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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.5 Análise de conteúdo

De acordo com Godoy (1995), esta técnica metodológica proposta por Laurence Bardin pode ser utilizada em inúmeros tipos de discursos e formas de comunicação. Acrescenta que nesta análise o pesquisador precisa entender o sentido da comunicação, portando-se como um receptor normal, mas necessita também desviar o olhar de modo a obter outra mensagem, outra significação.

Minayo (2000) explica que a análise de conteúdo relaciona as estruturas semânticas, aquilo que foi expresso nos documentos analisados, com os significados dos fragmentos, as quais a autora denomina de estruturas sociológicas. É uma busca de articulação entre “[...] a superfície dos textos descrita e analisada com os fatores que determinam suas características: variáveis psicossociais, contexto cultural, contexto e processo de produção da mensagem (MINAYO, 2000, p. 203).

Tendo como ponto de partida a organização, o método proposto por Laurence Bardin, possui fases fundamentais de análise que ocorrem em três momentos específicos: 1) pré-análise; 2) exploração do material e 3) tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

- Apré-análise

A fase de pré-análise corresponde à fase de organização do material. Embasada em intuições, esta fase consiste no desenvolvimento de um planejamento sistematizado, no qual ficam explicitadas como serão desenvolvidas as etapas subsequentes. Em outras palavras, trata-se da construção de um esboço da operacionalização da análise em si com os procedimentos bem

definidos, embora flexíveis. A pré-análise inclui três tarefas: a eleição dos documentos que serão analisados, a formulação de hipóteses e dos objetivos e, por último, a elaboração dos indicadores que sustentarão a interpretação final. Engloba algumas atividades:

- Leitura flutuante: consiste no primeiro contato com o material, na qual surgem as primeiras impressões a respeito do conteúdo. Por meio de inúmeras leituras o pesquisador é capaz de transformar suas intuições em hipóteses, e a partir de então a leitura do material vai se tornando mais precisa;

- A escolha dos documentos: esta eleição pode ser realizada anteriormente, tão logo sejam definidos os tipos de documentos sobre os quais se pretende investigar. O conjunto dos documentos selecionados para se submeterem ao processo analítico é denominado de corpus e, na maioria das vezes, se constituiu por meio de algumas regras. Entre elas, podemos citar a Exaustividade: estabelecido o campo do corpus, todos os materiais que correspondam aos critérios definidos devem ser recenseados, ou seja, deve-se esgotar a totalidade da comunicação, de modo a não omitir nada; representatividade: é possível submeter uma análise de uma amostra representativa do universo inicial e os resultados serem generalizados. Importante destacar que nem todo o material de análise enquadra-se nesta regra; homogeneidade: os documentos selecionados devem referir-se ao mesmo tema, serem obtidos por técnicas iguais e obtidos por indivíduos semelhantes; pertinência: os documentos precisam adaptar-se ao conteúdo e objetivo da pesquisa; exclusividade: um elemento não deve ser classificado em mais de

uma categoria, entre outras regras que norteiam a seleção do material a ser analisado;

- A formulação das hipóteses e dos objetivos: a fase de formulação de hipóteses corresponde a uma fase de suposições com origem em intuições, uma vez que a hipótese é uma afirmação provisória que exige comprovação mediante os procedimentos de análise. Cabe ressaltar que nem sempre as hipóteses são estabelecidas nesta fase de pré-análise. De maneira superficial, o modo como as hipóteses são formuladas e experimentadas ao longo da análise caracterizam os procedimentos em fechados, que consistem em métodos de observação que funcionam segundo processos indutivos, nos quais as hipóteses são experimentadas, ou em procedimentos de exploração, que permitem por meio de processos dedutivos construir novas hipóteses a partir dos próprios textos. Por outro lado, os objetivos referem-se às finalidades propostas por meio deste exercício;

- A referenciação dos índices e a elaboração de indicadores: os índices são escolhidos com base nas hipóteses, caso elas estejam formuladas, e podem constituir-se da frequência de um tema, de uma palavra, entre outros exemplos. Os temas que se repetem com muita frequência são recortados “do texto em unidades comparáveis de categorização para análise temática e de modalidades de codificação para o registro dos dados” (BARDIN, 2011, p.100). A partir dos índices é possível determinar os indicadores;

- A preparação do material: este preparo prévio possui singularidades de acordo com o tipo de material explorado. No caso de entrevistas gravadas, esta fase corresponde à transcrição na íntegra do material em áudio.

c) A exploração do material

Uma vez desenvolvida cada etapa da fase de pré-análise, a exploração do material organizado corresponde à aplicação de procedimentos (de forma manual ou utilizando algum programa computacional) previamente formulados. A fase de exploração engloba os procedimentos de:

- Codificação: na codificação ocorre a escolha de unidades de registro (qual o recorte adotado) e definem-se as regras de contagem e as categorias de análise, formadas pela reunião de elementos textuais (unidades de registro) com características comuns;

- Classificação: a classificação pode ocorrer de inúmeras formas: classificação semântica (por temas, por exemplo), classificação sintática, classificação léxica (baseada no sentido das palavras),classificação expressiva (onde se agrupam perturbações da linguagem- perplexidade, hesitação, embaraço), entre outras;

- Categorização: a categorização possibilita agrupar o maior número de informações baseado num esquema. A partir deste esquema, classes de acontecimentos podem ser correlacionadas entre si e ordenadas (CÂMARA, 2013).

Definido a unidade de codificação, a etapa seguinte consiste em classificar os blocos que representam determinadas categorias. Os temas levantados a partir dos dados são agrupados nestas categorias de modo a formar quadros matriciais. Nos quadros matriciais cada categoria possui uma definição, que pode ser baseada no conceito definido no referencial teórico ou mesmo ser fundamentada a partir dos achados relativos ao tema em estudo. Ressalta-se que as categorias podem ser elaboradas a priori, por meio da teoria, ou a posteriori, após a coleta dos dados (CÂMARA, 2013).

d) Tratamento dos resultados obtidos e interpretação

Os resultados obtidos com a exploração do material levantado necessitam ser tratados de forma a serem significativos e válidos. Neste intuito, podem ser utilizados testes estatísticos, bem como testes de validação. No tratamento dos resultados, podem ser propostas inferências, bem como possíveis interpretações.

Nesta fase, conceitos e proposições são submetidos ao processo de interpretação. Cabe destacar que os conceitos em questão não provêm de definição científica e sim da cultura estudada e da linguagem dos informantes. Do mesmo modo, as proposições baseiam-se no estudo cuidadoso dos dados.

Ressalta-se que existem variações na maneira de seguir essas fases mencionadas. Em relação à escolha das unidades de análise, por exemplo, pode se optar por palavras, sentenças, parágrafos ou mesmo o próprio texto. Da mesma forma, pode haver diferenças na maneira de tratar tais unidades. Alguns pesquisadores contam as palavras ou expressões, outros optam pela análise da estrutura lógica do texto ou de partes dele e existem alguns que preferem focar em temáticas específicas (BARDIN, 2011).