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As entrevistas conduzidas com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais – STR do município de Unaí/MG e com o coordenador do PNHR tiveram como objetivo identificar o perfil produtivo dos assentamentos, a interferência do Sindicato na gestão, funcionamento e desenvolvimento dos PA’s e suas ações nos âmbitos econômico, social e político. A história dos projetos de assentamento pesquisados também foi item constante no roteiro de entrevista, no entanto, e na

ausência de informações mais consistentes dos entrevistados pertinentes aos fatos históricos não foi possível apresenta-los e analisa-los.

Quanto ao perfil produtivo dos assentamentos, ambos os entrevistados ressaltaram que os assentados se enquadram no perfil de agricultores familiares embora se tenha observado durante as visitas aos estabelecimentos e pelos próprios relatos dos assentados a prevalência da pequena produção de subsistência, caracterizando muitas famílias como camponesas, residindo sua produção em um reduzido grau de mercantilização (PLOEG, 2009).

Uma característica relevante do município de Unaí é a forte concentração de assentamentos de Reforma Agrária (XAVIER et al., 2009) e grande parte desses projetos foram e são apoiados, financiados ou acompanhados por instituições externas como o INCRA, EMATER, EMBRAPA, UnB, PREFEITURA DE UNAÍ, CAPUL e STR (OLIVEIRA et al., 2009).

O STR parece ser o órgão que possui maior popularidade entre os assentados pesquisados tendo em vista que nas suas verbalizações apareceu como o primeiro ponto de referência para reinvindicações de projetos, solução de problemas e demandas em geral. Como explicam Oliveira et al. (2009) o STR em Unaí foi criado em 1981 como resultado do processo de luta pela terra no município pelos agentes da Igreja Católica vinculados ao movimento da Teologia da Libertação e à Comissão Pastoral da Terra. Desde então sua atuação consistiu em apoio à luta pela Reforma Agrária ao dar suporte aos acampamentos instalados, bem como ao processo de reconhecimento dos projetos em andamento no INCRA e, mais tarde, no âmbito do PNCF. “Muitos esforços foram despendidos para manter os agricultores assentados nas suas terras, mediante a negociação de infraestrutura (estradas, pontes, energia, água, outros) e de apoio à produção” (OLIVEIRA et al., 2009, p. 103).

Isso significa dizer que a precariedade inicial de infraestrutura típica das dificuldades de estabelecimento na terra e aquelas pertinentes à reprodução familiar não se encerram com o final de um longo processo de lutas, mas persistem como pontos de partida para novas demandas em função da viabilização econômica e social dos assentados (OLIVEIRA, et al., 2009).

Esse contexto vai ao encontro das afirmações dos entrevistados no que diz respeito à participação e interferência do STR em fatores relacionados à gestão, problemas, lutas e conquistas na história dos assentamentos. O presidente do STR

explicou, durante a entrevista, que dentre as responsabilidades do Sindicato está a prestação de trabalhos aos assentamentos e exemplificou afirmando a elaboração de projetos como uma de suas atividades mais básicas. Sobre os projetos pleiteadores do PNCF ele ressaltou: “...sai daqui de dentro desde a avaliação do produtor, do trabalhador rural, olhando a carteira, se é trabalhador rural de verdade... Toda a responsabilidade do projeto que é montado, da propriedade que é comprada... sai daqui do Sindicato, de todos os Sindicatos tá...?... É nosso dever, do Sindicato estar ali junto, inserindo todo o projeto... correndo atrás das propriedade... montando a associação e depois até chegar o ponto do banco... e o Banco do Brasil elabora seus contratos, nós tamo ali junto, olhando, ajudando né?.

Posterior à aquisição da propriedade e assinatura dos contratos pelos novos proprietários [assentados] o presidente afirmou que o trabalho do Sindicato passa a se concentrar nos projetos de habitação. Segundo seu depoimento, o STR tem sido responsável pelo programa “Minha Casa, Minha Vida Rural” e já entregou várias residências aos assentados: “... nós vive fazendo habitação rural do PNHR... é nóis

que tamo fazendo dentro dos assentamentos... dentro do Crédito Fundiário...”.

De acordo com o coordenador do PNHR, é o Sindicato que representa a classe nos mais variados sentidos como fica claro em suas verbalizações: “alguém tá querendo fazer uma coisa errada, vem aqui denuncia ou pede a presença do Sindicato, vai lá e intermedia. Você precisa de qualquer coisa, que diz respeito ao Sindicato, o Sindicato tá pronto pra ajudar. Quer levar em Brasília, quer levar em Belo Horizonte, vai em reunião do assentamento, vai pro banco defender eles. Direta e indiretamente o Sindicato tem interferência sim, benéficas né? Muito bem

coordenadas... mas tem interferência sim”.

Oliveira et al. (2009), ao discutirem essas espécies de mediações, tanto do Sindicato quanto de outras instituições, como as de assistência técnica, reafirmam sua importância quando se pensa em desenvolvimento das comunidades. Segundo eles, os interesses institucionais se contabilizam para que haja espaços de interlocução e de planejamento conjuntos em virtude de papéis individuais e institucionais claramente definidos e de compromissos fortemente assumidos. De modo geral, a existência de mediadores, quer seja no assessoramento técnico, quer seja em processos de desenvolvimento nas áreas de assentamento, é um fato bem recebido pelos assentados, contudo, sua função é a de apoiar projetos comunitários ao invés de chegar às comunidades com propostas prontas e acabadas.

Na dimensão do desenvolvimento econômico nos assentamentos as ações do STR parecem ser cruciais. O coordenador do PNHR ressaltou que isso é uma obrigação do Sindicato. Segundo ele, as informações de programas estatais de crédito para custeio e investimento, bem como de projetos de capacitação, treinamento e educação rural são divulgadas junto aos Sindicatos que, por sua vez, repassam às associações dos assentamentos. Seus esforços parecem girar ainda em torno de políticas públicas e projetos de Lei, como expressado pelo entrevistado: “Corre atrás de políticas públicas, de emenda parlamentar... Eu sou prova que o Sindicato faz esse tipo de trabalho...”.

O presidente do Sindicato, quanto ao desenvolvimento econômico dos assentamentos, disse ser comum que o Sindicato procure por órgãos de assistência técnica, como a EMATER para a implementação de projetos de capacitação no que tange ao manejo dos recursos produtivos. Mais uma vez ele ressaltou o papel do Sindicato ao frisar sua atuação: “... o Sindicato... monitorando junto... junto com a assistência técnica pra o desenvolvimento das propriedades deles, da vida deles lá, pra não deixar que aquelas pessoas façam besteira...”.

Por meio de suas verbalizações, o presidente do Sindicato deixa clara a pouca participação política e social dos assentados. Segundo ele, a participação política é algo que se torna mais evidente na época das eleições, quando candidatos tendem a visitar os assentamentos para angariar votos. Relatou também que a interferência do Sindicato nesse sentido é a de que se origina da necessidade da classe [assentados] em eleger um representante que possa apoia-la na luta de suas causas, mas que por conta da fragmentação partidária isso nunca foi possível.

De acordo com o coordenador do PNHR “o Sindicato não pode interferir nisso não”, embora deixe transparecer suas preferências eleitorais: “olha, nós do Sindicato, eu recomendo assim, tamo com fulano”.

A questão social dos assentamentos, segundo os dois entrevistados, é percebida mediante a participação de todos em projetos e cursos de capacitação que possibilita o desenvolvimento econômico porque engaja as pessoas socialmente. Para o presidente do STR isso é “um direito” que as pessoas têm, “o de

aprender” e, a partir desse aprendizado, o entrevistado ressaltou outro direito, o da

4.4 Análise Integrada dos Dados das Redes Sociais, Grupos de Foco e