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Revisão Bibliográfica

2.3.1 – ANÁLISE DE VALOR – A

A Análise de Valor – AV é uma ferramenta pouco praticada no Brasil mas largamente empregada no exterior, especialmente na Europa e Estados Unidos. Assim, será dedicada atenção a este conceito de trabalho.

Com base em DUCHAMP (1988, p.16), “a Análise de Valor é uma metodologia de gestão criada nos anos 40 pelo americano Lawrence Miles. Aplicada inicialmente pelo departamento de desenvolvimento de produto da General Eletric, consiste em decompor um produto ou serviço nas suas funções principais e, em seguida, delinear as soluções organizacionais mais apropriadas para reduzir os custos de produção. Implica uma análise detalhada do valor criado pela empresa através da distribuição dos custos totais de um produto ou serviço pelas suas diferentes etapas: concepção; fabrico; venda; distribuição e serviço aos clientes. Este conceito deu origem às noções de cadeia de valor, de valor acrescentado ao produto ou serviço e de shareholder value (valor para o acionista) cuja autoria pertence a Alfred Rappaport. O mesmo autor afirma que para uma maior compreensão da Análise de Valor o profissional deverá inteira-se de três fundamentos: noção de função; noção de valor e noção de trabalho em equipe.”

Segundo o professor André Ambrósio (VANZOLINE, 2003), “para o industrial o produto de maior Valor será aquele que respondendo à satisfação desejada pelo utilizador, tenha o custo mais reduzido. A Engenharia e Análise de Valor é um método de trabalho de equipe que estimula a criatividade das pessoas e refina a capacidade

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O conceito tem por base o valor, que reflete a relação satisfação (de um serviço, um procedimento, um processo, etc.) e os recursos necessários para a sua execução. Para melhor entendimento, segundo o CEV – Consultores em Engenharia de Valor (2002), faz-se necessário a descrição de 3 conceitos básicos inerentes à AV: necessidade; função e valor.

“Por Necessidade, entende-se "o que é necessário ou desejado pelo utilizador". A necessidade pode estar explícita ou implícita; pode existir ou ser potencial. A necessidade aqui definida diz respeito à natureza das expectativas do utilizador e não ao volume do mercado. Por utilizador, entende-se um indivíduo, uma coletividade, uma empresa, uma administração, um serviço de uma empresa ou de uma administração.

Por Função, entende-se a "ação de um produto ou de um dos seus constituintes". Todo o método assenta no conceito de função. Ao caracterizar um produto pelas funções que ele desempenha procuramos representar o que é que o produto faz e não aquilo que é. Queremos saber para que serve, como responde às necessidades do utilizador. A função é o efeito ou ação de um produto que responde a uma necessidade. Assim, a necessidade é expressa, independentemente de soluções, deixando em aberto o campo da inovação.

Por Valor, entende-se a "relação entre a contribuição da função (ou do sujeito AV) para a satisfação da necessidade e o custo da função (ou do sujeito AV)", ou seja: O termo Valor é igualmente utilizado quando são considerados outros elementos que não o custo, como fiabilidade, peso, disponibilidade e o prazo de entrega. O conceito de Valor está, assim, intimamente ligado à satisfação de necessidades. (...) Para o utilizador, o Valor de um produto vai ser medido pelo desvio entre o nível de satisfação encontrado e o nível de satisfação esperada. Para o industrial o produto de maior Valor será aquele que respondendo à satisfação desejada pelo utilizador, tenha o custo mais reduzido.”

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Ainda pelo CEV (2002), a metodologia da AV caracteriza-se por:

• uma procura funcional para formular o problema em termos de finalidade e não em termos de soluções;

• a procura funcional requer uma utilização formalizada da Análise Funcional AF (será apresentado a seguir):

° afim de definir claramente as necessidades das funções; ° afim de organizar a fase criativa;

° afim de proceder a uma revisão crítica das soluções e das técnicas.

• uma procura econômica tendo em conta os aspectos econômicos dos problemas; • uma constituição de um grupo multidisciplinar cujas características essenciais são:

° favorecer a resolução de problemas;

° distribuir as responsabilidades para aqueles com melhor aptidão;

° obter consenso do trabalho da equipe sobre as funções, as performances (desempenho), os princípios, as soluções e os custos;

° favorecer a criatividade, melhorar qualitativamente e quantitativamente as informações disponíveis;

° possuir elementos que tenham a competência necessária para estimar os custos sobre a base das informações disponíveis em cada fase;

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73 Condições para aplicação da AV

Torna-se necessário que aborde 4 elementos na implementação de um estudo de AV (gestão; fator humano; meio envolvente e método):

• gestão – é fundamental que a gestão esteja envolvida e empenhada no projeto, e assegurar que o projeto em causa se identifica com a estratégia global da empresa ou organização;

• fator humano – constitui parte determinante no sucesso de um projeto. São 3 os elementos numa ação de AV:

° os participantes no grupo de trabalho, devem ser pessoas que:

− revelem espirito criativo, receptivas a idéias novas;

− tenham sentido de cooperação para envolver-se em um grupo de trabalho;

− mostrem capacidade de escutar uns aos outros;

− tenham tempo para participar e estejam prontas a dar todas as informações de que disponham;

− estejam abertos a abandonar idéias preconcebidas;

− sejam precursores de idéias novas, encorajando a inovação e promovendo uma atmosfera de criatividade.

° grupo de trabalho como um todo – a equipa é um grupo temporário, que se constitui em função do objeto de estudo:

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Papel do animador:

− tarefas de coordenação e administrativas; − tarefas de natureza técnica;

− tarefas de condução de grupos e de relações humanas.

Personalidade do animador:

− espírito de síntese, vivacidade, objetividade; − sentido de organização;

− bom senso e maturidade; − capacidade criativa;

− capacidade de condução de grupos; − autoridade natural e dinamismo; − espírito desinteressado.

Experiência e qualificações:

− conhecimentos de Análise do Valor; − experiência industrial;

− conhecimento técnico dos produtos estudados; − experiência na condução de grupos;

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° contexto interno – deverá considerar a influência de cada integrante:

− organização; − cultura; − hábitos; − etc.

° contexto externo – deverá considerar a influência dos fatores externos:

− clientes; − fornecedores;

− constrangimentos legais e regulamentares; − componente ecológica;

− evolução tecnológica.

• método – marcado por um plano de trabalho bem definido, onde estão indicados os atores de cada uma das fases e a distribuição de responsabilidade ao longo de todo o processo.

Para o CEV (2002) são 8 os passos do método da AV, que são:

• orientação e preparação; • pesquisa de informação; • análise funcional; • procura de idéias; • avaliação das soluções;

• desenvolvimento das propostas; • apresentação das propostas; • implementação.

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Entretanto, com base em BAXTER (2000), a análise de valores procura aumentar o valor relativo (em relação ao preço) das peças e componentes e do produto como um todo, sem comprometer as suas funções, baseando-se nas seguintes etapas:

• identificar as funções de um produto; • estabelecer valores para essas funções;

• procurar realizar essas funções ao mínimo custo, sem perda da qualidade.

Afim de compatibilizar os métodos da AV propostos por BAXTER (2000) e pelo CEV (2002), foi desenvolvida pelo autor uma tabela (Tabela, 2.6).

Com base em BAXTER (2000) Com base no CEV (2002)

Orientação e preparação Identificar as funções de um produto

Pesquisa de informação Análise funcional Procura de idéias Estabelecer valores para essas funções

Avaliação das soluções

Desenvolvimento das propostas Apresentação das propostas Procurar realizar essas funções ao mínimo

custo, sem perda da qualidade

Implementação

Tabela 2.6 – Gráfico desenvolvido pelo autor para melhor visualização de 2 metodologias propostas pelas bibliografia. Procurou-se simplificar, no gráfico seguinte, as 8 etapas do CEV nas

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As funções de um produto, de acordo com BAXTER (2000), classificam-se em:

• principal; • básica; • secundária; • uso;

• estima.

Tomando a proposta de BAXTER para o método de AV, pode-se descrevê-la nas seguintes fases: