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ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Esta pesquisa buscou investigar se as avós são influentes nas escolhas das filhas/noras quanto ao tipo de parto. Baseado nos dados coletados, pudemos confirmar que as avós não influenciam na escolha do tipo de parto, como fazem na tomada de algumas outras decisões das filhas/noras, como por exemplo, no aleitamento materno (ANDRADE; TADDEI, 2002). Apresentaremos e discutiremos este e outros resultados a seguir:

Caracterização da amostra:

Foram entrevistadas 40 puérperas e suas respectivas mães/sogras que estavam internadas na maternidade de um hospital público do DF.

A síntese dos dados de caracterização da população estudada está apresentadas na tabela 1, a seguir:

Tabela 1- Dados referentes à caracterização de puérperas internadas na maternidade de um hospital público do DF e suas respectivas mães/sogras.

Variáveis N % Local de residência Gama 12 30 Santa Maria 2 5 Luziania 6 15 Céu Azul 5 12,5 Lago Azul 5 12,5 Novo Gama 6 15 Cristalina 3 7,5 Lunabel 1 2,5

Idade das puérperas

18 – 24 anos 26 65 25 – 35 anos 14 35 > de 35 anos 0 0

Idade das avós

30 – 45 anos 13 32,5 46 – 60 anos 24 60 > 60 anos 3 7,5

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Analisando a tabela 1, é possível observar que 30% das puérperas moram no Gama, 15% moram em Luziânia, 15% no Novo Gama, 12,5% moram no Céu Azul, 12,5% moram no Lago Azul, 7,5% em Cristalina, 5% em Santa Maria e 2,5% no Lunabel.

Ainda na tabela 1 podemos observar que 65% das puérperas tinham entre 18 e 24 anos, 35% tinham entre 25 e 30 anos e nenhuma puérpera tinha mais de 35 anos. Os dados refletem que a maior parte das puérperas tinha entre 18 e 24 anos, refletindo ainda as gravidezes precoces, isto levando em consideração que excluímos as menores de 18 anos, fato este que aumentaria ainda mais a amostra neste grupo.

Este dado é compatível com outras pesquisas, que mostram que a incidência de gravidez na adolescência vem aumentando significativamente no Brasil. Observa-se que, apesar do declínio das taxas de fecundidade desde o início dos anos 70, é cada vez maior a proporção de partos entre as adolescentes em comparação com o total de partos realizados no País. Segundo dados estatísticos do SUS relativo a 2000, dos 2,5 milhões de partos realizados nos hospitais públicos do país, 689 mil eram de mães adolescentes com menos de 19 anos de idade (DADOORIAN, 2003).

Na tabela 1 visualiza-se que 60% das avós tinham entre 46 e 60 anos, 32,5% tinham entre 30 e 45 anos e 7,5% tinham mais de 60 anos.

A maior parte das avós tinha entre 46 e 60 anos o que reflete a nova cara da avosidade, cada vez mais precoce, tornando mulheres jovens em avós. Muitas vezes a história se repete, a mãe adolescente tende a ter filha que também se torna mãe adolescente, fazendo assim com que tenhamos avós tão jovens. Este é um dado transgeracional, que se confirmou também em nossa pesquisa, pois um fator relevante para a gravidez na adolescência é a história familiar: a adolescente que engravida hoje é muitas vezes filha de adolescentes que engravidaram ou têm outra na família uma tia, uma irmã ou uma vizinha (MOREIRA et al, 2008).

7.1- Questionários Puérperas

Apresentaremos em primeiro lugar, os dados obtidos referentes às puérperas, agrupando-os em 02 eixos-temáticos, a saber: Gestação e pré-

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natal; vivência e avaliação da satisfação com o parto realizado. Posteriormente, serão apresentados e discutidos os dados provenientes dos questionários avós, que também foram agrupados em 2 eixos-temáticos: gestações e partos das avós; desejo das avós quanto ao parto de suas filhas/noras.

7.1.1- Gestação e pré-natal

Este primeiro eixo-temático, refere-se às respostas dadas às questões 1, 2, 3, 4 e 5 que abordaram o pré-natal e a preferência pelo tipo de parto. Na tabela 2, abaixo, pode-se visualizar estes dados:

Tabela 2- Dados referentes à gestação e pré-natal de puérperas internadas na maternidade de um hospital público do DF.

Variáveis n %

Gestantes que realizaram o pré-natal

Mais que 6 consultas 26 65 Menos que 6 consultas 14 35 Não realizaram 0 0

Gestantes que durante o pré-natal foram orientadas quanto aos tipos de parto

Foram orientadas 23 57,5 Não foram orientadas 15 37,5 Foram orientadas superficialmente 2 5

Gestantes que já tinham preferência por algum tipo de parto na gestação

Já estava decidida 26 65 Não tinha a menor ideia 5 12,5 Tinha alguma preferência 9 22,5

Fonte: dos autores, 2012.

Observando a tabela 2, acima, visualiza-se que 64% das gestantes realizaram mais que 6 consultas pré-natais, conforme recomenda o Ministério da Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1988), que preconiza, no mínimo, seis consultas pré-natais para uma gestação a termo, em gestantes sem fatores de riscos detectados, com início precoce, até o quarto mês de gestação. O intervalo entre duas consultas não deve ultrapassar oito semanas. Porém visto

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que o número mínimo de consultas, ainda é um número pequeno, seria esperado que maior parte destas gestantes tivessem realizado esse mínimo de consultas.

Mesmo com o grande trabalho do ministério da saúde em facilitar o acesso ao pré-natal, muitas gestantes ainda não o fazem. Muitas não têm dinheiro para ir às consultas, ou trabalham e não são dispensadas para o pré- natal, ou ainda não há postos de saúde próximos à sua casa ou trabalho. Outras acreditam que já sabem tudo o que é abordado no pré-natal, e muitas vezes acabam não frequentando regularmente as consultas. Outras tantas, acreditam que nada pode acontecer durante sua gravidez, que tudo está bem com ela e seu bebê, por isso não precisam de acompanhamento.

Ainda na tabela 2, observa-se que 58% das gestantes foram orientadas quanto aos tipos de parto durante o pré-natal. Mesmo que este dado pareça ser significativo, por estar presente nas respostas de mais da metade das entrevistadas, elas relataram terem sido orientadas apenas quanto a dois tipos de parto existentes: parto cesáreo e parto normal, durante palestras do pré- natal e não receberam maiores explicações sobre as diversas possibilidades de posições para realização do parto vaginal e manobras para alívio de dor: “No pré-natal fui orientada somente quanto aos tipos de parto normal e cesáreo” (AJBL, 21 anos).

Portanto, acreditamos que não foram adequadamente sensibilizadas para este tipo de parto, na rede pública de saúde. Para que a mulher seja capaz de exercer sua autonomia na escolha do tipo de parto, ela necessita primeiramente conhecer os tipos de parto existentes, essa informação deve ser completa e dada pelo profissional de saúde durante o pré-natal ou pré-parto.

De acordo com Serruya (2004), no Brasil, o cuidado à mulher no pré-natal e parto continua sendo um desafio para a assistência, tanto no que se refere à qualidade propriamente dita, quanto aos princípios filosóficos do cuidado, ainda centrado em um modelo medicalizado e biomédico. A assistência ao pré-natal caracteriza-se pelo cuidado à gestante, e muitas vezes esse cuidado não

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acontece, principalmente porque muitas vezes os profissionais da saúde consideram somente o corpo grávido a ser cuidado.

Tsunechiro (2002) complementa esta ideia afirmando que quando a assistência pré-natal proporciona, além do controle biológico, continente ou chão seguro para a mulher e sua família, constitui-se em fator de coesão importante, pois viabiliza o cuidado obstétrico humanizado e integral, podendo tornar-se um eficiente fator de redução da morbi-mortalidade materna e pré- natal e transformar a realidade vivenciada pelas mulheres durante o período da gravidez.

A tabela 2 também mostra que 65% das puérperas durante a gestação já estavam decididas quanto ao tipo de parto desejado, 22,5% tinham alguma preferência e 12,5% eram indiferentes. A mulher deve ser a protagonista no momento do parto, ninguém melhor que ela e seu corpo para saber qual o tipo ou posição de parto é o melhor para ela, salvo as situações de emergência que cabe ao profissional médico a decisão quanto à via de parto necessária.

A autonomia da mulher no momento do parto está vinculada à sua inclusão na decisão sobre a via de parto. Isso ocorre à medida que o diálogo entre o profissional de saúde e parturiente garanta maiores benefícios na assistência, que depende de relações simétricas e não coercitivas entre as partes (DINIZ, 2001). Quando isso não acontece, o risco de frustração em um momento único da vida de uma mulher, é muito grande, como podemos visualizar no trecho de uma participante: “Desde a gestação já estava decidida a ter parto normal, tive parto cesáreo e fiquei decepcionada, sofri muito” (LBS, 21 anos).

O gráfico abaixo apresenta os dados referentes ao tipo de parto que as puérperas gostariam de ter tido:

54 Vaginal com episiotomia Vaginal sem muitas intervenções (humanizado) Parto de cócoras Parto na água Cesáreo

O gráfico 1 ilustra que 42,5% gostariam de ter tido parto normal sem muitas intervenções (parto humanizado), 30% gostariam de ter tido parto normal com episiotomia, 22,5% referiram ter preferência pelo parto cesáreo, 2,5% prefeririam ter parto de cócoras e 2,5% gostariam de ter tido parto na água.

O desejo pelo parto normal humanizado vem crescendo a cada dia, isto é um reflexo das várias medidas adotadas pelo ministério da saúde, como por exemplo, a Rede Cegonha que assegura o direito de acesso de todas as mulheres a uma assistência humanizada a gestação, parto e saúde da criança. O projeto rede cegonha foi instituído pela Portaria Nº 1.459 de 24 de junho de 2011, visando diminuir as taxas de mortalidade materna que ainda são altas no Brasil (BRASIL, 2011).

O parto normal com episiotomia, rotineiramente, ainda é amplamente realizado na rede pública de saúde. Dentre as mulheres que participaram da nossa pesquisa e realizaram parto normal, muitas referiram ter tido este tipo de parto, e muitas o desejam por acreditarem que se não fosse feito parto vaginal com episiotomia haveria grandes lacerações, mutilando assim sua genitália, ou que o bebê demoraria mais para nascer.

Nossos dados reafirmam a constatação de Sarmento e Setubal (2003) de que o parto é um período curto em tempo, longo em vivências e expectativas.

Gráfico 1- Tipo de parto que gostaria de ter tido

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Assim como as mulheres pesquisadas por eles, as nossas também temem a dor e não poder suportá-la, além do medo da morte e de ser dilacerada na passagem do bebê, destruindo sua feminilidade.

Já o parto cesáreo não deveria nem ser considerado como opção, mas servir de solução apenas quando o parto vaginal não fosse possível. Este tipo de parto deve ser realizado com indicação médica em situações de emergência. Seria uma alternativa médica usada em situações em que as condições materno-fetais não favorecem o parto vaginal. Apesar do reconhecimento da contribuição dessa intervenção para uma melhor assistência à saúde e da segurança da cesárea moderna, é importante que sua indicação seja criteriosa, pois não é um procedimento inócuo e pode trazer riscos adicionais para a mãe e a criança (RAMOS, 2003).

Nos surpreendeu encontrar entre as entrevistadas o desejo de ter parto na água, mesmo que em um percentual pequeno. Essa possibilidade não era nem cogitada há alguns anos atrás, sobretudo em uma população de baixa renda. Porém, com o crescente número de personalidades famosas que realizaram parto normal na água, muitas mulheres passaram a desejar este tipo de parto, visto que parto normal era visto como “coisa de pobre”, de quem não tinha escolha ou possibilidade de pagar por uma cesárea, e após estas famosas realizarem, passou a ser “chique” e desejado.

A humanização da assistência ao parto inclui respeitar a individualidade da parturiente, saber ver e escutar suas necessidades e adequar a assistência segundo a cultura, às crenças e os valores das mulheres (RATTNER, 1997). Humanização da assistência nos pareceu ser uma realidade ainda distante no hospital público onde realizamos esta pesquisa, porém um passo já foi dado com a recente inauguração do novo Centro Obstétrico, que agora possui individualização dos leitos, onde os mesmos agora são PPP (pré-parto, parto e puerpério) e as pacientes podem receber acompanhantes do sexo feminino, fatos estes que não aconteciam no antigo Centro Obstétrico.

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Sim, totalmente Sim, ela deu palpite Não, a decisão foi minha

O gráfico 2 mostra que 72,5% relataram que não tiveram a influência da mãe na escolha do tipo de parto, 20% disseram que a mãe deu palpite quanto ao melhor tipo de parto para a filha e 7,5% referiram que a mãe influenciou totalmente em sua decisão quanto ao tipo de parto.

Com esses dados podemos supor que as avós pouco influenciam na escolha do tipo de parto de suas filhas/noras. Chama nossa atenção que as avós já não exercem mais o papel de conselheiras que exerciam antigamente, agora são esquecidas e não emitem opinião sobre o tipo de parto que julga ser o melhor para a filha, apesar de muitas vezes o ter vivenciado, como veremos no próximo eixo-temático. Na nossa amostra não encontramos o que Lopes et al (2010), julgam ser a oportunidade rever a relação mãe e filha, pois para eles é durante o nascimento de seus filhos que a mãe tende a se aproximar de sua própria mãe, e ter uma relação com emoções mais positivas.

7.1.2- Vivência do Parto

Este segundo eixo-temático, refere-se às respostas dadas às questões 6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12 que abordaram a vivência e satisfação com o parto realizado. Na tabela 3, abaixo, pode-se visualizar estes dados:

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Tabela 3- Dados referentes à vivência do parto de puérperas internadas na maternidade de um hospital público do DF.

Variáveis n %

Tipo de parto realizado na gestação atual

Vaginal (litotômica) 14 35 Vaginal (vertical-cócoras, sentada) 1 2,5 Cesáreo 25 62,5 Outro 0 0

Vivência do parto realizado

Boa 21 52,5 Ruim 15 37,5 Indiferente 4 10

Parto realizado satisfez o desejo

Da parturiente 8 20 Da mãe 1 2,5 Decisão do médico 31 77,5

Fonte: dos autores, 2012.

Na tabela 3, observa-se que 62,5% realizaram parto cesáreo na gestação atual, 35% realizaram parto vaginal (litotômico), 2,5% disseram ter realizado parto vaginal de cócoras ou sentada, nenhuma puérpera referiu algum outro tipo de parto. Os dados coletados mostram uma realidade divergente da desejada pelas gestantes: a maioria das puérperas desejaram parto normal e tiveram parto cesáreo, exatamente o oposto do que esperavam.

Porém, devemos esclarecer que nesta maternidade somente as mulheres que realizaram parto cesáreo tem direito a acompanhante de sexo feminino, fato este que influencia a nossa pesquisa, visto que somente incluímos puérperas que tinham a mãe ou sogra presentes no momento da entrevista. Portanto, a maior parte de nossas entrevistadas eram puérperas que

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realizaram parto cesáreo, porque mesmo a pesquisa tendo sido realizada no horário de visitas, era mais comum encontrar avós que estavam acompanhando e não visitando estas puérperas.

Então cabe ressaltar, que esses resultados não significam que a maior parte dos partos nesta maternidade são cesáreos, nem mesmo que não são, visto que investigamos apenas esta parcela de puérperas.

Na atual realidade brasileira, observa-se o incremento nos índices de cesariana na ordem de 2% ao ano, que totalizam uma média de 52,34% de partos por via alta, sendo o percentual mais baixo encontrado no Estado do Acre, com 32,73% e o mais alto no Estado de Rondônia com 64,07%) (Ministério da Saúde, 2010). A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2010), afirma que nada justificaria índices de cesarianas superiores a 10%-15%. Essa recomendação da OMS definindo a taxa ideal de parto cesáreo para o mundo, limites referenciados até os dias atuais.

Os modelos de assistência ao parto e a realização de cesáreas são debatidos desde a década de 1980. A complexidade dos fatores que cercam o parto e sua assistência têm suscitado questionamentos envolvendo desde a qualidade da atenção obstétrica até o significado da parturição para as mulheres.

Segundo a OMS (2010), o objetivo da assistência ao parto é manter mulheres e recém-nascidos sadios, com o mínimo de intervenções médicas, buscando garantir a segurança de ambos. Dessa maneira, a OMS recomenda que o profissional de saúde intervenha no nascimento de uma criança somente quando necessário. Apesar dessa recomendação, a incidência do parto cesáreo está aumentando em diversos países, o que motiva muitos estudos internacionais e nacionais.

No final da década de 1970 e princípio da seguinte, teve início uma colaboração internacional para avaliar a assistência ao parto, e em 1985 esse grupo realizou a "Conferência sobre Tecnologia Apropriada para o Parto", coordenada pela OMS (2010). Esse encontro foi um marco na saúde pública e na defesa de direitos das mulheres, da mesma forma que a Carta de Fortaleza,

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texto produzido nesse evento e que buscou inspirar ações de mudança na organização e no modelo da assistência obstétrica. O documento recomendava, por exemplo, a participação das mulheres no desenho e na avaliação dos programas, a liberdade de escolha materna da melhor posição para o nascimento, a presença de acompanhantes no trabalho de parto e parto e o fim de certos procedimentos médicos durante o trabalho de parto (como o uso rotineiro da episiotomia e da indução medicamentosa do parto).

A partir dessa conferência, ao argumentar que as menores taxas de mortalidade perinatal correspondem aos países que mantêm índice de cesárea abaixo de 10%- 15%. Portanto, a realidade do parto e nascimento no Brasil demonstra um crescente índice de intervenções desnecessárias e ressalta a urgente necessidade de adoção de práticas mais humanizadas e demonstradamente úteis que devem ser estimuladas, entre elas: Respeito à escolha da mãe sobre o local e o tipo do parto; fornecimento de assistência obstétrica no nível mais periférico onde o parto for viável e seguro e onde a mulher se sentir segura e confiante; fornecimento às mulheres sobre todas as informações e explicações que desejarem; monitoramento do bem-estar físico e emocional da mulher durante trabalho e parto e ao término do processo de nascimento; métodos não invasivos e não farmacológicos de alívio da dor, como massagem e técnicas de relaxamento, durante o trabalho de parto; liberdade de posição e movimento durante o trabalho de parto; estímulo a posições não supinas durante o trabalho de parto, entre outras. Nossos dados mostram que poucas destas recomendações foram observadas na nossa amostra.

Ainda na tabela 3, observa-se que 52,5% disseram ter sido bom vivenciar o parto realizado, 37,5% referiram ter sido ruim vivenciar este parto e 10% disseram ter sido indiferente, como podemos visualizar nas falas abaixo:

“Foi muito bom ter tido parto normal porque a recuperação é muito rápida” (MGS, 24 anos).

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Portanto, apesar da maioria das puérperas não terem tido o parto normal que desejavam, como vimos no tópico 2.2 acima, mais da metade das entrevistadas afirmaram que ficaram satisfeitas com o tipo de parto que acabaram tendo, ainda que apenas 20% dessas afirmaram que tiveram o parto que desejaram realizado. Cabe ressaltar que mesmo aquelas que não tiveram o parto desejado realizado, referiram satisfação.

Ainda na tabela 3, observa-se que 77,5% tiveram o parto realizado conforme a decisão ou desejo do médico, 20% disseram ter tido o parto que foi desejado por elas mesmas e 2,5% disseram ter tido o parto que foi desejado por sua mãe, como pode ser constatado nos trechos a seguir:

“O médico teve que decidir fazer o parto cesáreo porque minha placenta descolou e meu bebê estava em risco”(MJ, 34 anos).

“Minha pressão começou a aumentar muito, então o médico resolveu fazer a cesárea” (SMS, 33 anos).

“Tive parto normal como desejei e apesar de ter sentido muita dor foi gratificante” (CLC, 34 anos).

Cabe ressaltar que, mesmo os 20% das que tiveram o parto desejado realizado, foi por simples coincidência, visto que nenhuma delas foi questionada sobre qual tipo de parto desejava ter.

Portanto, pudemos perceber que as gestantes pouco participaram do processo de escolha do tipo de parto, ao mesmo tempo que os médicos participam completamente, deixando de questionar as parturientes quanto ao seu desejo em relação ao parto.

A grávida não tem certeza de nada, não sabe como será sua gestação, se necessitará de repouso, como ficará sua vida conjugal. O mesmo ocorre com relação ao parto, não sabe quando acontecerá, se irá antecipar ou atrasar, qual será a via de parto: cesárea ou vaginal, como será o concepto, necessitará de cuidados especiais ou não. E essa ambivalência dura até o puerpério, com as dúvidas e os medos inerentes a este momento (BORTOLETTI et al, 2007).

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Apesar da dúvida e da incerteza inerentes ao processo de gestação e parturição, elas têm desejos, fantasias, medos que precisam ser ouvidos e trabalhados, por toda a equipe obstétrica, para que a gestação, e sobretudo o momento do trabalho de parto e parto, não fiquem guardados em suas lembranças como sinônimos de frustração, de trauma ou de fracasso. Até porque, alguns autores como Havey (2002) correlacionam parto traumático ou que tenha envolvido intervenção médica com um maior risco de surgimento da depressão pós-parto.

Oliveira et al (2002) acreditam que a autonomia da mulher durante o parto está ligada ao seu poder de decidir qual a melhor via para parir, isso ocorre por causa das informações baseadas em evidências científicas que as ajudará a

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