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4 METODOLOGIA

4.2 Procedimentos metodológicos

4.2.3 Grupos de foco

O grupo de foco como técnica de pesquisa visa coletar dados a partir de um tópico lançado pelo pesquisador para que seja discutido coletivamente. O papel do pesquisador é ativo na criação e na condução desse ambiente de discussão. Uma das recomendações de cuidado ao se conduzir grupos de foco é manter a discussão entre os participantes dentro dos interesses do pesquisador e sua aplicação pode ser realizada com grupos já existentes (MORGAN, 1996). A

técnica do grupo de foco foi proposta como forma de triangulação de dados não só entre técnicas quanti-qualitativas, mas dentro de técnicas qualitativas como entrevistas e observação (MORGAN; SPANISH, 1984).

Em considerações mais recentes sobre a técnica, foram realizadas recomendações sobre a análise das interações entre os participantes, uma vez que respostas em grupos focais são permeadas por diferentes contextos e reações de seus participantes. Ou seja, podem-se ter respostas rápidas com a concordância de todos os participantes ou, ao mesmo tempo, um único respondente pode demorar mais tempo ao responder uma determinada questão e a mesma resposta pode não ser muito bem aceita pelos demais participantes (MORGAN, 2010). Segundo Morgan (2012), essas interações devem ser narradas a fim de proporcionar melhor entendimento dos objetivos pesquisados ao utilizar-se dessa técnica.

Em complemento, os grupos de foco podem ser potencialmente frutíferos ao se tratar de práticas cotidianas, pois permitem que novos dados possam emergir principalmente em relação a significados, convenções e organizações sociais, bem como nas conexões, através das interseções das práticas (BROWNE, 2015). Browne (2015) argumenta ainda que o tipo de conversa promovido pela técnica acerca das práticas sociais e da vida cotidiana incentiva a curiosidade sobre os outros. Ainda segundo o autor, quando a abertura e o humor são promovidos, permitem aos participantes explorarem sobre as práticas uns dos outros o que desafia normas de realizações sociais e significados.

Foram conduzidos dez grupos de foco com corredores de rua no período entre novembro de 2015 e abril de 2016. Pretendeu-se com essa técnica detectar as práticas dos corredores de rua através da narrativa desenvolvida de forma coletiva dentro dos grupos. Foram seguidas as recomendações da técnica realizadas por Morgan (2010) e Browne (2015), que argumentam a favor de uma

incursão que permita uma conversa aberta e bem humorada a respeito dos tópicos lançados, buscando-se registrar a interação entre os participantes. Nesse sentido, optou-se por entrevistar os grupos de corridas já constituídos. Muitos corredores de rua se organizam em grupos de pessoas que são orientadas ou não por profissionais ligados à Educação Física e áreas afins.

Os grupos foram contactados por intermédio de seus professores ou por meio de um de seus integrantes durante a fase de observação da presente pesquisa. O pesquisador se identificou e deixou com um representante de cada grupo uma carta de apresentação esclarecendo os objetivos da pesquisa e os procedimentos acerca da realização da técnica. Uma data foi marcada e o pesquisador se dirigiu ao local de treino do grupo. Em acordo com os voluntários, procedeu-se à entrevista, sendo algumas antes e outras após o treinamento do dia. Uma exceção ao local da entrevista foi aberta para o grupo MA, que tem por hábito sair para o treino após deixar os filhos em uma determinada escola, local que foi adotado para a realização da entrevista.

Os grupos variaram em número de participantes e tiveram no mínimo quatro e no máximo de oito voluntários e as entrevistas tiveram duração média de 30 minutos. Sua caracterização pode ser visualizada no Quadro 5. Adotou-se como guia para condução dos grupos de foco um roteiro elaborado pelo autor (Apêndice A). O roteiro nem sempre foi conduzido na sequência disposta, uma vez que muitos dos entrevistados respondiam as questões ligando-as a outras provocações ordenadas no texto, permitindo ao pesquisadoroptar por dar segmento com o tópico relacionado para deixar a conversa mais fluida.

Quadro 5 - Caracterização dos grupos de foco. Grupo (n) Características

GTO (8 pessoas)

 Período de treino: Manhã  Grupo exclusivo de mulheres

 Corredoras iniciantes: a maioria treina há dois meses para conseguir disputar a primeira prova de 5 km

 Local de treino: Parque de Águas Claras – DF SRT 1

(7 pessoas)

 Período de treino: Manhã  Grupo exclusivo de mulheres

 Corredoras com pouca experiência: a maioria participou ou está prestes a participar da primeira prova de 5 km.

 Local de treino: Parque de Águas Claras – DF SRT 2

(4 pessoas)

MA (4 pessoas)

 Período de treino: Manhã

 Grupo de corredores que treinam sem supervisão profissional. O vínculo é a escola dos filhos.

 Corredoras com pouca experiência: todas participaram de provas de 5 km e buscam provas maiores.

 Local de treino: Parques e academias CP1

(4 pessoas)

 Período de treino: Manhã

 Corredores com experiência relevante: a maioria corre por qualidade de vida e as provas variam entre 10 km e a meia maratona.

 Local de treino Parque de Águas Claras – DF CP2

(5 pessoas) TM (7 pessoas)

 Período de treino: Manhã

 Corredores com experiência moderada: a maioria tentando correr a primeira meia maratona ou maratona.

 Local de treino: Parque da cidade – Plano Piloto MR1

(8 pessoas)

 Período de treino: Noite

 Corredores com ampla experiência: a maioria corre em outros estados ou em corridas fora do Brasil.

 As provas variam entre a meia maratona, maratona e corridas em trilhas e provas de revezamento.

 Local de treino: Bosque do Sudoeste MR2

(4 pessoas)

 Período de treino: Noite

 Corredores com ampla experiência: a maioria corre em outros estados ou em corridas fora do Brasil.

 As provas variam entre a meia maratona, maratona e corridas em trilhas e provas de revezamento.

 Local de treino: Parque da cidade – Plano Piloto MR3

(4 pessoas)

Fonte: Do autor (2016).

Os procedimentos de coleta de dados, bem como o projeto em que esta pesquisa se inclui foram submetidos e apreciados pelo Comitê de Ética em

Pesquisas com Seres Humanos (CEP) da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. A aprovação está arquivada sob o número CAAE 55505616.0.0000.0030. Os participantes foram devidamente informados sobre os objetivos da pesquisa, leram e preencheram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).

Nesse sentido, os entrevistados tomaram ciência da participação voluntária e de possíveis riscos na participação da pesquisa, como o desconforto ou o constrangimento ao responder e compartilhar informações pessoais ou confidenciais sob alguns tópicos que pudessem ser abordados. Os participantes também foram informados sobre a possibilidade de se recusarem a responder qualquer questão que lhes trouxesse algum constrangimento, bem como que poderiam desistir de participar da pesquisa em qualquer momento, sem nenhum prejuízo aos mesmos.

Por fim, os participantes assinaram um termo de autorização para a utilização de imagem e som de voz para fins de pesquisa. Todos os documentos serão arquivados e posteriormente destruídos após o período recomendado pelo CEP.

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