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Evolução da Cogeração em Portugal

eléctrico térmico

4. Funcionamento em cargas parciais

2.3 Situação Nacional

2.3.1 Evolução da Cogeração em Portugal

A produção de energia com recurso a máquinas de vapor e turbinas hidráulicas, com o objectivo de ser consumida localmente, tem uma longa tradição em Portugal.

No nosso país, as primeiras aplicações de máquinas de vapor datam de meados do século XIX, enquanto que o emprego de turbinas hidráulicas se iniciou no final desse século. Em ambos os casos, constituíam utilizações puramente mecânicas ou accionamentos de geradores eléctricos para iluminação, em corrente contínua.

Na altura, verificou-se uma disseminação de pequenos produtores com centrais termoeléctricas e hidroeléctricas, quer industriais, quer de serviço público.

Foi em meados do século XX, com os grandes projectos hidroeléctricos e o consequente transporte de electricidade e a electrificação do país, que se deu a substituição da energia mecânica pela eléctrica, em que motores trifásicos accionavam directamente as máquinas. As instalações de produção de energia para consumo local, nomeadamente as de serviço público, entraram em declínio restando actualmente apenas algumas unidades em funcionamento.

A partir dos anos 30 do século passado, os sistemas de produção combinada de calor e electricidade, baseados em caldeiras e máquinas de vapor, começaram a ser instalados em unidades industriais de diversos sectores, tais como o açúcar, refinação de petróleo, papel, têxtil, entre outros.

No entanto, as máquinas de vapor seriam mais tarde substituídas por turbinas de contrapressão que accionavam alternadores, operando por vezes em paralelo com a rede pública. Apenas em 1����, com o intuito de promover a autoprodução de energia eléctrica, foi instituída a figura do Produtor Independente, que possibilitava a ligação à então Rede Eléctrica Nacional (REN) e foram definidas condições para a venda de excedentes de energia eléctrica.

A partir dessa altura, verificou-se então alguma evolução da Cogeração no nosso país. Actualmente, a capacidade instalada em Cogeração é da ordem dos 1.200 MWe e a sua distribuição pelas diversas tecnologias existentes é a exibida na Figura �.14. [55]

Serviços de Energia Aplicados à Cogeração I 5151 Infelizmente, como decorre dos valores apresentados, existe ainda um largo potencial desaproveitado no nosso país. Salienta-se a Micro-cogeração, que possui uma expressão quase insignificante e cuja viabilidade de aplicação, em diversos sectores, seria de aproveitar.

Nos anos 90, as instalações industriais de maior dimensão, onde se verificavam consumos consideráveis de calor, sob diversas formas, e em que se verificou existir viabilidade técnica e económica, foram avançando com projectos de Cogeração, na generalidade, de pequena/média potência. Destacaram-se as indústrias da celulose, química, têxtil, papel, açúcar, cerveja e derivados de madeira. Nesta fase, os incentivos financeiros desempenharam um papel fundamental para a promoção das tecnologias e para a implementação destes projectos.

Os desenvolvimentos descritos permitiram que Portugal atingisse um patamar de potência instalada em Cogeração, com tecnologia de turbinas a vapor de contrapressão, de 530 MWe, cuja distribuição pelos sectores industriais identificados anteriormente é a que se encontra na figura seguinte. [55]

Figura 2.15: Desagregação da potência de Cogeração instalada, baseada em turbinas de vapor de contrapressão, em Portugal, por sector de actividade industrial [55].

Na actualidade, muitas destas centrais estão a atravessar uma fase de actualização tecnológica, com o objectivo de melhorar a sua eficiência, tendencialmente aumentando a potência instalada nas instalações, com o recurso a sistemas baseados em ciclos combinados com turbinas de gás.

A legislação nacional, em 1����, criou um regime especial para a produção de energia eléctrica com recursos renováveis e por Cogeração, com o intuito de motivar os agentes económicos para formas de produção de energia mais eficientes e limpas. Posteriormente, existiram sucessivas revisões da legislação, em 1996, 1999, 2000 e 2001, que estabeleceram critérios de eficiência para os projectos de Cogeração. Esta situação traduziu-se numa valorização e consagração desta forma alternativa de produção de energia, em território nacional.

A actividade da Cogeração passou a ter fundamentação legal mais adequada, com uma estrutura remuneratória mais clara, sendo objectivamente reconhecidos todos os benefícios da produção de energia em Cogeração.

Perante este cenário favorável proporcionado pelo enquadramento legal revisto, pelos elevados custos da electricidade que se verificavam na altura e pela inexistência de alternativas de abastecimento, a partir de 1��0, foram instaladas em Portugal 64 centrais de Cogeração, com motores Diesel, consumindo fuelóleo e perfazendo uma potência instalada total de cerca de 350 MWe. [55] A Figura 2.16 ilustra a sua distribuição pelos vários sectores industriais.

5�5� I Serviços de Energia Aplicados à Cogeração

A introdução do gás natural, em 1���, pelo seu carácter menos nefasto para o meio ambiente, de entre a generalidade dos combustíveis fósseis, proporcionou uma larga janela de oportunidade para a implementação de novos sistemas de Cogeração. Desde então, desenvolveram-se diversos projectos, baseados nas tecnologias de motores Otto e de turbinas de gás, conseguindo-se uma potência instalada adicional de cerca de 322 MWe, em 2005, de acordo com o gráfico da figura seguinte. [55]

No início de 2001, foi publicada legislação relativa à Micro-geração, possibilitando a entrega da energia eléctrica à rede, em baixa tensão. Foi o despoletar da Micro-cogeração no nosso país. A primeira instalação de Micro-cogeração, a gás natural, com uma potência de 85 kWe, entrou em funcionamento no mês de Dezembro de 2003.

Verifica-se que a potência actualmente instalada em Cogeração no território português, cerca de 1.200 MWe, corresponde a 13% do consumo total da energia eléctrica nacional.

No Plano Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC), em 2004, visando a redução de emissões de GEE, foi definido um valor de potência adicional em Cogeração, a instalar até 2010, de aproximadamente 800 MWe. Nesta altura, o cumprimento deste desígnio ainda não é certo. [55]

Figura 2.16: Desagregação da potência de Cogeração instalada, baseada em motores Diesel, em Portugal por sector de actividade industrial [55].

Figura 2.17: Desagregação da potência de Cogeração instalada, a gás natural, em Portugal por sector de actividade industrial [55].

Serviços de Energia Aplicados à Cogeração I 5353 Para a promoção desta solução, em Portugal, muito tem contribuído a COGEN Portugal - Associação Portuguesa para a Eficiência Energética e Promoção da Cogeração. Trata-se de uma associação sem fins lucrativos, cujo objectivo é incentivar a utilização eficiente da energia, através de processos de produção combinada de calor e electricidade ou através da produção descentralizada da energia, qualquer que seja a fonte de energia primária utilizada.

Tendo em conta o desenvolvimento da Cogeração que se verificou em Portugal, a partir dos anos 90, e as dificuldades que o exercício desta actividade encerrava, um conjunto de 16 empresas possuidoras de instalações deste tipo fundou a Associação Portuguesa de Produção de Energia em Cogeração (APPEC) , em Janeiro de 1994. Esta Associação foi reconhecida pelo poder político e pelas instituições comunitárias, como a organização representativa dos interesses da Cogeração, em Portugal, tendo vindo a participar na discussão de diversas matérias de interesse com as entidades e organismos dos sectores energético e ambiental.

Em 1997, a Associação passou a integrar uma rede europeia de associações com objectivos semelhantes, tendo sido alterada a sua denominação para COGEN Portugal. Actualmente, possui mais de 100 associados com interesses na produção descentralizada de energia e, especialmente, na Cogeração. Para além das empresas do sector da indústria e do sector dos serviços que possuem unidades de Cogeração, esta Associação conta entre os seus sócios com membros promotores e investidores em projectos de energia e designadamente em Cogeração, fabricantes e fornecedores de equipamentos, instaladores e empresas de manutenção, empresas de engenharia, fornecedores de combustíveis (fuelóleo e gás natural) e de lubrificantes e entidades individuais. [55]

A COGEN Portugal promoveu, de 15 de Janeiro a 15 de Novembro de 2009, o projecto Dinamização da Eficiência Energética e da Cogeração (DEEC), que visa quantificar as externalidades positivas da Cogeração a nível técnico, económico e ambiental. [56] Como complemento a este estudo, foram elaborados um Manual de Apoio ao Cogerador, integrando resumidamente os procedimentos técnico-económicos, administrativos e de financiamento para a montagem de projectos de Cogeração, nos sectores dos serviços e industrial, e uma ferramenta informática online (Simulador do Cogerador), destinada a simular a tarifa de venda de energia eléctrica à rede, pela metodologia de cálculo disposta nas Portarias 5�/�00�, 5��/�00�, 5�/�00� e 60/2002, de 15 de Janeiro, no âmbito do Decreto-Lei 538/99, de 13 de Dezembro, modificado pelo Decreto-Lei 313/2001, de 10 de Dezembro, que estabelece as regras para a actividade de produção combinada de calor e electricidade.

Espera-se que esta ferramenta possa definitivamente quebrar uma das maiores barreiras impostas aos potenciais interessados na aplicação de sistemas de Cogeração, ditada pela elevada complexidade da regulamentação relativa à remuneração dos excedentes de electricidade vendidos à rede.