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Análise de Regressão da Sobrecarga com Variáveis

No documento Carga mental e ergonomia (páginas 104-110)

7 RESULTADOS DE CAMPO

7.5 Análise de Regressão da Sobrecarga com Variáveis

A análise da regressão da sobrecarga com os dados levantados através de questionário resultou nos gráficos abaixo. As regressões com as seguintes variáveis não são apresentadas tendo em vista não ter sido observada nenhuma correlação digna de nota, são elas: sobrecarga versus sexo dos sujeitos, estado civil, grau de instrução, dupla jornada e existência de precedentes médico ocupacionais. Note-se que nosso objetivo aqui não é elucidar de forma quantitativa estas relações, pois para isto, ter-se-ia que trabalhar com amostras estatisticamente confiáveis. Tem-se como objetivo demonstrar a possibilidade de estabelecer estas relações com a sobrecarga mensurada e sua importância no âmbito da análise ergonômica.

Figura 29 - Representação gráfica da regressão de dados sobrecarga versus idade dos sujeitos

Observa-se o interessante resultado de que com o aumento da idade ocorre a redução da sobrecarga sobre os indivíduos no serviço 102. É possível que devido ao fato de termos neste serviço uma população bastante jovem esse seja um fator de sobrecarga. Geralmente o trabalhador jovem está envolvido com estudos, família, outras atividades ao passo que um trabalhador de maior idade tem em tese menos preocupações. Esta correlação é válida para esta situação de trabalho e certamente mereceria maiores investigações. Por definição a ergonomia não trabalha com seleção de pessoal, mas certamente poder-se-ia pensar em mecanismos compensatórios para a sobrecarga nos mais jovens. Ou seja, a variável idade e possivelmente condições de vida ou aspectos sócio econômicos é um fator de peso para a otimização da carga. Note-se que esta relação tem forte identidade com o nível de realização dos indivíduos. Geralmente o sujeito com expectativas de vida mais promissoras tende a ter uma sobrecarga relacionada com as questões de realização profissional. Especialmente pelo fato de estar estudando muitas vezes numa formação que nada tem a ver com seu trabalho atual. Já os trabalhadores mais velhos não têm este fator de sobrecarga, possivelmente a própria vivência em outras situações de trabalho contribua para a redução da sobrecarga. Assim observamos os efeitos da regulação e da não regulação da Carga Mental. Esta

correlação mostra que os sujeitos com mais idade tem melhor condição de regular sua Carga Mental e os sujeitos mais novos tem esta condição prejudicada. Para elucidar melhor a questão teríamos de aprofundar a pesquisa neste ponto, mas parece claro que o fato da condição de vida mais definida dos mais velhos parece interferir. Interessante observar que esta relação é inversa no serviço de televendas onde os mais jovens têm sobrecarga maior que os mais velhos. Esta correlação abre um campo de pesquisas associado às questões do envelhecimento e o modo como a idade cronológica interfere na produção de sobrecarga.

7.5.2 Sobrecarga versus reclamações relacionadas ao meio ambiente de trabalho

Neste gráfico procuramos correlacionar a sobrecarga mensurada nos sujeitos com os pontos negativos apontados no questionário. A avaliação abrangia aspectos como ruído ambiental, conforto térmico, conforto visual e existência de reflexos incômodos. Cada sujeito assinalou uma certa quantidade de problemas relacionamos então o número de problemas ambientais apontados por cada sujeito com sua sobrecarga.

Assim pode-se observar claramente que quanto maior o número de problemas ambientais apontados, maior a sobrecarga. É uma questão difícil estabelecer se o sujeitos tem mais sobrecarga devido aos problemas ambientais ou se devido à sobrecarga, estes tem uma tendência a serem mais críticos em relação ao ambiente. Possivelmente os problemas relacionados ao ruído ambiental oriundo de conversações sejam um fator concreto de sobrecarga, isto pode ser afirmado a partir de um levantamento ergonômico já realizado. Provavelmente os itens relacionados à iluminação e especialmente temperatura estejam sendo alimentados pela sobrecarga mental oriunda da atividade.

7.5.3 Sobrecarga versus pontos de inadequação do Mobiliário

Neste gráfico relacionamos os pontos do mobiliário (incluindo equipamentos de informática) apontados como inadequados pelos sujeitos com sua sobrecarga.

Figura 31 - Representação gráfica da regressão entre sobrecarga versus pontos de desconforto no mobiliário.

Encontramos então um interessante resultado que é a inversão proporcional entre as duas grandezas observada apenas no serviço 102. Quanto maior o número de pontos inadequados no mobiliário, menor à sobrecarga. Essa aparente contradição pode ter várias hipóteses: uma pelo fato de termos trabalhado com uma população menor do que o universo total de pessoas na atividade.

Possivelmente, com mais pontos a tendência pudesse ser revertida, outra hipótese e de que a tendência seja essa mesma, ou seja: os problemas de mobiliário seriam um fator de distração em relação à sobrecarga. Nota-se que as questões relacionadas aos móveis, assumem grande importância nos locais de trabalho. Assim, existe a possibilidade dos sujeitos atribuírem ao mobiliário parte de sua sobrecarga e não aos fatores inerentes à atividade. Tentando esclarecer a questão construímos um segundo gráfico, relacionando a exigência física com os pontos de inadequação do mobiliário. Entretanto não houve alteração na tendência o que reforça a hipótese de que essa seja a tendência real. No serviço de Televendas observa-se que a tendência é diametralmente oposta. A relação dos sujeitos com o mobiliário, portanto é muito diferente em cada setor. Tem-se é claro de lembrar as questões relacionadas à confiabilidade amostral que se citou anteriormente. De qualquer maneira o que fica claro é a variabilidade de resultados possíveis entre duas variáveis e como numa mesma empresa e ambiente a organização e objetivos do trabalho podem mudar a percepção dos sujeitos em relação à variável.

7.5.4 Sobrecarga Versus Pontos de Desconforto Corporal

A Figura 32 relaciona a quantidades de pontos assinalados no mapa de conforto corporal assinalados pelos sujeitos em correlação com sua sobrecarga. A relação é clara: quanto maior número de pontos de desconforto maior a sobrecarga. Aqui também não se pode precisar se indivíduos sob sobrecarga têm tendência a sentir mais desconforto ou se o desconforto induzido pelas condições físicas do trabalho levam a uma maior sobrecarga. Provavelmente as duas situações ocorrem.

Figura 32 - Representação gráfica da sobrecarga versus pontos de desconforto corporal

7.5.5 Sobrecarga Versus Pontos Negativos no Aspecto Organizacional

Nossa última correlação explora a questão de inadequações organizacionais com a sobrecarga. Esta também é uma proporcionalidade direta, ou seja, ao aumentar os pontos organizacionais negativos há um aumento da sobrecarga. Assim fatores como remuneração, benefícios, entre outros tem uma influência na sobrecarga. Apesar do instrumento para esta avaliação ser bastante simples, essa relação ficou bem evidenciada nas entrevistas.

Figura 34 - Representação gráfica da sobrecarga versus pontos de inadequação organizacional

Concluindo esse tópico observamos que o instrumento de carga associado a um outro instrumento como um questionário produz correlações importantes para uma avaliação ergonômica. Este tipo de correlação certamente é importante para complementar e consolidar análises ergonômicas. Sua utilização ao longo do tempo pode mostrar as alterações nas relações diante de modificações implementadas. Como já se disse este tipo de investigação pode produzir conhecimentos de grande importância aos ergonomista. Viu-se que as pesquisas nesse campo em situação real ocorrem em pequeno número. É possível que a geração de uma grande massa de dados nessa área produza conhecimentos genéricos importantes.

No documento Carga mental e ergonomia (páginas 104-110)