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2. ENFOQUES TEÓRICOS À MOTIVAÇÃO

2.3. Motivação Para Aprender

2.3.5. Crenças de Autoeficácia

A partir da década de 1960, Albert Bandura começou a produção de um conjunto de estudos teóricos que paulatinamente se configurou como a Teoria Social Cognitivista, que para Pajares e Olaz (2008) consiste numa teoria do funcionamento humano que destaca a função crítica das crenças pessoais no âmbito da cognição, motivação e do comportamento humano. No conjunto das microteorias que compõem a explicação da Teoria Social Cognitiva, além de várias outras, encontram se as crenças de autoeficácia.

Bandura definiu autoeficácia pela primeira vez em 1977, mas ao longo do tempo a primeira definição sofreu pequenos ajustes. Segundo Torisu (2010), através das obras de Bandura evidencia-se pelo menos

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seis definições para autoeficácia, contudo as de maior relevância são apresentadas no quadro 2.1, idealizado por Torisu (2010).

Quadro 2-1 - Definições de autoeficácia para Bandura (1977, 1986, 1997)

Fonte: Torisu (2010; p. 27)

É comum uma ligeira confusão do termo autoeficácia com outros elementos tais como as expectativas de resultado (ou de eficácia) e o autoconceito. A título de esclarecimento, quando se fala em expectativa de resultado designa-se o que se almeja como resultado de uma atividade, ao passo que a autoeficácia trata-se de uma crença que o individuo possui sobre suas capacidades para efetuar determinada tarefa, ou seja, são coisas distintas.

Já a diferenciação da autoeficácia em relação ao autoconceito ocorre em virtude da abrangência. Um indivíduo pode possuir bom autoconceito em relação a uma determinada disciplina e, no entanto, ao se deparar com uma atividade que exige mais comprometimento e conhecimento não obter sucesso, desencadeando assim baixa crença de autoeficácia em relação a essa atividade, ou seja, o autoconceito tem caráter mais geral enquanto que a autoeficácia se refere às atividades especificas. Para Bzuneck (2001), a percepção da capacidade é um conceito maior do qual fazem parte autoeficácia, autoconceito e outros elementos.

A retirada da palavra “expectativa” das definições de 1986 e 1997 é atribuída por Azzi e Poliydoro (2006) justamente como o intuito de evitar equívocos como esses. A compreensão de que o indivíduo não avalia suas capacidades somente através do julgamento e sim pela percepção que ele detém sobre suas competências, justifica outra modificação importante nas definições, a substituição de “convicção de alguém para realizar sucesso” por “julgamentos das pessoas sobre suas

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capacidades”. Para Bandura (1997), a capacidade de o indivíduo agir com o intuito de alcançar determinados objetivos tem maior relação com suas crenças com as suas capacidades comprovadas.

A origem das crenças de autoeficácia para Bandura (1986), são atribuídas à quatro fontes: as experiências pessoais, as experiências vicárias, a persuasão verbal, e os estados fisiológicos. A importância atribuída às experiências pessoais se dá pelo fato de que experiências bem sucedidas aumentam o senso de autoeficácia ao passo que fracassos sucessivos empobrecem as crenças de autoeficácia. Segundo Schunk (1989), um eventual fracasso mediante grande quantidade de experiências com êxito não implica em grande baixa nas crenças de autoeficácia, ao passo que uma experiência de êxito em meio inúmeros fracassos provavelmente não causará grande aumento dessas crenças. No contexto escolar, Schunk (1989) destaca que para o estudante aumentar suas crenças de autoeficácia ele deve perceber os progressos que realiza, pois caso contrário pode não ser dar conta da experiência de êxito e apenas agregar para si fracassos, o que diminui suas crenças de auto eficácia.

As experiências vicárias referem-se à comparação das capacidades do indivíduo com as capacidades de outras pessoas. No contexto escolar, alunos que observam colegas obtendo êxito em determinada tarefa tendem a se esforçar a obter também êxito. Em contra ponto, se perceber que colegas não estão obtendo sucesso podem facilmente concluir que também não o obterá caso julgue estar no mesmo nível de seus colegas. Essas fontes são caracterizadas como de ordem temporária, pois somente através da observação o aluno pode não obter o mesmo sucesso dos demais e atribuir esse êxito a predicados que os colegas possuem e ele não, tais como: inteligência, diferença de idade, mais experiência, dentre outros.

A persuasão verbal ocorre quando terceiros informam ao individuo que ele tem condições de obter êxito em determinada tarefa. No entanto, essa fonte de originar crenças de autoeficácia tem maior relevância se é emitida por alguém que possui credibilidade para emiti- la. Contudo, receber tal incentivo não garante a consolidação da crença de autoeficácia. Buzneck (2009), destaca que mesmo recebendo algum tipo e persuasão, ao realizar tarefas e obter sucessivos fracassos as crenças de autoeficácia entram em declínio.

Os estados fisiológicos se referem às reações emocionais dos sujeitos frente a uma situação. Sintomas como alta ansiedade, nervosismo ou insegurança quando percebidos pelo individuo

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demonstram vulnerabilidade e desencadeiam julgamento de baixa capacidade diminuindo suas crenças de autoeficácia.

Segundo Bandura (1986), a influência das informações oriundas dessas quatro fontes não ocorre do modo instantâneo, através de processamento cognitivo o aluno, diante de suas habilidades, experiências passadas e fatores ambientais cria um posicionamento positivo ou não em relação a sua capacidade de executar determinada tarefa, ou seja, trata-se de uma ponderação de aspectos tanto pessoais como ambientais.

Cabe destacar que as crenças de autoeficácia produzem vários efeitos os quais Bandura (1998) classifica em quatro processos: cognitivo, motivacional, afetivo e processos de seleção.

Quanto aos processos de ordem cognitiva, esses se referem à avaliação que o indivíduo faz em cada situação vivenciada, quanto maior o nível da crença de autoeficácia maiores são as chances do individuo engajar-se na realização da tarefa. Os processos de ordem motivacional se referem à mobilização que o indivíduo faz para realizar tarefas que julga ser capaz de obter sucesso. Já os processos afetivos são relacionados aos sentimentos envolvidos quando o indivíduo é submetido à determinada tarefa, podendo tanto ser de ordem positiva, como alegria, satisfação ou interesse, no caso do indivíduo que possui altas crenças de autoeficácia, ou sentimentos como raiva, tédio ou ansiedade, no caso da pessoa que possui baixas crenças de autoeficácia.

Schunk (1991) lembra que promover a motivação dos estudantes via crenças de autoeficácia merece certos cuidados, pois apesar de ser uma condição necessária, a existências dessas crenças para esse tipo de motivação, isso não é o suficiente. O autor salienta que as crenças de autoeficácia não configuram o único fator que influência os estudantes tampouco o mais importante, existem situações de aprendizagem que tais crenças nem figuram.

Além do exposto, Bzuneck (2009) chama a atenção que, no contexto escolar, para que as crenças de autoeficácia tenham o poder de motivar os alunos, deve estar assegurado que o estudante possua conhecimentos, habilidades e capacidade para realização da tarefa, bem como possuir expectativas positivas em relação à realização da mesma. Cabe destacar que nessa situação o nível de dificuldade da tarefa, conhecimentos envolvidos e demais elementos ambientais influenciam na crença de autoeficácia. Dessa forma, as crenças de autoeficácia poderão realizar a função de escolha, direcionamento e persistência nos comportamentos relacionados à aprendizagem.

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