaz, 2009).

Foram analisados 18 relatos de parto de 12 participantes que publicaram suas experiências nos sites ou nas listas de discussão on-line dos referidos movimentos. Apenas 03 das 15 participantes, identificadas por VC, MT e FC não tinham publicado seus relatos de parto. Esses relatos são descrições minuciosas da trajetória de gestação e parto das mulheres.

A análise desses relatos foi realizada ao longo de todo o período de coleta de dados, de julho de 2012 a dezembro de 2013, fornecendo informações complementares às entrevistas e essenciais para o desenvolvimento das categorias teóricas.