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Análise das expectativas iniciais no decorrer da formação: o que as professoras

4 OLHARES DOS PROFESSORES DO MUNICÍPIO DE MACEIÓ EM

4.3 Eixo II – Ponto de vista na fase intermediária da formação

4.3.1 Análise das expectativas iniciais no decorrer da formação: o que as professoras

Na metade do curso de formação continuada indagamos junto às professoras a respeito se suas expectativas iniciais estabelecidas estavam sendo contempladas e atingidas durante os encontros realizados até o momento. Realizamos entrevistas orais e semi-estruturadas para registrar o pensamento e as opiniões das cursistas.

Ao analisar as falas das professoras durante a entrevista verificamos que 9 professoras revelaram que suas expectativas estavam sendo atendidas. Em contrapartida, 5 revelaram que apenas em parte as expectativas estavam sendo supridas e nenhuma professora das 14 que foram entrevistadas demonstrou não estar satisfeita.

Descreveremos agora as opiniões das professoras que declararam que estavam satisfeitas. Observemos nos recortes:

Sim, porque vem dando uma certa contribuição lá na escola perante o alunado. Isso vem dando um certo apoio, maior, já que na escola não temos contato com psicólogos, assistentes sociais, não tem nenhum profissional né, que possa me orientar em relação ao meu trabalho, em relação a esse grupo de alunos já que na

escola hoje existe a inclusão. Isso veio para facilitar o meu trabalho até o momento. (Profª Thamires)

Sim, porque até agora eu não tive nenhum aluno especial, até agora nenhum! Então, eu estou vindo mais em termo de conhecimento. [...] vim para conhecer já que a escola não traz esse suporte. Aí, para mim está suprindo, porque pra mim tudo é novidade. (Profª Clara)

Para mim está sendo importante, porque assim é uma área desconhecida, né? E eu percebo que os dias futuros se falam muito de inclusão e essa inclusão vai ser realmente cobrada. Então, pra mim está sendo de muita valia. (Profª Flávia)

Eu estou gostando muito, porque está sendo esclarecido de vários casos que a gente presencia em sala de aula e que a gente colocava às vezes até para coordenação e direção e não era dado valor, não tinha uma certa atenção. Pelo menos a gente está tendo respaldo de profissionais que já convive com isso há muitos anos e que está dando assim um embasamento melhor para a gente poder lidar com essas crianças. (Profª Marta)

Sim, vem respondendo. Porque eu não tinha esse conhecimento assim, sobre a Educação Especial e estou assim, me enriquecendo. [...] Eu gosto, estou aprendendo coisas que eu não sabia, não estava assim preparada e está me auxiliando no dia a dia no trabalho da creche, auxiliando, é [...] facilitando, assim trabalhar com crianças que eu já convivo. E inclusive eu estava muito preocupada como lidar, o que fazer no dia a dia com aquela criança, mas estou alcançando aos poucos adquirir os conhecimentos [sabe?] a ser trabalhado. (Profª Tânia)

[...] está bem dentro do que eu imaginava. Muitas coisas eu estou aplicando lá na minha escola e todos os temas abordados até então, a gente tem exemplos e já vai incorporando isso lá na escola. Então, ela está correspondendo bem com minhas expectativas. (Profª Isabela)

Estas opiniões representam significativamente a intenção de algumas professoras virem buscar na formação continuada a aquisição de novos conhecimentos, assim como expressaram as professoras Clara e Tânia. Vemos que a formação oferecida na opinião das professoras auxilia no dia a dia e permite que as professoras apliquem os ensinamentos na escola, fonte relatada pelas professoras Tânia e Isabela. Portanto, é possível comprovar que: “A formação dos professores para o ensino na diversidade, bem como para o desenvolvimento de trabalho de equipe são essenciais para a efetivação da inclusão”. (BRASIL, 2001 p.31)

Observamos que as professoras Thamires, Flávia e Marta revelam em suas opiniões que estavam gostando da formação porque a mesma estava tirando dúvidas e esclarecendo situações referentes à temática da Educação Inclusiva e também sobre as pessoas com deficiência. Os comentários mostram também satisfação pela formação estar trazendo profissionais que orientam as professoras que muitas vezes sentiam que estavam perdidas, sem apoio e sem colaboração até mesmo por parte da própria diretora e coordenadora da escola.

Para Sant’Ana (2005, p. 228) “a atuação dos administradores escolares pode ser de grande valia na tarefa de construir uma escola pronta a atender a todos os indivíduos, sem

discriminação”. Então, salienta-se a necessidade da ajuda mútua entre os pares educacionais tentando viabilizar o processo de ensino-aprendizagem para que todos, sem exceção aprendam. Jamais a responsabilidade deve ser apenas do professor como foi posto na fala da professora Marta.

Destacamos ainda:

Na inclusão educacional, torna-se necessário o envolvimento de todos os membros da equipe escolar no planejamento de ações e programas voltados à temática. Docentes, diretores e funcionários apresentam papéis específicos, mas precisam agir coletivamente para que a inclusão escolar seja efetivada nas escolas. Por outro lado, torna-se essencial que esses agentes dêem continuidade ao desenvolvimento profissional e ao aprofundamento de estudos, visando à melhoria do sistema educacional. (SANT’ANA, 2005, p. 228)

Dentre as opiniões que demonstraram que as expectativas iniciais estavam sendo supridas, destacamos os comentários da professora Amanda e da professora Silvia que demonstram claramente o resultado significativo que a formação estava proporcionando e instigando nas professoras antes mesmo de ter terminado o curso de formação continuada.

Vem, porque assim, [é...] no início eu não tinha notado que tinha alunos especiais, mas aí depois eu conseguir identificar dois, um que inclusive está saindo para ir para Pestalozzi porque ele é autista [...] (Profª Amanda)

Ela tem influenciado assim, [pausa...], no meu ponto de vista e desperta o interesse, né? Desperta, traz estímulo. Eu agora estou envolvida no curso de LIBRAS a partir deste curso, porque você vai sentindo o incentivo de poder ajudar e querer aprender mais. (Profª Silvia)

Apesar de ver o lado positivo da professora Amanda em conseguir identificar dois alunos com necessidades educacionais especiais, vemos um contra-senso que nos deixa preocupados. Já que foi expresso que um dos alunos deixará de frequentar a escola regular para participar de um atendimento especializado, proposta que vem em oposição às intenções da equipe da SEESP/MEC que registrou na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (2008) e na resolução nº 4, de 2 de outubro de 2009 a recomendação para garantir o ensino regular conjugado com o AEE no contraturno escolar realizando um trabalho de complementação e não de substituição às classes comuns com vistas a formação do aluno, com serviços, recursos de acesso e estratégias que eliminam as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem.

Constatamos que na metade da etapa de formação continuada a atitude da professora Amanda demonstrava naturalidade em saber que um dos seus alunos estava sendo transferido para uma instituição especializada. Esta atitude evidencia a necessidade de reforçar e intervir

nos momentos de formação mostrando a todos os professores que todos os alunos têm o direito de ser escolarizados em uma escola regular e que podem receber o apoio do atendimento educacional especializado. Há ainda a necessidade de difundir que o atendimento educacional especializado não é substitutivo à escolarização como é enfatizado por Santos (2008, p.150-151): “As políticas devem garantir que o atendimento educacional especializado aconteça em salas multifuncionais nas escolas, em caráter complementar às aulas do turno regular, mas jamais substituído a escolarização básica a que todos têm direito”.

Após a análise das entrevistas foi identificado que de 14 professoras que participaram deste momento, 5 emitiram que as suas expectativas estavam sendo atendidas em parte e dessa maneira registraram as seguintes justificativas.

Em parte [risos...] porque eu acho que ela não chegou no ponto-chave que é devolver assim para a gente, como é que eu posso dizer, ter um retorno para gente que seja uma forma real, por exemplo eu acho que ainda é muita teoria, é muita coisa que a gente já vê na teoria e que a prática está deixando a desejar. Aí por isso é que eu acho em parte, porque de teoria está sendo dado, está tendo esse retorno, mas a prática está muito carente. Entendeu? Está muito carente, acho que precisava ser alguma coisa mais dinâmica. (Profª Ana)

Até onde eu assisti, porque eu já faltei a duas né? Então, ela tem tirado minhas dúvidas referentes às crianças, não como proceder em sala de aula, essa parte ainda não tirou as dúvidas. Mas, tem esclarecido algumas coisas sobre síndromes e dificuldades das crianças. (Profª Patrícia)

Em parte, porque a gente vê como na maioria das formações, ver muita teoria, ver muito as questões científicas. Mas na prática, realmente assim: dificuldade de material específico, é [pausa...] tipo oficina. Porque na verdade eu acho que quando um professor pensa em formação, sempre ele deseja que seja um tipo de oficina e não as formações que são oferecidas e ofertadas. (Profª Manuela)

Estes comentários revelam o desejo por uma formação que articule a teoria com a prática. Percebemos que os professores estão em busca de algo real para atender suas necessidades, de uma metodologia mais dinâmica e por isso sugerem as oficinas como meio para que as formações atendam suas expectativas. A análise de Sant’Ana (2005, p. 228) para estas queixas é expressada pelo seguinte motivo:

[...] o que tem acontecido nos cursos de formação docente, em termos gerais, é a ênfase dada aos aspectos teóricos, com currículos distanciados da prática pedagógica, não proporcionando, por conseguinte, a capacitação necessária aos profissionais para o trabalho com a diversidade dos educandos. A formação deficitária traz sérias consequências à efetivação do princípio inclusivo, pois este pressupõe custos e rearranjos posteriores que poderiam ser evitados. (Sant’Ana, 2005, p. 228)

Para isso, planejamentos e ações bem estruturadas devem ser consolidadas pela equipe de gestores e formadores que pensam e elaboram a formação continuada, a fim de desenvolver momentos formativos que alcancem os desejos e necessidades dos professores. Não estamos querendo menosprezar a formação calcada na base teórica, porém queremos propor que os conteúdos sejam trabalhados articulando a teoria e a prática.

Observamos também que 2 professoras expressaram suas opiniões manifestando a importância da formação, mas que por já terem certo conhecimento na área trabalhada gostariam de um maior aprofundamento e também de profissionais mais preparados para conduzir as formações.

Em parte sim. Não em termo de novidade da base teórica, porque eu já tenho formação em Psicopedagogia e já estudei bastante as patologias clínicas. Mas ela tem ajudado bastante em como colocar e visualizar melhor na prática de sala de aula, mesmo eu não tendo nenhum aluno com necessidade especial, né? Mais abre mais a visão, é sempre importante a gente está discutindo, ver se alguma coisa mudou na legislação, se tem alguma coisa de novidade para a gente implementar em sala de aula, quando a gente receber algum aluno nesse sentido. Ajudar mais na prática. (Profª Waleska)

Mais ou menos. Eu não digo nem que sim, nem que não porque a gente ainda está no meio da formação né? Mas eu digo que não porque eu esperava que alguns formadores trouxessem mais conteúdo para a gente né? Porque geralmente quem vem para a formação não vem com a bagagem vazia, ela já traz certa bagagem, então a gente quer algo a mais, quer que acrescente mais um pouco. Então, em algumas formações eu senti que não houve acréscimo para mim. E digo que sim, porque também tive como a formadora X [sic – por questões éticas não colocaremos o nome], eu gosto muito dela porque ela sempre traz alguma coisa boa para a gente, é uma pessoa muito preparada. Então, assim nessa questão meio termo, mais ou menos, tem respondido em termo, não completamente, mas também não deixa de trazer alguma coisa boa para a gente. (Profª Mirna)

Nesses casos, percebe-se a importância dos momentos de formação continuada partir de uma análise dos conhecimentos prévios dos professores (o que sabemos?), já que não podemos conceber nenhum ser humano sem um saber já consolidado. Temos que conceber a formação continuada como um processo e, portanto, não podemos partir sempre da estaca zero considerando que os professores não têm base e conhecimento sobre um determinado assunto.

Considerando esses aspectos, as ações de formação continuada devem ter um caráter somativo dos conhecimentos e deveriam inicialmente escutar os professores para identificar o que eles já sabem sobre inclusão e desta forma planejar o que eles ainda precisam saber. Pacheco (2008, p. 91) aponta esta possibilidade e afirma que: “A troca e o aprofundamento dos conhecimentos acompanha a transformação de valores e do cultivo da sensibilidade indispensável à compreensão e aceitação dos pares de formação”.

Diante do que foi questionado na entrevista verificamos que o processo de formação estava sendo consolidado pela SEMED e que a maioria (9 professoras) mencionou que suas expectativas iniciais estavam sendo atendidas. Como ainda existiam outros encontros pré- estabelecidos no cronograma até o final da formação, será importante repetir esta indagação para verificar se no final da formação, os professores confirmam se as expectativas foram supridas.

4.3.2 Pontos positivos e negativos no decorrer da formação: quais são os destaques feitos