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Das amostras que demonstraram resistência aos carbapenêmicos no teste de sensibilidade aos antimicrobianos (TSA), 4 (21%) foram Klebsiella pneumoniae. O CLSI 2018 não possui padrões interpretativos de CIM do antibiótico polimixina B para a família Enterobacteriaceae, portanto, neste trabalho foram considerados os valores da CIM, mas os resultados não foram classificados como sensíveis ou resistentes. Desta forma, das 14 amostras com padrão interpretativo, 6 apresentaram CIM ≥ 8 µg/mL caracterizando perfil de resistência e 3 exibiram resistência intermediaria com CIM igual a 4 µg/mL.

Gráfico 10 - Concentração inibitória mínima das amostras frente à polimixina B.

Fonte: Elaborado pela autora (2021)

Tabela 7 - Classificação do perfil de sensibilidade frente à polimixina B das amostras segundo o CLSI 2018.

CONCENTRAÇÃO INIBITÓRIA MÍNIMA FRENTE À POLIMIXINA B

AMOSTRA BACTÉRIA SENSIBILIDADE

1 Acinetobacter spp.

Não houve crescimento

bacteriano ---

2 Klebsiella pneumoniae 1 µg/mL SEM PARÂMETRO

3 Pseudomonas aeruginosa 1 µg/mL SENSÍVEL

4 Klebsiella pneumoniae 1 µg/mL SEM PARÂMETRO

5 Acinetobacter spp. 1 µg/mL SENSÍVEL

6 Klebsiella pneumoniae 32 µg/mL SEM PARÂMETRO 4 7 3 2 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 0,25 µg/mL - 1 µg/Ml 2 µg/mL - 4 µg/mL 8 µg/mL - 16 µg/mL 32 µg/mL - 64 µg/mL 128 µg/mL - ≥ 256 µg/mL Não houve crescimento bacteriano

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7 Pseudomonas aeruginosa 128 µg/mL RESISTENTE

8 Pseudomonas aeruginosa ≥ 256 µg/mL RESISTENTE

9 Pseudomonas aeruginosa 16 µg/mL RESISTENTE

10 Acinetobacter spp. 2 µg/mL SENSÍVEL

11 Acinetobacter spp. 16 µg/mL RESISTENTE

12 Pseudomonas aeruginosa 16 µg/mL RESISTENTE

13 Klebsiella pneumoniae 4 µg/mL SEM PARÂMETRO

14 Pseudomonas aeruginosa 4 µg/mL INTERMEDIÁRIA

15 Pseudomonas aeruginosa 4 µg/mL INTERMEDIÁRIA

16 Pseudomonas aeruginosa 4 µg/mL INTERMEDIÁRIA

17 Acinetobacter spp. 2 µg/mL SENSÍVEL

18 Acinetobacter spp. 64 µg/mL RESISTENTE

19 Pseudomonas aeruginosa 2 µg/mL SENSÍVEL Fonte: Elaborado pela autora (2021)

55 5 DISCUSSÃO

Do total de 62 isolados bacterianos identificados, observamos a frequência de 77% (48) de Bacilos Gram-negativos, número consideravelmente superior à quantidade de isolados pertencentes ao grupo dos cocos Gram-positivos que representaram 23% (14), esses dados estão de acordo com achados da literatura que apontam os Bacilos Gram-negativos como os microrganismos constantemente isolados em culturas de vigilância epidemiológicas realizadas em unidades de terapia intensiva e importantes causadores de infecções nosocomiais (HESPANHOL et al., 2018; ZAMPARETTE, 2019).

Em estudo realizado por Machado (2020) a frequência de Bacilos Gram- negativos observada foi de 57,6% (75) e de 41,4% (53) de cocos Gram-positivos. Outro trabalho com metodologia semelhante realizado em Natal/RN, Macedo (2016) relatou a frequência de 210 (61,5%) de Bacilos Gram-negativos dentre suas amostras.

As amostras foram coletadas a partir dos sítios axilar, nasal e retal, dentre estes o sitio nasal obteve um número maior de isolados, representando 47,9% (23) seguido de 35,41% (17) dos sítios axilar e 16,66% (8) do sitio retal, evidenciando a elevada taxa de colonização desses sítios e a importância da busca por patógenos na mucosa e pele dos pacientes, que são os principais sítios indicados para coleta de amostras de cultura de vigilância (GOMES et al.,2014; MARTINS et al.,2014).

Dentre os Bacilos Gram-negativos isolados, a espécie mais prevalente foi a Klebsiella pneumoniae com 27 isolados (56,25%), seguido dos não fermentadores 9 Pseudomonas aeruginosa (18,75%), 8 Acinetobacter spp. (16,66%) e outros membros da família Enterobacteriaceae que apresentaram uma menor frequência cada (2,08%): Escherichia coli, Proteus vulgaris, Proteus mirabilis e Citrobacter freundii. Tal achado encontra-se em concordância com a literatura que traz a frequente colonização de pacientes de UTI por essas bactérias, que são frequentemente associadas às IRAS (RICE, 2008; ARCANJO; OLIVEIRA, 2017; ARAÚJO, 2018).

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Com relação ao perfil de resistência aos antimicrobianos das enterobactérias observou-se uma alta frequência de 87,09% (27) dos isolados bacterianos resistentes as cefalosporinas de 3° geração, seguido de 70,96% (22) resistentes às cefalosporinas de 4° geração, 70,96% (22) aos outros β-lactâmicos, 67,74% (21) aos β-lactâmicos associados a inibidores, 64,5% (20) as quinolonas e tendo a menor taxa de resistência aos carbapenêmicos com 16,12% (5). Mota, Oliveira e Souto (2018) apresentaram taxas de 88,0% de resistência as quinolonas, 51,9% as cefalosporinas de 3° geração, 46,1% aos carbapenêmicos, 43,0% a cefalosporina de 4° geração e 39,4% aos β-lactâmicos associados a inibidores de β-lactamases.

Macedo (2016) também relataram altos índices de resistência em estudo semelhante, tendo descrito taxas de resistência de 67,6% as cefalosporinas de 3° geração, 48,8% a cefalosporina de 4° geração, 44,3% para β-lactâmicos associados a inibidores de β-lactamase e 18% aos carbapenêmicos.

Já para o grupo dos Bacilos Gram negativos não fermentadores de açucares, foi observado um alto índice de resistência às cefalosporinas de 3° geração e aos carbapenêmicos. Essa tendência e o elevado índice de resistência observada principalmente frente aos carbapenêmicos corroboram com a literatura que aponta as bactérias Pseudomonas aeruginosa e Acinetobacter spp. Como protagonistas na resistência a esses fármacos (ROSENTHAL et al.,2019; FRANCO, 2017; CODJOE; DONKOR, 2017).

Os β-lactâmicos são uma classe de antibióticos amplamente utilizados tanto para o tratamento de infecções comuns como no tratamento de infecções de maior gravidade e terapêutica profilática. Diante do elevado consumo dessa classe, com o passar dos anos as bactérias foram capazes de desenvolver diferentes estratégias para resistirem a esses antibióticos, dentre essas, podemos destacar os mecanismos de resistência enzimática que confere às bactérias capacidade de resistir à ação desses fármacos através da hidrólise de seu sítio ativo, o anel β- lactâmico. Essas enzimas denominadas β-lactamases foram cada vez mais se tornando atuantes e específicas contra os β-lactâmicos, incluindo os de maior espectro e estabilidade contra cefalosporinases, como as cefalosporinas de 3° e 4° geração (BROLUND, 2014; ANDRADE; DARINI, 2017).

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Com a pressão seletiva imposta pelo uso muitas vezes indiscriminado das cefalosporinas de amplo espectro, rapidamente ocorreu o surgimento das β- lactamases de espectro estendido (ESBL) que conferiam resistência a penicilinas, cefalosporinas de todas as gerações e monobactâmicos. Além disso, as bactérias produtoras de ESBL frequentemente exibem fenótipo de multirresistência, apresentando diferentes mecanismos que conferem resistência a outras classes de antimicrobianos, minimizando assim as opções terapêuticas disponíveis. (LAGO; FUENTEFRIA; FUENTEFRIA, 2010; BROLUND, 2014).

As ESBLs estão amplamente disseminadas tanto na comunidade como no ambiente hospitalar, principalmente no que diz respeito a infecções relacionadas à assistência a saúde, tendo sido reportadas em todo o mundo (LIVEMORE et al., 2012). As infecções causadas por bactérias produtoras de ESBL estão fortemente associadas a taxas de mortalidade aumentadas, alta permanência na unidade hospitalar e aumento dos custos associados. Com a redução das opções terapêuticas causada pela emergência dessa enzima, os carbapenêmicos têm sido cada vez mais utilizados para o tratamento dessas infecções, uma vez que possuem excelente atividade in vitro, não são hidrolisados pelas ESBLs e a literatura reporta elevados níveis de sucesso nos tratamentos (KARAISKOS; GIAMARELLOU, 2020; NOGUEIRA, 2011; CARRILHO, 2014).

No presente trabalho, através da execução do teste fenotípico de disco aproximação realizado em 48 (100%) bacilos Gram-negativos, obtivemos a frequência de 54,16% de isolados produtores β-lactamase de espectro estendido, valor superior aos encontrados em estudos realizados na Espanha, onde Pérez et al. (2019) relataram frequência de 7,69%; Na Coréia em pacientes admitidos na UTI, onde obteve-se uma porcentagem igual a 28,2% de colonização por ESBL (KIM et al., 2014) e nos EUA onde Castanheira et al. (2013) demonstraram resultados do programa de vigilância SENTRY realizado em 26 hospitais, níveis de resistência às cefalosporinas e / ou aztreonam em Enterobacteriaceae de 6,4%.

No Brasil, Mendes et al. (2000) reportaram índices de 29% de bactérias produtoras de ESBL dentre membros da família Enterobacteriaceae isolados em seu trabalho enquanto Lago, Fuentefria e Fuentefria (2010) trouxeram uma frequência de

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24,8% e Zamparette (2014) 27,6%. No Rio Grande do Norte, Macedo (2016) e Franco (2017) encontraram valores entre 39,09% e 34,8%.

Apesar de termos observado uma frequência superior a média nacional de Enterobacteriaceae produtoras de ESBL, nosso resultado foi inferior a alguns estudos como o de Gopalakrishnan e Sureshkumar (2010) e Hawser et al. (2009) realizados na comunidade hospitalar indiana, que apontam uma frequência de cepas produtoras de ESBL igual a 65% e 78,9%, respectivamente, apontando uma possível relação entre os índices de prevalência da produção de β-lactamases de espectro estendido e o índice populacional, políticas públicas do uso de antibacterianos e economia dos países (FRAIMOW; TSIGRELIS, 2011).

Os trabalhos citados acima trazem Klebsiella pneumoniae ou Escherichia coli como microrganismos mais prevalentes na produção de ESBLs, semelhantemente, em nosso trabalho o gênero de maior prevalência foi K. pneumoniae representando 43,75% de todos os isolados produtores dessas enzimas, tais dados são condizentes com a literatura que aponta a família Enterobacteriaceae como principal família bacteriana associada a produção de ESBLs, tendo E. coli e K. pneumoniae como espécies mais incidentes e de maior importância (PERNA et al, 2015; FLORES et al, 2016; MONIZ et al, 2016; KAISER et al, 2016).

A produção de betalactamases consiste no principal mecanismo de resistência aos betalactâmicos, a emergência e rápida disseminação de ESBLs entre a família Enterobacteriaceae tem sido apontada como um problema de saúde pública, devido a grande incidência de membros dessa família, principalmente K. pneumoniae e E. coli que são um dos principais patógenos associadas as IRAS. Estima-se que pelo menos 50% dos isolados de Klebsiella spp. sejam produtores de ESBL, resultando em falha terapêutica e surtos por cepas resistentes no ambiente hospitalar, causando impacto na saúde mundial (SILVA; LINCOPAN, 2012).

Os antibióticos desempenham um importante papel para o sucesso de algumas práticas médicas, os β-lactâmicos são fármacos muito utilizados principalmente por sua toxicidade seletiva e eficácia clínica (SANTOS et al, 2020). Os carbapenêmicos são os antibióticos mais potentes dessa classe e são tradicionalmente empregados como opção terapêutica de ultima escolha para o

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tratamento de infecções graves causadas por Bacilos Gram-negativos produtores de ESBLs e também para hiperprodutores de AmpC, atualmente por essas bactérias apresentarem outros mecanismos de resistência a antibióticos não β-lactâmicos como aminoglicosídeos, fluoroquinolonas, tetraciclinas e outros, há uma limitação nas opções terapêuticas, a necessidade de uma maior demanda de uso dos carbapenêmicos em ambientes hospitalares devido à emergência de variados mecanismos de resistências exerce uma maior pressão seletiva sobre a microbiota hospitalar, podendo desencadear o aumento da resistência a esses agentes de última linha (CODJOE DONKOR, 2017; VAN DUIN DOI, 2017; ANDRADE; DARINI, 2017).

O estudo apresentou como resultado no TSA um total de 19 amostras (39,58%) com resistência fenotípica aos carbapenêmicos prevalecendo entre as espécies de P. aeruginosa (100%), Acinetobacter spp. (75%) e K. pneumoniae (14,8%). Ataide e Abade (2015) relataram que 3,8% das enterobactérias isoladas de um laboratório localizado na Bahia, Brasil apresentaram resistência a algum carbapenêmico, sendo 42,86% referente à espécie Klebsiella pneumoniae. Outros estudos com prevalência de isolamento dessa espécie demonstraram taxas variáveis como FRANCIS et al., 2012 (7,00%) e LAI et al., 2013 (8,60%).

Para P. aeruginosa a literatura traz índices de resistência que variam de 32- 81%, valores inferiores ao encontrado no presente trabalho. Já para o gênero Acinetobacter spp. são descritos valores que oscilam entre 51-92% (LUZ, 2010; DAMASCENO, 2014; MACEDO, 2016; VALLORINI, 2017; FRANCO, 2017). Tais dados já eram esperados, uma vez que a literatura descreve índices de resistência fenotípica aos carbapenêmicos mais expressivos nos grupos dos Bacilos Gram- negativos não fermentadores (WAN NOR AMILAH et al., 2012).

Dentre os mecanismos de resistência, a produção de β-lactamases com elevado potencial de degradação de β-lactâmicos, denominadas de carbapenemases é a principal responsável pela resistência aos carbapenêmicos. As carbapenemases possuem um importante papel epidemiológico, uma vez que os genes codificadores dessas enzimas estão normalmente localizados em elementos genéticos móveis, favorecendo sua rápida disseminação. Em muitos casos, esses

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contextos genéticos também estão relacionados a genes determinantes de resistência a outros antimicrobianos, o que pode dificultar ainda mais a erradicação dessas bactérias e favorecer o surgimento de microrganismos multirresistentes (MAGALHÃES; SOARES, 2018; VIEGAS; SOARES, 2018; NODARI; BARTH, 2016).

As metalo-β-lactamases são as carbapenemases mais antigas descritas e por muito tempo inicialmente apresentavam importância clínica apenas para os Bacilos Gram-negativos não fermentadores, tendo sido descritas principalmente em bactérias como Pseudomonas spp., Acinetobacter spp.. Entretanto, a disseminação do gene blaMBL de P. aeruginosa para bactérias da família Enterobacteriaceae, tem contribuído para sua prevalência entre outros Bacilos Gram-negativos aumentar. Os relatos de resistência variam, mas de forma geral existe um crescente índice de resistência aos β-lactâmicos de amplo espectro em membros da família Enterobacteriaceae e Bacilos Gram-negativos não fermentadores (WAN NOR AMILAH et al., 2012; NODARI; BARTH, 2016; WALSH; TOLEMAN; NORDMANN, 2005). Estas enzimas tem potencial para degradação de todos os β-lactâmicos, exceto o aztreonam e dependem de um metal como cofator para sua atividade, sendo inibidas por quelantes de metais como por exemplo, o EDTA (ANDRADE; DARINI, 2017).

Na família Enterobacteriaceae, estudos iniciais apontavam que a resistência aos carbapenêmicos era proveniente da superprodução de ESBLs e AmpC em microrganismos com mutações nas porinas, entretanto o surgimento de novas β- lactamases com ação direcionada para esses fármacos contribuiu para uma maior prevalência de enterobactérias resistentes aos carbapenêmicos na atualidade e sua emergência como causadoras de infecções nosocomiais, o que consiste em uma problemática importante levando em consideração a frequência com que essa família causa infecções comunitárias e hospitalares, o elevado potencial de disseminação através de elementos genéticos móveis e a alta taxa de mortalidade associada a estas infecções (PAPP-WALLACE; ENDIMIANI; BONOMO, 2011; VAN DUIN; DOI, 2017; DUNDAR et al, 2018).

No presente estudo, as cepas que demonstraram resistência aos carbapenêmicos no teste de sensibilidade aos antimicrobianos também foram

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avaliadas quanto à produção de carbapenemases através da realização do teste de inibição do disco de carbapenêmico, que detecta a produção dessas enzimas, sem classificar seu grupo pertencente (SCHOULS, 2015). Observou-se que 100% das bactérias resistentes fenotipicamente aos carbapenêmicos submetidas a esse teste apresentaram resultado positivo para a produção de alguma carbapenemase.

Com relação ao teste do bloqueio enzimático (EDTA), das 19 (39,5%) espécies que apresentaram resistência no TSA e foram submetidas a esse teste, 17 apresentaram resultado positivo para a produção de MBL, que consiste em 89,47% das cepas testadas. A maior frequência de presuntivos produtores de metalo-β- lactamase foi P. aeruginosa 09 (47,36%), seguido de Acinetobacter spp. 06 (31,57%) e K. pneumoniae 02 (10,52%), esses números estão de acordo com a literatura que aponta os Bacilos Gram-negativos não fermentadores como os principais produtores de MBLs e uma frequência ainda considerada baixa de Enterobacteriaceae produtoras (GALES et al., 2012; ÉVORA, 2019).

O alto nível 17 (89,47%) de Bacilos Gram-negativos produtores de MBLs observado nesse estudo, corrobora com trabalhos que relatam a emergência desse fenótipo no Brasil e o citam como importante responsável por surtos nosocomiais por todo o mundo, evidenciando a necessidade e importância de métodos de controle. (BERTONCHELI et al., 2008). Na América Latina, a maior concentração de microrganismos produtores de MBL está no Brasil e na Argentina e segundo dados do programa SENTRY no período de 2001-2003, 70% dos isolados de Pseudomonas aeruginosa do Brasil eram produtores de MBL. GASPARETO et al (2007) em trabalho realizado em 3 hospitais de Porto Alegre/ RS, relatou a frequência de 81,7% isolados de P. aeruginosa produtoras de MBL dentre as amostras analisadas.

Em estudo desenvolvido por Gonçalves et al., 2009 em pacientes hospitalizados de um hospital privado em Goiânia/GO dentre as 62 Pseudomonas aeruginosa isoladas, 56,4% foram fenotipicamente produtoras de MBL. Rossi et al. (2016) observaram em seu trabalho o aumento de 40% em 4 anos do número de isolados de Acinetobacter spp. resistentes a carbapenêmicos. Costa et al., 2017 relataram em seu trabalho a frequência de 60,3% de Bacilos Gram-negativos

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resistentes aos carbapenêmicos com resultados positivos no teste fenotípico para a produção de MBL. Macedo (2016) observou a frequência de 72,8% de Bacilos Gram-negativos produtores de metalo-β-lactamases em estudo realizado em unidade de terapia em hospitais da capital do Rio Grande do Norte.

Visando determinar a concentração inibitória mínima e confirmar o perfil de resistência encontrado frente a agentes antibacterianos tidos como últimas opções no tratamento de IRAS, foi realizado o MIC para o carbapenêmico imipenem e para a polimixina B. Das 19 amostras de Bacilos Gram-negativos que apresentaram resistência aos carbapenêmicos no TSA e que foram submetidas à determinação da concentração inibitória mínima (CIM) frente ao imipenem, 18 apresentaram-se viáveis na realização do ensaio e destas, 100% mantiveram o perfil de resistência, tal fato corrobora com o perfil de sensibilidade e os achados dos testes de confirmação fenotípica de resistência, anteriormente realizados.

O perfil de resistência encontrado foi bastante elevado e apresentou-se superior a estudos anteriores como o de Mota, Oliveira e Souto (2018) realizado a partir de amostras de pacientes da UTI do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Goiânia/GO, que relataram como a maior frequência de resistência observada para meropenem (82,8%) e imipenem (77,1%) em Bacilos Gram-negativos não fermentadores, em espécies de A. baumannii.

Dentre essas amostras submetidas ao teste de CIM, 38,8% apresentaram uma CIM muito elevada, no intervalo de 256ug/mL - ≥ 512ug/mL. Das amostras que apresentaram resistência aos carbapenêmicos e as maiores CIM, a maioria pertenciam ao grupo dos Bacilos Gram-negativos não fermentadores, dados que estão em concordância com a literatura que traz esse grupo como frequentemente relacionado a infecções hospitalares, e os mais implicados em resistência aos carbapenêmicos estando frequentemente associados à CIM mais altos (SHORTRIDGE et al., 2019; DELIBERAL et al., 2011).

A disseminação de fenótipos que apresentam elevados níveis de resistência refletem a capacidade que algumas cepas possuem para adquirir mecanismos de resistência sob alta pressão seletiva exercida pela potente antibioticoterapia adotada

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nas UTIs e a insuficiência dos métodos de controle de infecções hospitalares (SANTOS, 2004; FERRAREZI et al, 2006; FRANCO, 2017).

A resistência aos carbapenêmicos é uma consequência do uso indiscriminado desses e de outros antimicrobianos tanto no ambiente hospitalar como na comunidade, fato que impulsiona a aquisição e favorece a disseminação de mecanismos de resistência. Diante desse cenário, as opções terapêuticas para o controle e tratamento de infecções relacionadas à assistência à saúde ocasionadas por Gram-negativos resistentes aos carbapenêmicos são escassas e causam grande preocupação para a comunidade cientifica e hospitalar (NEONAKIS, 2011).

Na tentativa de combater a prevalência de cepas resistente aos carbapenêmicos as polimixinas têm sido empregadas como antibacterianos de último recurso com eficácia clínica, mesmo diante da problemática envolvendo sua elevada toxicidade que limita o seu uso clínico (VARDAKAS et al., 2016).

A emergência de bactérias Gram-negativas multirresistentes associada à escassez de novos agentes antimicrobianos fundamentam a atual importância e necessidade do uso das polimixinas na pratica clínica atual. Apesar de grande parte dos patógenos apresentarem baixa frequência de resistência as polimixinas, é crescente o número de infecções causadas por MDR Gram-negativos, especialmente para Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumannii e Klebsiella pneumoniae resistentes aos carbapenêmicos, onde geralmente as polimixinas são os únicos fármacos ativos disponíveis para o tratamento (ROSSI et al., 2016).

A resistência as polimixinas pode ocorrer através de mecanismos como presença de capsula bacteriana, modificações no LPS, porinas, hiperexpressão de bombas de efluxo, mutações e aquisição de elementos genéticos móveis. Dentre os mecanismos de resistência as polimixinas já descritos, podemos destacar a aquisição do gene mcr-1 que confere resistência a Colistina e a polimixina B. Descrito a primeira vez em 2016 por Liu et al., (2016) foi tido como o primeiro mecanismo móvel (através de plasmídeo) de resistência a Colistina e desde então tem sido identificado por outros pesquisadores de todo o mundo.

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Wang et al., (2018) realizaram um estudo que reuniu um conjunto de dados mundiais de 457 isolados que apresentavam o gene mcr-1. A distribuição desse gene é bem documentada entre todos os continentes, sendo mais prevalentes na China, Vietnã e Alemanha. Na capital do Rio Grande do Norte, Natal, o gene foi isolado em amostra de Escherichia coli por Fernandes et al., 2016 comprovando a disseminação mundial deste mecanismo de resistência.

A aparição desse gene pode contribuir para o surgimento de bactérias resistentes a todos os antibióticos disponíveis, tal fato possibilita a chance de enfrentarmos novamente uma situação similar a era pré-antibiótica, onde infecções comuns levavam facilmente a morte (CARLET e MAINARDI, 2012; FERNANDES et al., 2016).

As polimixinas de forma geral apresentem ação adequada contra Bacilos Gram-negativos multirresistentes, estudos tem demonstrado que as taxas de resistência a esses fármacos têm se mantido relativamente baixa, sobretudo no que se diz respeito as Enterobactérias (ROSSI et al., 2016). Em contra partida, alguns autores tem demonstrado um crescente índice da taxa de resistência a polimixina B especialmente em isolados do grupo dos Bacilos Gram-negativos não fermentadores.

O Programa de Vigilância Antimicrobiana SENTRY que analisou isolados de bactérias Gram-negativas em 157 centros de 31 países participantes no período de 2006 a 2009 mostrou resultados onde a maior taxa de resistência a polimixina B foi observada em Klebsiella spp. (1,4%) com CIMs ≥ a 4 µg/ml sendo mais frequentes na América Latina (GALES et al., 2011). Neste trabalho membros da família Enterobacteriaceae não foram classificados pela ausência de critérios interpretativos no CLSI 2018, mas apenas 01 das 04 amostras isoladas de Klebsiella pneumoniae apresentou CIM expressivamente elevado (> 32 (µg/m).

Ko et al. (2007) observou em estudo com 214 isolados de A. baumannii provenientes de dois hospitais uma taxa de 27,9% de resistência a polimixina B. Genteluci et al. (2016) em trabalho realizado em dois hospitais públicos do Rio de Janeiro com isolados da mesma espécie, expôs uma taxa de 81.5% de resistência com CIMs variando de 4-64 µg/ml. O uso das polimixinas na prática clínica tem

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acarretado na seleção de isolados de A. baumannii resistentes a esses antibacterianos, atualmente estudos realizados na Espanha e na Coréia relataram taxas de resistência de 50,7% e 30,7% respectivamente (ARROYO et al., 2008).

Em pesquisa realizada na índia com pacientes hospitalizados constatou-se resistência a polimixina B e E em 8% dos isolados de Acinetobacter baumannii e Pseudomonas aeruginosa (SHANTHI; SEKAR, 2009). Em um estudo semelhante a este realizado por Costa (2017) foi observado resistência em 49% das Enterobacteriaceae, 34% em Acinetocacter spp e 17% em Pseudomonas

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