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2.4 Redes Sociais e suas Aplicações em Pesquisas no Campo dos Agronegócios

2.4.2 Redes Sociais: Estudos Empíricos no Agronegócio

Acredita-se que o estudo das redes sociais em projetos de assentamentos de Reforma Agrária pode se revelar particularmente útil no sentido de identificar a dinâmica social preexistente entre os grupos e sua influência nos processos de ação coletiva empregados culminando, por extensão, em compreensões mais profundas acerca dessa dinâmica.

Nessa perspectiva, analisar e compreender outros estudos que tiveram como orientação basilar o estudo das redes no campo dos agronegócios representa um auxílio importante nessa tarefa. O resumo dos estudos revisados é apresentado no Quadro 2.

Quadro 2 - Síntese de Estudos sobre Redes Sociais no Agronegócio

Autor(es)/Ano Título Objetivo Método Resultados

Santos (2015) Configurações das Redes Sociais em Diferentes períodos da Gestão Caracterizar as configurações de redes sociais de profissionais de uma associação no setor do agronegócio em diferentes períodos de sua gestão. Mapeamento das redes de amizade e parceria de trabalho por meio da realização de entrevistas e questionários. Existência de maior reciprocidade de relações entre os atores na rede parceria de trabalho em ambos os períodos de gestão. Saraiva de Loreto, Souza e Cunha (2010) Reforma agrária e Redes Sociais na Situação Concreta do Assentamento Cuiabá, Canindé do São Francisco-SE Analisar

o papel das redes sociais das famílias do

assentamento

Cuiabá/SE, na provisão de

recursos e satisfação das necessidades básicas, visando uma melhoria da qualidade de vida. Pesquisa documental, entrevistas e oficinas participativas. Predomínio do trabalho individualizado pela escassez de laços societários, apesar da existência das relações de parentesco no assentamento.

Continuação... Carvalho Neto (2009) Modelo de Análise de Redes Sociais Aplicado à Cadeia Logística do Agronegócio de Base Econômica Familiar Propor um modelo de análise de redes sociais para a cadeia logística do agronegócio de base econômica familiar para produzir um diagnóstico que apoie a gestão de três entidades.

Diagnóstico das redes das entidades sob as perspectivas da análise

estrutural, dos relacionamentos e dos atores críticos.

Identificação de problemas e oportunidades nas redes informais das organizações. Uso do diagnóstico para aumentar a eficiência das cadeias logísticas. Vieira (2008) Redes Sociais

no Contexto de Mudança Organizacional

Verificar a ocorrência de alterações nas redes intraorganizacionais de uma empresa pública considerando intervenções para a mudança organizacional. Mapeamento das redes de amizade e comunicação da empresa por meio de questionários aplicados aos empregados. Existência de alterações mais significativas na rede de amizade a partir da redução do tamanho da rede e da diminuição da distância geodésica. Neiva e

Pantoja (2008) Redes Sociais e Mudança em um Grupo de Produtores Rurais do Planalto Central Descrever e analisar a estrutura social e as reações dos indivíduos durante a implantação de uma associação de produtores rurais no Distrito Federal. Entrevistas semiestruturadas e questionários para investigar as redes sociais de amizade, informação, confiança e influência. Verificação de reações de desconfiança e temor. Existência de redes com pouca interação, possibilidade de crescimento e potenciais atores para melhor estruturação das redes.

Fonte: Elaborado pela autora.

Todos os estudos apresentados no Quadro 2 são resultados de propostas de estudos sobre redes sociais desenvolvidas nos últimos anos e que, de alguma forma, são relacionados ao contexto rural. Como ressalta Santos (2015) as pesquisas que envolvem o assunto permitem verificar a diversidade de temáticas que podem ser abordadas e analisadas sob a perspectiva das redes sociais e o lugar importante que as estruturas em rede vêm assumindo nos mais variados campos do conhecimento.

Dos cinco trabalhos revisados, aquele que mais se aproxima da proposta deste estudo é o estudo de Saraiva de Loreto, Souza e Cunha (2010) por ter tido como pano de fundo um assentamento de Reforma Agrária e por ter proposto uma análise das redes sociais das famílias assentadas na provisão de recursos para a satisfação das suas necessidades mais básicas e consequente melhoria da qualidade de vida.

Estes autores justificam a realização do estudo por terem observado nos últimos tempos um registro maior do número de assentamentos rurais de Reforma Agrária. Para eles grande parte desses projetos tem surgido sem um planejamento prévio e, por isso, acabam enfrentando situações adversas, sejam físicas e/ou socioeconômicas, que comprometem uma dinâmica organizacional mais eficiente e trazem problemas à reprodução social das famílias.

Os resultados do estudo, após terem sido caracterizados os elementos ou nós das redes criadas ou ativadas pelos sistemas familiares investigados, bem como identificados seus laços ou o sentido de suas ações, revelaram laços de parentesco nos assentamentos, embora tenha sido observado o trabalho individualizado e raros laços sociais. Os laços de parentesco, como ressaltam os autores, tem mobilizado recursos e atuado como estratégias de sobrevivência, contudo, isso não é suficiente para criar oportunidades sociais no sentido de aproximação de instituições locais para o estabelecimento de relações coletivas para o aprimoramento das redes de solidariedade e relações de reciprocidade pautadas na cooperação e confiança mútua para a promoção do desenvolvimento local e melhoria da qualidade de vida dos assentados.

A proposta de estudo de Carvalho Neto (2009) girou em torno de um diagnóstico das redes sociais de três empresas da cadeia logística do agronegócio de base familiar sob a justificativa de problemas de gestão encontrados nesse contexto, principalmente no que se refere à precária logística e a má coordenação das ações. Sua preocupação manifesta é que os desafios da ausência de um ambiente de confiança e colaboração em que sejam coordenados os interesses individuais em função de um objetivo coletivo nas organizações no agronegócio de base econômica familiar sejam superados em virtude de efetividade e inserção no mercado.

Além de criar um modelo para mapeamento e análise de redes sociais para a cadeia logística do agronegócio de base econômica familiar, Carvalho Neto (2009) objetivou ainda contribuir para o setor ao diagnosticar as redes relevantes para essa análise [redes de relacionamentos, informação, propósito, confiabilidade, competência, sinceridade, assertividade, mais comunicação e fluxo de produção] e os problemas e oportunidades mais comuns relacionados a cada uma nas empresas por ele estudadas.

Os estudos de Vieira (2008) e Neiva e Pantoja (2008) se assemelham na medida em que tratam de redes sociais e mudanças organizacionais. No estudo de Vieira (2008) a intenção foi verificar as alterações e/ou modificações nas redes intraorganizacionais de uma empresa pública considerando intervenções direcionadas às mudanças. A empresa pesquisada, uma instituição pública federal tem, entre outros objetivos, a função de atuar na implantação de distritos agropecuários e estruturar atividades produtivas. Além dos resultados de diminuição

do tamanho e da distância geodésica da rede de amizade tidos como os mais significativos, a rede de comunicação apresentou poucas alterações, sendo pouco afetada pela mudança, um resultado, segundo o autor, contrário ao que a literatura na qual se baseou o estudo revela.

O estudo de Neiva e Pantoja (2008) se concentrou numa associação de produtores rurais vinculada à EMATER e em profissionais de uma empresa de extensão rural do Distrito Federal para compreender as reações dos indivíduos durante a implantação de uma associação de produtores rurais através da análise das redes de amizade, informação, confiança e influência. O processo de mudança nesse cenário resultaria na fundação de uma cooperativa de produtores e na alteração do funcionamento dos pequenos negócios familiares com a introdução de uma associação com o objetivo de profissionalizar a produção. Os resultados demonstraram reações de desconfiança e temor a partir de posições ambíguas dos produtores ao sinalizarem a intenção de “ficar”, caso desse certo ou de “sair”, caso desse errado.

Por fim, no estudo de Santos (2015), a análise das redes de amizade e parceria de trabalho em uma associação que atua defendendo os interesses dos produtores e coordenando grandes projetos de interesse de um determinado setor do agronegócio para exportação permitiram caracterizar a configuração dessas redes em dois períodos da gestão definidos pela autora como “atual gestão” e “gestão anterior”. Além de Santos (2015) ter observado maior reciprocidade de relações entre os atores na rede de parceria de trabalho, observou também uma mudança no desenho dessa mesma rede nos dois períodos da gestão. De acordo com a autora, na gestão anterior havia duas sub-redes e um único indivíduo estabelecia a comunicação entre elas; na atual verificou-se um maior número de ligações entre os atores.

Acredita-se que estudos similares aos aqui apresentados tendem a se intensificar cada vez mais na tentativa de aprofundar os conhecimentos das relações que se estabelecem entre empresas, instituições ou associações numa linha mais competitiva e entre os grupos de pessoas que delas fazem parte numa linha mais social/relacional. A expansão desses estudos, muito além de promover o avanço do conhecimento das interações, dos papéis e das relações de troca entre os atores do agronegócio podem ainda detectar problemas para os quais soluções originadas da pesquisa científica podem ser sugeridas.