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4.3 Análise do padrão de consumo das famílias

4.3.1 Análise do padrão de consumo das famílias em função da

Como já discutido, a renda familiar é um importante fator que explica os hábitos de consumo das famílias. No caso do município de Bambuí, as evidências foram significativas. Por meio da Tabela 24, é possível observar como o consumo variou em função dos níveis de renda. Os gastos com as necessidades básicas, como a alimentação, a habitação, a higiene e a saúde encontraram maiores percentuais nas famílias de renda baixa, enquanto as maiores despesas percentuais com os itens considerados de luxo em Bambuí, como transportes10, educação particular, recreação e cultura e a poupança estiveram a cargo das famílias de renda média e alta. Em geral, a distribuição dos percentuais das despesas familiares conforme os níveis de renda acompanharam a evolução realizada pelo IBGE, na POF 2002/2003 (Tabela 1) e na POF 2008-2009 (Anexo A).

Os gastos percentuais com alimentação estiveram fortemente ligados à questão da renda, na medida em que, quanto maior a renda, menor a participação da alimentação na renda líquida mensal média, como diz a primeira das leis de Engel (à medida que a

renda cresce, a proporção gasta em alimentação decresce). A segunda lei de Engel (à medida que a renda cresce, a proporção gasta com habitação e equipamento doméstico

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Em Bambuí, como o município é pequeno, anda-se muito a pé. Portanto, gastar com transporte coletivo para trabalhar no centro da cidade ou com automóveis não é uma necessidade básica para as famílias de

permanece mais ou menos a mesma) não funcionou para a habitação, que se comportou

como a alimentação, ou seja, os percentuais diminuíram conforme o nível de renda. O que se pode observar é que a alimentação e a habitação são necessidades básicas em todos os níveis de renda, não aumentando tanto com a renda, ou seja, em Bambuí-MG, não se observou um consumo elevado de produtos alimentícios de luxo nem a ocupação de pequenas mansões quando a renda é superior. Portanto, o que se viu com o aumento da renda é o gasto com outros itens, reduzindo a participação dos itens básicos (Tabela 24).

Tabela 24 – Consumo familiar em função dos níveis de renda – Bambuí-MG, 2010

* Qualquer soma manual que não alcance o total indicado deve-se ao arredondamento do software utilizado.

Fonte: Dados da pesquisa.

Os gastos com vestuário obedeceram à terceira lei de Engel (à medida que a

renda cresce, a proporção gasta em vestuário permanece a mesma, ou talvez, aumente um pouco), permanecendo praticamente a mesma nos três níveis de renda, indicando

que as famílias de renda alta, média e baixa gastaram com roupas, calçados, jóias e acessórios de forma proporcional à sua renda. O mesmo fenômeno ocorreu com os serviços pessoais (manicure, cabeleireiro e barbeiro), que estão intimamente ligados ao vestuário (Tabela 24).

As despesas com higiene e cuidados pessoais se alteraram como a alimentação e a habitação, ou seja, decrescendo significativamente conforme o nível de renda, o que significa que, para a maioria das famílias do município, os produtos do grupo higiene e beleza eram mais uma necessidade do que um luxo.

C B A

Alimentação 25,3 31,6 20,1 14,4

Habitação 22,1 26,0 19,0 13,0

Vestuário 5,5 5,4 5,7 5,3

Transportes 7,7 4,7 10,3 11,3

Higiene e Cuidados Pessoais 3,7 4,5 3,0 1,8

Assistência à Saúde 7,5 8,3 6,7 7,9 Educação 2,8 1,5 4,0 4,7 Recreação e Cultura 1,7 1,4 2,0 2,7 Fumo 1,3 1,7 1,0 0,2 Serviços Pessoais 1,5 1,5 1,6 1,2 Despesas Diversas 5,9 4,7 7,2 5,5 Outras Despesas 6,8 4,1 8,3 19,0 Diferença renda/consumo 1,7 -0,2 3,8 0,1 Poupança 6,4 4,9 7,3 13,0 Nível de renda Itens da despesa Total

No grupo de assistência à saúde, os gastos percentuais das famílias de renda média foram um pouco menores do que nas famílias de renda baixa e de renda alta (Tabela 24). A razão reside no fato de que, no nível de renda C, estavam, em grande quantidade, as famílias nos estágio tardio, que gastam naturalmente mais com saúde, notadamente com remédios, e, no estrato A, as maiores rendas destas famílias permitiram gastos maiores com planos de saúde mais caros, além de praticamente não terem utilizado os serviços de saúde pública.

As famílias de renda alta e de renda média gastaram bem mais com educação do que as famílias de renda baixa. O que pode explicar esta diferença são vários fatores: 1) a renda maior das classes A e B permitiram gastos com educação particular e a consolidação da busca por uma escolaridade maior; 2) nas famílias de renda baixa, havia muitas famílias no estágio tardio, que possuíam escolaridade baixa e não buscavam aumentá-la; 3) a maior parte das famílias de renda baixa utilizava-se do ensino público, que oferecia cursos de nível fundamental e médio para todos os estudantes, inclusive para jovens e adultos.

Os gastos com o grupo recreação e cultura, considerado um item de luxo, aumentaram conforme o nível de renda. O mesmo ocorreu com as outras despesas, que incluem empregados domésticos e mesadas, por exemplo. Neste último grupo, a diferença entre os níveis de renda foi muito significativa: 19% nas famílias de renda alta, 8,3% nas famílias de renda média e 4,1% nas famílias de renda baixa (Tabela 24). Estes itens confirmaram a quarta lei de Engel (à medida que a renda cresce, a

proporção gasta em luxos cresce).

Os gastos com fumo decresceram com a renda. Como ocorreu com a alimentação e a habitação, as famílias de renda alta de Bambuí não consumiram, necessariamente, cigarros de luxo nem em maior quantidade do que os de renda média ou baixa, o que fez a participação percentual do artigo cair em função da renda.

As despesas diversas foram maiores nas famílias de renda média e caíram nas famílias de renda alta e de renda baixa. A compreensão destas diferenças depende de análise mais detalhada de cada subitem do grupo, demonstrada por meio da Tabela 25.

Tabela 25 – Consumo médio dos subitens das despesas diversas nos níveis de renda das famílias – Bambuí-MG, 2010

* Qualquer soma manual que não alcance o total indicado deve-se ao arredondamento do software utilizado.

** No item religiões, estão incluídos dízimo e caridade. Fonte: Dados da pesquisa.

Nos subitens das despesas diversas, observou-se que as famílias de renda média gastaram mais de sua renda com festas familiares, presentes, animais e plantas e serviços de profissionais do que as famílias de outros níveis de renda. As famílias de renda alta gastaram mais somente com viagens, mesmo assim com um percentual próximo aos das famílias com renda baixa. As famílias de renda baixa, por sua vez, foram as que mais fizeram caridade ou contribuíram com suas igrejas. Portanto, predominaram neste item as famílias de renda média (Tabela 24).

No item outras despesas, os gastos das famílias cresceram com a renda em uma proporção importante (Tabela 24). Por meio da Tabela 26, é possível analisar os subitens para compreender melhor os percentuais gerais do item outras despesas. Por causa da alta renda e a propensão a gastar com bens e serviços de luxo, as famílias do nível A gastaram mais com empregados domésticos do que as famílias de renda média e de renda baixa.

Além disso, as famílias de renda alta deram mais mesadas para os filhos que saíram de casa e gastaram pouco mais com serviços financeiros. As famílias de renda média pagaram mais pensões alimentícias do que as famílias de renda baixa e do que as famílias de renda alta, que não tiveram nenhum caso. As famílias do nível C somente gastaram mais com empréstimos pessoais do que as famílias de nível B e de nível A, muitas vezes para complementar suas despesas básicas.

C B A Festas familiares 0,7 1,3 0,9 Religiões 1,0 0,7 0,3 Profissionais 0,0 0,5 0,4 Viagens 0,7 2,1 2,2 Presentes 1,1 1,3 1,1 Animais e plantas 1,1 1,4 0,7 Total 4,7 7,2 5,5 % Subitens

Tabela 26 – Consumo médio dos subitens das outras despesas nos níveis de renda das famílias – Bambuí-MG, 2010

* Qualquer soma manual que não alcance o total indicado deve-se ao arredondamento do software utilizado.

Fonte: Dados da pesquisa.

O item que trata da diferença entre renda e consumo informados possuiu percentuais distintos em cada um dos três níveis de renda. As famílias de renda baixa, em média, superestimaram suas despesas ou superestimaram sua renda líquida, com um percentual de -0,2%. As famílias de renda alta foram mais precisas em informar as despesas conforme sua renda líquida, o que não ocorreu com as famílias de renda média, que tiveram dificuldade em quantificar a distribuição da renda em suas despesas (Tabela 24).

Finalmente, o item poupança também cresceu com a renda, pois as famílias de renda alta, uma vez satisfeitas suas necessidades, guardaram mais de sua renda mensal para consumir no futuro do que as famílias de renda média e de baixa. Observa-se que as famílias, em geral, pouparam mais do que tomaram emprestado, pois os percentuais totais de poupança foram maiores do que os dos empréstimos pessoais.

4.3.2 Análise do padrão de consumo das famílias em função dos estágios do ciclo de