• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 4 Atividades Desenvolvidas no Estágio

4.3. Análise de Risco

A análise de risco na concessão de créditos a empresas foi outra atividade desenvolvida com regularidade durante o período de estágio na Caixa de Crédito Agrícola Mútuo da Região do Fundão e Sabugal.

O risco de crédito é algo que está presente no quotidiano de qualquer entidade financeira. Nesse sentido o CCAM procede a análises cuidadas do risco de crédito, tendo em conta o negócio ou área de atividade em que a empresa cliente se insere.

A concessão de crédito traduz-se na disponibilização de um valor presente mediante uma promessa de pagamento desse mesmo valor no futuro, que pressupõe a confiança na solvabilidade do devedor, isto é, de que o mesmo irá honrar os seus compromissos nas datas acordadas previamente. Por outras palavras, o risco de crédito é o risco de perda em que se incorre quando há incapacidade de uma contrapartida numa operação de concessão de crédito. Este risco está intimamente relacionado com fatores internos e externos à empresa que podem prejudicar o pagamento do montante de crédito concedido.

Durante o período de estágio, foram elaboradas diversas análises a empresas. Neste contexto empresarial, os montantes de crédito são normalmente superiores aos dos particulares, sendo a análise do risco de crédito ainda mais aprofundada. A instituição, Caixa de Crédito Agrícola, avalia o risco de crédito com base numa ficha empresarial chamada de IES (Informação Empresarial Simplificada), concebida especialmente para empresas, que inclui informações relevantes como as demonstrações financeiras, os rácios financeiros, o historial de crédito, etc.

A análise de crédito a empresas consiste num cuidadoso processo, que exige atenção detalhada a diversos aspetos.

Consta no anexo II um exemplo de análise de risco realizada durante o período do estágio. Por motivos confidenciais a mesma terá o nome da empresa alterado e não serão apresentados quaisquer tipos de valores que sejam capazes de identificar a mesma.

4.3.1. Tipos de Informação a Obter do Cliente

Numa primeira abordagem com o cliente, a entidade deve procurar obter informações do cliente, tais como:

Nível de financiamento pretendido;

Modalidades e montante das informações previstas; Objetivos do crédito;

Detalhe sobre os produtos, mercados, clientes, fornecedores; aspetos operativos da catividade; número de empregados; descrição da estrutura de gestão, lista de gestores; informação empresarial simplificada (IES).

4.3.2. Garantias Bancárias

Quando alguém, particular ou empresa, solicita um determinado crédito, a mesma terá de apresentar determinadas garantias que permitam igualar o montante pedido à entidade bancária, de forma a esta ter alguma segurança na recuperação do capital emprestado. Entende-se por garantia bancária, um título em que o banco garante perante uma entidade oficial ou particular o compromisso de honrar as obrigações assumidas pelo mesmo, em caso de incumprimento. Este é um produto rentável para o banco, pois este, recebe comissões pela garantia do bom pagamento e só entra com o capital caso o ordenador falte ao compromisso estabelecido. As garantias fornecidas pela entidade podem ser reais ou pessoais, sendo as primeiras identificadas como aquelas que permitem ao credor o pagamento, em relação a outros credores, através do valor ou do rendimento de certos bens móveis ou imóveis do devedor ou de terceiro. As últimas são consideradas como aquelas em que uma pessoa, ou outras, sem ser o devedor, se responsabiliza pelo cumprimento das obrigações, com o seu património.

4.3.2.1. Garantias Reais

Hipoteca: Incide sobre imóveis, mas também sobre coisas móveis equiparadas, para efeitos de registos, como os automóveis, aeronaves e navios. Carateriza-se como um contrato bilateral, que permite o acerto entre o autor da hipoteca e o credor hipotecário. É a garantia real mais utilizada;

Penhor: É um direito real e distingue-se porque incide sobre coisas ou direitos, onde não se pode aplicar a hipoteca, tais como direitos de autor ou títulos de crédito, onde o credor para adquirir a posse, em nome próprio, necessita de interpor diversas ações possessórias;

Guilherme José Matos Fortuna || Relatório de Estágio

60

Caixa de Crédito Agrícola Mútuo da Região do Fundão e Sabugal

Consignação de rendimentos: É o pagamento de um crédito disponibilizado e respetivos juros, caucionados pela consignação de rendimentos de certos bens imóveis ou móveis sujeitos a registo, com um prazo de validade de 15 anos;

Direito de Retenção: É o direito de reter coisa alheia, estando o devedor obrigado certa coisa, sempre que esta não cumpra com as suas obrigações, a fim de pagamento do crédito, de despesa e pelos danos causados;

Privilégios creditórios: São conferidos por leu, concedidos em favor do credor, do pagamento preferencial em detrimento de outros, dependendo da sua natureza. Denota-se que não necessita de registo, e podem ser mobiliários ou imobiliários, caso abranja ou não todo o património do devedor.

4.3.2.2. Garantias Pessoais

Fiança: Obrigação de um determinado sujeito, fiador, assume perante um credor como forma de garantir o cumprimento das responsabilidades. Este apenas é responsabilizado em caso de incumprimento do devedor principal. A fiança implica que haja um segundo património, ou seja, o património do fiador, que juntamento com o do devedor principal vai responder em caso de incumprimento;

Aval: Ao contrário da fiança, o avalista é responsável apenas pelo valor de face do título, ou seja, pelo valor contratado, sem a incidência dos juros e encargos, em caso de atraso no pagamento;

Garantia Autónoma: Esta é prestada por uma instituição de crédito, geralmente um banco, que tem como propósito indemnizar alguém por delimitado montante, pela verificação de determinado evento, a que as partes tenham atribuído relevância num contrato celebrado entre elas.

A prestação de garantias é um elemento fundamental na concessão de crédito. Se não houvesse garantias, possivelmente muitos dos créditos em dívida não seriam recuperados.

4.3.3. Análise da Situação de Risco

Após se ter a respetiva informação do cliente e as suas garantias, segue-se a elaboração da análise de risco, tendo esta um caráter qualitativo e quantitativo.

A avaliação qualitativa de uma empresa passa pela análise de diversos fatores, nomeadamente ao nível da gestão, da indústria onde está integrada e da estratégia adotada. O estudo da gestão procura analisar o cumprimento das responsabilidades da empresa para com os seus financiadores, a gestão de recursos e a preocupação com o consumidor.

Existem rácios que auxiliam este estudo, como por exemplo o prazo médio de recebimentos/pagamentos, prazo médio de armazenagem, entre outros. A análise envolvente externa é muito importante, pois a mesma fornece informações acerca da atratividade do setor, isto é, examina se o mesmo está em crescimento, ou em decadência (risco bastante elevado).

Já ao nível da análise quantitativa, considerada a mais importante, avalia-se a tendência da empresa e a adequação das estratégias financeiras, permitindo apontar, qual a perspetiva num futuro próximo, do desempenho da empresa. Para o estudo da análise quantitativa, isto é, o estudo da parte financeira, recorre-se a informações fornecidas pela empresa, mais concretamente à informação contabilística, como os mapas contabilísticos (balanço, demonstração de resultados e demonstração dos fluxos de caixa) constantes da ficha de IES (Informação Empresarial Simplificada).

O balanço é composto por um ativo, que mostra onde a empresa aplicou os recursos, ou seja, os bens e direitos que possui, um passivo, que indica de onde vieram os recursos provenientes de terceiros, e um capital próprio, podendo ser este originário de capital colocado na empresa pelos sócios ou de lucro gerado pela empresa. No fundo, o balanço retrata a posição patrimonial da empresa em determinado momento, composto por bens, direitos e obrigações.

A demonstração de resultados evidencia registo de todos os proveitos e custos que têm ao longo do tempo. Com esta análise pode-se identificar o modo como o resultado se forma dentro da empresa e avaliar a sua capacidade para, através da sua atividade normal, gerar o lucro necessário à sua estabilidade futura.

De forma a poder relacionar-se valores dos dois mapas contabilísticos acima referidos, surgem os rácios e indicadores. Estes constituem um importante instrumento de apoio à análise e gestão de empresas, na medida em que permite sintetizar volumes abundantes de informações e estabelecer uma base de comparação do desempenho económico e financeiro das empresas e a evolução no tempo.

Inúmeros são os rácios e indicadores financeiros que se pode utilizar na análise de crédito, mas os mais utilizados durante o período de estágio foram:

Rendibilidade Financeira: Mede a eficácia com que as empresas utilizam os capitais pertencentes aos sócios ou acionistas;

Guilherme José Matos Fortuna || Relatório de Estágio

62

Caixa de Crédito Agrícola Mútuo da Região do Fundão e Sabugal

Liquidez Geral: Determina a capacidade da empresa para fazer face aos seus compromissos a curto prazo;

Autonomia Financeira: Evidencia a (in)dependência da empresa face a capitais alheios, dando apoio na análise do risco sobre a estrutura financeira de uma empresa; Endividamento: Traduz a proporção de capitais alheios em relação às aplicações totais, dando apoio na análise do risco sobre a estrutura financeira de uma empresa; Solvabilidade Geral: Determina a capacidade da empresa para esta fazer face aos

seus compromissos a médio longo prazo, refletindo o risco que os seus credores correm, através da comparação dos níveis de Capitais Próprios investidos pelos sócios ou acionistas, com os níveis de capitais alheios aplicados pelos credores;

Rotação de Existências: Determina o número de vezes que o stock “roda” em armazém durante o ano;

Prazo Médio de Recebimentos: Estuda o tempo (em meses ou em dias) demora a empresa, em média, a receber os créditos que concede aos seus clientes e outros devedores;

Prazo Médio de Pagamentos: Observa quanto tempo (em meses ou em dias) demora a empresa, em média, a pagar os créditos que obtém dos seus fornecedores e outros credores;

Prazo Médio de Armazenagem: Determina, em termos médios, o tempo (em meses ou em dias) que os inventários e ativos biológicos permanecem em armazém a partir do momento de entrada;

Valor Acrescentado Bruto: Resultado final da atividade produtiva no decurso de um período determinado. Resulta da diferença entre o valor da produção e o valor do consumo intermédio, originando excedentes.

Por último, a análise de cash flow é muito importante como ferramenta de análise de crédito. Como já foi dito o interesse do banco é saber se o cliente terá capacidade financeira para assegurar o seu compromisso assumido, ou seja, a CCAM pretende saber se o cliente terá dinheiro para assegurar o serviço da dívida. Para tal a entidade bancária recorre à situação de tesouraria da empresa, pois este é o elemento mais adequado para avaliar se o cliente terá dinheiro disponível nas datas certas, para honrar o seu compromisso.

De uma forma geral, pode dizer-se que é importante fazer a análise do cash flow em termos funcionais, de forma a identificar o modo como a empresa gera fundos e como os aplica.

Em suma, estes são os processos de análise de uma análise de risco. A análise financeira é muito importante, pois é através da mesma que se observa não só se uma determinada empresa está a operar, ou não, da melhor maneira, mas também a sua estrutura económico financeira, delimitando assim o risco associado na concessão de crédito. As análises de fatores externos, como a atratividade do setor, não deixam de ser importantes, pois é sempre aconselhável saber-se se o mesmo está em decadência ou em crescimento, com o intuito de saber se é rentável ou não aceitar a proposta de crédito desejada.

Documentos relacionados