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ANÁLISE DO VÍDEO A REPRESENTAÇÃO DA DIVERSIDADE ​

Este capítulo foi formulado com as perspectivas da análise, intertextos: crítica à sociedade, música e religião, com apontamento da semiótica discursiva: a performance do garoto.

(Figura 24 - Cena do filme aos 03 minutos e 35 segundos, família reunida para almoço no jardim)

O sentido gerado por um filme não é diferente daquele criado por um

romance. O que distingue um objeto do outro é apenas a forma de

manifestar essa significação, é o plano da expressão. No entanto, as

teorias semióticas modernas estão buscando analisar as diferentes

manifestações possíveis da significação e, portanto, não são alheias

a nenhuma forma de exprimir o sentido. Ouvem-se às vezes razões

pelas quais é necessário criar uma teoria particular para as mídias.

Vamos aqui elencar três, que são recorrentes: 1) ao contrário dos

textos verbais, os textos midiáticos são produzidos por diferentes

enunciadores (por exemplo, a significação de um filme é criada pelo

iluminador, pelo diretor de fotografia, pelo figurinista etc.) e, por isso,

é preciso uma teoria para explicar o fazer desse sujeito coletivo; 2)

nos meios de comunicação de massa, é preciso ter muita clareza a

respeito do público a quem o produto se dirige (o target, como dizem

os publicitários) e, por isso, o público é um co-enunciador, como

ocorre, por exemplo, nas novelas de televisão; 3) os textos da mídia

são complexos, uma vez que eles são manifestados por diferentes

fotos, gráficos etc.) e, por isso, é preciso que haja uma teoria específica para esses textos. (FIORIN, 2004, p.15)

Desde os primeiros segundos de vídeo, quando é exibida a entrevista com o Caíque inferimos a primeira crítica apresentada pelo filme: independentemente da cor, gênero, religião, região onde reside, crianças tendem a ter sonhos comuns a muitos, tais como poder aproveitar as brincadeiras e atividades que remetam a sua infância, além do sonho de uma profissão digna e almejada por muitos indivíduos quando adultos, ser médico.

3.1: Contexto em que vive

Para complementar a o raciocínio gerado pela crítica na primeira tomada do filme, segundo o jornalista Helton Simões Gomes, G1 , matéria veiculada em maio 11

de 2018, os Brancos representam maioria em empregos de elite e negros ocupam vagas sem qualificação, de acordo com o levantamento feito com dados do Ministério do Trabalho. Ainda segundo o estudo, negros ocupam a maioria das vagas em serviços braçais ou que exigem pouco preparo, como operador de Telemarketing, vigilante e cortador de cana-de-açúcar. Por outro lado, em relação às profissões mais altamente qualificadas, tais como engenheiro de computação, docência e medicina, o número de trabalhadores brancos é superior.

(Figura 25 - Cena do filme aos 02 minutos e 06 segundos, homem na loja de jóias de prata) O orador que se utiliza da phrónesis se apresenta como sensato,

ponderado e constrói suas provas muito mais com os recursos do

logos do que com os dos pathos ou do ethos (em outras palavras,

com os recursos discursivos); o que se vale da areté se apresenta

como desbocado, franco, temerário e constrói suas provas muito

mais com os recursos do ethos; o que usa a eúnoia apresenta-se

como alguém solidário com seu enunciatário, como um igual, cheio

11 Disponível em:

https://g1.globo.com/economia/noticia/negros-ganham-r-12-mil-a-menos-que-branco s-em-media-no-brasil-trabalhadores-relatam-dificuldades-e-racismo-velado.ghtml

de benevolência e de benquerença e erige suas provas muito mais

com base no pathos. (FIORIN, 2004. p.19). 12

Tendo em vista as palavras de Fiorin, por volta dos 30 segundos de vídeo, quando nos deparamos com o personagem correndo em meio a névoa, não conseguimos identificar ao certo se ele está fugindo ou correndo em busca de algo, enquanto lentamente o espaço em tela que já era pequeno, começa a se perder em meio a fumaça, que, como uma metáfora, o sufocaria. Contudo, mesmo parecendo perder o fôlego, ele pensa por um momento em olhar para trás, mas não completa o movimento e segue adiante, sendo assim, o jovem homem concentra as suas forças para continuar seguindo em frente, enquanto a vinheta com o nome da produção é apresentada: Bluesman, ou BLVESMN.

Ação: o percurso narrativo da ação ou percurso narrativo do sujeito

constitui-se pelo encadeamento lógico dos programas da

competência e da performance, ou seja, o sujeito adquire competência para uma dada ação e executa-a.

Ancoragem: é o procedimento semântico do discurso por meio de que

o sujeito da enunciação “concretiza” os atores, os espaços e os

tempos do discurso, atando-os as pessoas, lugares e datas que seu

destinatário reconhece como “reais” ou “existentes” e produzindo,

assim, o efeito de sentido de realidade ou de referente.

Manipulação: o percurso narrativo da manipulação ou percurso

narrativo do destinador-manipulador é aquele em que o destinador

atribui ao destinatário-sujeito a competência semântica e modal

necessárias à ação. Há diferentes modos de manipular, e quatro

grandes tipos de figuras de manipulação podem ser citados: a

tentação, a intimidação, a provocação e a sedução.

Performance: é o programa narrativo que representa a ação do

sujeito que se apropria, por sua própria conta, dos objetos-valor que deseja.

Tematização: é o procedimento semântico do discurso que consiste

na formulação abstrata dos valores narrativos e na sua disseminação

em percursos, por meio da recorrência de traços semânticos.

Valor: é o termo de uma categoria semântica, selecionado e investido

em um objeto com o qual o sujeito mantenha relação. É a relação

com o sujeito que define o valor.

12 (...) Um orador inspira confiança se seus argumentos são razoáveis, ponderados; se ele argumenta

com honestidade e sinceridade; se ele é solidário e amável com o auditório. Podemos, então, ter três espécies de éthe: a) a phrónesis, que significa o bom senso, a prudência, a ponderação, ou seja, que indica se o orador exprime opiniões competentes e razoáveis; b) a areté, que significa a virtude, mas virtude tomada no seu sentido primeiro de “qualidades distintivas do homem” (latim uir, uiri), portanto, a coragem, a justiça, a sinceridade; nesse caso, o orador apresenta-se como alguém simples e sincero, franco ao expor seus pontos de vista; c) a eúnoia, que significa a benevolência e a solidariedade; nesse caso, o orador dá uma imagem agradável de si, porque mostra simpatia pelo auditório.

Veridicção (ou dizer verdadeiro): um discurso ou um texto será verdadeiro quando for interpretado como verdadeiro, quando for dito verdadeiro.

(BARROS, 2005. p.85 a 90)

Segundo Barros, o personagem passa a criar uma relação de sentido agindo como um actante13 no processo narrativo. Essa é mais uma crítica que podemos observar através das imagens. Até, pela primeira vez no vídeo, conseguimos perceber que daquele ponto em diante a fumaça fica, o protagonista do vídeo continua seguindo, mas dali em diante conseguimos observar ao seu redor, e em meio ao que restou da fumaça lá atrás vemos um personagem coadjuvante, negro, com um carrinho de música, como se introduzisse a música como o passagem de entrada para a outra realidade, fora da fumaça, além da escuridão da névoa.

Discurso: ​é o plano do conteúdo do texto, que resultado na

conversão, pelo sujeito da enunciação, das estruturas

sêmio-narrativas em estruturas discursivas. O discurso é, assim, a

narrativa “enriquecida” pelas opções do sujeito da enunciação que

assinalam os diferentes modos pelos quais a enunciação se

relaciona com o discurso que enuncia.

Enunciação: ​é a instância de mediação entre as estruturas narrativas

e discursivas que, pressuposta no discurso, pode ser reconstruída a

partir das pistas que nele espalha; é também mediadora entre o

discurso e o contexto sócio-histórico e, nesse caso, deixa-se

apreender graças às relações intertextuais.

Enunciado: ​é o objeto-textual resultante de uma enunciação. (BARROS, 2005. p.85 a 90)

Uma vez que percebemos através dos elementos dispostos nas imagens que fazem uma relação do discurso emprego pelo enunciatário, com a disforia 14 da questão da representação negra, além das pistas empregadas pela enunciação. A imagem pequena a que descrevemos anteriormente, por volta dos 40 (quarenta) segundos de vídeo, precisamos compreender o fato de que à partir da construção dos elementos da imagem. Conforme cita Fiorin (2004), estamos nos deparando com uma construção de caráter do personagem que se dá por meio dos elementos

13é uma entidade sintática da narrativa que se define como termo resultante da relação transitiva,

seja ela uma relação de junção ou de transformação. O actante funcional, por sua vez, caracteriza-se pelo conjunto variável dos papéis que assume em percurso narrativo. (BARROS, 2005. p.85 a 90)

14 Disforia: é um dos termos da categoria tímica euforia vs disforia, categoria que modifica as

categorias semânticas. A disforia marca a relação de desconformidade do ser vivo com os conteúdos representados. (BARROS, 2005. p.85 a 90)

disponibilizados para a elaboração do entendimento por parte do enunciatário, que receberá e decodificá a mensagem de modo a ser atingido e impactado por ela sob alguns possíveis pontos de vista, sendo exemplificações deles o povo negro, que vivenciou de alguma maneira os dilemas que começam a ser propostos no vídeo, através e reflexões que perpassam pelos propósitos traçados pelo personagem, até aqueles que podem ser vistos como antagonistas na realidade exposta, sendo levados a criar uma subversão daquilo que está sendo demonstrando.

Para auxiliar o entendimento, apresentamos os dados expostos pela Alexandra Loras, Mestre em Gestão de Mídia, que em sua coluna na revista ​Claudia

(Abril), ​2017​, que informam que, segundo o IBGE em 2014, a maioria da população brasileira era autodeclarada negra, representando 53,6%. Contudo, não podemos dizer que o negro se encontra representado de maneira digna nos meios de comunicação, já que na televisão, por exemplo, a representatividade é mínima, cerca de 4%, o que nem de perto condiz com o divisão da população no país.

ividade significa representar com efetividade e qualidade o segmento ou o grupo o qual se faz representar, ou seja, por mais que tenhamos uma fração da população predominantemente preta, pessoas negras tendem a não ter destaque nos meios de comunicação brasileiros, reduzindo cada vez mais a visibilidade de identificação desse público.

Dando continuidade a análise do vídeo, vemos a performance do personagem, expondo o seu ponto de vista e argumentos, construídos também através dos elementos não verbais contidos na enunciação, ao se demonstrar solidário à platéia, fazendo com que aqueles que assistem sinta-se receptores ao que estão vendo, e ao discurso que está sendo apresentado, sincero e razoável, apropriando-se da intertextualidade no exercício da divulgação do discurso, logo temos eficácia comunicativa.

Ativista há 18 anos, Link Roots, fala ao site15 Brasil de Fato, em matéria veiculada em 23 de janeiro de 2017, pelo jornalista Luciano Valleda, que a pichação é considerada uma arte, porém o seu intuito é chocar, protestar, trazer a tona para a sociedade, que em muitos momentos tende a se esquivar de sua responsabilidade

15 Disponível em:

https://www.brasildefato.com.br/2017/01/23/com-origem-na-ditadura-pichacao-nasceu-como-forma-de -protesto/

em relação a realidade vivida por muitos indivíduos marginalizados, que ao “corromper” determinados espaços reforçam a sua presença que em muitos momentos é neutralizada, ignorada e esquecida.

Dessa forma, tendo em vista as pichações representam marcas que embora seja ignoradas, estão no filme presentes e visíveis, como a primeira visão após a fumaça e em meio a elas podemos encontrar três expressões legíveis escritas no prédio que aparece em cena quando o personagem corre contra a névoa aos 49 segundos de vídeo, que são elas: ACTIVA, que embora esteja escrito com uma grafia diferente do usual, está dessa maneira proposital, de forma que nos faz refletir sobre essas marcas estarem ativas, vivas, agindo perante a sociedade; INTERNE (que seria a palavra INTERNET), porém propositalmente o T foi retirado para que a expressão remetesse a palavra INTERNAR, que segundo o dicionário Aurélio, 2010, é um verbo transitivo e pronominal, que significa levar para tratamento, ou seja, uma forma de passar a mensagem que precisamos tratar esse sintoma exposto em nossa sociedade, porém é interessante observar que as letras estão escritas com o preenchimento amarelo, cor que lembra o dourado, ouro, e o plano de fundo o qual o texto está aplicado é branco; além disso vemos em meio a várias pichações aparentemente desordenadas “AMAR CURA”, que traz novamente mais de uma crítica embutida em uma pequena frase.

Indo adiante, aos 00:01:01 (um minuto e um) antes que o plano de imagem mude, enquanto o enunciador continua sua performance em direção a frente, o enunciatário acompanha o contrário, ou seja, aquilo que o personagem está deixando para trás e após o prédio com as pichações vemos uma placa publicitária de academia, nela existem duas pessoas, um homem e uma mulher brancos, o cartaz tem cores predominantemente brancas, os corpos estão sendo valorizados demonstrando os músculos e uma estética que remete a um padrão estético estereotipado. Porém, após o personagem passar alguns passos a frente e sair do plano da imagem, tudo isso passa a ficar turvo, tal como a fumaça deixada para trás, como se o protagonista estivesse deixando para trás, entre tantas coisas, os padrões estéticos estereotipados encontrados nos meios de comunicação de massa.

Mais adiante, quando próximo a 00:01:10 (um minuto e dez segundos) quando ancião e protagonista aparece em cena pela primeira vez, percebemos

também a postura como um indício evidente da continuação a crítica apresentada pela direção do vídeo, uma vez que ambos caminham em direção um ao outro. A postura do negro ancião é firme, erguida, mantendo sua envergadura, as mãos estão fechadas e firmes, tais como seus passos adiante como um marcha do passado para o futuro, enquanto o negro mais jovem tem seus passos menos firmes, como se estivesse alerta ou intrigado, sua cabeça não está erguida e os seus olhar parece direcionado para baixo, contudo ao ponto que ambos se aproximam, a postura do ancião é mantida, mas o jovem demonstra um relaxamento e abre um sorriso, ao ponto que a sua luz também muda mediante a aproximação, até que os dois se encontram como uma metáfora do passado e o futuro convergindo, e a sensação de desconfiança, ou mesmo curiosidade do mais jovem, transparece admiração relação ao outro, analisando as feições do ancião, e tal encantamento vai além das figuras apresentadas, remete a emoção dos jovens do presente ao se depararem com os passos firmados pelos negros durante toda a sua trajetória em meio a história, essa que de diversas formas é guardada e pouco divulgada pela população branca, ainda que estejamos num país de maioria negra.

3.2: A intertextualidade em prol da representação

Dentro da obra analisada a intertextualidade é uma ferramenta crucial na construção de sentido, uma vez que através das pistas deixadas durante a narrativa e conseguimos estabelecer uma relação social e histórica, de maneira a compreender de maneira mais evidente o posicionamento político demonstrado no vídeo.

Em 1967, Kristeva publica, na Critique, uma longa discussão acerca

das teorias bakthinianas expostas nas obras Problemas da poética da

Dostoiévski e A obra de François Rebalais (Kristeva, 1967, pp.

438-65). A preocupação da semioticista era discutir o texto literário.

Segundo ela, para Bakthin, o discurso literário “não era um ponto (um

sentido fixo), mas um cruzamento de superfícies textuais, um diálogo

de várias escrituras” (Idem, p. 439). Todo texto constrói-se, assim,

“como um mosaico de citações, todo texto é absorção e

transformação de outro texto” (Idem, p. 440). Em sua leitura da obra

de Bakthin, Kristeva identifica o discurso e texto: “O discurso (o texto)

é um cruzamento de discurso (texto)” (Idem, p. 84). Afirma ainda que,

no lugar da noção de intersubjetividade, instala-se a de

intertextualidade (Idem, p. 441). Bakthin opera com a noção de

intertextualidade, porque considera que o “diálogo é a única esfera

possível da vida da linguagem” (Idem, p. 443). Por isso, ele vê “a

escritura como leitura do corpus literário anterior e o texto como

absorção e réplica a um outro texto” (Idem, p. 444). Está aí

entronizada a noção de intertextualidade como procedimento real de

constituição do texto.” (BRAIT, 2006. p. 163)

A letra descrita aos 00:01:11 (um minuto e onze) traz uma questão bastante forte para o resgate histórico/cultural negro, uma vez que todas os gêneros musicais citados acima têm em sua origem com os povos negros que foram espalhados pelo mundo, e que em algum momento sofreram influência dos povos europeus e, através das massas foram disseminados pela elite branca tendo maior evidência e aceitação, não sendo corretamente interligada aos povos negros dos quais foram originados, já que normalmente aquilo que é proveniente da África é visto como algo fora do padrão estabelecido culturalmente, e é visto como maléfico, maligno, do demônio que trará o mal aos seus adeptos.

No entendo, essa intertextualidade generalizada não pode funcionar

se se vê o texto da maneira como tradicionalmente ele foi definido.

verbete para a edição de 1973 da Encyclopedia universalis, explica, de maneira didática, esse conceito redefinido pela semioticista

búlgara (Barthes, 1994, pp. 1.677-89). Segundo a opinião corrente, o

texto é “a superfície fenomênica da obra literária: é tecido das

palavras utilizadas na obra e organizadas de maneira a import um

sentido estável e tanto quanto possível único” (Idem, p. 1.677). Como

diz Barthes, no fundo, ele não passa de um “objeto perpeptível pelo sentido da visão” (idem, ibid.).BRAIT, Beth. Bakthin: outros conceitos chave/Beth Brait, (org.). – São Paulo: Contexto, 2006. p. 163.

O autor da letra da música embora cite os gêneros musicais derivados do Blues com origem americana, coloca entre eles o Samba, e não é à toa, uma vez que, conforme o texto acima cita, essa é uma modalidade tipicamente brasileira, que está presente em todo o país, a qual foi trazida pelos povos africanos trazidos ao Brasil como escravos na época da colonização do nosso país, sendo ainda nos tempos de hoje uma ritmo que caracteriza o Brasil para o mundo, como uma espécie de cartão postal do país.

Um das possíveis origens, segundo Nei Lopes, seria a etnia quioco,

na qual samba significa cabriolar, brincar, divertir-se como cabrito. Há

quem diga que vem do banto semba, como o significado de umbigo

ou coração. Parecia aplicar-se a danças nupciais de Angola

caracterizadas pela umbigada, em uma espécie de ritual de

fertilidade. Na Bahia surge a modalidade samba de roda, em que

homens tocam e só as mulheres dançam, uma de cada vez. Há

outras versões, menos rígidas, em que um casal ocupa o centro da

roda. (ALVITO, 2013. p 80).

Durante nossa formação cultural desde a escola até a universidade, os conteúdos os quais somos apresentados nos remetem a uma concepção que, muitas vezes, é fornecida através da concepção histórica construída pela elite branca, de origem europeia, portanto a população negra em tende a não ter a sua história retratada de maneira mais frequente e evidente, não havendo um contato direto com essas informações culturais de maneira natural. Os negros em via de regras são demonstrados como escravos durante o processo de construção histórica do Brasil, não possuindo uma representação correta, o que impacta diretamente a representatividade desses grupos, que são retratados em minoria, uma vez que o

padrão demonstrado é o do branco com raízes europeias, o que consegue dessa maneira ofuscar o brilho tão intenso quanto o do ouro.

Aos 00:01:46 (um minuto e quarenta e seis segundos) conseguimos perceber através dos elementos dispostos na imagem, a questão da iluminação que torna evidente o que fora dito na fala do ancião a respeito do brilho, uma vez que, mesmo com a baixa iluminação da sala em questão, as feições dele ao serem refletidas pela luz demonstram clareza e sobriedade, sensação essa que percebemos apenas nos elementos de prata disposto no cenário, fazendo uma relação direta da pele negra com o metal precioso citado até então.

(Figura 27 - Cena do filme ao 01 minuto e 43 segundos, homem fala diretamente com enunciatário)

Barthes não desqualifica a Linguística, nem a retórica, nem a

semiótica, nem a semiologia. Apenas propugna a constituição de uma

semanálise, que teria um objeto, um texto, diverso daqueles dos

campos do conhecimento acima citados. A semiótica, por exemplo,

para ele, estudaria o fenotexto. Ora, nesse conjunto de níveis e de

objeto, o que é exatamente a intertextualidade? Qualquer referência

ou Outro, tomado como posição discursiva: paródias, alusões, estilizações, citações, ressonâncias, repetições, reproduções de modelos, de situações narrativas, de personagens, variantes linguísticas, lugares comuns, etc. (BRAIT, 2006. p. 165)

Em seguida, aos 00:02:18 (dois minutos e dezoito segundos), o vídeo retorna ao protagonista inicial, em meio a rua, na realidade a qual nos encontramos após o

recorte histórico proposto pelo diretor. Observamos novamente a relação do personagem com a névoa, contudo nesse ponto da história ela não está concentrada no passado, ou nas coisas das quais ele supostamente estaria correndo, mas sim aquilo que está a sua frente representa uma névoa, ou seja, se fizermos uma relação do caminho adiante como o futuro, o jovem negro não consegue ver com clareza para onde está indo, ou mesmo os desafios os quais terá de enfrentar em

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