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2 TRAÇOS DA CULTURA E DO CONTEXTO SOCIAL

2.4 Os idosos

Ao discutir acerca da literatura sobre os idosos, especificamente, no contexto dos EUA e Inglaterra, Debert (2003), baseado em Bel (1992), comenta que, até a década de 1970, as imagens construídas pela mídia estavam ligadas às características estereotipadas como, dependência física e afetiva, insegurança e isolamento, caracterizando imagens negativas e desrespeitosas em relação a eles. Acrescenta, ainda, que, tais imagens, muitas vezes, transformadas por meio do humor, adquiriam sentidos de teimosia e tolice. Porém, a partir dos anos 80, os idosos passam a ser representados de maneira diferente, adquirindo significado de poder, riqueza, perspicácia e prestígio social.

Com relação ao contexto brasileiro, Debert (2003, p. 136) observa alguns significados relacionados aos velhos em propagandas, que remetem a “práticas inovadoras e subversivas de valores tradicionais, especialmente no que diz respeito à vida familiar, à sexualidade e ao uso de novas tecnologias”. Assim, os velhos acabam assumindo papéis que, até tempos atrás, eram exclusivos aos jovens.

Segundo Debert (2003, p. 153), “a velhice no Brasil do século XX se transformou numa questão social, deixando de ser um problema que dizia respeito à esfera privada, da família, da previdência individual ou das associações filantrópicas”.

Como tal, a velhice assume a posição de destaque na agenda de discussões e ações do Estado, por meio de políticas públicas, como, também, na área da medicina, com a gerontologia1 (DEBERT, 2003).

Em outras culturas, diferentes da brasileira, a velhice é vivenciada de maneira diferente. Uchôa (2003), referenciando seu trabalho anterior (UCHÔA, 1988), comenta que um grupo com o qual teve oportunidade de trabalhar, os Bambara do Mali, consideram a velhice como algo a ser comemorado. Nesse sentido, para este grupo de pessoas, o envelhecimento representa uma espécie de crescimento na vida, na qual se acumula conhecimento e, por meio das vivências no decorrer da vida, conquista-se um lugar socialmente valorizado. A idade avançada é, também, sinônimo de autoridade perante aos mais jovens.

Contrário a esta perspectiva, está o comportamento de uma tribo indígena da Colômbia, os Cuiva, estudados por Arcand (1989 citado por UCHÔA, 2003). Os achados da pesquisa revelam que esta tribo nega as formas de envelhecimento. Para eles, após a infância os indivíduos passam a fazer parte do grupo de adultos e, enquanto tais, só saem desta categoria quando morrem. Os papéis e atividades sociais como se casar, trabalhar ou tomar decisões, não estão circunscritos aos limites da idade.

A velhice é influenciada pela cultura de cada nação. Para as sociedades não ocidentais, geralmente, há uma tendência mais acentuada de atribuir importância aos idosos, além de maior status e valorização dos papéis sociais que eles desempenham na sociedade (UCHÔA, 2003). Em contrapartida, nas

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Em linhas gerais, trata-se de um campo específico do conhecimento que agrega especialistas que estudam o envelhecimento.

sociedades ocidentais, Uchôa (2003) baseada em Gognalons-Caillard (1979),comenta que a velhice e o envelhecimento estariam na contramão do modelo de sociedade baseado na intensa produção, dinamismo e produtividade, características que seriam mais condizentes com a juventude.

Debert (2004) comenta sobre as transformações acerca de visão e do papel da velhice na sociedade. Antes, sendo uma questão circunscrita ao contexto familiar e privado, ganha novos sentidos e significados, passando a ser uma preocupação pública, que implica na atuação do Estado por meio da criação de leis, definição e implementação de políticas públicas. Como bem explica Debert (2004, p. 14), na sociedade moderna, a velhice é tratada como “uma etapa da vida caracterizada pela decadência física e ausência de papéis sociais”. Mas, a autora destaca mudanças na contemporaneidade acerca da velhice. Segundo ela, os estereótipos associados ao envelhecimento estão sendo revistos, pois, outras necessidades estão emergindo nesse processo da vida, como busca de novos desafios, do prazer e da satisfação pessoal.

Segundo Debert (2004), nas sociedades tradicionais, os idosos mantinham suas relações com a família de forma estreita. Por conta de sua sabedoria e experiência de vida, adquiriam respeito da família e da sociedade. Porém, a partir da emergência da sociedade industrial, esse cenário sofreu modificações, principalmente, pela ideia de que os idosos não acompanhariam as mudanças relacionadas ao mundo do trabalho, cada vez mais fundamentado em critérios de produtividade. Desta forma, argumenta Debert (2004), passaram a representar um peso para a família e um problema para o Estado. A velhice adquiriu sentido de problema social, ou seja, “o que fazer com os idosos que não possuem funcionalidades dentro da sociedade”? Esse questionamento, por algum tempo, fez parte do cotidiano na sociedade, imprimindo, assim, preconceito e estereótipos relacionados à velhice. No entanto, alerta Debert (2004), essa ideia precisa ser revista, considerando que, atualmente, o envelhecimento e a velhice

têm ganhado novas configurações, principalmente, porque os idosos estão buscando uma vida mais ativa, envolvendo-se com atividades sociais, trabalho, programas de cuidados com a saúde, entre outros.

No Brasil, inúmeras iniciativas permitiram um reposicionamento do papel do idoso na sociedade, principalmente, como melhoria da sua qualidade de vida (DEBERT, 2004). Algumas delas podem ser destacadas como, escolas de alfabetização de idosos, universidades para a terceira idade e grupos de convivência de idosos.

A velhice, embora possua diferentes significados e sentidos em culturas e contextos diversos, muitas vezes, está associada ao final da vida, à morte. Na atualidade, o corpo forte, saudável, vigoroso e sexualizado adquire destaque na sociedade, assim, a velhice representa certa contradição a essa perspectiva (BARROS, 2007).

Do ponto de vista político, no início da década de 1990, os idosos ganham notoriedade no Brasil, por meio do movimento de aposentados e pensionistas, conhecido como “mobilização pelos 147%”2 (SIMÕES, 2007). Muito embora não tenha se configurado como primeiro movimento em que aposentados tenham saído em defesa de seus interesses, esta mobilização ganhou maior destaque nacional por reforçar o problema previdenciário pelo qual o país vinha passando e chamar a atenção da sociedade para o papel dos idosos no país. Por meio de opiniões de alguns participantes de tal movimento, Simões (2007) identificou transformações identitárias quanto à percepção acerca dos

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Este movimento, segundo Simões (2007), ocorreu nos anos de 1991 e 1992, a partir de um reajuste dado pelo governo de 147,06% para o salário mínimo, no entanto, a categoria de aposentados e pensionistas recebeu apenas 54,6%. O movimento dos aposentados e pensionistas entrou com ação judicial e conseguiu, por meio da Justiça Federal de Brasília, equiparar o reajuste dado aos demais trabalhadores. No entanto, órgãos do governo decidiram suspender tal decisão. Após muitas “idas e vindas” no judiciário, os aposentados e pensionistas, enfim, conseguiram o direito de ter o aumento de 147, 06%. Tal acontecimento reforçou a crise do sistema previdenciário no Brasil.

aposentados. Assim, estereótipos como caduquice; apatia; ênfase no passado do trabalhador; velho que só pensa em comer, dormir, reclamar e dar palpite; peso para a família; são substituídos pela ênfase na saúde e discernimento e pela ideia de provedor da família.

A população idosa é crescente no país. Projeções demográficas do IGBE (2010) apontam para um envelhecimento da população, com queda na taxa de fecundidade. Além disso, é crescente a inserção de idosos nas organizações.

A população de idosos no Brasil (acima de 60 anos) era composta por 23.536.000 pessoas, aproximadamente, 12% do total (IBGE, 2010). Dados do IBGE, divulgados pelo portal G1 revelam que, em censos anteriores, de 1960 e 2010, esses percentuais eram 4,7% e 8,5%, respectivamente. Quanto à inserção no mercado de trabalho, de acordo com dados de Brasil (2011), comparando este ano com o anterior, as faixas etárias com maior variação positiva no número de empregos – excetuando aquele que compreende pessoas com 16 ou 17 anos -, foram de 50 a 64 anos e 65 anos ou mais, com, 7,99% e, 11,45%, respectivamente.

O aumento da expectativa de vida da população brasileira implica, necessariamente, em um contingente maior de pessoas com idade acima de 60 anos que trabalham. No entanto, existem organizações que demitem funcionários quando atingem certa idade, normalmente, acima de 50 anos. Essa é uma ação comum no setor bancário, principalmente, nos Bancos privados. Mas, não quer dizer que funcionários acima dos 50 anos sejam idosos, pois possuem condições de executar as atividades, todavia, por conta de uma lógica economicista, podem ser demitidos para que haja contratação de funcionários mais jovens a um custo menor. Assim, indivíduos com idade em torno dos 50 anos, podem vir a fazer parte de minorias.