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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 Caracterização da pesquisa

3.1.1 Análise de conteúdo

Inicialmente gostaríamos de justificar a escolha das concepções de Laurence Bardin (1977) sobre Análise de Conteúdo para embasarmos metodologicamente nossa investigação. Apesar da existência de muitos

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autores que abordam a análise de conteúdo, inclusive com alguns conceitos e terminologias diferenciadas, acreditamos que a conceituação de Bardin tem maior consonância com os objetivos de nosso estudo. Sua proposta possui grande consistência acerca do rigor metodológico e permite inúmeras possibilidades para conduzir nosso trabalho. Além disso, no Brasil, é a autora mais citada em trabalhos que utilizam análise de conteúdo como técnica de análise de dados. Na sua concepção, Bardin define a análise de conteúdo da seguinte forma:

A análise de conteúdo pode ser considerada como um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens... A intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou eventualmente, de recepção) inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não) (BARDIN, 1977 p. 38).

Em consonância com as considerações já arroladas sobre análise de conteúdo, Franco (2012) acrescenta mais algumas e propõe um esquema (Figura 3.1) na tentativa de contribuir o entendimento das características definidoras da análise de conteúdo elencadas por Bardin. A autora visualiza o procedimento como um artifício mais amplo da teoria da comunicação e destaca a mensagem como ponto de partida e com base nela evidencia os questionamentos: o que se fala? O porque? Com que intensidade? dentre outros. Nesse sentido, também ratifica que a análise de conteúdo dá suporte para que o pesquisador possa fazer inferência sobre os elementos que constituem a comunicação em questão. A Figura 3.1, apresenta as características definidoras da análise de conteúdo.

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Figura 3-1 - Características definidoras da análise de conteúdo

Fonte: (FRANCO, 2012, p.25)

Portanto, nosso estudo também figura nesse cenário. Diante do que foi exposto e logicamente por aproximação terminológica, decidimos por elencar as etapas da técnica segundo Bardin (1977, p.95) que estruturam o desenvolvimento da nossa análise. A autora propõe a organização da análise em três fases: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

A primeira etapa, a pré-análise, fornece elementos para evidenciar as intenções da pesquisa. É nessa fase que retomamos os objetivos do estudo através da escolha dos documentos a serem analisados, a elaboração de hipóteses e objetivos e a preparação de indicadores, tudo isso com o intuito de fundamentarem a interpretação final do trabalho. Em outras palavras, é a fase na qual organizamos todo o material a ser analisado de forma operacional e simultaneamente sistematizamos as ideias iniciais da pesquisa. Bardin (1977, p.96) sugere que essa organização ocorra de acordo com as seguintes etapas:

(a) leitura flutuante, trata-se do primeiro contato com os documentos oriundos da coleta de dados, é aqui que o pesquisador começa a conhecer o texto;

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(b) escolha dos documentos, nessa etapa o pesquisador deve demarcar o que será analisado, cabe destacar que a escolha dos documentos que irão constituir o corpus2 implica, por vezes, ao uso de regras (Regra da exaustividade; Regra da representatividade, Regra da homogeneidade; Regra da pertinência, dentre outras). Em nosso estudo, o fizemos via Regra da pertinência, o que significa que os documentos selecionados como fonte de informação correspondem intimamente com o objetivo de nosso trabalho.

(c) formulação das hipóteses e dos objetivos;

(d) referenciação dos índices e elaboração de indicadores, que consiste na identificação de índices que servirão de indicadores exemplificados através de recortes de textos nos documentos de análise de forma a possibilitar unidades de categorização e a codificação para o registro dos dados;

(e) a preparação do material, é conveniente que antes da análise em si, o pesquisador prepare o material com a finalidade de facilitar e dinamizar o processo de análise. No nosso caso, fizemos as transcrições de todas as entrevistas e as organizamos em fichas individuais, e de forma concomitante, em outras fichas indicávamos as informações relevantes extraídas das entrevistas.

A segunda fase é exploração do material, que consiste basicamente na criação das operações de codificação. De modo sucinto, a codificação é o processo de transformação dos dados brutos em unidades que aceitarão descrever as propriedades pertinentes a conteúdo estudado. Para Bardin (1977), codificar o material coletado corresponde a tratá-lo, e a autora sugere que o façamos organizando segundo as três etapas: i) o recorte que consiste na escolha das unidades; ii) a enumeração que é a escolha das regras de contagem; iii) A classificação e a agregação que constituem a escolha das categorias.

Quanto ao tratamento dos resultados, inferência e interpretação (terceira fase), organiza uma análise crítica e reflexiva dos dados com o objetivo de torná-los significativos. Aqui se faz necessário o uso de elementos simples da estatística permitindo a construção de quadros, esquemas, tabelas, dentre outros recursos que, em conjunto, permitem não somente a visualização das informações fornecidas pela análise, mas também comportam os destaques que essa apreciação evidenciou.

2 Para Bardin (1977, p.96) o corpus é o conjunto dos documentos tidos em conta

para serem submetidos aos procedimentos analíticos. A sua constituição implica, muitas vezes, escolhas, seleções e regras.

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Bardin ainda expõe um quadro resumo que sistematiza todo o procedimento, trilhando o caminho a ser percorrido durante o estudo, e que aqui também apresentamos:

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Figura 3-2 - Desenvolvimento de uma análise segundo Bardin

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