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Comprendendo como os professores de ciências se apropriam e objetivam a

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CAPÍTULO 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.5 Comprendendo como os professores de ciências se apropriam e objetivam a

Neste momento buscamos compreender como ocorre a apropriação e objetivação da Abordagem de QSC por professores de ciências em um processo de formação docente no âmbito de uma disciplina sobre a Orientação CTS para o processo de ensino e aprendizagem?

Inicialmente considerando que é a partir de sua atividade que o homem se apropria de instrumentos e da cultura humana e se humaniza (LEONTIEV, 1978). Seguindo este pressuposto, podemos dizer que foi a partir das atividades realizadas pelos professores ao longo do experimento didático formativo que eles se apropriaram dos pressupostos teóricos e metodológicos da Abordagem de QSC para o ensino de ciências. Considerando respostas dos professores Israel, Primavera e Maria para a primeira questão da entrevista, destacamos que a Atividade de construção de fluxogramas e a Atividade de elaboração de plano de aula contribuíram de forma efetiva no processo de apropriação da Abordagem de QSC pelos professores.

Entretanto, a atividade em sua essência é coletiva, ou seja, constituída de ações individuais e coletivas. Nesta direção, as atividades realizadas pelos professores, como, por exemplo, as mencionadas no parágrafo anterior, têm uma natureza coletiva e foram mediadas. Por exemplo, na Atividade de Elaboração de planos de aula, os professores sujeitos da atividade, constituíam conjuntamente com a pesquisadora uma comunidade ao tempo em que compartilhavam de um mesmo objeto (A abordagem de QSC), assumiram a divisão de tarefas propostas pela pesquisadora, como, por exemplo, os professores deveriam apresentar os planos de ensino elaborados e a pesquisadora conduzir a apresentação e gerir as discussões (divisão de trabalho), sob regras bem claras, por exemplo, os professores tiveram 10 minutos para a apresentação de seus respectivos planos e tinham a após as apresentações 5 minutos para discutirem, fazerem perguntas e contribuições sobre o plano apresentado. Um aspecto relevante desta relação sujeito (professores) e comunidade (professores e pesquisadora) refere-se ao fato de que esta ou outra atividade, no sentido de Leontiev, se estruturou pelos professores buscando a

transformação objeto desta atividade (características da Abordagem de QSC) em um instrumento da sua comunidade, planos de aulas com características da Abordagem de QSC.

Os artefatos mediadores tiveram contribuição na realização desta atividade, como, por exemplo, os textos de orientação para a elaboração do plano de aula. Neste sentido, ressaltamos que os artefatos são “meios de acúmulo e transmissão do conhecimento social em contínuo processo de desenvolvimento” (CARVALHO JÚNIOR, 2011, p. 20).

Podemos considerar então, que foi na realização desta e das outras atividades realizadas pelos professores que ocorreu o processo de apropriação da Abordagem de QSC. Evidências desta apropriação são significativas quando analisamos, por exemplo, os fluxogramas, os planos de aula e as respostas desses professores às entrevistas. Por exemplo, identificamos no plano de aula da professora Primavera algumas características da Abordagem de QSC, como, por exemplo, o caráter controverso das QSC o qual pode oportunizar a argumentação em sala de aula (BARBOSA; LIMA, 2009; SILVA; CARVALHO, 2007), caracterizando a natureza coletiva da atividade de Elaboração de planos de aula com Abordagem de QSC. Em outras palavras, a professora Primavera fez “de um conceito o seu conceito (LEONTIEV, 1978, p. 180) apropriando-se das significações sociais da Abordagem de QSC.

Por conseguinte, podemos considerar, segundo Leontiev (1978, p. 268) que para que ocorra a apropriação de objetos ou fenômenos, “é necessário desenvolver em relação a eles uma atividade que nela se reproduza traços essenciais da atividade encarnada, acumulada no objeto”. Em outras palavras, para que haja uma apropriação deve ser realizada uma atividade adequada ao objeto pretendido. Nesta direção, a Atividade de elaboração de plano de aula promoveu a apropriação dos professores sobre este tipo de abordagem ao tempo em que eles desenvolveram esta atividade orientada para a Abordagem de QSC (objeto da atividade) reproduzindo de forma criativa características essenciais já encarnada no objeto. Nos planos de aulas, com a inserção das características da Abordagem de QSC, em maior ou menor estatuto, os professores reproduziram de forma criativa, significações sociais historicamente construídas sobre este tipo de abordagem.

Em síntese, podemos indicar alguns aspectos que podem elucidar como ocorreu o processo de apropriação da Abordagem de QSC ao longo do experimento didático formativo. Desta forma, a apropriação da Abordagem de QSC pelos professores parece ter ocorrido a partir:

• do conjunto das atividades realizadas pelos professores: Atividade de discussão sobre pressupostos da Abordagem de QSC; Atividade de construção de fluxograma; Atividade de participação na Roda de Discussão; e Atividade de Elaboração de plano de aula;

• da realização de ações individuais e coletivas dentro da comunidade constituída na atividade, com atribuições e tarefas e regras claramente distribuídas;

• da transformação dos objetos, para os quais a atividade se dirigiu, em um instrumento da comunidade, visto que, quando, os professores construíram os fluxogramas e apresentaram ao grande grupo, por exemplo, as discussões promoveram a todos os envolvidos

• de uma diversidade de artefatos mediadores, como, por exemplo, vídeos, reportagens, textos, etc.

• do desenvolvimento de atividades que nelas se reproduzam traços essenciais da atividade acumulada no objeto, como, por exemplo, a Atividade de construção de fluxogramas.

• da formação de ações e operações motoras e mentais necessárias para o uso de um instrumento, ou seja, na elaboração dos fluxogramas, por exemplo, os professores estavam em processo de apropriação da Abordagem de QSC quando agiam e refletiam sobre o fluxograma e sua organização de forma a usá-lo em sua prática docente.

Entretanto, a apropriação, segundo Leontiev, ocorre pelo movimento dialético apropriação-objetivação. O processo de objetivação ocorre quando os conhecimentos adquiridos através da realização de atividades são materializados nos objetos e na linguagem. Neste sentido, os fluxogramas construídos e os planos de aula elaborados,

objetos concretos materiais de duas das atividades dos professores, sinalizam o processo de objetivação da Abordagem de QSC à medida em que eles apresentam características desta abordagem. Desta forma, o processo de objetivação se deu ao longo do experimento didático formativo quando os professores desenvolveram ações físicas (por exemplo, representação do fluxograma na cartolina) e mentais (por exemplo, reflexão sobre o fluxograma) que foram transferidas para a concretização destes produtos, considerando que a objetivação ocorre quando a atividade física e/ou mental dos homens transfere-se para o produto (instrumento) dessa atividade (LEONTIEV, 1983 apud MOURA et al, 2011).

Evidência do processo de objetivação está no momento em que os professores transformaram o objeto das atividade – a Abordagem de QSC – em fluxogramas e em planos de ensino, dado que, para Leontiev, a transformação dos objetos, produtos das atividades apropriadas pelos homens, se manifesta como um processo de objetivação. Nestes produtos, os professores imprimaram novos olhares, novas significações para a Abordagem de QSC caracterizando o processo de objetivação.

Por fim, ressaltamos que a apropriação das aquisições das experiências sócio históricas da humanidade, como a Abordagem de QSC, se manifesta nos objetos ou fenômenos já objetivados, como, por exemplo, nas proposições de planos de aulas com a Abordagem de QSC propostos na literatura da área. Isto porque já existem significações sociais encarnadas na proposição da Abordagem de QSC. Neste sentido, consideramos com base em Leontiev (2001) que a objetivação se constitui como condição essencial do processo de apropriação para a realização da transmissão destas aquisições para as gerações futuras.

Em síntese, podemos indicar alguns aspectos que sinalizam como ocorreu a objetivação da Abordagem de QSC pelos professores, são eles:

• Quando os professores ao longo do experimento didático formativo construíram produtos concretos matérias;

• Quando ações físicas e mentais são transferidas para o produto, por exemplo, as ações de reflexões dos professores de como construir um fluxograma com características da Abordagem de QSC formam transferidas para os fluxogramas construídos.

• Quando transformaram os características da Abordagem de QSC em plano de aula e fluxogramas, por exemplo.

• Quando ocorre a transformação dos objetos das atividades apropriadas pelos homens de forma criativamente nos produtos da atividade.

Por fim, não podemos deixar de considerar que a construção de algo novo, criativo, objetivado, só será efetivada se houver uma intencionalidade para tal.

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