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Análise das concepções prévias dos professores de ciências sobre a

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CAPÍTULO 4. METODOLOGIA

4.3 Procedimentos metodológicos

4.3.8 Análise dos dados

4.3.8.1 Análise das concepções prévias dos professores de ciências sobre a

A análise das redações produzidas pelos professores foi realizada à luz da “Análise Textual Discursiva”. Segundo Moraes (2003), a Análise Textual Discursiva responde aos pressupostos da pesquisa de natureza qualitativa porque não tem a intenção de qualificar ou desqualificar dados, mas de buscar a compreensão desse corpus. Neste sentido,

O corpus da análise textual, sua matéria-prima, é constituído essencialmente de produções textuais. Os textos são entendidos como produções linguísticas, referentes a determinado fenômeno e originadas em um determinado tempo. São vistos como produtos que expressam discursos sobre fenômenos e que podem ser lidos, descritos e interpretados, correspondendo a uma multiplicidade de sentidos que a partir deles podem ser construídos. Os documentos textuais da análise, conforme já afirmado anteriormente, são significantes dos quais são construídos significados em relação aos fenômenos investigados (p. 194).

Pautando-se nessas considerações, as redações produzidas pelos professores expressavam as compreensões destes professores sobre a Abordagem de QSC antes de participarem do experimento formativo-didático.

Seguida da delimitação do corpus, é fundamental obedecer a três fases para auxiliar na compreensão de seus significantes em um nível que vai além da leitura comum. São elas: desconstrução e linearização, o processo de categorização e expressão das compreensões atingidas.

A primeira fase da Análise Textual Discursiva é a desconstrução e unitarização dos documentos que tem início com uma leitura cuidadosa na busca do reconhecimento de aspectos relevantes a partir de um primeiro olhar sobre as

significações e sentidos que vão emergir de todo o corpus. Segundo Santos (2012, p. 7), a fase de unitarização é onde se constrói uma relação estreita e acentuada do pesquisador frente aos dados, é “o momento em que o pesquisador olha de várias maneiras para os dados, descrevendo-o incessantemente".

Para Moraes (2003), as unidades de significados podem ser tratadas como unidades de análise as quais são a base para que os pesquisadores estabeleçam relações entre os corpus a partir de um sistema de codificação. Este autor ainda recomenda uma codificação simples fazendo uso de letras e/ou números de modo que se estabeleça uma associação entre esses elementos.

Outra recomendação de Moraes (2003) é que as unidades de significados estejam relacionadas aos objetivos da pesquisa. Para a sistematização deste primeiro ciclo de análises consideramos as etapas da desconstrução e unitarização do corpus, são elas: a fragmentação dos textos e codificação de cada unidade; a reescrita de cada unidade em função do significado: e a atribuição de um nome ou título para cada unidade produzida. Tomando por base estas etapas, ressaltamos que na análise dos textos dissertativos produzidos pelos professores, fragmentamos os mesmos para reconhecer dois registros: concepções e/ou definições sobre a Abordagem de QSC; e possibilidades e limitações de uso desta abordagem. Em seguida, reescrevemos as unidades de significados encontradas nos corpus em cada um desses registros, complementado com os registros que nos parecia implícito para que assumisse um significado representativo às nossas leituras e ao propósito de análise. Por fim denominados cada um dos registros com os títulos que consideramos adequados para, por si só, apontar o significado que consideramos pertinente em cada caso.

Dando continuidade à análise dos textos dissertativos produzidos pelos professores seguimos para a fase da categorização dos dados presentes em seu corpus. Para tanto levamos em consideração as atribuições que Moraes (2003) estabelece sobre essa etapa. Para o autor, a categorização precisa da impregnação aprofundada dos dados a partir de uma leitura válida que se dá pela desconstrução dos dados na fase anterior de unitarização. Desta forma pode-se investir na delimitação dos aspectos que são ou não convergentes no corpus em análise. Neste sentido, essa etapa consiste em um processo de auto-organização e é o cerne da Análise Textual Discursiva, considerando que a categorização garante a

homogeneidade das interpretações e impressões que serão construídas sobre um determinado corpus.

As categorias, antes de tudo, referem-se às comparações das unidades construídas ao longo do processo de análise. Essas comparações são realizadas em um processo cíclico que vai se aperfeiçoando a partir das significações que são características das unidades de registro. Neste processo podem ser encontradas categorias de diferentes níveis que podem estabelecer relação entre si. Algumas categorias são reestruturadas ao longo do processo haja vista que novas significações são construídas. Nesta direção o processo de categorização não pode adotar uma lógica linear. Em respeito a isso, Moraes (2003) descreve que o processo de categorização pode obedecer certos métodos de construção, a depender do objetivo que se tem estipulado para análise.

No método dedutivo, o pesquisador se vale de categorias predeterminadas antes mesmo de se dá início ao processo de análise com base em aspectos de cunho teórico que fundamentam a pesquisa. Neste sentido, as unidades de registros devem ser direcionadas a uma determinada categoria. Em relação ao método indutivo o processo é inverso, através da evocação das unidades de registros as comparações e generalizações vão sendo estabelecidas, ou seja, a partir do conhecimento tácito as categorias são estabelecidas. Por isso, no primeiro caso, as categorias são delimitadas à priori, e no segundo caso à posteori (neste caso, ditas categorias emergentes). Ainda podemos contar com o método de categorização mista, ou seja, faz uso de método dedutivo e indutivo.

No quadro 5 apresentamos as categorias à priori para a análise das concepções previas dos professores sobre a Abordagem de QSC.

Quadro 5:Categorização à priori da análise das concepções prévias

Unidades de análise Categorias

Entendimento e definição sobre QSC

-Abordagem Teórica -Método de Ensino

O nosso primeiro movimento analítico foi desconstruir os textos buscando os fragmentos mais relevantes, os sentidos e significados neles presentes sobre a Abordagem de QSC, e em seguida, verificar se os mesmos registros poderiam ter uma ênfase ou um significado diferente, considerando que na análise de dados segundo a Análise Textual Discursiva, um mesmo registro pode ser inserido em contextos e categorias diferentes dependendo dos sentidos nele expressados (MORAES, 2003).

Após o processo de categorização a posteriori, as concepções dos professores foram denominadas de impressões primeiras sobre a Abordagem de QSC. Estas impressões emergiram do corpus das redações que foram analisados seguindo os pressupostos da Análise Textual Discursiva (MORAES, 2003). Foram sete redações escritas e o tempo médio para a construção destas foi de 25 minutos. Após a entrega das redações a pesquisadora fez uma breve discussão sobre dificuldades que eles encontraram para sua construção. Após realizarmos as aproximações, codificações e unitarizações, das quais emergiram.

Desta forma, consideramos na análise das concepções prévias dos professores as categorias a posteriori e suas respectivas unidades de registro e de contexto como impressões mais especificas dos professores sobre a Abordagem de QSC categorias e estão ilustradas no quadro 6.

Quadro 6:Categorias a posteriori da análise das concepções prévias dos professores Categorias Unidades de registros Unidade de contexto Impressões de cunho multidisciplinar -Saberes -Questões científicas -Construção do conhecimento -Conceitos científicos

Abordagem que pode mobilizar diversos saberes, não se resumindo a questões científicas. (MARIA)

Envolve discussão de questionamentos científicos, sociais e demandam a construção dos conhecimentos e posicionamentos em sala de aula. (MARIA) Abordagem que utiliza a epistemologia e a HFC, a sociologia e os conceitos científicos e o senso comum. (ISRAEL)

Impressões de cunho contextualizado -Abordagem contextualizada -Cotidiano -Situações sociais/reais

Traz para a sala de aula temáticas que envolvem aspectos científicos que são relacionados com o cotidiano do aluno (HIROSHIMA)

Considerando os dados deste quadro 6 percebemos que as redações trouxeram evidências de uma ou mais concepções acerca da Abordagem de QSC no ensino das ciências. Analisamos aquelas que consideramos mais significativas para mapear as concepções dos professores antes do processo formativo. Neste sentido, estas concepções foram delimitadas como impressões de cunho multidisciplinar, impressões de cunho contextualizado e impressões de cunho crítico reflexivo. Ressaltamos que os dados obtidos na análise contribuíram para conduzir as próximas etapas da pesquisa e foram fundamentais para que pudéssemos reconhecer possíveis contribuições do experimento didático formativo que seria desenvolvido para a compreensão dos professores sobre a Abordagem de QSC.

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