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Análise do contexto regulatório nacional

eléctrico térmico

4. Funcionamento em cargas parciais

2.3 Situação Nacional

2.3.3 Análise do contexto regulatório nacional

Infelizmente, verifica-se que a actividade de Cogeração no nosso país se encontra imersa num contexto regulatório extenso, disperso e complexo, o que se traduz numa das maiores barreiras para novos investidores em projectos deste tipo. Esta complexidade abrange diversas áreas, tais como o enquadramento jurídico, as normas técnicas, a remuneração, a interligação à rede pública, o comércio de emissões (quando aplicável), a legislação ambiental, entre outras.

No que se segue realiza-se um levantamento dos diplomas legais que enquadram esta actividade, em Portugal, com especial destaque para os que se consideram mais relevantes. O Decreto-Lei 68/2002 e a Portaria 764/2002 serão abordados com mais pormenor, uma vez que a instalação que será alvo de estudo prático foi licenciada ao abrigo dos mesmos.

Considera-se que este levantamento possui grande pertinência, pela sua utilidade para potenciais investidores em projectos de Cogeração, uma vez que é uma informação muito extensa e que se encontra extraordinariamente dispersa, tornando-se pouco acessível.

Serviços de Energia Aplicados à Cogeração I 5�5� 2.3.3.1 Enquadramento jurídico

• Decreto-Lei 538/1999 - regulamenta a actividade de Cogeração, destacando-se as que se apresentam de seguida. [60] [61]

i) Alteração do tarifário aplicável ao fornecimento, para a rede do SEP, da energia eléctrica produzida em instalações de Cogeração, estabelecendo-se os princípios necessários à internalização dos benefícios ambientais inerentes;

ii) Alargamento das situações em que é autorizado o fornecimento de energia eléctrica produzida a terceiros;

iii) Alteração da metodologia de definição do ponto de interligação das instalações de Cogeração à rede;

iv) Alteração das regras para a definição da potência máxima de ligação das instalações de Cogeração à rede;

v) Estabelecimento de algumas condições que a instalação deve verificar:

1. REE ≥ 0,55, para instalações que utilizem gás natural, gases de petróleo liquefeitos ou combustíveis líquidos, com excepção do fuelóleo;

2. REE ≥ 0,50, para instalações que utilizem fuelóleo, isoladamente ou em simultâneo com combustíveis residuais;

3. REE ≥ 0,45, para as instalações que utilizem biomassa ou combustíveis residuais, isoladamente ou em conjunto com um combustível de apoio, em percentagem não superior a 20%, em média, anualmente;

4. não fornecer anualmente à rede uma quantidade de energia eléctrica superior ao valor

dado pela expressão , em que E representa a

energia eléctrica produzida anualmente pelo Cogerador, excluindo consumos dos sistemas auxiliares, e T é a energia térmica útil consumida anualmente, a partir da energia térmica produzida, excluindo os consumos dos sistemas auxiliares; 5. ter uma potência eléctrica instalada mínima de 250 kVA, quando T/E é igual ou

superior a 5.

• Decreto-Lei 313/2001 – modifica o disposto no Decreto-Lei 538/1999. [60]

Este Decreto-Lei introduziu alguns ajustamentos no articulado, no sentido de propiciar o desejável desenvolvimento das instalações de co-geração, de forma a serem atingidas as recomendações da UE.

Justificava-se, na altura, uma revisão do normativo aplicável à Cogeração, por não se ter verificado o desenvolvimento esperado na concretização de novas instalações.

Este diploma concretizou essa revisão, destacando-se:

i) A reformulação das condições que devem respeitar as instalações de Cogeração, de modo a abranger instalações já existentes cuja continuidade de exploração devia ser assegurada, dado o seu efectivo contributo para a melhoria da eficiência energética e ambiental dos sectores de actividade económica a que estão associadas;

ii) A clarificação das situações de coexistência de duas ou mais instalações de Cogeração associadas a uma mesma instalação de utilização da energia térmica cogerada;

5��5�� I Serviços de Energia Aplicados à Cogeração

iii) O ajustamento do âmbito de aplicação do mecanismo de gestão conjunta de energia, reconhecendo-lhe o significativo contributo para a optimização da eficiência energética;

iv) A diferenciação do tarifário aplicável ao fornecimento, para a rede do SEP, da energia eléctrica produzida em instalações de Cogeração relativamente à utilização dos vários tipos de combustíveis, estabelecendo-se os princípios necessários à internalização dos benefícios ambientais proporcionados por essas instalações e ao reconhecimento desses benefícios relativamente a toda a electricidade cogerada, mesmo quando destinada a consumo interno das instalações associadas às instalações de Cogeração.

• Declaração de Rectificação 8-B/2002 – corrige alguns erros do Decreto-Lei 313/2001. [6�]

• Decreto-Lei 68/2002 – regulamenta a produção de electricidade, ou a produção simultânea de electricidade e calor, em baixa tensão. [60]

Este Decreto-Lei é especialmente importante para instalações de pequena dimensão, isto é, de Micro-cogeração, como é o caso da instalação em estudo no presente trabalho.

O intuito deste Decreto-Lei foi adaptar a legislação para o acolhimento de novas soluções de produção de energia descentralizada e da inovação tecnológica, surgindo a figura do produtor- consumidor de energia eléctrica, em baixa tensão, ou do produtor em autoconsumo, mantendo a ligação à rede pública de distribuição de energia eléctrica, nas perspectivas de autoconsumo, de fornecimento a terceiros e de entrega de excedentes à rede.

Além de enquadrar a respectiva actividade, este diploma estabeleceu os direitos e os deveres dos produtores-consumidores.

Foi, também, instituído um sistema remuneratório aplicável à entrega de excedentes à rede pública, com a finalidade de assumir um nível incentivador do envolvimento dos agentes económicos na concretização de instalações previstas no presente diploma, proporcionando estabilidade às receitas do produtor-consumidor, ao longo do período normal de recuperação do investimento, permitindo uma partilha de benefícios entre o mesmo e o operador da rede eléctrica pública.

Assim, este Decreto-Lei regula a actividade de produção de energia eléctrica, em baixa tensão, destinada predominantemente a consumo próprio, sem prejuízo de a produção excedente poder ser entregue a terceiros ou à rede pública.

A potência a entregar à rede pública, em cada ponto de recepção, nos termos deste documento, não poderá ser superior a 150 kW.

A actividade de produção de energia com autoconsumo, regulada por este diploma, pode ser exercida por pessoas singulares ou colectivas, patrimónios autónomos e outras entidades, mesmo que destituídas, de personalidade jurídica, de direito público ou de direito privado.

Entende-se por produção com autoconsumo de energia eléctrica, ou de energia eléctrica e térmica, a actividade de produção em que pelo menos 50% da energia eléctrica produzida seja destinada a consumo próprio ou de terceiros, para fins domésticos, comerciais, industriais ou de prestação de serviços.

• Decreto-Lei 363/2007 – regulamenta a microprodução (SRM), contendo algumas referências à Cogeração. [62]

Serviços de Energia Aplicados à Cogeração I 5�5� 2.3.3.2 Normas técnicas relativas ao estabelecimento e exploração das instalações de Cogeração

• Portaria 399/2002 – contém disposições sobre a forma de aplicação do Decreto-Lei 313/�001. [61] [6�]

• Despacho 1�151/�00� – aprova os guias para a realização de Auditorias Energéticas às instalações de Cogeração e para a aceitação e reconhecimento de Auditores competentes. [61] [6�]

2.3.3.3 Remuneração da electricidade produzida pelo sistema de Cogeração

O Decreto-Lei 313/2001 e respectivas Portarias (57/2002, 58/2002, 59/2002, 60/2002, de 15 de Janeiro), regulamentam a remuneração da energia eléctrica injectada na rede, premiando o rendimento da instalação e o menor impacto ambiental resultante do combustível utilizado. [60] [6�]

A remuneração da energia eléctrica baseia-se nos custos que se evitam com a produção descentralizada, em comparação com as grandes centrais de produção, com transporte e distribuição clássica de electricidade. Assim, a remuneração inclui as seguintes componentes:

- componente fixa, proporcional à potência eléctrica injectada na rede, no período tarifário de ponta;

- componente variável, correspondente à energia eléctrica produzida a partir do combustível primário e a outros custos evitados, nomeadamente, no investimento de redes a montante;

- componente ambiental, que premeia a mais valia da instalação de Cogeração, relativamente a emissões e à eficiência na produção de energia.

Apresentam-se, de seguida, os diplomas relacionados:

• Portaria 57/2002 – regulamenta a tarifa para instalações de Cogeração com potência eléctrica igual ou superior a 10 MW. [62]

• Portaria 58/2002 – regulamenta a tarifa para instalações de Cogeração com potência eléctrica inferior a 10 MW. [62]

• Portaria 59/2002 – regulamenta a tarifa para instalações de Cogeração que consomem fuelóleo pesado como combustível. [6�]

• Portaria 60/2002 – regulamenta a tarifa para instalações de Cogeração que utilizam mais de 50% de recursos renováveis ou resíduos industriais ou urbanos. [6�]

• Declarações de Rectificação 8-I, 8-J, 8-G e 8-L de 2002 – corrigem alguns erros das Portarias 5�, 5��, 5�, 60/�00�, respectivamente. [6�]

• Portaria 440/�004 – altera a fórmula de cálculo da Portaria 60/�00� e corrige alguns erros das Portarias 5�, 5��, 5�, 60/�00�. [6�]

• Despachos 4463/2000 e 4464/2000 – valores de referência para o cálculo da remuneração das instalações licenciadas em 2000. [62]

• Despachos 10418/2001 e 10419/2001 – valores de referência para o cálculo da remuneração das instalações licenciadas em 2001. [62]

• Despachos 7127/2002 e 7128/2002 – valores de referência para o cálculo da remuneração das instalações licenciadas em 2002. [62]

6060 I Serviços de Energia Aplicados à Cogeração

• Despachos 21124/2003 e 21125/2003 – valores de referência para o cálculo da remuneração das instalações licenciadas em 2003. [62]

• Despachos 15231/2004 e 15232/2004 – valores de referência para o cálculo da remuneração das instalações licenciadas em 2004. [62]

• Despachos 19110/2005 e 19111/2005 – valores de referência para o cálculo da remuneração das instalações licenciadas em 2005. [62]

No que diz respeito a instalações de menor dimensão, e de acordo com o caso de estudo que será analisado, as disposições do Decreto-Lei 68/2002, são desenvolvidas na seguinte Portaria:

• Portaria 764/2002 – regulamenta a tarifa para instalações de produção de electricidade, ou de produção simultânea de electricidade e calor em baixa tensão, isto é, as que se encontram licenciadas ao abrigo do Decreto-Lei 68/2002. [60]

De acordo com o Decreto-Lei 68/2002, e imposto por esta Portaria, o tarifário deve atender aos custos evitados, pelo SEP, pelo recebimento da energia eléctrica do produtor-consumidor e aos benefícios de natureza ambiental resultantes da maior eficiência da instalação de produção na utilização da energia primária.

Assim, as instalações licenciadas ao abrigo do Decreto-Lei referido são remuneradas, pelo fornecimento da energia eléctrica entregue à rede, até um máximo anual previsto no n.º 2 do artigo 2.º do mesmo, através da fórmula seguinte:

Na fórmula anterior:

a) VRDm é a remuneração aplicável a instalações de produção em baixa tensão, no mês m, expressa em euros;

b) VRD(BTE)m é o valor da energia eléctrica entregue à rede do SEP, no mês m pela instalação de produção, calculado com base no tarifário em vigor para a venda a clientes finais em baixa tensão especial (BTE), em ciclo diário ou semanal, sem consideração do termo tarifário fixo nem do termo da potência contratada, expresso em euros;

c) Ct é um coeficiente correspondente ao tipo de tecnologia utilizada pela instalação de produção:

i) Deve corresponder ao prémio por kWh necessário para viabilizar economicamente a instalação de produção de energia eléctrica, atendendo ao interesse em promover a tecnologia;

ii) É fixado anualmente por despacho do Ministro da Economia, a publicar no Diário da República, 2.ª série, durante o mês de Fevereiro, podendo a sua fixação ser delegada no director-geral da Energia;

iii) É aplicável às instalações de produção de energia eléctrica cujo processo de licenciamento seja considerado pela Direcção-Geral da Energia completo, na parte de que é responsável o produtor-consumidor, no ano daquela publicação;

iv) É expresso em €/kWh;