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4. RESULTADOS

4.2 ESTUDO PRÁTICO DE EQUIPES DE PROJETO SCRUM

4.2.4 Análise do Perfil Comportamental dos Integrantes

A fim de verificar a consistência do modelo criado na primeira fase do estudo (Seção 4.1.4), além de identificar como as equipes Scrum estão sendo compostas, no que diz respeito aos papéis comportamentais dos integrantes, realizou-se um estudo prático, evitando, dessa forma, a criação de um modelo unicamente teórico. O instrumento utilizado para realizar a identificação do perfil comportamental dos integrantes das equipes Scrum foi o questionário Team Role Self Perception Inventory (TRSPI) criado por Belbin (1981) e descrito na Seção 2.2.11. O questionário original é em inglês, porém para esse estudo foi utilizada uma versão traduzida para o português.

Após as respostas dos questionários terem sido tabuladas, partiu-se para a construção do quadro de normas, para a amostra que está sendo examinada. Apesar de Belbin haver definido um quadro de normas, optou-se por construir outro, visto que, dependendo do contexto, alguns papéis podem ocorrer com mais freqüência do que outros. O quadro de Belbin reflete a distribuição dos papéis em seu universo de pesquisa, composto por gerentes, enquanto que a amostra estudada possui características e particularidades diferentes, que poderia levar a resultados incoerentes, caso as normas de Belbin fossem aplicadas.

Para construir o quadro, primeiramente, ordenou-se todos os valores obtidos para cada perfil, calculou-se os percentuais indicados por Belbin (1981) e, dentro da lista ordenada, identificou-se as posições correspondentes aos valores calculados, obtendo-se dessa forma, os

limites iniciais e finais de cada um dos intervalos: Low, Average, High e Very High12. Os intervalos de valores resultantes para cada perfil podem ser vistos no Quadro 27.

Uma vez que o quadro de normas tenha sido calculado, o próximo passo foi aplicá-lo aos dados obtidos através das respostas à Parte III dos questionários, objetivando identificar os perfis comportamentais dos respondentes. Para se obter os perfis comportamentais, para cada indivíduo, comparam-se os valores obtidos em cada perfil com os intervalos do quadro de normas. São considerados os perfis, cujos valores encontram-se nos intervalos High e Very High. Conforme ressaltado por Belbin (1993), cada indivíduo pode assumir mais de um perfil, sendo geralmente, um perfil dominante e os demais secundários, mas que podem ser explorados, dependendo do contexto em que se encontre.

Quadro 27 - Quadro de Normas calculadas para os perfis de Belbin PERFIL13 Low (0-33%) Average (33%-66%) High (66%-85%) Very High (85%-100%) Média Desvio Padrão IMP 0 - 10 11-13 14 - 15 16 - 21 11,4 4,1 CO 0 - 7 8 - 9 10 - 16 17 - 27 9,4 5,3 SH 0 - 5 6 - 9 10 - 11 12 - 28 8,3 5,7 PL 0 - 5 6 - 10 11 - 12 13 - 20 7,9 4,9 RI 0 - 5 6 - 9 10 - 11 12 - 16 7,2 3,7 ME 0 - 7 8 - 9 10 - 11 12 - 18 8,0 3,3 TW 0 - 8 9- 13 14 - 17 18 - 22 11,0 5,1 CF 0 - 5 6 - 8 9 - 10 11 - 15 6,6 3,8

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da pesquisa

A partir dos dados consolidados, foi possível, em uma primeira análise, ter-se uma visão da distribuição dos papéis em time de Belbin, dentro da amostra estudada, conforme apresentado no Gráfico 4. Apesar de a amostra ter sido composta por 62 respondentes, o somatório geral dos papéis é maior que o total de indivíduos analisados, devido a cada indivíduo poder identificar-se com mais de um papel, enquanto desempenha suas atividades em uma equipe.

Pode-se observar a presença de todos os perfis na amostra estudada, observando-se certa homogeneidade, com relação à quantidade de ocorrências de cada perfil. Para a construção do Gráfico 4 foram considerados todos os valores High e Very High de cada indivíduo.

12

Tradução: Low=baixo, Average=médio, High=alto e Very High=Muito Alto.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 IMP CO SH PL RI ME TW CF Qtd. 14 19 16 18 14 18 14 16

Distribuição dos Perfis de Belbin

Gráfico 4 - Distribuição dos papéis em time de Belbin na amostra Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da pesquisa

Segundo Belbin (1981, 1993) para se obter um melhor desempenho da equipe, faz-se necessário que haja uma distribuição entre os integrantes da equipe, dos papéis em time resultantes do seu estudo. O Quadro 28 apresenta a distribuição dos perfis comportamentais de Belbin, entre os indivíduos que fizeram parte da equipe de cada projeto.

Quadro 28 - Distribuição de Perfis de Belbin nas equipes de projeto

PROJETO IMP CO SH PL RI ME TW CF Projeto 1 1 1 1 4 3 4 2 2 Projeto 2 1 2 1 5 3 5 3 3 Projeto 3 1 1 2 2 1 3 1 2 Projeto 4 2 2 3 1 2 2 4 0 Projeto 5 0 2 0 2 0 0 1 1 Projeto 6 2 2 3 3 1 2 1 1 Projeto 7 0 1 1 2 1 2 0 2 Projeto 8 1 1 2 0 1 0 2 2 Projeto 9 4 2 1 2 1 1 0 3 Projeto 10 1 3 0 1 3 1 0 0 Projeto 11 2 3 3 0 1 2 2 1

Fonte: Elaboração própria, a partir dos dados da pesquisa

O projeto 5 é o que contém o menor número de perfis comportamentais. Isso pode estar associado ao fato de, conforme mostrado no Gráfico 4, de caracterização do projeto, esse é o projeto com menor número de respondentes, apenas 3, o que também diminui a chance de ocorrência de todos os perfis comportamentais na equipe.

Dentre os projetos analisados, os Projetos 1, 2, 3 e 6 apresentaram todos os perfis comportamentais definidos por Belbin (1981), apesar de existir uma grande concentração de

Plants e Resource Investigators, ambos com tendência à criatividade, nessas equipes de projeto. Para Belbin (1993), para um time ser considerado balanceado deve satisfazer a duas premissas: a primeira aponta para o fato de que deve existir pelos menos um representante de cada perfil com pontuação High e Very High, e a segunda prega que não devem existir muitos exemplares de um mesmo perfil na composição da equipe. Dessa forma, apesar dos Projetos 1, 2, 3 e 6 satisfazerem a primeira premissa, vão de encontro a segunda premissa apresentada por Belbin (ibdem).

Além dos papéis citados acima, observa-se também uma maior presença de Completer Finisher do que normalmente são encontradas em equipes de projeto, cujo fator comportamental foi levado em conta, na hora da montagem da equipe. Isso pode indicar que, apesar dos Scrum Masters reconhecerem a importância do fator comportamental na composição da equipe, a análise das equipes de projeto do Quadro 28 mostra uma realidade diferente, pois a grande concentração de perfis ligados à criatividade tende a indicar equipes compostas, primordialmente, com base no perfil técnico dos candidatos.

Os relatos das entrevistas da primeira fase da pesquisa, compilados no Quadro 29, apontam para o fato de que na maioria das situações, o Scrum Master, não está envolvido no processo de composição das equipes de projeto, e quando envolvido, sua responsabilidade está restrita a avaliação técnica do candidato. Dessa forma, a responsabilidade pela composição do time está nas mãos de gerentes de projetos, sócios-diretores e analistas de RH que, devido ao fato do Scrum ainda ser uma disciplina nova, podem desconhecer a filosofia do processo e as necessidades de equipes ágeis de desenvolvimento de software, levando-os a compor equipes, através de métodos tradicionais, como a análise curricular.

Quadro 29 - Relatos das entrevistas com Scrum Masters sobre responsáveis pela montagem da equipe

Quem é o responsável pela composição das equipes Scrum?

“ Basicamente a equipe foi montada por um processo de RH mesmo, da empresa, mas a escolha técnica fui eu e Aliel(nome fictício).” Scrum Master 1

“A equipe já estava montada, antes de começarmos a adotar o Scrum” Scrum Master 2

“ A equipe é montada pelo gerente de projetos...” Scrum Master 3

“Era uma equipe que existia, que já matinha o sistema que já tava em produção, e com Scrum foi mantida a mesma equipe, mas quem monta as equipes lá é o diretor-técnico” Scrum Master 8