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4 RESULTADOS

4.4 R ESULTADOS QUALITATIVOS

4.4.2 Análise documental

A análise documental, seguindo o protocolo desta pesquisa, visa a conhecer e avaliar o momento em que foram produzidos documentos que demonstram a crise dos HUs, mais precisamente o HCU. Além disso, visa a descobrir se existe algum documento que formalize a

necessidade de mudanças nos processos de trabalho para evitar o desperdício e aumentar a qualidade nos serviços prestados aos pacientes.

Desse modo, foram elaborados os Quadros 11 e 12 (APÊNDICE D), que resumem a documentação encontrada e que tiveram por finalidade demonstrar as causas e as consequências da crise financeira no HCU.

A documentação apresentada no Quadro 11 demonstra as dificuldades de gestão de um HU. Os documentos externos tratam das dificuldades de financiamento dos hospitais pelos órgãos governamentais. Nesses, são relatadas as deficiências nos pagamentos dos serviços prestados pelos hospitais, abordando-se tanto os subfinanciamentos das tabelas quanto os atrasos nos repasses de recursos pelo FNS. Os documentos internos relatam as dificuldades enfrentadas pelas unidades internas do HCU com o desabastecimento e a necessidade de interromper o atendimento.

Os documentos consultados foram separados por tipo e finalidades. Os ofícios enviados ao MEC tinham a finalidade de obter novos recursos para o HCU e também solicitar recursos para pagamento de pessoal. Outros ofícios foram destinados ao FNS, ao governo do estado de Minas Gerais, pelo convênio PRO-HOSP, e à prefeitura municipal de Uberlândia, todos no intuito de solicitar recursos para continuidade do atendimento da população. Os

documentos ao Ministério Público (MP) são para responder aos questionamentos de denúncias contra o HCU, e outros são solicitações da presença da promotoria para mostrar as condições deficitárias por que passa o hospital.

Os documentos internos são memorandos das unidades de internação, relatando as dificuldades ou o desabastecimento da unidade e solicitando providências para o não fechamento dos leitos ou atendimentos.

Os documentos informando que o hospital não receberá mais pacientes por falta de medicamentos ou materiais hospitalares comunicam ao dirigente do HCU a interrupção de cirurgias eletivas, o fechamento de leitos de UTI e a interrupção no recebimento de pacientes no pronto-socorro. Comunicam, também, o desabastecimento enfrentado pelo laboratório e a não realização de exames por falta de reagentes.

O que se observa na documentação é a constante crise financeira do hospital e a necessidade de resolução imediata de problemas que afetam o atendimento dos pacientes do SUS.

Os fatos levantados na documentação reforçam as respostas às perguntas das entrevistas, comprovando a grande preocupação dos respondentes com a gestão, os repasses financeiros em dia e a melhora no pagamento dos procedimentos. Os constantes sobressaltos minam as energias

dos gestores e dos servidores que procuraram realizar o seu trabalho com regularidade em prol do paciente.

A documentação, apresentada de forma cronológica no Quadro 11, evidencia a continuidade das crises de financiamento que os HUs enfrentam há décadas. Nos últimos anos, a saúde do brasileiro tem agudizado ainda mais em função da crise econômica enfrentada pelo país.

Elaborou-se o Quadro 12, contendo as informações de 2016, com o intuito de informar

que as dificuldades continuam e agravam-se a cada ano. Apesar de não fazer parte do período analisado por esta pesquisa, esse quadro visa demonstrar que, com o passar do tempo e a falta de resolução de problemas antigos, a situação precarizou-se. A consequência direta dessa precarização é a desassistência em saúde no Brasil, principalmente àqueles que necessitam de atendimento hospitalar de média e alta complexidade.

Nos Quadros 11 e 12 o que se constatou, por meio da documentação analisada, foi o longo tempo de permanência dos mesmos problemas, sem solução. As constantes crises financeiras dos HUs, conforme os documentos analisados, têm, nos últimos dois anos, uma característica de catástrofe e a necessidade de um pacto entre os principais atores desse processo para uma resolução imediata dessa situação, que afeta o atendimento aos pacientes do SUS.

Para administrar essa crise, a atual gestão do HCU adotou a política de informar e tornar transparente todas as ações necessárias e possíveis para o enfrentamento da crise de financiamento e os seus reflexos negativos no atendimento ao paciente do SUS. Os ofícios internos analisados demonstraram a profunda preocupação de informar aos órgãos responsáveis pela saúde no município e no estado de Minas Gerais as dificuldades de atendimento dos pacientes do SUS por falta de pagamentos por serviços prestados, baixa remuneração das tabelas e também o não repasse dos convênios, como o Programa de Fortalecimento e Melhoria da Qualidade dos Hospitais SUS/MG (PRO-HOSP).

Além disso, observou-se, pela documentação consultada, que outros estabelecimentos de saúde e médicos particulares tentam, e até conseguem, enviar pacientes para tratamento no HCU quando não acham conveniente prestar os serviços nos seus estabelecimentos.

O fechamento de leitos e a interrupção na realização de procedimentos são os reflexos do desabastecimento de alguns setores, de alguns tipos de medicamentos importantes e até mesmo insumos básicos, como agulhas e scalpes. No laboratório de análises clínicas, a falta de reagente tem provocado o cancelamento ou a remarcação dos exames dos pacientes ambulatoriais e a restrição de exames para os pacientes internados. O processo ocorre em

cadeia; às vezes, a falta de um item básico inviabiliza a realização da internação para uma cirurgia.

Dessa forma, os gestores do HCU têm enfrentado todo tipo de dificuldades internas e externas para conseguir prestar o mínimo de atendimento aos pacientes, tanto no nível de internação quanto no nível ambulatorial. Nesse sentido, procuram informar por documentos que o hospital não receberia mais pacientes por falta de medicamentos ou materiais hospitalares. Esses documentos comunicam aos dirigentes e gestores de saúde do município do estado de Minas Gerais, às promotorias públicas, ao CRMMG e à imprensa a interrupção de cirurgias eletivas, fechamento de leitos de UTI e interrupção no recebimento de pacientes no pronto- socorro e no hospital.

A documentação consultada é um fato consumado de que a crise na saúde, especialmente nos hospitais que se prestam ao ensino e ao atendimento do SUS – HUs –, não é cíclica, mas perene, e tem levado os hospitais públicos de ensino ao endividamento por meio de suas fundações para garantir o atendimento de demanda e de ensino. Prova disso é o relato em um dos documentos consultados que apresenta a preocupação dos dirigentes do HCU com o atraso nos salários dos funcionários fundacionais, o que poderia gerar riscos aos pacientes e aos profissionais de saúde.

O Quadro 12 é o retrato fiel do atingimento da fase mais aguda da saúde brasileira enfrentada pelos HUs e de que, apesar dos esforços dos dirigentes, as soluções parecem distantes, pois a ótica estabelecida é somente econômica, tanto de um lado como do outro, e o cenário econômico brasileiro aponta para redução e cortes nos orçamentos destinados à educação e à saúde do brasileiro.

Por outro lado, observa-se que a direção do HCU, no último ano, tem vislumbrado soluções para a crise (Of. 573/2016 – DIRCH de 09/06/2016). Não só aquelas soluções que todos repetem ao longo do tempo, como tabelas inadequadas para o custeio dos procedimentos, atrasos e o longo período entre a realização dos procedimentos médicos e serviços hospitalares e os seus respectivos pagamentos dos serviços prestados, mas, sim, a necessidade de rediscutir o papel da inovação no hospital, revisar os processos e discutir a situação com toda a comunidade interna e externa.

Essa nova visão traria luz para muitos problemas que poderão se resolver internamente e impedirá que os órgãos responsáveis pela saúde e pela educação no país escondam-se atrás da desculpa de que o financiamento é suficiente e adequado, mas que a gestão enfrenta os problemas da má utilização dos recursos disponíveis.

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