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4 METODOLOGIA

4.4 Análise de conteúdo

A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas, um leque de recursos adaptável a um campo de aplicação vasto que são as comunicações (BARDIN, 2011). Segundo Bardin (2011, p. 38), “qualquer veículo de significados de um emissor para um receptor, controlado ou não por este, deveria poder ser escrito, decifrado pelas técnicas de análise de conteúdo”.

Em seus primórdios, essa técnica era substancialmente utilizada no tratamento de materiais jornalísticos, entretanto a evolução de sua aplicação abarcou transcrições de entrevistas, documentos institucionais e outras formas de comunicação (VERGARA, 2015).

A aplicação de análise de conteúdo permite abordagens tanto quantitativas quanto qualitativas, entretanto ambos os casos são guiados por categorizações. Seus procedimentos iniciais são relacionados à enumeração das características do texto e a finalização de sua aplicação diz respeito à interpretação por parte do pesquisador dos significados concedidos às características dos textos analisados. A inferência sobre os conteúdos acontece de forma intermediária entre as caracterizações das mensagens e suas interpretações (BARDIN, 2011; VERGARA, 2015). Quanto à análise das expressões emitidas nas mensagens, utilizou-se da análise de conteúdo que permitiu inferir sobre as questões relevantes aos objetivos da presente pesquisa (BARDIN, 2011).

Após a realização da análise documental e da pré-análise dos textos das reportagens das revistas, deu-se início às demais etapas da exploração do

material e do tratamento dos resultados obtidos e interpretação que serão descritas a seguir conforme o modelo abaixo (Figura 9).

Figura 9 - Modelo das etapas da análise de conteúdo.

Fonte: Do autor (2016).

Dentro da fase de exploração do material procedeu-se à codificação que, segundo Bardin (2011), é a transformação dos dados brutos do texto. Essa fase permite atingir a representação da expressão de um conteúdo. Ainda segundo a autora, a codificação compreende três escolhas (BARDIN, 2011, p. 133):

a) O recorte: escolha das unidades;

b) A enumeração: escolha das regras de contagem e c) A classificação e agregação: escolha das categorias.

Entretanto, antes de descrever as escolhas realizadas na presente pesquisa, destaca-se o fato de o paradigma interpretativo utilizado neste estudo merecer alguns destaques embasados no texto da própria autora.

A abordagem não quantitativa permite, quanto ao emprego da técnica, a liberdade de utilização de indicadores livres de frequências, bastando sua presença para a construção de índices. Enquanto as abordagens de cunho quantitativo se prendem a métodos estatísticos de análise de contagem, a abordagem qualitativa corresponde a um procedimento mais intuitivo, o que por consequência, aproxima-a da aplicação de índices e categorias mais maleáveis e até mesmo não previstos (BARDIN, 2011).

Essa situação acarreta a necessidade de compreensão do sentido em detrimento de outras técnicas como a de contagem de palavras. Nesse sentido, tem-se o risco aumentado de que elementos importantes possam ser deixados de lado, ocasião em que deve ser evitada, considerando-se o contexto e sua importância no momento da análise. Nesse sentido, cabe a releitura do material, novas interpretações e a busca por evidências contrárias ao resultado assumido como final. Como forma de minimizar as possibilidades do risco citado, as análises realizadas pelo pesquisador foram revisadas pelo orientador da presente pesquisa. Esse procedimento permitiu rediscutir categorias e reinterpretar de maneira conjunta os elementos apresentados como resultado deste trabalho.

Por fim, a análise qualitativa não rejeita toda e qualquer forma de contagem. Entretanto, cabe frisar que os índices são retidos de maneira não frequencial. No mesmo sentido, as inferências não foram baseadas em quantificações (BARDIN, 2011).

Com base na exposição sobre a abordagem do estudo e questões pertinentes à análise de conteúdo, optou-se por não adotar regras de contagem e sim por considerar a presença dos índices na presente pesquisa.

Quanto ao recorte, adotou-se o tema por unidade de registro das codificações. Segundo Bardin (2011), o tema corresponde a uma unidade de recorte que diz respeito ao sentido e não a manifestações formais reguladas. A natureza das práticas não está sempre manifestada na compreensão ou na ação do sujeito e, como explica Reckwitz (2002), as práticas muitas vezes estão posicionadas no nexo do que se diz e do que se faz. Nesse sentido, a apropriação do tema como unidade pareceu mais próxima do aporte teórico da pesquisa e do objeto escolhido como campo empírico.

A categorização é o processo em que são criadas rubricas ou classes nas quais os recortes são agrupados. Essas categorias devem possuir um título genérico capaz de identificar aquele conjunto que ali foi reunido por algum critério (BARDIN, 2011). Em função do recorte adotado pela presente pesquisa ser o temático, o critério adotado para a configuração das categorias foi o semântico, que classifica as unidades por meio de seu significado.

Ainda em relação aos critérios para a criação de boas categorias, a autora recomenda alguns cuidados a saber: “a) a exclusão mútua; b) a homogeneidade; c) a pertinência; d) a objetividade e a fidelidade e e) a produtividade” (BARDIN, 2011, p. 150).

Segundo Vergara (2015), um dos passos da análise de conteúdo é a definição do tipo de grade para análise entre os tipos: fechada, aberta e mista. Na grade fechada definem-se de forma preliminar as categorias de análise e, durante a análise do material, os recortes são atribuídos às categorias predeterminadas. Já na utilização da grade aberta, identificam-se categorias de análise conforme os recortes são agrupados pelo pesquisador. Esse método também é conhecido como procedimento por acervo e o de grade fechada por procedimento por caixas (BARDIN, 2011).

Um terceiro processo é apresentado por Vergara (2015) como grade mista, que trata da definição preliminar das categorias, conforme objetivos da

pesquisa, entretanto, a inclusão de categorias que possam surgir durante o processo de análise é permitida.

O processo de categorização da presente pesquisa foi realizado em duas etapas, diferenciadas pela origem dos dados coletados. Em um primeiro momento, foram analisados os conteúdos das reportagens agrupadas como fonte de dados secundários. Com base na grade constituída pelo primeiro momento, foram iniciadas as análises dos dados primários coletados por meio das entrevistas realizadas com a técnica de grupo de foco.

A categorização é um processo que comporta duas etapas. A primeira trata do inventário que é um procedimento constituído pelo isolamento dos elementos. Já a segunda etapa é constituída pela classificação dos elementos isolados. Este trabalho de classificação trata da procura de uma organização das mensagens ou da imposição de critérios de organização (BARDIN, 2011).

Os processos que constituíram a análise das reportagens das revistas foram desenvolvidos em dois momentos de análise. Inicialmente, por meio da grade aberta na qual se objetivou inventariar categorias mediante a repetição de temas presentes nas reportagens das revistas.

Em um segundo momento, os códigos foram revistados por meio da grade mista na qual foram assumidos, como categorias de análise predeterminadas, os elementos das práticas (Figura 7, p. 87). Ressalta-se que os elementos das práticas foram assumidos como categorias de classificação e que as categorias resultantes da primeira análise poderiam ser concentradas na forma de subcategorias dos elementos das práticas ou formar novas categorias, representando os critérios da grade mista de análise.

Após essa primeira etapa, que envolveu as duas rodadas de categorização dos dados acessados nas reportagens das revistas, foram promovidas as análises dos dados coletados por meio dos grupos de foco. Essa sequência visou analisar o quanto dos resultados encontrados nas reportagens era

reproduzido na rotina dos entrevistados. Não se pretendeu realizar um processo de validação de resultados. Entretanto, buscou-se compreender quais os aspectos da prática da corrida de rua, retratados pela mídia especializada, estão presentes na rotina dos grupos de corredores investigados.

Nesse sentido, durante a categorização dos dados coletados por meio dos grupos de foco, foi mantida a mesma grade mista utilizada na segunda rodada de análise das reportagens. Essa escolha foi baseada nas considerações de Bardin (2011) sobre a maleabilidade dos índices e categorias diante de uma abordagem de pesquisa qualitativa. Nesse sentido, procurou-se evitar que um elemento da prática ou um aspecto sobre as rotinas das pessoas entrevistadas poderem ser negligenciados diante de uma postura diferente ao se aplicar o método.

O material coletado por meio das observações também foi analisado e utilizado como reforço durante a síntese dos resultados encontrados pela presente pesquisa. Os resultados pertinentes à trajetória das análises de conteúdo das fontes de dados utilizadas na presente pesquisa são descritos no próximo capítulo.

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